Segunda-feira

VALOR

PIB deve cair no 2º tri e ter retomada fraca

Depois do recuo registrado pelo PIB de 1,5% no primeiro trimestre, as perspectivas para a economia brasileira seguem desanimadoras. Os meses de abril a junho serão o período de maior retração da atividade, atingida em cheio pelas medidas de isolamento, e a avaliação dominante é que a retomada posterior será lenta. O quadro caótico de combate à pandemia e a tensão política dificultam uma recuperação rápida.

Para o ano, há várias projeções apontando para uma contração do PIB de 7% a 8%. Não só os efeitos mais longos da doença sobre a economia devem tornar lenta a recuperação no próximo ano, como também preocupa o horizonte para o ambiente político, diz Alessandra Ribeiro, sócia e diretora de macroeconomia da Tendências Consultoria. “A gente incorpora isso principalmente via curva de incerteza, que deve ficar muito acima do cenário pré-pandemia, devido ao ambiente político. E os modelos mostram: incerteza alta é investimento para baixo e também limitação ao consumo.”

A Tendências, que trabalha com previsão de queda de 4,1% para o PIB neste ano, vai revisar o número para baixo. “Era um cenário que contemplava medidas de isolamento até fim de junho e retomada a partir do terceiro trimestre. Alguns lugares já flexibilizaram o isolamento, e outros já têm planos para isso, sendo que ainda estamos em um momento de curva ascendente de contágio e óbitos. É diferente do que vimos, por exemplo, em países da Europa.

O risco é o quadro pandêmico se impor, com mais contaminação, mortes e sistema de saúde caótico”, afirma. A economista cita ainda como exemplo o quadro de tensões envolvendo o Poder Judiciário, que, na sua avaliação, não deve se resolver no curto prazo. “O [ministro da Economia Paulo] Guedes está prometendo uma recuperação em ‘V’ e dizendo que o Brasil vai surpreender o mundo, e isso não vai acontecer, então a pressão vai aumentar em 2021”, diz ela.

Dificilmente medidas de afastamento social serão completamente eliminadas no terceiro trimestre, o que reforça o risco de o cenário da pandemia ser pior do que se espera, avaliam os analistas do Banco Fator em relatório. “Desde logo, é difícil que o afastamento seja completamente eliminado no terceiro trimestre. Assim como não se pode esperar que não haja idas e vindas no afastamento, ainda que sem uma segunda onda.”

Para o PIB deste ano, o Fator espera queda de 7,4%, mas a piora esperada para a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas e equipamentos, construção civil e inovação) e para o consumo das famílias nos próximos trimestres pode levar esse número mais para baixo.

No primeiro trimestre, o consumo das famílias caiu 2% em relação ao trimestre anterior, feito o ajuste sazonal, a maior queda desde o terceiro trimestre de 2001, ano do apagão de energia elétrica. O investimento cresceu 3,1%, impulsionado pela importação de máquinas e equipamentos, mas a alta foi pontual.

No ano, a expectativa é de queda superior a dois dígitos. Para o setor de serviços, que já tombou 1,6% no primeiro trimestre, as perspectivas não são boas, diz o Fator, ao falar do principal componente do PIB pelo lado da oferta. “De um lado, o afastamento continuou por abril e maio, pelo menos; de outro, o setor não trabalha com estoques, na medida em que seu produto é fortemente perecível.

Assim, empresas de serviços, e trabalhadores informais do setor, que perderam no período de afastamento terão dificuldades de sobreviver e se recuperar.” Ainda pelo lado da oferta, a indústria recuou 1,4%, enquanto a agropecuária avançou 0,6%. Duas grandes incertezas pairam sobre o futuro da economia nos próximos meses, segundo João Rosal, economista-chefe da Guide Investimentos: a velocidade da volta do convívio social e a capacidade do governo em estimular uma retomada da economia.

A Guide estima recuo acima de 10% no segundo trimestre sobre o primeiro e queda de 8% no ano. “A política de controle da epidemia é caótica. Querem reabrir a economia com o número de casos de coronavírus em crescimento”, afirma Rosal.

