O GLOBO
BC autoriza uso de imóvel já financiado para novo empréstimo e cria linha de crédito para pequena empresa
O Banco Central (BC) anunciou o lançamento de uma nova linha de crédito para atender às micro, pequenas e médias empresas. Junto disso, também regulamentou a possibilidade de utilizar um mesmo imóvel em mais de uma operação de empréstimo.
No segmento imobiliário, a medida permite que alguém que tenha financiado um imóvel de R$ 500 mil, por exemplo, e já pagou R$ 400 mil, possa ir ao banco e pegar “de volta” parte desse valor já pago nas mesmas condições do contrato original de financiamento imobiliário.
Segundo o BC, essa nova operação de crédito tende a ser contratada com prazos e juros mais favoráveis ao tomador, se comparadas a outras modalidades de crédito sem garantia. As novas operações devem ser contratadas com o mesmo banco da operação original.
No fim de junho, quando anunciou essa nova linha de crédito, o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, afirmou que em um momento extraordinário como o atual, a medida favoreceria muito as famílias que estão endividadas ou com problemas temporários em função da pandemia.
Empresas
As ações estão na medida provisória (MP) 992, que traz a criação do programa de Capital de Giro para Preservação de Empresas (CGPE), voltado para companhias com faturamento até R$ 300 milhões, o que abarca as chamadas micro, pequenas e médias empresas.
As empresas também estão dispensadas de apresentar uma série de certidões, como regularidade junto ao INSS e à Fazenda, o que facilitará o acesso a empresas que já estejam endividadas.
De acordo com o BC, apesar da edição de diversas medidas para combater os efeitos do Covid-19 na economia real, “o canal de crédito começou a perder força recentemente, afetando principalmente microempresas e empresas de pequeno e médio porte”.
Nas contas do BC, o novo programa tem potencial de aumentar a concessão de crédito em até R$ 120 bilhões. Os riscos e recursos são integralmente suportados pelos bancos, diferentemente do Pronampe, que conta com garantia do Tesouro.
O estímulo para as instituições concederem essas linhas para as empresas decorre de mudança em regras contábeis que liberaram capital para os bancos fazerem os empréstimos.
Os bancos e instituições que fizerem empréstimos por essa nova linha de crédito poderão utilizar parte das suas perdas para ter benefício fiscal no pagamento do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Outra novidade é que essas regras também serão aplicadas às linhas de crédito emergenciais já existentes (Pronampe, PESE e FGI). A operação será simplificada e não exigirá contrapartidas específicas, o que deverá atender a inúmeras empresas que não se qualificavam para as linhas de crédito anteriores.
Os detalhes operacionais, além de prazos e custos ainda serão disciplinados pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
VALOR
‘Efeito da política monetária está sendo sentido’, diz Torós
O economista Mario Torós, da Ibiuna Investimentos, diz que a migração de recursos entre diferentes modalidades de investimento — que causa uma inflação de ativos — é um dos elos da corrente usada por bancos centrais ao redor do mundo para estimular as suas economias.
Um pedaço da poupança vai se mexer. No Brasil, está tudo tão concentrado em títulos públicos”, diz Torós, que era diretor do Banco Central na crise de 2008. “O efeito do juro baixo é isso mesmo, reforçar a economia.”
Para o executivo, do ponto de vista do financiamento da dívida pública, não há motivos de preocupação com a saída de recursos dos fundos de renda fixa.
Valor: Qual será o impacto do juro baixo nos ativos do mercado?
Mario Torós: O objetivo dos bancos centrais, não só do Brasil, mas de outros, é criar uma reflação. Essa reflação, em geral, começa com ativos, depois se transfere para o lado da economia real e, em algum momento, atinge a inflação de bens. Esse último elo da corrente está muito tênue ultimamente. Na crise de 2008, tivemos a transmissão da inflação para ativos, e depois para a atividade econômica, e ela não se transmitiu para a inflação. Houve uma certa japonização do mundo. Agora tivemos um novo choque deflacionário importante. A atuação dos BCs foi de nova anestesia monetária que, com a ação fiscal, de fato permitiu recomeçar os elos dessa corrente. A inflação de ativos está ocorrendo e se transfere para a atividade, ainda que não de forma completa. As quedas da atividade estão sendo menos pronunciadas que o esperado, os dados em todas economias são melhores que o esperado. A terceira fase, que é a passagem disso para a inflação de bens, é que permanece um grande ponto de interrogação, apesar de que já se vê alguma coisa, segurando uma queda muito grande.
