Quarta-feira

VALOR

‘Para ser crível, parte do ajuste fiscal deveria acontecer já em 2021’

Uma série de incertezas levanta dúvidas quanto a uma recuperação rápida da economia brasileira, segundo o economista Tiago Berriel, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC). “A primeira é a própria dinâmica da doença, não controlada no Brasil. A outra é a incerteza sobre a como resolveremos toda a deterioração fiscal que tivemos neste ano, que pode ter implicações sobre a estabilidade macroeconômica e taxação futura das famílias e empresas”, afirma ele, sócio e economista-chefe da Gávea Investimentos, citando também indefinições no quadro político.

Num cenário como esse, “a melhor resposta para quem quer fazer grandes investimentos é novamente esperar, como vimos nos momentos de alta incerteza em 2017, com a greve dos caminhoneiros, e em 2018, com as eleições”, diz Berriel. Ele destaca que as previsões têm elevado grau de incerteza, estimando uma queda do PIB no segundo trimestre em torno de 15% em relação ao primeiro, feito o ajuste sazonal. Para 2020, a expectativa é um tombo na casa de 6% a 7% e, para 2021, um crescimento um pouco acima de 4%.

Para Berriel, um ponto fundamental no pós-pandemia é como será a condução da política fiscal. “Do ponto de vista econômico, um ajuste plenamente crível deveria ser implementado gradualmente para minimizar seus custos”, diz ele. “O grande problema está na hipótese ‘plenamente crível’”, afirma Berriel, para quem o projeto implementado em 2016, com o teto de gastos, foi “crível, trouxe confiança e contribuiu na redução dos juros nos país”.

Em resposta à pandemia, fez-se uma exceção ao teto e há uma discussão constante sobre flexibilizá-lo, diz ele. “Ainda que por motivo justo, a exceção corrente do teto dos gastos e toda a discussão sobre sua flexibilização diminuem a credibilidade de um futuro ajuste fiscal gradual”, avalia Berriel, para quem um ajuste que tenha credibilidade terá de ser mais focado no curto prazo do que o realizado em 2016. “Ter uma solução crível para o fiscal com garantia de solvência nas contas públicas é a melhor maneira de garantir que teremos crescimento sustentável a médio prazo”, diz ele, acrescentando que, “para ser crível, parte desse ajuste deveria acontecer já no ano que vem”.

Diretor do BC entre julho de 2016 e junho de 2019, Berriel também fala sobre o dilema da política monetária. “Atividade, inflação corrente e ambiente externo justificam estímulos adicionais, enquanto as consequências do fiscal para o balanço de riscos para inflação prescreveriam cautela”, diz ele, que tem doutorado pela Universidade de Princeton, nos EUA.

Para Berriel, os riscos de mais estímulos monetários “estão associados à combinação de fragilidade fiscal, taxas de juros muito baixas e à dinâmica cambial”, num quadro de alta do endividamento público e encurtamento de prazos da dívida. “Esse ambiente, combinado com os juros curtos muito baixos, faz com que o câmbio passe a ser o grande termômetro do risco no Brasil.” A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: A China cresceu 3,2% no segundo trimestre, uma alta considerada expressiva por alguns analistas, depois do tombo no primeiro. Isso indica uma recuperação em “V”?

Tiago Berriel: Os primeiros meses após pandemia têm demonstrado na China uma recuperação mais forte, sim. Mas é importante notar o padrão de crescimento: consumo e exportações líquidas ainda relativamente fracos, pois dependem da confiança dos agentes privados e da retomada internacional. A volta tem sido mais acentuada nos componentes sob maior controle do governo, como a produção industrial e o investimento, focados tanto na nova infraestrutura (como 5G e cidades inteligentes), quanto na velha infraestrutura e no setor imobiliário. No médio e longo prazo, fica a questão de como sustentar esse crescimento mais voltado para a demanda doméstica e para a nova infraestrutura, sem aprofundar os desequilíbrios internos e sem contar com um ambiente externo favorável, com o pós-covid e a tensão com os EUA

Valor: Como vê o desempenho dos EUA e da União Europeia?