Na visão do Santander, o resultado do PIB no primeiro trimestre confirmou a aposta do banco de que dois segmentos, o agronegócio e a administração pública, vão agir como amortecedores da recessão, ainda que sem forças para evitar o tombo na atividade. A agropecuária sustentou alta de 0,6%. “A expectativa da maior safra de soja da história já sinalizava isso.

A agropecuária deve continuar funcionando como amortecedor com resultados positivos”, diz Lucas Nobrega, economista do Santander. O segundo “amortecedor” será via administração pública, que, com defesa, saúde, educação e seguridade social, responde por cerca de 25% do PIB de serviços, de acordo com Nobrega. “Ela ainda mostrou uma queda [-0,5%], pelo compromisso fiscal que o Brasil vivia no início deste ano.

A perspectiva é que comece a subir com o aumento dos gastos para combater a covid-19 e sirva, em alguma medida, para amortecer a queda do PIB no segundo trimestre, claro que sem poder de evitá-la”, afirma ele.

 

Incerteza política freia investimento, diz J.P.

O aumento da incerteza política deve desestimular o investimento, sendo um dos principais fatores que levam a uma visão mais negativa para a recessão no Brasil, aponta Cassiana Fernandez, economista-chefe para o país do J.P. Morgan. “Quem vai tomar a decisão de investir num país, num investimento com prazo de cinco, dez anos, se não sabe a direção da política econômica para os próximos dois, três anos?”, diz Cassiana.

Após a divulgação do PIB do primeiro trimestre, o J.P. Morgan manteve a projeção de queda de 7% para 2020, mas não descarta crise mais severa. Em março, a instituição foi uma das primeiras a alertar para a possibilidade de que o país entraria em recessão no primeiro semestre. O banco espera retração de 16,3% do PIB de abril a junho ante o primeiro trimestre.

Além da deterioração das contas públicas, Cassiana destaca a situação mais vulnerável de pequenas e médias empresas como outro fator que pode prejudicar a recuperação. “A medida que facilitaria o financiamento via bancos privados não foi efetiva.” Com o “fator medo” inibindo o consumo, e empresas, famílias e governo mais endividados, a retomada após a crise deve ser lenta, afirma ela. Veja a seguir os principais trechos da entrevista:

Valor: O PIB veio em linha com o previsto, com queda de 1,5% no primeiro trimestre. Num cenário sem pandemia, a economia poderia ter mostrado retomada no período?

Cassiana Fernandez: Os dados de janeiro e fevereiro sugeriam crescimento maior que o do quarto trimestre (0,4%). Esperávamos crescimento de 2% no ano. Pela composição do número, o crescimento do investimento sugeria que a economia poderia apresentar retomada um pouco mais forte, com qualidade melhor. Mas não caminhávamos para um PIB acima de 3%.

Valor: O que esperar para o consumo das famílias, que já caiu 2% no primeiro trimestre, daqui em diante?

Cassiana: Esperamos que esse continue sendo um dos grandes fatores de contração da atividade este ano. Os dados de emprego em março ainda não tinham reagido muito, mas os de abril mostraram queda significativa no número de empregos. O desalento e provavelmente a dificuldade de procurar emprego seguraram a alta da taxa de desemprego, mas ainda é um cenário difícil, e estamos bem pessimistas sobre o consumo ao longo do ano.

Valor: O J.P. Morgan já vinha destacando que os brasileiros entraram na crise com um nível de endividamento relativamente elevado. Podemos ter alta explosiva da inadimplência?

 Cassiana: Esse é um risco importante, principalmente para a pessoa física. Dados de crédito sugerem que as medidas adotadas pelo BC foram eficientes para manter as linhas, mas foi algo muito concentrado em empresas grandes e médias. As micro e pequenas empresas e pessoas físicas enfrentaram dificuldade muito maior. No caso da pessoa física, é difícil antecipar se as pessoas, pelas medidas de distanciamento, não foram às compras, ou se bancos ficaram mais cautelosos. O apoio do governo, principalmente o desembolso do auxílio emergencial de R$ 600 e a medida de compensação da redução de jornada, deve ajudar a pessoa física, mas esperamos alguma alta da inadimplência.

Valor: Por diversas métricas, a soma do estímulo fiscal e monetário do pacote de combate à crise no Brasil é superior à média mundial. Como avalia as medidas e sua implementação?

