Quinta-feira

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Copom mantém Selic e sinaliza pouco espaço adicional, se houver, para corte

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros em 2% ao ano, interrompendo um ciclo de quedas que já durava nove reuniões seguidas. O colegiado do Banco Central não descartou, entretanto, que volte a cortar a Selic. Mas reforçou que “o espaço remanescente” para novas quedas, se existir, “deve ser pequeno”. Com o pouco espaço disponível, o comitê reiterou a intenção de usar o “forward guidance” (orientação futura) como “instrumento de política monetária adicional” que ajude a levar a inflação para a meta.

 “O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno”, disse no comunicado divulgado após a decisão, tomada de maneira unânime. “Consequentemente, eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal, assim como de novas informações que alterem a atual avaliação do Copom sobre a inflação prospectiva.”

De forma a prover o estímulo adequado para o cumprimento da meta, mas sem descuidar das questões prudenciais, o colegiado considerou “apropriado utilizar uma ‘prescrição futura’ (isto é, um ‘forward guidance’)”.

Nesse sentido, o BC reforçou que não há, por enquanto, intenção de voltar a elevar os juros. A exceção se daria caso as expectativas de inflação do mercado e as projeções do cenário básico do próprio colegiado se aproximem “suficientemente” das metas de inflação dentro do horizonte relevante. Fazem parte do horizonte 2021 e, em menor grau, 2022, cujas metas são 3,75% e 3,5%, respectivamente.

No entanto, o Copom repetiu a mensagem de que o forward guidance “é condicional à manutenção do atual regime fiscal e à ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo”. O cenário híbrido apresentado pelo colegiado mostra projeções de inflação abaixo da meta: 2,9% em 2021 e 3,3% em 2022. Esse cenário leva em conta a Selic terminando 2020 em 2%, 2021 em 2,5% e 2022 em 4,5% — estimativas extraídas da pesquisa Focus. Já o câmbio é considerado constante em R$ 5,30, o patamar médio dos cinco dias úteis da semana passada.

No comunicado anterior, as projeções de inflação no cenário híbrido eram ligeiramente maiores (3% em 2021 e 3,4% em 2022), mesmo com estimativas mais altas para a Selic (2% em 2020, 3% em 2021 e 5% em 2022) e mais baixa para o câmbio (R$ 5,20). No cenário com a taxa básica de juros constante em 2% ao ano e câmbio em R$ 5,30, as projeções são de 3% para 2021 e 3,8% para 2022 — acima da meta, portanto, no último ano do horizonte. Já as medidas de inflação subjacente, mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, “permanecem abaixo dos níveis compatíveis” com o cumprimento da meta.

Especificamente no curto prazo, a inflação “deve se elevar”, puxada pela “alta temporária nos preços dos alimentos e a normalização parcial do preço de alguns serviços”, segundo o BC. Em seu balanço de riscos, o comitê destacou que a ociosidade da economia, que pode produzir trajetória de inflação abaixo do esperado, está “notadamente” concentrada nos serviços. Mesmo assim, o balanço continua com riscos assimétricos para cima. Ou seja: a inflação tem mais chances de ficar acima do projetado do que abaixo.

No caso da atividade econômica brasileira, “indicadores recentes sugerem uma recuperação parcial, similar à que ocorre em outras economias”. Já o cenário externo, segundo o Copom, passou de “desafiador” a “relativamente mais favorável”, em função de uma “retomada da atividade nas principais economias, ainda que desigual entre setores, em conjunção com a moderação na volatilidade dos ativos financeiros”.

O ciclo de cortes interrompido nesta quarta teve início em julho do ano passado, quando a Selic estava em 6,5% ao ano. A decisão veio em linha com o que era esperado por quase toda a totalidade do mercado. Pesquisa conduzida pelo Valor na semana passada mostrava que, de 79 instituições financeiras e consultorias, 78 esperavam manutenção da Selic. O Copom volta a se reunir nos dias 27 e 28 de outubro.

 

Economistas veem Selic em 2% ao ano até meados de 2021

Apesar da falta de surpresas no comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central trouxe um pouco mais para os trilhos as perspectivas sobre a trajetória da Selic nos próximos meses ao reforçar o “forward guidance”, ou a prescrição futura dos rumos da taxa básica. Após a decisão, que manteve a Selic em 2% ao ano, os economistas e analistas consultados pelo Valor foram unânimes em apontar que o próximo movimento do Copom deverá ser uma elevação dos juros. Na reunião anterior, houve quem ainda apostasse em mais quedas, mas agora os especialistas parecem convergir para a existência de um “limite prudencial”, que seguraria a taxa no atual patamar ainda que as projeções de inflação estejam abaixo da meta até 2022.