Berriel: Na Europa, temos algumas boas notícias: evolução favorável do covid, uma nova possibilidade de seguro para os governos soberanos, através da criação do Fundo de Recuperação, expansão dos gastos públicos mesmo em países usualmente mais conservadores no lado fiscal, como a Alemanha, e a recuperação mais rápida da Ásia, que é uma grande parceira comercial. Tudo isso gera um momento positivo para a atividade. Nos EUA, há mais incertezas no momento. Há os altos níveis de covid nos Estados em que a doença evoluiu posteriormente, incertezas sobre a renovação das transferências fiscais em reação à pandemia e sobre as consequências na política econômica das eleições presidenciais de novembro. A médio prazo, na Europa persistem os problemas estruturais fiscais e de falta de crescimento nos países periféricos e, apesar do Fundo de Recuperação, está longe de ser claro que o processo de integração fiscal dará novos passos. A ação do Banco Central Europeu continua ser o grande aglutinador “fiscal” dos países, o que parece uma deturpação do seu papel como BC. Já nos EUA, é natural esperar um papel mais ativo da política fiscal, inclusive com maior papel redistributivo, com todos os riscos associados a essa mudança de postura.

Valor: Os juros estão muito baixos nos países desenvolvidos e devem continuar assim por um período considerável. Quais os efeitos desse fenômeno para a economia global e para emergentes como o Brasil?

Berriel: As implicações são muitas. Essa âncora passa a ser um suporte relevante para os preços de ativos, para o preço de commodities e para o crédito. Muda a dinâmica usual para a dinâmica das moedas, uma vez que os juros curtos reagirão pouco aos dados de inflação e atividade. Como já mencionei, a implicação para política econômica de não haver mais espaço relevante de estímulo monetário é ter uma política fiscal mais ativa para estabilização do ciclo econômico e, provavelmente, para redistribuição de renda, como a experiência com a crise da covid tem mostrado. Para emergentes, esse ambiente de maior liquidez ajuda, reduz juros de longo prazo e aumenta a barra para que o câmbio deprecie de uma maneira desordenada. Entretanto, não é uma carta branca para políticas fiscais descontroladas, que têm limites muito mais claros e bem inferiores aos de países avançados.

Valor: Os indicadores de maio e junho sugerem que abril foi o fundo do poço para a atividade econômica no Brasil. Os números indicam uma economia já em recuperação ou é apenas uma reação após o mergulho ocorrido na segunda metade de março e em abril?

Berriel: Indicam alguma recuperação, sim. Os índices de mobilidade, de gastos com cartão de crédito e débito, de consumo de energia, de tráfego de veículos vão todos nessa direção. Os dados de maio, entretanto, principalmente a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) e a agregação dos dados de atividade divulgada pelo BC (o IBC-Br), mostram que essa recuperação talvez não esteja com a alta velocidade que alguns anteviam há algumas semanas.

Valor: O segundo trimestre vai mostrar um forte tombo do PIB. Qual a sua estimativa para a retração do PIB em relação ao primeiro?

Berriel: Nossa estimativa é em torno de -15% para segundo trimestre contra o primeiro, com uma grande incerteza em torno desse número. A incerteza está clara, por exemplo, nos últimos dados de varejo e serviços. Seguindo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), a estimativa para o segundo trimestre seria um pouco melhor que -10%, mas olhando a PMS seria mais próxima de -20%.

Valor: O auxílio emergencial foi estendido por mais dois meses. Em que medida ele ajudou a frear a queda do consumo? Ele dará fôlego à retomada no terceiro trimestre?

Berriel: O auxílio é uma transferência de renda muito grande, aumenta a renda efetiva para uma grande parcela da população mais pobre, que tem uma propensão marginal a consumir maior. Sem dúvida é um importante suporte de curto prazo para o consumo, principalmente de bens na cesta dos mais pobres. Sem o auxílio, certamente o consumo seria menor.