Cassiana: O primeiro bloco de medidas é de curto prazo, que deve garantir a sobrevivência de famílias e empresas na quarentena. O segundo tem políticas com foco no médio prazo. Nas de curto prazo, o governo, principalmente BC, foi mais proativo. Comparativamente a outros países, a velocidade de implementação e o tamanho do pacote fiscal superaram as expectativas. A parte em que o governo falhou até agora é em dar auxílio a pequenas e médias empresas. A medida que facilitaria o financiamento via bancos privados com garantia de 85% do Tesouro não foi efetiva. O desembolso foi menor que o estimado. Vemos muitas empresas reclamando dos bancos privados, que estão recusando essas linhas de crédito. Alguma coisa precisa ser feita. Esse ponto é fundamental, porque vai definir a capacidade de recuperação. Micro, pequenas e médias empresas concentram a maior parte do emprego. É necessário que sobrevivam. Vamos sair da crise com empresas, famílias e governo muito mais endividados, e isso compromete a capacidade de retomada.

Valor: Está preocupada com a deterioração das contas públicas?

Cassiana: Esse é um dos dois grandes riscos do nosso cenário: a capacidade de o governo voltar à política econômica anterior. No nosso cenário-base, as restrições impostas pelo teto de gastos voltam a partir de 2021, e o compromisso com uma trajetória fiscal mais responsável permite que a taxa de juros fique baixa por mais tempo, o que vai garantir o financiamento da dívida mais alta. No começo do ano, víamos um déficit primário de 0,8% do PIB para 2020, e agora esperamos 10,8%.

Valor: Qual o segundo risco?

Cassiana: Analisando a dívida, é sem dúvida o seu denominador, que é a taxa de crescimento.

Valor: Em que medida as tensões políticas envolvendo o governo mantêm a incerteza em nível elevado, podendo afetar mais o investimento?

Cassiana: Em grande medida. Nas nossas contas a incerteza em relação aos fatores políticos é uma das grandes restrições à aceleração do investimento. Quem vai tomar a decisão de investir num país com prazo de 5, 10 anos, construindo uma nova fábrica, se não sabe a direção da política econômica para os próximos dois, três anos, não sabe qual a regra do jogo, a estrutura tributária, a questão dos gastos, setores que podem ser beneficiados por políticas públicas? No curto prazo, a instabilidade política foi um dos principais motivos para nossa revisão no começo de maio, que jogou o PIB do ano para -7%.

Valor: A crise pode ser maior?

Cassiana: Infelizmente, sim. Por mais que os anúncios recentes tenham sinalizado reaberturas no mês em diversos pontos, é importante colocarmos na conta que ter uma saída antecipada agora sem melhora proporcional nos dados de contaminação traz o risco de outra onda de contágio. Os dados de contaminação têm surpreendido negativamente e isso pode fazer com que a queda no segundo trimestre, prevista em 51% em termos anualizados, seja ainda maior.

Valor: No início, o J.P. Morgan assumia que o pico da curva de contaminação seria no fim de abril, mas o ritmo de alta nos casos continuou acelerando. Qual a projeção agora?

Cassiana: Seria entre o final de maio e começo de junho, e por isso nosso cenário de atividade prevê normalização gradual.

Valor: É possível esperar normalização total da economia este ano?

Cassiana: A partir do que temos visto em outros países mais avançados no ciclo de reabertura, com o fator medo, empresas e governo mais endividados, será muito difícil uma retomada plena. Vemos o PIB no fim deste ano cinco pontos percentuais abaixo do nível do fim de 2019. Até o fim de 2021, ainda vemos a atividade cerca de dois, três pontos abaixo. A atividade só volta ao nível pré-crise em 2022.

Valor: A retomada no Brasil deve ser mais lenta do que a de outros emergentes e também em relação a economias avançadas?

Cassiana: Teremos retomada acelerada no terceiro trimestre, em linha com o que observamos no resto do mundo, que seria natural com o retorno de boa parte da atividade após a parada súbita do segundo trimestre. Porém somos mais cautelosos em relação à velocidade de recuperação aqui em relação ao que vemos em vários países. Um, pela questão da incerteza política, mas também pela questão do endividamento das famílias e da capacidade de resposta do governo em conseguir salvar pequenas e médias empresas. Não é algo único do Brasil, mas alguns países, como EUA e China, tiveram capacidade de reação mais rápida, e com isso impacto menor nas empresas.

