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Analistas avaliam uso de diretrizes futuras para Selic
No momento que os juros estão próximos a zero nos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed) tem colocado à mesa a discussão sobre o uso do “forward guidance”, um direcionamento dado pelo banco central quanto aos passos futuros da política monetária.
Com a Selic em 2,25% e a existência de pouco espaço adicional para novos cortes nos juros, de acordo com o Banco Central, a discussão sobre o uso de uma orientação de mais longo prazo ganha força, embora agentes alertem para diferenças expressivas em relação à efetividade do “guidance” em um país desenvolvido e em um emergente.
Foi o alerta emitido pelo diretor de política econômica do BC, Fabio Kanczuk, para quem o ponto central da discussão em torno da ferramenta está na credibilidade. “Se o ‘forward guidance’ teve problemas de ser crível na Suécia e nos EUA, o problema seria turbinado no Brasil”, afirmou o dirigente durante live promovida pelo Safra em 3 de julho.
Kanczuk destacou que a autoridade monetária brasileira não estuda o uso do “guidance” mais longo neste momento, mas fez alguns paralelos entre a possível efetividade dessa estratégia em solo americano e em território brasileiro.
Durante a live, Kanczuk notou que tanto o “guidance” quanto programas de compras de ativos atuam para derrubar o juro de longo prazo nos EUA, composto pela expectativa futura da taxa de juros e pelo “term premium”, o prêmio pago ao investidor por manter um ativo por um período prolongado. “No Brasil, além desses dois fatores, também existe a questão do risco de crédito”, disse.
Assim, para ele, usar o ‘guidance’ em um país emergente seria mais benéfico do que comprar ativos, já que o prêmio de risco não seria afetado. “O problema é você ter credibilidade num país em que a volatilidade é grande”, afirmou.
O economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato, diz ter algumas dúvidas sobre a questão. Ele lembra que o Banco Central já tentou usar o “forward guidance” em outras ocasiões e indicar estabilidade da taxa de juros por um período prolongado, mas a estratégia não funcionou. “Quando você tem muita volatilidade, o BC consegue se comprometer com o futuro? Por mais bem intencionado que seja, a volatilidade intrínseca dos emergentes torna a situação complicada.”
Honorato aponta que a quantidade de estímulos injetados para contornar os efeitos da pandemia foi tão grande que prever os próximos passos da economia se tornou algo mais difícil. O economista lembra, ainda, que a curva de juros está bastante inclinada, com as taxas de longo prazo em níveis bem mais altos do que as de curto prazo, “muito mais pelas incertezas relacionadas às contas públicas do que pela percepção de que o BC está fazendo algo errado com a taxa de juros”.
“Como o BC conseguiria convencer o investidor se ele não pode resolver as contas públicas? Se você tiver uma agenda fiscal super comprometida, o poder de fogo do ‘forward guidance’ aumenta e o BC teria mais poder, inclusive, de influenciar os juros longos, embora isso não tirasse a volatilidade intrínseca dos emergentes”, diz Honorato. Para ele, é difícil a construção de um “forward guidance” que seja crível no momento em que a situação fiscal está desarrumada.
O processo de criação de uma orientação futura, portanto, seria “bem mais complexo no Brasil”, aponta Marcelle Chauvet, professora do Departamento de Economia da Universidade da Califórnia e integrante do Comitê de Datação de Ciclos Econômicos (Codace) da Fundação Getulio Vargas (FGV). “Um ‘forward guidance’ no Brasil teria de ser em um prazo menor e dar flexibilidade para mudanças sem que o BC perca credibilidade por ter de mudar a orientação diante de uma dinâmica interna muito mais volátil e vulnerabilidade a choques externos.”
O economista-chefe do UBS Brasil e ex-diretor de assuntos internacionais do BC, Tony Volpon, também acredita que o BC pode querer adotar uma orientação mais longa, “o que até pode ser interessante porque a curva de juros hoje está muito inclinada”.
Volpon, assim, acredita que o “guidance” poderia diminuir as taxas de juros de dois a três anos, mas faz alertas quanto à credibilidade do mecanismo. “Se você usar a ferramenta e não cumpri-la, isso pode minar a sua credibilidade, pode ser algo ruim do ponto de vista institucional para um banco central”, diz Volpon.
Para ele, a discussão sobre o uso do “forward guidance” no Brasil dependerá da postura como o colegiado vê o momento atual, com adequação aos dados e a questão do limite mínimo efetivo para os juros. Volpon lembra, ainda, que o próprio BC tem apontado para ferramentas tradicionais de política monetária para dar estímulos adicionais, se necessário, antes de uma possível adoção de políticas não convencionais.
Ao comentar sobre os rumos da política monetária no Brasil, Ricardo Barboza, professor colaborador da Coppead-UFRJ, defende que, antes do debate quanto a um “forward guidance”, o BC efetue novos cortes na taxa básica de juros, tendo em vista o sistema de metas de inflação. Ele nota, inclusive, que o Comitê de Política Monetária (Copom) já utiliza uma forma de “guidance” na comunicação oficial, ao mostrar os cenários de inflação. “Há um ‘forward guidance’ implícito com a divulgação dos cenários de inflação”, diz.