Valor: É possível imaginar uma recuperação rápida ou razoável para a economia brasileira ou o mais provável é uma retomada lenta?

Berriel: Há muitos elementos que introduzem incerteza sobre uma recuperação rápida da economia brasileira. A primeira é a própria dinâmica da doença, não controlada no Brasil. A outra é a incerteza sobre a como resolveremos toda a deterioração fiscal que tivemos neste ano, que pode ter implicações sobre a estabilidade macroeconômica e taxação futura das famílias e empresas. Por outro lado, a ociosidade dos fatores será muito grande e uma recuperação é esperada.

Valor: Em que medida o consumo das famílias e o PIB vão ser afetados pelo fim do auxílio emergencial?

Berriel: Primeiro, é preciso saber em que termos será descontinuado o auxílio emergencial. Temos pouco mais de um mês para o governo apresentar a proposta do Renda Brasil, para que seus parâmetros e seu financiamento sejam discutidos e aprovados no Congresso. Não me parece um prazo longo o suficiente. Provavelmente, teremos algum tipo de transição com extensão de alguma forma adicional de auxílio emergencial até o fim do ano, de maneira a organizar o Renda Brasil como solução definitiva. Então, o impacto sobre o consumo das famílias e do PIB dependerá desses parâmetros de transição no curto prazo. Mas há um custo a se pagar por esse benefício. Sustentar de maneira tão expressiva a demanda agregada aumenta a nossa fragilidade fiscal e isso terá que ser enfrentado de alguma maneira no futuro. Uma maior deterioração fiscal, principalmente sem um plano claro de saída lá na frente, aumenta prêmios de risco e reduz investimentos.

Valor: Quais as suas estimativas para a variação do PIB em 2020 e em 2021?

Berriel: Novamente aqui as incertezas de todas as projeções são enormes. Para 2020, nossa projeção está entre -6% e -7% e, para 2021, um pouco acima de 4%.

Valor: O crédito às pequenas e empresas parece não ter funcionado muito bem até o momento. Isso pode dificultar a retomada?

Berriel: Não é fácil desenhar um programa que atenda pequenas e médias empresas de maneira tempestiva durante a pandemia em qualquer lugar do mundo e aqui temos que ressaltar os esforços da equipe econômica nesse sentido, inclusive reconhecendo problemas e buscando alternativas. O eventual fechamento de empresas viáveis em situações normais não atrapalha só a retomada, como também tem consequências de médio prazo para a economia. Isso faria com que houvesse mais custos e mais atraso para que os recursos de capital e trabalho voltassem a ser produtivos. Além disso, há as perdas de conhecimento sobre o negócio que poderiam vir a ocorrer.

Valor: O nível de incerteza na economia permanece elevado, mesmo depois da queda nos últimos meses, como mostra o Indicador de Incerteza da Economia da FGV. Em que medida isso afeta o investimento?

Berriel: Há muitas incertezas, tanto no lado da epidemia em si, quanto do fiscal e do político no Brasil. Uma vez que parte dos investimentos é de reversão custosa, a melhor resposta para quem quer fazer grandes investimentos é novamente esperar, como vimos nos momentos de alta incerteza em 2017, com a greve dos caminhoneiros, e em 2018, com as eleições.

Valor: Com inflação rodando bem abaixo da meta e um grau elevado de ociosidade na economia, o BC deve cortar mais os juros para estimular a atividade ou novos cortes podem ser contraproducentes? Por quê?