 

Reabertura prematura pode tornar mais lenta a recuperação, diz FGV

A ansiedade do presidente e de governadores para reabrir a economia pode provocar novas ondas da pandemia de covid-19, o que exigirá medidas adicionais de isolamento e lentidão na recuperação da atividade, diz Pedro Cavalcanti Ferreira, professor da Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). “O Brasil, com o número de casos diários que tem hoje, sem ter o vírus realmente controlado, não está pronto para começar a liberar a abertura de comércio e serviços. Existe risco de termos um voo de galinha”, diz Ferreira, doutor pela Universidade da Pensilvânia e diretor da FGV Crescimento e Desenvolvimento, em entrevista ao Valor.

Na sexta-feira passada, o IBGE divulgou queda de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre, frente ao quarto trimestre de 2019, confirmando o cenário de recessão que vem sendo traçado pelos analistas. O consumo das famílias recuou 2% por esse tipo de comparação, o pior resultado desde 2001, ano do racionamento de energia elétrica. Ferreira lembra que foi em uma tentativa de salvar a economia que o Chile fez de forma prematura sua reabertura.

O plano chamado “Retorno Seguro” anunciado no fim de abril, com a reabertura de alguns centros comerciais, resultou no aumento do número de casos - o país tem agora a pior estatística de casos per capita da América Latina. Para ele, as medidas econômicas do governo para enfrentamento da pandemia foram “muito boas” e pouco poderia ter sido acrescentado pelo Executivo, no curto prazo, para impedir a queda da atividade econômica a partir de março. É o caso da redução da jornada de trabalho com redução de salários e o auxílio emergencial de R$ 600.

O pecado foi a posição contrária do presidente Jair Bolsonaro às medidas de isolamento social anunciadas por governadores. Sem apoio do governo federal, seja em pronunciamentos ou por campanhas orientando a população sobre a necessidade de ficar em casa, a quarentena acabou afrouxada. “O governo federal não teve a liderança necessária num momento em que o país precisava. Isso elevou o nível de conflito e de má informação. Para piorar, o presidente desdenhou da gravidade de crise de saúde desde o começo”, acredita Ferreira.

 Para o segundo trimestre deste ano, o economista cita previsões do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) de queda de 9,4% do PIB, frente aos três meses anteriores. Se confirmada, será a maior queda da atual série histórica do PIB, que tem início no segundo trimestre de 1996. Na comparação ao segundo trimestre do ano passado, a previsão é de queda de 11,2%.

O economista afirma ainda que a recuperação da atividade deverá ocorrer em formato de “U” longo, o que significa uma forte queda seguida por uma recuperação lenta. Para ele, a recessão econômica iniciada neste primeiro trimestre não vai terminar neste ano, mesmo com a reabertura do comércio e serviços nas grandes cidades. “O problema da pandemia será resolvido apenas quando tivermos vacina. Mesmo reabertos, os restaurantes vão continuar vazios, as famílias vão viajar menos. As pessoas seguirão com medo de serem contaminadas. Assim, a incerteza tende a permanecer elevada e as firmas vão investir menos. A gente não sai da recessão”, acrescenta o economista.

Outro motivo para a lenta recuperação está na série desequilíbrios criados pela pandemia de covid-19. Um deles é fiscal. O déficit do setor público deverá ficar próximo de 10% do PIB em 2020 e o nível de endividamento poderá escalar para 93% do PIB. “Estão todos concordando que é o momento exige aumento de gastos e concordo com isso. Dar mais crédito para as firmas, flexibilizar contratos. São desequilíbrios necessários. Mas daqui a alguns meses podemos bater em um teto e não vai ter mais espaço para adotar medidas. Isso talvez torna a recuperação mais lenta no futuro”, acrescenta.

Um dos caminhos para acelerar essa recuperação da economia é reduzir o nível de incerteza política no país. A relação conflituosa do presidente Bolsonaro com demais poderes afasta investidores, que preferem um ambiente mais estável e claro, diz Ferreira. “É claro que, dada a sucessão de eventos, a estabilidade política exigiria um milagre”, afirma Ferreira.