Segundo o diretor do ASA Investments, Carlos Kawall, o Copom reiterou o “forward guidance” no comunicado. “Querem o compromisso de manutenção das taxas de juros por um tempo, até quando as expectativas de inflação estiverem próximas das metas em 2020 e 2021”, diz. Na projeção da ASA, a Selic deve ser elevada somente em 2022. “Isso porque acreditamos que a recuperação vai ser lenta, com crescimento do PIB de 2,1% no ano que vem”, afirma.

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, a adoção do “forward guidance”, reforça a ideia de um contexto mais amplo de estímulos. “Esse instrumento não olha somente as projeções, mas sim um contexto mais amplo da economia com mais estímulos.” Nas projeções da Western Asset, a taxa básica deve subir somente no último trimestre de 2021. Trata-se do mesmo cenário-base da consultoria Tendências.

A partir do quarto trimestre do ano que vem, o Copom passaria a elevar a taxa, que alcançaria 3% no fim de 2021, com, possivelmente, dois movimentos de alta de 0,5 ponto percentual cada. Conforme o economista e sócio da Tendências, Sílvio Campos Neto, “à luz dos riscos colocados e do contexto de retomada [da atividade econômica] parece improvável uma mudança da Selic nos próximos meses”.

Na avaliação do economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, o Copom deixou mais claro que o limite de queda de juros no “forward guidance” é prudencial. De acordo com o especialista, o comunicado não trouxe grandes novidades, mas reforçou a mensagem da prescrição futura. “O Copom explicitou um pouco mais no comunicado as razões prudenciais para ter o ‘forward guidance’ e não quedas adicionais de juros”, diz.

Para Weeks, “o BC parece que até queria mais estímulos, mas tem um limite prudencial”. A Garde enxerga a Selic em 2% ao ano até o segundo trimestre de 2022. A taxa básica então começaria a ser elevada até atingir 4% no fim de 2022.

O economista do Opportunity, Marcelo Fonseca, considera “o mais importante” o BC ter mantido o “forward guidance”. “É uma confirmação de que, a despeito das pressões de inflação nos últimos dias, o Copom entende que o cenário continua benigno”, afirma. Para a casa, a Selic deve ser mantida até o último trimestre de 2021.

A análise é compartilhada por Kawall, da ASA, para quem o comunicado também tirou a dúvida sobre como o BC avaliaria as recentes pressões inflacionárias. “Chamou atenção para esse fato no comunicado, mas manteve a frase de que [a inflação] ainda está abaixo da meta. Tirou uma dúvida que se tinha de como o BC leria essa inflação de curto prazo”, diz.

O economista do Opportunity ressalta ainda que a decisão do BC segue a mesma de outras autoridades pelo mundo e lembra que o Federal Reserve (Fed, o BC americano) também manteve a taxa de referência entre zero e 0,25% ao ano. O Fed sinalizou ainda que a taxa deve ficar baixa até pelo menos 2023. “Essa confirmação de juros parados por lá durante muito tempo alivia o canal de pressão, que é a moeda.”

Na análise da economista sênior da LCA, Thaís Zara, o posicionamento do Fed “felizmente retira uma pressão sobre o BC brasileiro”. No cenário-base da LCA, a Selic será mantida em 2% ao ano até o fim do terceiro trimestre de 2021. A partir do último quarto do ano, o Copom elevaria a taxa duas vezes e o ano terminaria com a Selic em 2,5%.

 

‘Copom reforça urgência de tratar questão fiscal’, diz Credit Suisse

O comunicado da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) mantém basicamente a mesma mensagem de seu último encontro, a de que a perspectiva fiscal brasileira precisa ser enfrentada de maneira mais decisiva nos próximos meses. Caso contrário, o país fica vulnerável a situações como a que começamos a ver recentemente, em que choques de oferta de curto prazo acabam repercutindo exageradamente sobre o prêmio de risco que investidores pedem para manter títulos do governo brasileiro ou sobre as expectativas de inflação.