Berriel: Não acho que cortes adicionais seriam contraproducentes, no sentido de não estimular no curto prazo a demanda agregada por aperto nas condições financeiras. Em uma economia em que a taxa básica tem uso tão abrangente, é difícil imaginar que uma redução da Selic leve a aumentos da taxa de juros reais a termo nas partes mais longas da curva tão fortes que mais que compense o decréscimo na taxa curta. Não acredito que isso aconteça no Brasil no momento. Os riscos de mais estímulos, ao meu ver, estão associados à combinação de fragilidade fiscal, taxas de juros muito baixas e à dinâmica cambial. Estamos vendo um aumento significativo do endividamento público nesse período, com encurtamento da dívida. Esse ambiente, combinado com os juros curtos muito baixos, faz com que o câmbio passe a ser o grande termômetro do risco no Brasil, já que uma abertura dos juros não torna essa dívida curta mais atrativa e não veríamos uma reação imediata da taxa básica. Assim, estaríamos sujeitos a movimentos cambiais mais fortes, com consequente riscos para a ancoragem de expectativas e para inflação no horizonte relevante para a política monetária. Até agora risco não se materializou para a inflação, é verdade. Entretanto, deveria estar no balanço de riscos da autoridade monetária. Assim, há um dilema: atividade, inflação corrente e ambiente externo justificam estímulos adicionais, enquanto as consequências do fiscal para o balanço de riscos para inflação prescreveriam cautela.

Valor: Há uma discussão sobre um limite efetivo mínimo para o juro no Brasil. O sr. acha que há esse limite - e a Selic estaria próxima dele?

Berriel: Não acredito que haja um limite pré-estabelecido diferente de zero. Os riscos pelos mecanismos descritos acima se intensificam quando chegamos mais perto do zero. E se intensificam de maneira convexa, ou seja, rapidamente. Então, mesmo antes do nível de juros que estamos no momento, havia motivos para a cautela no processo de redução de juros.

Valor: A dívida bruta deve atingir 95% do PIB ou mais e o déficit primário superar 10% do PIB neste ano. Isso indica que o ajuste fiscal terá que ser forte em 2021 ou há espaço para uma consolidação gradual?

Berriel: Essa é a questão crucial para economia brasileira no pós-pandemia. Sua pergunta é se o ajuste deveria ser imediatamente ao fim da pandemia ou suavizado ao longo do tempo. Do ponto de vista econômico, um ajuste plenamente crível deveria ser implementado gradualmente para minimizar seus custos. O grande problema está na hipótese “plenamente crível”. Em 2016, implementamos um projeto de ajuste gradual, com o teto dos gastos. Foi crível, trouxe confiança e contribuiu na redução dos juros nos país. Alguns anos depois, e em reação a um choque exógeno e muito violento, fizemos a primeira grande exceção no teto dos gastos com a PEC da pandemia. Além disso, há uma discussão constante sobre flexibilização do teto. Ainda que por motivo justo, a exceção corrente do teto dos gastos e toda a discussão sobre sua flexibilização diminuem a credibilidade de um futuro ajuste fiscal gradual. Então o que resta saber é como fazer esse ajuste. Difícil dizer, mas para que seja crível, deverá ser mais focado no curto prazo que em 2016 e sua discussão já deveria ter começado.

Valor: Uma queda do déficit primário para a casa de 2% a 3% do PIB no ano que vem não pode dar um tranco na atividade, num cenário em que as perspectivas para o consumo das famílias e o investimento não são animadoras?

Berriel: Mas a pergunta que temos que responder é: qual a alternativa? Não reduzir o déficit primário vai levar a um PIB menor no futuro, com o aumento da deterioração fiscal, abertura dos prêmios de risco, menores investimentos e incerteza sobre a permanência da estabilidade macroeconômica. Ter uma solução crível para o fiscal com garantia de solvência nas contas públicas é a melhor maneira de garantir que teremos crescimento sustentável a médio prazo. E, para ser crível, parte desse ajuste deveria acontecer já no ano que vem.

Valor: Estados e municípios promovem um abrandamento das medidas de isolamento social, mesmo num momento em que a pandemia ainda não parece sob controle. Qual o risco de uma segunda onda de infecções - como parece ocorrer em muitos Estados dos EUA - e, com isso, a uma nova piora da atividade?