Outra forma de reduzir incertezas e acelerar a recuperação da atividade econômica seria com a retomada da agenda de reformas que estava sobre a mesa antes da pandemia - reformas administrativa, tributária, abertura comercial, melhoria regulatória e desburocratização. “É preciso sinalizar para a população e investidores que existe uma agenda para o país”, diz ele.

 

CMN flexibiliza temporariamente regras de financiamento imobiliário

O Conselho Monetário Nacional (CMN) decidiu facultar às instituições financeiras liberar os recursos relativos aos financiamentos imobiliários contratados até 30 de setembro deste ano. Segundo informações divulgadas pelo BC, a medida é válida a partir da prenotação do título constitutivo da garantia nos cartórios de registro de imóveis competentes.

A prenotação é a anotação provisória no protocolo dos cartórios competentes, quando títulos constitutivos de garantia são apresentados para registro, a qual confere prioridade de registro ao título prenotado frente a qualquer outro que buscar a constituição de direito sobre o mesmo imóvel. Sendo a prenotação ato inicial do processo de registro, a alteração regulamentar passa a conferir maior celeridade à liberação dos financiamentos imobiliários.

“A regulação modifica temporariamente a regra vigente, que determinava que essa liberação somente poderia ser efetivada após constituída a garantia, o que só ocorre após seu registro em cartório”, informa o Banco Central (BC).

A medida, de caráter temporário, tem por finalidade permitir o prosseguimento da contratação de operações de financiamento imobiliário, compatibilizando o processo de concessão de crédito às limitações das atividades comerciais e da prestação de serviços, inclusive públicos, decorrentes das ações de enfrentamento à pandemia de covid-19.

Segundo BC, tal faculdade, a ser exercida conforme a política de crédito de cada instituição financeira, pode facilitar a liberação de recursos para pessoas físicas, para empresas e demais participantes do segmento de construção civil, do mercado de imóveis e das respectivas cadeias de fornecedores de bens e serviços, mitigando os impactos sobre o mercado imobiliário da atual pandemia.

 

FOLHA

Empresários do Nordeste são os mais afetados pela crise causada pela Covid-19, diz estudo

Empresários do Nordeste são os que mais sentiram os efeitos da crise causada pela pandemia de Covid-19 em seus negócios, aponta pesquisa feita pela CNI (Confederação Nacional da Indústria). 

De acordo com o levantamento, 83% dos donos de empresas daquela região do país ouvidos no estudo afirmaram ter sofrido impacto em seus negócios. A taxa fica acima da média nacional, de 74%. 

As regiões Norte e Centro-Oeste foram as menos impactadas: 69% dos empresários dessas áreas dizem ter sido afetados. A pesquisa, realizado por meio do Instituto FSB Pesquisas, ouviu 1.017 donos de empresas em todo o Brasil. 

No Sudeste, 73% dos empresários disseram ter sentido a crise em seus negócios. No Sul, foram 74% dos entrevistados. 

Os nordestinos também são os mais pessimistas quanto ao futuro em curto prazo. Para 87% dos executivos industriais daquela região do Brasil, o cenário para os próximos seis meses é de forte retração. A média nacional dos que acham o mesmo é de 79%. 

Se o período considerado for o dos próximos dois anos, a avaliação de que a economia brasileira terá retração se mantém semelhante entre empresários de diferentes regiões do território brasileiro (52% no Nordeste, 51% no Sul e 49% no Sudeste).

 

ESTADÃO

Nem é pibinho. É o início do desastre.

Por Celso Ming

Aqui vão algumas observações sobre o resultado do PIB do primeiro trimestre divulgado nesta sexta-feira: um recuo de 1,5% sobre o PIB do trimestre anterior.

É só o começo. Essa forte marcha à ré no crescimento da renda já era esperada, mas isso não alivia. Pega só uma pontinha da forte queda do consumo e da produção que veio depois, porque o isolamento social só foi adotado no Brasil na última semana de março. A destruição do tsunami que veio em seguida vai ser registrada nos trimestres seguintes, especialmente no segundo e no terceiro. E vai ser um desastre avassalador que, no entanto, já está sendo previsto ou já está no preço, como se diz no mercado financeiro, embora não se saiba ainda em que proporções.