Para Barboza, o cenário atual, com expectativas de inflação do próprio BC abaixo da meta, deveriam promover uma revisão para baixo na trajetória da Selic, diante do pressuposto de que o objetivo da autoridade monetária é atingir a meta de inflação.
O economista, assim, acredita que a adoção de uma comunicação que oriente um ambiente de juros baixos por um período prolongado, no momento em que as expectativas de inflação se mantêm abaixo da meta, cria um embate de “guidances”.
Barboza, inclusive, diz que já houve um “embate de comunicações” na decisão de junho do Copom. Para ele, o comitê se esforçou para tentar convencer que a assimetria do balanço de riscos para a inflação estava inclinada para o lado altista. O economista, no entanto, afirma que “é estranho o BC sinalizar que pode não reduzir mais os juros quando os cenários que ele mesmo divulga indicam que a inflação não está convergindo para a meta em 2021”.
Ibovespa lidera rali mundial das bolsas, mas ainda perde no ano
A bolsa brasileira foi a que mais se valorizou desde o início do rali que tomou conta dos mercados recentemente. Em dólar, o Ibovespa subiu 30,6% desde 22 de maio, quando ingressou numa trajetória firme de alta até 102 mil pontos. Ainda assim, o índice continua como o pior entre seus pares no ano. Também na contabilização em moeda americana, a queda é de 32,98%. A única bolsa que exibe perdas semelhantes em 2020 é a do México (-29,99%).
A Nasdaq sobe 17,06% no ano. Já quando a análise é feita a partir do fim de maio, quando os índices globais ganharam impulso diante do excesso de liquidez e das taxas de juros baixas, o retrato é outro: a bolsa mexicana subiu apenas 2,64%. Ganhos melhores são vistos na Índia (22,39%), África do Sul (18,52%) e China (16,52%). Os dados foram elaborados pelo Valor Data considerando o fechamento de sexta.
Os números alimentam a discussão, sempre presente entre os investidores, sobre se as bolsas estão começando a ficar caras. Com a desconfiança crescente sobre uma reabertura consistente da economia e na ausência de fundamentos mais robustos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e de lucro das companhias, o rali foi sustentado pelo excesso de liquidez, dizem analistas.
“A bolsa americana, a despeito de tudo o que está acontecendo, bateu máximas e isso por si só já indica que os índices estão começando a ficar caros”, afirma Enrico Cozzolino, analista de investimentos do banco Daycoval. Para ele, só há dois caminhos possíveis: ou os preços passam por um reajuste ou o lucro das empresas precisa subir em conjunto com o PIB, justificando os preços atuais. “Não quero dizer que não é para comprar bolsa, mas que o risco pode ser mais elevado e que o retorno também demora mais para vir”, afirma.
Cozzolino exemplifica o atual cenário com um indicador que ficou famoso por ser muito utilizado por Warren Buffett: a relação entre o valor de mercado (“market cap”, resultado do valor das ações multiplicado pela quantidade de papéis) e o PIB do país. De acordo com os cálculos do analista, esta relação hoje para o mercado americano indica que as ações estão mais de 140% acima do PIB dos EUA. Para ele, um valor acima de 100% já indica um mercado com preços mais caros.
Na avaliação de Adriano Cantreva, sócio da Portofino Investimentos, a análise de preço de qualquer bolsa depende do ponto de partida. Analisando o lucro projetado para este ano, de fato tudo parece acima do preço, seja aqui, nos EUA ou demais emergentes. O importante seria olhar para o que estas mesmas companhias serão capazes de entregar nos próximos dois anos, o que resulta em uma análise menos distorcida e mais justa. “As bolsas estão com um preço justo para os investidores de médio e longo prazo, especialmente no contexto de juros tão baixos porque esse dinheiro todo precisa ser alocado”, diz.
“O humor do mercado será outro dentro de alguns meses. Quando está otimista, o investidor aceita pagar caro por uma ação mesmo que a previsão de lucro nem cresça, permaneça igual e sem reversão de projeções”, acrescenta. O profissional ressalta, ainda, que a pressão recente do câmbio tornou as bolsas emergentes baratas. No ano, o dólar comercial sobe 34,18%.
Apesar disso, Enrico Cozzolino, do banco Daycoval, diz que o mercado está se aproximando do limite aceitável de preço. “A tendência é que os preços aumentem ainda mais, mas não pelos fundamentos e sim pelo excesso de liquidez no mundo todo. O investidor aceita risco porque tem mais dinheiro e precisa alocá-lo, é isso o que tem motivado a alta dos índices”, afirma. E isso deve, inclusive, manter os investidores estrangeiros afastados do mercado secundário da bolsa brasileira.
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