Valor: Mas no Brasil?
Torós: O efeito não é diferente. Obviamente, o Brasil está mais atrás, é a pior moeda do mundo, porque a situação fiscal já era desastrosa. Mas está conseguindo, de alguma forma, um movimento semelhante ao que está acontecendo no resto do mundo. Ocorre uma certa reflação de ativos, a atividade econômica parece que está caindo menos do que se imaginava, principalmente pela política fiscal. Mas a sustentabilidade disso se dá por uma inflação de ativos. A inflação de ativos é você ir para a bolsa, talvez em algum momento chegar aos imóveis, tem uma parte de crédito, que primeiro piorou, mas já melhorou um tanto. Tem toda uma fuga de recursos para ativos de risco. Os efeitos da política monetária estão sendo sentidos na medida em que foram feitos. Ao mesmo tempo, contrabalançando isso, tem vários aspectos, como o aumento da poupança precaucional. Esse é um movimento que já vinha ocorrendo com a queda de juro para 4,5% ou 5% ao ano e agora segue, porque os juros caíram para perto de 2% ao ano. O efeito do juro baixo é isso mesmo, reforçar a economia.
Valor: Então a migração de dinheiro entre diferentes investimentos é esperada, não tem nada de errado?
Torós: Um pedaço da poupança vai se mexer. No Brasil, está tudo tão concentrado em títulos públicos.
Valor: Então a política monetária tem que mover esses recursos para cumprir o seu papel?
Torós: É a função dela.
Valor: Não tem o risco de criar instabilidade financeira? A captação de poupança, por exemplo, subiu muito.
Torós: Se você, de fato, conseguir manter uma taxa real de 2% ou 3%, de 5% a 8% nominal, será capaz, ao longo do tempo, de desmontar toda essa parafernália criada ao longo de décadas, que nada mais é do que o entulho inflacionário. Não precisa do direcionamento imobiliário, de BNDES, a não ser para determinadas coisas, para a parte social, para algumas coisas no financiamento de longo prazo. Mas isso apenas se a taxa de juros for mesmo sustentável, porque há uma dúvida sobre isso, principalmente pela questão fiscal.
Valor: A saída de dinheiro da renda fixa não causa problema no financiamento da dívida publica?
Torós: Acho que não, não vejo nenhum problema. De fato, as pessoas estão saindo do money market. Teve fundo de money market neste ano com cota negativa. Teve gente que, para pagar a taxa de administração, aplicou em crédito privado. Não tem nada a ver com não financiar a dívida pública. O dinheiro está saindo para outros instrumentos e, do ponto de vista macroeconômico, a informação disponível é que o Tesouro está conseguindo se financiar muito bem. Só que ele tem uma necessidade de financiamento brutal, em função dos gastos que ele está tendo. Aí, de fato, pode não conseguir financiar no mercado, vai ter que usar dinheiro do BC. O gasto que está tendo em abril, maio e junho é astronômico. Mas zero de preocupação com financiamento da dívida, com o dinheiro saindo do money market. Vai sair do money market e entrar em multimercado, que vai aplicar em fundo de cinco anos. Teve gente que colocou dinheiro no CDB. Outra parte procurou ativos de risco. Valor: Mas será que os problemas vão aparecer na hipótese de o juro chegar mais próximo de zero? Torós: Não acho que o problema apareça pela parte monetária se for feito com consistência. O monetário, o BC está fazendo direito. Está baixando os juros, mas sendo cauteloso. O problema de financiamento da dívida pública pode surgir se continuar com o fiscal absolutamente descontrolado. Ou seja, se tiver, além do orçamento de guerra deste ano, um orçamento de pós-guerra do ano que vem. Surpreendentemente, o mercado não ficou preocupado, talvez porque haja um aumento no gasto fiscal no mundo todo. Mas, que tem um risco, tem.