Iniciou lá fora. Os números negativos do primeiro trimestre refletem tanto as incertezas que já vinham se avolumando quanto os graves problemas nos principais países que já estavam atolados na pandemia, especialmente China e Europa. E contou, também, a prostração que atingiu a Argentina. O consumo interno já vinha baqueando bem antes do início da quarentena, na medida em que o desemprego começou a crescer em janeiro, porque as empresas anteviram o que já estava a caminho e se anteciparam nas dispensas de pessoal e, pior, no adiamento de novas contratações. As estatísticas do Caged e da Pnad, divulgadas na semana que passou, já mostravam esse estrago.

O baque nos serviços. Assim como o uso do cachimbo deixa a boca torta, há certo desvio na percepção do brasileiro de que PIB por aqui é principalmente comportamento da indústria. Por isso, tende a ver tudo o que de ruim acontece no PIB como reflexo do mal das pernas que atinge em cheio o setor industrial. É preciso não perder de vista as proporções. Pelos dados das Contas Nacionais de 2019, o setor de serviços tem um peso de 74% no tamanho do PIB do Brasil: são transportes, comércio, turismo, ensino, serviços de saúde, setor financeiro, comunicações, informática, correios, serviços pessoais, etc. A indústria de transformação entra com 11% e a agropecuária, com apenas 5,2%. Por isso, para o bem ou para o mal, o impacto maior no PIB vem do setor de serviços. No primeiro trimestre, essa fatia caiu mais do que a indústria, 1,6% ante 1,4%. Desta vez, o comportamento pior refletiu a retração do consumidor que apenas se acentuou com as perdas de salário e renda.

Sem repeteco. As estatísticas de investimento e poupança do primeiro trimestre (ver gráfico abaixo) foram a maior surpresa do PIB. A poupança avançou de 12,2% do PIB para 14,1% do PIB. E o investimento subiu de 15,0% para 15,8%. Em boa parte tem a ver com efeitos estatísticos e, também, com aumento de importações de equipamentos de petróleo. Mas esse avanço não se repetirá tão cedo.

Tentativa e erro. O que há são apostas e não propriamente previsões. Quem disser que tem certeza sobre o tamanho da queda do PIB deste ano ou está desinformado ou desregulado. Uma das chaves é a retomada da atividade econômica, variável incerta. As autoridades estavam no escuro quando determinaram o início do distanciamento social e continuam no escuro neste início de flexibilização, quando o País vai batendo recordes de contaminação e de mortes pelo novo coronavírus e, ainda assim, os números chegam com indícios de subnotificação.

Mas há outra variável que pode piorar tudo: a política. Os desencontros entre os poderes institucionais são graves e recorrentes, de desfecho também imprevisível, neste ano de eleições municipais. A última estimativa feita por 73 analistas de economia, tal como relatada pelo Boletim Focus, do Banco Central, é de queda do PIB de 5,1% em 2020. É projeção sujeita a constantes revisões porque não passa de exercício de tentativa e erro.

 

O GLOBO

Lentidão nas respostas e incertezas nas garantias, as dificuldades dos pequenos negócios para obter crédito

O empresário Cesar Sued tem quatro negócios na área de gastronomia na Zona Sul do Rio e estava prestes a abrir outro, no ramo da beleza. Com a pandemia, desde março duas unidades estão fechadas e duas operam apenas no delivery.

Dos seus 26 funcionários, apenas dois estão na ativa e os outros estão com contratos suspensos. Ele já tentou três vezes pedir empréstimo em bancos privados em que é correntista recorrendo a linhas de crédito anunciadas pelo governo, e não conseguiu.

— Em um apenas recusaram. No outro, disseram que a linha não seria aprovada a menos que houvesse garantias concretas, como imóvel ou dinheiro aplicado. Na sexta-feira passada fui à Caixa, mas pediram para retornar nesta semana — conta ele.

A morosidade nos processos, as lacunas nas garantias e a falta de informações têm sido entraves para que os empréstimos anunciados pelo governo federal cheguem de fato até os micro e pequenos negócios.

— Um exemplo é o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que só foi sancionado no dia 19 de maio e ainda falta o governo regulamentar e liberar o recurso necessário ao programa, o que deve acontecer só no fim do mês. As linhas existem no papel. Entretanto, não chegam a quem realmente precisa, o que faz com que as contas das empresas se compliquem — analisa o diretor executivo da consultoria contábil Confirp, Richard Domingos.