Berriel: O que acontece em alguns Estados americanos é uma primeira onda atrasada, e não propriamente uma segunda onda. Ainda não vimos uma segunda onda numa região que passou por um primeira onda verdadeiramente forte, mas esse risco existe. Uma abertura descuidada deveria aumentar esse risco.

Valor: O presidente Jair Bolsonaro sempre minimizou a covid-19, mostrando mais preocupação com o impacto sobre a economia. Como o sr. avalia essa abordagem da doença pelo presidente?

Berriel: Foi claramente um equívoco considerar que havia uma oposição entre economia e cuidados sanitários com a epidemia, principalmente em março e abril, no início desse processo. Países mais cuidadosos nesse período inicial, como os asiáticos, ou mais efetivos e conservadores no estabelecimento do isolamento social, como os europeus, têm apresentado resultados melhores tanto em termos sanitários quanto na retomada da atividade.

 

Relator e governo acertam ampliação dos recursos do Pronampe

O deputado Zé Vitor (PL-MG), relator da medida provisória (MP) 944, que institui o Programa Emergencial de Proteção ao Emprego (Pese), acertou com o governo nesta terça-feira (28) que a emenda do Senado para direcionar parte dos recursos desse plano para o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe) será acatada. O Pronampe inicialmente tinha previsão de R$ 18 bilhões, mas o dinheiro já foi todo emprestado.

O Senado aprovou emenda para que R$ 12 bilhões do Pese reforce o funding da linha para micro e pequenas empresas e isso será aprovado, segundo o relator da MP, que passou o dia em negociações com o governo. A votação está prevista para esta quarta-feira (29). Outra decisão em conjunto com o governo foi elevar o faturamento das empresas que poderão recorrer à linha de crédito do Pese para pagar salários.

A Câmara já tinha aprovado o aumento de R$ 10 milhões do faturamento para R$ 50 milhões, mas o Senado voltou a limitar o acesso ao cortar parte dos recursos. Os deputados, disse Vitor, elevarão de novo o faturamento.

A MP 944 cria uma linha de crédito para pagar salários, com o compromisso de que as empresas terão que manter seus funcionários por igual período. Pela proposta aprovada na Câmara, o crédito poderá bancar até quatro meses da folha de salários e também o pagamento de ações trabalhistas de até R$ 15 mil.

 

ESTADÃO

Na contramão climática, Brasil vê fundos trilionários barrarem empresas nacionais

O Brasil vem sendo apontado como um dos países que mais vai na contramão climática em todo o mundo, a despeito do esforço de algumas lideranças empresariais de mudar essa percepção. Por isso, grandes gestoras estão barrando um número cada vez maior de empresas brasileiras de seus portfólios, afastando o País de fundos que têm investimentos com o olhar em algum critério ambiental, social ou de governança (ESGs, na sigla em inglês) e que administram um montante de mais de US$ 20 trilhões globalmente. A ameaça de retirada de investimentos no Brasil já começou a virar realidade. Hoje foi a vez do grupo financeiro norte-europeu Nordea anunciar que retirou a fabricante de carnes JBS de sua carteira, um dia depois da notícia de que o frigorífico brasileiro estaria envolvido com o desflorestamento ilegal da Amazônia.

No caso do Nordea Asset Manegement, um fundo global com 220 bilhões de euros sob gestão, a decisão foi tomada este mês, após um período de interação entre o Comitê de Investimentos Responsáveis da gestora e a administração da empresa. "A Nordea decidiu excluir a JBS de todos os nossos fundos. A decisão foi tomada após um período de engajamento com a empresa, onde não sentimos que estávamos vendo a resposta que estávamos procurando", disse ao Estadão/Broadcast o responsável pelos Investimentos Responsáveis da gestora, Eric Pedersen.