Começamos a ver volta de crescimento em 'V' no Brasil, diz Campos Neto
A economia brasileira começa a apresentar recuperação em formato de V, afirmou nesta quinta-feira o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Ele disse, no entanto, que "não achamos que vai ser um V completo", com a retomada perdendo força em algum momento. As declarações forma dadas em 'live' promovida pelo Itaú.
"De forma geral, estamos otimistas com a recuperação", disse. No mês passado, Campos já havia afirmado que a projeção do BC para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano, de queda de 6,4%, estava defasada. A tendência, segundo ele, era que o recuo fosse menor.
"Nas últimas duas semanas, o nosso viés ficou mais claro", disse. Para o presidente do BC, o consumo e a indústria têm mostrado desempenho favorável, enquanto os serviços ainda são fonte de frustração.
Segundo o presidente da autoridade monetária, países com crescimento mais lento do crédito vêm apresentando recuperação mais lenta. Naqueles com expansão maior do crédito, grupo em que está o Brasil, a retomada é mais rápida. "[O crédito no Brasil] nos leva a crer que nossa recuperação terá um ângulo melhor", afirmou. "Tivemos não só aumento de volume [de empréstimos], como queda do spread."
A atividade econômica, na avaliação do BC, atingiu o seu menor patamar em abril. A tendência é de uma recuperação gradual a partir do terceiro trimestre. Campos também destacou que a "construção civil continua forte". Já o auxílio emergencial pago pelo governo federal deve gerar um consumo represado, possivelmente até dezembro. Mais de uma vez, entretanto, ele alertou para o risco de desequilíbrio das contas públicas. "Muito ainda precisa ser feito, não podemos descuidar do fiscal", disse.
Inflação
Na avaliação e Campos, as perspectivas recentes menos pessimistas para a economia brasileira neste ano podem ter impactos sobre a inflação. Esses impactos sobre a trajetória de preços, entretanto, tendem a ser menores do que as revisões de projeções para a atividade. "Entendemos que o hiato (medida de ociosidade de economia) é bastante grande. Essas revisões de crescimento, essas assimetrias nas revisões de crescimento, terão um impacto de uma assimetria na mesma direção, mas muito menor, na inflação", disse.
Segundo ele, ainda existe um “grau de conforto grande" no quadro inflacionário. "Pode ser até que ela (inflação) reaja bem menos" do que o crescimento, segundo ele. Campos também reforçou que o objetivo do BC é cumprir a meta de inflação. Para o ano que vem, a meta é de 3,75%. "Nós perseguimos a meta", disse.
Mundo Assim como a situação brasileira, Campos Neto vê uma recuperação da economia mundial em um primeiro momento parece ter o formato de V, mas com expectativa de suavização" em algum momento. Por enquanto, a China vem "se recuperando mais rápido", de acordo com ele.
Segundo Campos, em alguns países desenvolvidos os prêmios de risco já estão em um nível semelhante ao do período pré-pandemia. "Em alguns casos, estão até melhor", disse. O Brasil, por sua vez, "foi especialmente punido" com a saída de fluxo no início da pandemia, principalmente nos investimentos em portfólio.
Na avaliação de Campos, as medidas de distanciamento social adotadas ao redor do mundo tiveram pouca efetividade. "Não porque são ruins, mas porque é difícil fazer", afirmou O presidente do BC falou durante uma hora na 'live', período em que foi questionado sobre diversos assuntos.
No Brasil, a tendência é que o desemprego ainda piore "um pouco" antes de melhorar. Por outro lado, "o processo de reabertura nas grandes cidades já vem restaurando, mesmo que parcialmente, a confiança dos negócios e dos consumidores". Apesar do crescimento da oferta de crédito no país, a demanda vem crescendo ainda mais. Isso deixa para famílias e empresas "um sentimento de não estar sendo atendido".
"A parte do crédito está mais ou menos funcionando", disse. Ele destacou positivamente as medidas adotadas pelo BC até aqui, afirmando, por exemplo, que hoje a autoridade monetária está "totalmente preparada" para atuar no mercado secundário, conforme previsto na PEC de Guerra.
