Terça-feira

Retomada da economia depende de compromisso fiscal, afirma Citi

Alguns setores já dão sinais de recuperação depois da parada abrupta imposta pelo coronavírus e a inadimplência continua bem comportada. Porém, uma melhora consistente da economia brasileira só se dará com a manutenção da responsabilidade fiscal, diz Marcelo Marangon, presidente do Citi no país. “Estamos otimistas, mas cautelosos em relação a 2021. Vai depender do fiscal para haver confiança”, afirma o executivo em entrevista ao Valor.

Um ano atrás, com a aprovação da reforma da Previdência e perspectivas mais animadoras para o Brasil, o presidente do Citi afirmou que a roda estava “começando a girar”. Agora, em consequência da pandemia, ele diz que “a roda deu uma travada” - não parou, mas está girando devagar, e é preciso ter certeza sobre a preservação do teto de juros e o andamento das reformas tributária e administrativa para que volte a ganhar velocidade.

Segundo Marangon, o ano já começou com desafios para o crescimento econômico, mas as perspectivas eram positivas. Veio a crise e subverteu tudo, agregando mais complexidade. Para o Citi, o desempenho nesse período não é ruim. O banco contabilizou lucro líquido recorrente de R$ 757 milhões no primeiro semestre, 5% inferior ao do mesmo período do ano passado. A queda reflete um aumento das reservas contra perdas no crédito.

As provisões para devedores duvidosos (PDD) foram ampliadas em 145%, para R$ 619 milhões. No entanto, a carteira de crédito expandida cresceu 45% em um ano até o fim de junho, quando chegou a R$ 30,885 bilhões. E o banco não vê, até agora, sinais de alta da inadimplência. “Fomos bastante conservadores em provisões, mas não temos visto um nível de perdas maior que o do ano passado”, diz.

“A gente não vê uma deterioração no segundo semestre.” O executivo pondera que o banco trabalha com um grupo de empresas de médio e grande portes “muito seleto e previsível”, que pode não ser indicativo do mercado como um todo. “É um grupo de companhias que se posicionou bem na crise e a tendência é que ganhem market share”, afirma. Ganhar escala em empréstimos e financiamentos fazia parte da estratégia do Citi depois que vendeu sua operação de varejo e concentrou a subsidiária brasileira nos negócios de atacado, em 2017.

Isso já vinha acontecendo, mas a pandemia deu um empurrão extra nesse processo. O salto no volume de operações foi impulsionado pela forte demanda das companhias por liquidez no início da crise, como se viu nos bancos em geral. Essa procura já arrefeceu e alguns clientes começam a pré-pagar as dívidas. Mesmo assim, mantido o ritmo atual, o Citi poderá fechar o ano com alta de aproximadamente 20% na carteira, mais que o dobro do que previa antes do início da crise.

Agora, a tendência de normalização do crédito tem sido acompanhada de um aquecimento nas operações de mercado de capitais - o que deve favorecer as receitas de serviços na segunda metade do ano. Segundo Marangon, o Citi está atuando em uma dezena dos IPOs que já estão na rua e também na estruturação de operações de dívida.

O presidente do Citi diz não ver ainda empresas se movimentando à procura de recursos para ampliar seus negócios. Com capacidade ociosa, as companhias investem sobretudo no parque que já têm. Para o executivo, a volta dos “investimentos que geram emprego” ainda vai levar um tempo.