Nessa interação com a JBS, destacou Pedersen, foram contempladas diversas questões relacionadas à temática ESG - ambiental, social e de governança corporativa, pelas iniciais em inglês. Dentre elas, o risco de desmatamento na cadeia de suprimentos da empresa, governança corporativa, a forma que a empresa tem lidado com as acusações de corrupção e, ainda, pela maneira como foi tratada a segurança de seus funcionários em meio à pandemia da covid-19. As plantas da JBS sofreram surto da doença, com a Justiça paralisando as atividades em algumas unidades.

Pedersen citou que seus fundos ESG já evitam companhias que tenham esse tipo de exposição, como os apontados no caso da JBS, mas que agora o movimento é mais amplo, de forma a abranger os demais fundos da gestora. Em resposta, a JBS afirmou que "está totalmente comprometida com a erradicação do desmatamento" e que seus instrumentos de governança são "rígidos". A empresa lamentou "não ter sido procurada" pelo Nordea para apresentar suas ações.

A decisão de desinvestimento de um fundo, como o de perfil do Nordea, é sempre o último recurso, afirma Marcelo Seraphim, representante do Principles for Responsible Investment (PRI) no Brasil, organização criada com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) para ajudar os investidores a incorporar as questões ambientais, sociais e de governança (ESG, inglês) em suas decisões de investimento e nas suas relações com as empresas investidas. "O fundo prefere esgotar seus esforços de engajamento individuais e coletivos. Por exemplo, o Nordea é um dos membros do Investors Iniciative for Sustainable Forest, um projeto que o PRI coordena para melhorar o monitoramento das empresas da cadeia de carne e soja", comenta o representando do PRI no Brasil. "A percepção de risco e a estratégia de investimento são aspectos que dependem de cada gestora. Mas o movimento do Nordea acende uma luz amarela certamente. Bom destacar que os maiores investidores institucionais estão cada vez mais parecidos com a Nordea", comenta.

Pioneiro da temática ESG no Brasil, o sócio-fundador da Fama Investimentos, Fábio Alperowitch, afirma que o Brasil está ao menos 30 anos atrasado em relação a esse assunto, que vem ganhando cada vez mais os holofotes mundiais. "Muitos investidores ainda têm o foco só no financeiro, mas fundos como a Nordea, o nosso, exercem sua responsabilidade de não compactuar com determinadas práticas. Os investidores ainda são míopes em relação ao futuro dessas empresas, já que companhias que desmatam e poluem terão piores negócios, seja porque perderão mercado de médio a longo prazos, seja porque os consumidores migrarão para outras marcas", afirma.

O sócio da Fama, um dos únicos fundos brasileiros signatários de um manifesto global no ano passado para a defesa da Amazônia, destaca que empresas ao redor do mundo estão se comprometendo para serem neutras na emissão de carbono e que, nesse sentido, a Amazônia tem um papel relevante para que isso possa ser feito. O Brasil poderia, assim, ser um dos maiores exportadores do mundo em crédito de carbono, mas deve perder essa oportunidade por conta do descaso do governo com a Amazônia.

"Durante muito tempo o Brasil não debateu direito nem sobre direitos humanos ou meio ambiente. Por aqui, o mercado financeiro trata, há décadas, esse assunto como se fosse de esquerda e repudiavam esses temas. Agora, o assunto chega aqui com força e o mercado financeiro brasileiro ainda é ignorante sobre esse assunto", frisa. "No geral, acaba prevalecendo a questão comercial. Muitos falam do tema porque atrai investidores."

Ameaça cumprida

A ameaça de saída de investidores do Brasil começou no ano passado, momento em que as queimadas na Amazônia sofreram uma escalada, com a crise sendo mitigada pelo governo de Jair Bolsonaro, que recebeu, na época, críticas de líderes de grandes potências mundiais, como a França. Neste ano os investidores elevaram o tom e neste mês dez fundos estrangeiros se reuniram com o vice-presidente Hamilton Mourão, que é o presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, e solicitaram que o Brasil reduza suas taxas de desmatamento.