Outro programa nessa situação é o Proger Urbano Capital de Giro, que oferta linhas de crédito com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Voltada para negócios com faturamento bruto anual de até R$ 10 milhões, financia salários e encargos, aluguel, despesas regulares. Os recursos serão operados por bancos públicos federais, porém, a linha só estará operante nas próxima semanas.

De áreas diferentes, as empresárias Bárbara Moraes e Marina Morena de Menezes também estão com dificuldades de crédito na praça.

— Em março e abril, eu tive dificuldade em vender e pedi empréstimo no meu banco privado, mas eles negaram. Não explicaram o porquê exatamente. Com isso, as contas atrasaram e fiquei negativada. Alguns fornecedores aceitaram negociar prazos e outros, em cinco dias, foram para cartório — diz Bárbara, dona da Bibelu, loja de moda infantil na Barra da Tijuca, há três anos.

Segundo ela, a loja aguenta apenas mais um mês aberta e o que mantém a empresa funcionando é a venda on-line, que já era expressiva em seu faturamento antes da pandemia. Bárbara pensou em tentar a linha de crédito da Caixa com Sebrae, com garantias complementares do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), mas para esta linha não pode ter nome sujo.

Já Marina é sócia da Rio Tap Beer House, no Flamengo, e tentou pegar empréstimo para pagar os salários dos funcionários, sem sucesso. O caixa que ainda tinha serviu para segurar três meses sem funcionamento e pagar férias remuneradas e fornecedores.

— O pequeno, por questões de garantias, tem menos credibilidade para o pagamento desses recursos. Estou com aluguel e IPTU atrasados. Se não conseguir um empréstimo, vou ter que fechar. Não tenho caixa nem para mandar embora — conta a empresária que já tentou por duas vezes nos bancos o BNDES Crédito Pequenas Empresas, que atende a negócios com faturamento até R$ 300 milhões e pode financiar até 100% da operação.

Há ainda a linha emergencial de crédito para folha de pagamentos, criada para garantir o pagamento de salário e com a contrapartida de não demitir os empregados sem justa causa, no período compreendido entre a data da contratação do empréstimo e até 60 dias após o recebimento da última parcela da linha de crédito. Os empresários são reticentes a esta linha, pois afirmam que estão tentando manter as equipes mas argumentam que é impossível dar garantias como essa.

— Nossa maior questão é que não sabemos como será o retorno. Estão pedindo garantias que não conseguimos dar agora. Estamos trabalhando na perspectiva, sem certezas — explica Marina.

Carência e imóveis

Para Mauricio Costa, gerente executivo da FGV Projetos, que tem realizado pesquisas sobre a situação dos pequenos negócios no país, o principal entrave para que os programas não cheguem ao empresário é a falta de garantia integral aos bancos e agentes financeiros.

— O governo não dá garantias, nem o empresário. Antes da pandemia, o pequeno dava como garantia o mês seguinte de trabalho. Agora, não tem mais. Os bancos só emprestam prata para quem tem ouro — avalia.

Para ele, a solução é aumentar o prazo de carência para dar fôlego ao pequeno e o governo pôr os imóveis parados da União como garantia de pagamento. Além disso, ele acredita que o Pronampe, assim que começar a valer, vai ajudar a destravar o crédito, que será liberado também pela queda nas taxas de juros.

— No início, eram em torno de 30% ao ano. Agora, com esses ajustes, vamos ter taxas entre 5% a 8% ao ano. É alta para quem está em uma pandemia, mas é viável — avalia.

O gerente da unidade de serviços financeiros do Sebrae Nacional, Márcio Montella, também reforça que a carência pode ser a saída para desenrolar esse imbróglio.

— Não pode-se considerar só a garantia no empréstimo. A conjunção de garantia, renda, taxa e prazo é que viabiliza o empréstimo e o Pronampe vem ao encontro disso. A taxa é exequível e o prazo de carência ainda está sendo definido.

Ele também pondera que avaliar a capacidade de gestão de quem pede o empréstimo é fundamental:

— Alguns que fecharam já estavam em situação ruim antes.

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