Campos também voltou a garantir que o Pix, o sistema de pagamentos instantâneos do BC, estará funcionando em novembro. Câmbio Outro ponto destacado pelo presidente da autoridade monetária foi o projeto que muda a legislação cambial, em tramitação no Congresso. "É um debate que tem que voltar no Legislativo", disse.
Campos Neto também reconheceu que a volatilidade do câmbio tem aumentado, mas afirmou que a autoridade monetária ainda não possui uma explicação clara para esse fenômeno. "Não tenho uma resposta muito boa para dar, estamos investigando", disse.
Segundo ele, o BC testou quatro hipóteses principais para tentar entender esse aumento da volatilidade, mas nenhuma delas explicou de maneira relevante o movimento: volume maior de trading de contratos menores; efeitos do overhedge dos bancos; maiores atuações feitas por robôs de investimentos, em função dos juros baixos no país; e a possível proximidade do lower bound, um limite efetivo para novos cortes da taxa básica de juros.
Apesar de juro baixo, incertezas e ruído político seguram investimento
A queda da taxa Selic, hoje em 2,25% ao ano, para sucessivas mínimas históricas nos últimos meses ainda não é suficiente para alavancar o investimento no Brasil, opinam economistas. Apesar de, em tese, o custo do dinheiro ter barateado, o financiamento de longo prazo segue como um desafio para o setor produtivo.
Também pesam as incertezas sobre a retomada da economia após a pandemia do novo coronavírus e os ruídos do governo na área ambiental e no setor externo, que afastam o investidor estrangeiro. “Continuamos a não ter no país financiamento de longo prazo, acima de dez anos. Ainda dependemos fundamentalmente do BNDES”, afirma Claudio Frischtak, presidente da consultoria Inter.B.
Ele lembra que o próprio governo enfrenta dificuldades no perfil do endividamento público. “A dívida pública passa por um enorme encurtamento em sua estrutura. Quando o próprio Tesouro tem enorme dificuldade em emitir títulos longos, não há tomador [no mercado] de títulos longos”, explica.
A retórica contundente do governo também é um fator que contribui para certa desconfiança do capital externo, que poderia ajudar a alavancar projetos de infraestrutura. “No fundo, temos um certo extremismo que coloca o nosso país no isolamento que não é só econômico, é político”, diz Frischtak.
O tema ambiental, repleto de controvérsias desde o início do governo Bolsonaro, é um dos que entraram na pauta dos investidores de fora. Resistente às críticas em torno da questão, o governo, a partir do vice-presidente Hamilton Mourão, tem tentado dirimir as incertezas quanto à preservação da Amazônia mais recentemente.
Para Mourão, no entanto, a polêmica deve-se mais a uma falha de comunicação do governo do que pela piora dos índices de queimada e desmatamento na Amazônia. As condições macroeconômicas também são desfavoráveis para elevar o investimento, opina Armando Castelar, coordenador de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).
“O pico do investimento foi em 2013 e, antes da crise da covid-19, ainda estava 25% abaixo desse nível, refletindo a elevada capacidade ociosa e as incertezas à frente. Esses fatores já vinham segurando o investimento antes e se tornaram ainda mais intensos”, afirma. Além da conjuntura atual, o histórico do Brasil no aspecto regulatório pesa sobre a capacidade de atrair capital, afirma Simão Silber, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP). “Não pode chegar no meio da valsa e dizer ‘vamos dançar tango’.
O Brasil esvaziou muito nos últimos 15 anos as agências reguladoras e rasgamos muito contrato, particularmente na época da Dilma [Rousseff, presidente até 2016]”, afirma. A recuperação da economia pelo consumo, o que poderia influenciar indiretamente os investimentos, também é improvável, diz o professor da FEA.
“A renda per capita antes da crise de 2020 ainda era menor do que a de 2014. Temos de sair de um buraco, ficamos mais pobres e o poder aquisitivo já vinha encolhendo. Com tudo isso, é difícil imaginar um milagre”, afirma Silber.
A soma de fatores estruturais e conjunturais é o que explica a pouca tração que se espera para os investimentos neste ano e no próximo, pelo menos. “Tem a incerteza da pandemia, a da economia mundial e as nossas incertezas históricas. Qual o resultado líquido disso? Os investimentos estão muito retraídos apesar dos juros baixos”, afirma Frischtak.