Provando relevância sobre o tema, os três grandes privados, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander lançaram semana passada um plano conjunto para promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia. A proposta inclui dez medidas, como estímulo às cadeias sustentáveis na região e viabilização de investimentos em infraestrutura básica para o desenvolvimento social e ambiental. O cronograma prevê a implementação desses itens ainda em 2020.

O KLP, maior fundo de pensão da Noruega, com US$ 80 bilhões em ativos sob gestão, investe em 58 companhias brasileiras e já baniu a JBS, além de Vale e Eletrobrás, de sua carteira. "Estamos continuamente monitorando todos os nossos investimentos. Se houver algum risco inaceitável, de corrupção, de contribuição para violação de direitos humanos ou degradação do meio ambiente, tomamos a decisão de desinvestir dessas empresas", disse ao Estadão/Broadcast a chefe da área de investimentos responsáveis do KLP, Jeanett Bergan.

A executiva do KLP conta que a Vale foi excluída por questões ambientais e de direitos humanos. A Eletrobrás por risco de corrupção. "Temos regras bem restritas de investimento e ao redor de 600 empresas estão excluídas da nossa carteira." Jeanett alerta que quando o fundo resolve parar de investir em empresas, acaba sendo seguido por outros gestores. "Quando a KLP desinveste de uma empresa, o faz de maneira transparente, com um raciocínio completo por trás de nossa decisão. Isso torna mais fácil para outros investidores usarem nossas informações e seguirem nossas decisões em seus aportes." Antes do KLP, o fundo de pensão sueco AP1 já havia banido a Vale de suas carteiras, se desfazendo de ações e bonds que tinha da empresa.

Para um gestor em Nova York, as assets dos Estados Unidos ainda estão "um passo atrás" em relação à Europa nos investimentos sustentáveis, mas é "questão de tempo" até que alguns fundos americanos mais preocupados com esses investimentos sigam o exemplo dos europeus e comecem a ser mais seletivos com empresas brasileiras. O tema ESG vem ganhando cada vez mais espaço na comunidade de investimentos americana e deve ter impulso ainda maior caso os democratas vençam as eleições presidenciais de novembro, disse ele.

 

Bradesco passa a prever queda de 4,5% para o PIB brasileiro este ano

O Departamento Econômico do Bradesco informou nesta terça-feira, 28, em relatório, que revisou sua expectativa em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) para este ano. A projeção, que era de queda de 5,9%, foi para uma retração de 4,5%. Para o ano que vem, o grupo de economistas do banco espera um crescimento de 3,5%.

A revisão do PIB, com redução da queda esperada, de acordo com o documento do Bradesco, reflete os dados de atividade, que seguem surpreendendo positivamente, sugerindo um recuo menos intenso do PIB neste ano. Além da melhora em diversos indicadores, há sinais de alguma estabilização no ritmo de disseminação da covid-19, reduzindo os temores de uma segunda onda. “A produção industrial e as vendas do varejo têm confirmado o movimento mais forte de melhora dos índices de confiança”, diz o relatório.

O Bradesco também passou a trabalhar com uma contração de 3,6% da economia mundial em 2020. Antes a projeção era de uma queda de 4% da economia global. “A retomada deverá acontecer em dois estágios. Para 2021, estimamos expansão de 3,5%, ligeiramente acima do padrão de crescimento dos últimos anos. De toda forma, alguns riscos seguem presentes, fazendo com que, apesar do tom mais positivo do cenário global, a dispersão das probabilidades ao redor do cenário base siga acima do usual”, observam os economistas do banco.

Inflação e juros

Os economistas do Bradesco projetam que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do País, deve encerrar 2020 com alta de 1,9%, chegando a 3,1% em 2021. Esse processo de aceleração da inflação, segundo o banco, é esperado após um período atípico de deflação durante a pandemia do novo coronavírus, ocorrendo, portanto, uma gradual normalização em direção ao centro da meta.

Já para a taxa de juros, a Selic, a previsão do banco é que permaneça em 2,25% até o final deste ano e que encerre 2021 em 3%.

 

 

 

 

 

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