Governo edita MP que incentiva crédito a empresas com faturamento até R$ 300 milhões
O governo publicou nesta quinta-feira a medida provisória (MP) 992/2020 que, entre outras mudanças, cria o Capital de Giro para Preservação de Empresas (CPGE). Trata-se de um novo tratamento de crédito tributário por diferenças temporais para canalizar recursos para o capital de giro de micro, pequenas e médias empresas.
A medida foi anunciada em junho pelo Banco Central, atende empresas com faturamento de até R$ 300 milhões anuais e tem R$ 120 bilhões em potencial de empréstimos. Os riscos serão integralmente assumidos pelas instituições financeiras. "A despeito da edição de diversas medidas para combater os efeitos da covid-19 na economia real, o canal de crédito começou a perder força recentemente, afetando principalmente microempresas e empresas de pequeno e médio porte", disse a autoridade monetária em comunicado.
O CPGE funciona como uma “otimização do uso de capital” e se baseia na transferência de capital de um tipo de ativo chamado "ativo decorrente de diferenças temporárias fiscais", que atualmente compromete "parcela relevante do capital" das instituições financeiras, "limitando o potencial de elevação da carteira de crédito", segundo o BC.
Em junho, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que "o governo aceita melhorar a qualidade desses ativos decorrentes de diferenças temporárias desde que os bancos concedam empréstimos para micro, pequenas e médias empresas”. "A MP 992/2020 dá maior segurança jurídica a esses ativos, melhorando assim a sua qualidade, o que resulta na redução do volume de capital necessário para manter esses ativos e na ampliação da capacidade de o SFN (Sistema Financeiro Nacional) suportar riscos e expandir a carteira de crédito", diz hoje o BC.
"Em contrapartida, a melhoria na qualidade do estoque de tais ativos estará condicionada à concessão de créditos novos para microempresas e empresas de pequeno e de médio porte no âmbito do CGPE, obedecidas as condições, os prazos, as regras, as características e os direcionamentos a serem estabelecidos pelo Conselho Monetário Nacional", afirma.
Outra mudança estabelecida na MP foi o compartilhamento de alienação fiduciária de imóveis. "O objetivo é permitir que novas operações compartilhem a mesma alienação de imóvel já constituída em garantia de uma operação de crédito original", diz.
O BC estabelece que as novas operações devem ser contratadas com o mesmo credor da primeira operação. "Com a redução gradual da razão entre o saldo devedor e o valor da garantia nas operações de crédito garantidas pelo imóvel, à medida em que as prestações são pagas, abre-se espaço para que novas operações de crédito sejam contratadas com base na mesma garantia da operação em curso, de acordo com a necessidade e o interesse do tomador de crédito", afirma.
Para o BC, um dos benefícios do compartilhamento é que as novas operações "tendem a ser contratadas em prazos e juros mais favoráveis ao tomador", dada a "qualidade" do imóvel como garantia. Por fim, a MP permite que interessados em vender títulos privados ao BC, no âmbito da chamada "PEC de Guerra", possam fazer isso sem apresentar a "documentação comprobatória de regularidade" perante ao poder público.
A medida tem o objetivo de dar "efetividade e agilidade" às operações. "Tendo em conta a urgência na adoção de ações que minimizem os efeitos econômicos da pandemia, outras medidas previram a mesma dispensa da verificação de tal regularidade", afirma.
ESTADÃO
Mercado imobiliário aponta melhora nas vendas e fala em retomada em ‘V’
A recuperação em “V” (cai rápido, sobe rápido), tão sonhada por diversos setores em meio à crise do coronavírus, pode estar a caminho de se tornar realidade no mercado imobiliário de São Paulo, o mais pujante do País. Os negócios apurados até aqui evidenciam quedas nas vendas de abril e maio, mas que foram abrandadas ao longo de junho, despertando otimismo entre empresários e analistas.
“A sensação é que ocorreu mais um adiamento do que uma desistência das compras”, relata o presidente do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Basílio Jafet. “Após a reabertura do estandes, o movimento começou a subir”, emenda. O Secovi-SP contabilizou vendas de 1.923 imóveis novos em abril e 2.405 em maio, o que configura quedas de 27,7% e 26,7%, respectivamente, em relação aos mesmos meses do ano passado. O tamanho da queda foi considerado brando em comparação com outros setores, diz Jafet.
Os dados de junho ainda estão sendo computados, mas uma sondagem preliminar feita junto aos associados indica que as vendas já chegaram a 85% do esperado para o mês. “É um resultado espetacular para este momento em que ainda há receio de sair de casa e o atendimento tem restrições de horário e fluxo”, avalia Jafet. “Os lançamentos e as vendas são menores do que antes da crise, claro, mas as atividades melhoraram em maio e junho. Para mim, isso foi uma grande surpresa”, diz o analista do BTG Pactual, Gustavo Cambaúva.
Atrativo na crise
Há algumas hipóteses que explicam a melhoria dos negócios . A principal delas é que taxa de juro média do financiamento imobiliário no Brasil está no menor patamar da história, de acordo com dados do Banco Central. Em maio, ela chegou a 7,16% ao ano. Já no começo de 2019, estava em 8,31%, e no começo de 2017, 10,90%. O setor estima que a redução de cada ponto porcentual nos juros represente um desconto de 8% na parcela do financiamento, o que significa que ela passa a caber no bolso de cada vez mais consumidores.
Levantamento realizado pelo banco Credit Suisse neste mês aponta outros fatores que reforçam o otimismo com o mercado. Um deles é que as vendas de imóveis residenciais ficaram em torno de 60% do seu nível histórico na última crise, entre os anos de 2015 e 2017. Isso gerou uma demanda reprimida, o que ajuda a explicar o bom movimento nos estandes.
Outro fator é que os imóveis estão relativamente baratos, uma vez que a alta de preço não acompanhou a inflação. Pelos cálculos do banco, isso resultou numa desvalorização média de 25% nos últimos cinco anos das moradias nas capitais. “A demanda deprimida, associada às taxas de juros no recorde de baixa e ao desempenho fraco dos preços de moradias, criaram um ambiente único para o setor”, descreveram os analistas Daniel Gasparete e Eduardo Costa, responsáveis pelo estudo do Credit Suisse.
Além disso, o aluguel de imóveis voltou a ser um investimento atrativo. O rendimento gira em torno de 5% ao ano, nada mal frente a uma taxa básica de juros (Selic) de 2,25% ao ano.
Há também uma questão comportamental, aponta o copresidente da MRV, Eduardo Fischer. “O imóvel passou a ganhar mais importância na vida das pessoas, porque elas passam mais tempo em casa e querem ter um lugar agradável para ficar", comenta. Esse ponto de vista pode levar muitas pessoas a trocar o aluguel pela casa própria ou até mesmo buscar um “upgrade” para uma moradia melhor, explica.
Projeções de queda do PIB em mais de 6,5% provavelmente não acontecerão, diz Economia
O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, disse nesta quinta-feira, 16, que a projeção, mantida ontem pela pasta, de queda de 4,7% da atividade econômica neste ano é "razoável" e previsões de mercado que apontam para contração superior a 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) provavelmente não serão confirmadas.
Ao explicar por que o Ministério da Economia manteve a estimativa de retração inferior a 5% quando o mercado, na mediana, prevê queda de 6,1%, Sachsida citou o estímulo extra à recuperação decorrente da prorrogação do auxilio emergencial, injetando mais R$ 100 bilhões na economia, combinado ao empurrão ao consumo vindo dos saques emergenciais de FGTS, mais R$ 26 bilhões, e dos juros no piso histórico.
Ele reconheceu, porém, que os indicadores econômicos são mistos: enquanto alguns sugerem que a economia está reagindo, outros trazem preocupação. "Há sinais de retomada da economia, com indicadores conflitantes", comentou o secretário durante participação em live promovida pelo Brazil-Florida Business Council.
Ele lamentou a demora do País em controlar a pandemia, lembrando que, quatro meses após o início das quarentenas, ainda existem Estados anunciando, em julho, restrições a circulação de pessoas.
Conforme o secretário, embora a previsão do governo esteja abaixo da média do mercado, ela ainda indica a maior queda do PIB na série estatística de 120 anos.
Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental
O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.