A avaliação é da nova economista-chefe do Credit Suisse, Solange Srour. Em sua primeira entrevista desde que assumiu o cargo no banco suíço, há pouco mais de uma semana, Solange afirma que a questão fiscal para 2021, incluindo aí algum projeto nos moldes do Renda Brasil, pode ser enfrentada aprovando “uma espécie de ponte”, como a PEC dos gatilhos.

Já a indicação do Federal Reserve (Fed, banco central americano) de que irá manter juros perto de zero até 2023 pode dar mais tranquilidade ao país para tocar as reformas. Mas é preciso aproveitar essa janela porque ela pode fechar rapidamente. “Se o panorama virar, qualquer choque negativo de liquidez vai reverberar muito mais forte no Brasil por causa das vulnerabilidades do país hoje”, alerta. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: Como viu o comunicado?

Solange Srour: O comunicado foi bem parecido com o anterior. A novidade marginal é que o Copom reconhece que a inflação vai subir por um choque temporário de oferta. Subentende-se que esse choque não vai gerar uma reação de política monetária, pois o BC só reage se isso passar para os demais preços e expectativas. O balanço de riscos enfatiza que a ociosidade está concentrada no setor de serviços, o que tende a levar a inflação para baixo. No todo, o Copom mostra-se tranquilo com o cenário inflacionário.

Valor: As surpresas com os choques de preços, como de alimentos, não deveriam preocupar?

Solange: É preciso entender que, no Brasil e emergentes em geral, as expectativas são correlacionadas com a trajetória da inflação corrente. Elas podem desancorar se, em um ambiente de pouca credibilidade, os agentes começarem a inferir que o BC não vai subir juros porque isso impacta a confiança ou pode tornar a dívida insustentável. Em um cenário normal, sem crise da covid-19 e sem uma dívida pública nos atuais níveis, um choque como esse não geraria o prêmio de risco que se vê na curva de juros. Isso só acontece porque hoje há essa incerteza em relação à sustentabilidade da dívida, um processo de encurtamento dos prazos e de maior necessidade de rolagem. Isso é negativo porque o BC está justamente, por meio do forward guidance, tentando manter as condições financeiras mais frouxas. O Brasil vai precisar mostrar através de ações, mais do que de discursos, que voltará a trilhar uma trajetória fiscal responsável após a crise. É o que o BC diz, o piloto da política monetária continua sendo o fiscal.

Valor: Nos últimos dias, houve uma reviravolta em relação à criação do Renda Brasil, cujo futuro agora é desconhecido. Isso traz mais incerteza ao cenário fiscal?

Solange: Acredito que, por um problema de comunicação, deve haver um atraso na discussão sobre o benefício, mas ele deve ser aprovado ainda este ano. Em nenhum momento acreditei que esse maior gasto social não fosse existir. Ele é algo bastante justificado, dada a situação que vamos viver nos próximos anos. Essa crise tem impactos mais estruturais que conjunturais. A taxa de desemprego no Brasil deve demorar a cair porque ocorreu uma série de mudanças na forma como se produz, com vários avanços tecnológicos, e o mercado de trabalho brasileiro não é qualificado nem tão flexível para se adaptar rapidamente a isso. Então esse gasto vai precisar acontecer e existe demanda forte do Congresso para aumentá-lo. Ainda na terça-feira, inclusive, lideranças do Congresso reforçaram que vão trabalhar para criar espaço dentro do teto para acomodar esse programa, que pode se chamar Renda Brasil ou não. Então, isto precisa ser definido até o fim do ano. Caso contrário, temo que o mercado comece a conjecturar alguma extensão do auxílio fora do teto como já o fez com Orçamento de Guerra.

Valor: E como fazer esse benefício caber dentro do teto para 2021?

Solange: Essa incerteza não vai ser totalmente resolvida, mas podemos pensar em alguma espécie de ponte, como a PEC dos gatilhos. Ela abre dois anos de espaço no teto, e pode dar maior folga para construir o entendimento sobre o restante da agenda de reformas enquanto temos o auxílio sustentando a demanda. Outras medidas podem ocorrer também. A desvinculação da aposentadoria poderia acontecer, mas de forma diferente da que foi proposta, pegando apenas os salários mais altos, por exemplo.

Valor: O Fed sinalizou um juro estável perto de zero até 2023. O que isto significa para o Brasil?

Solange: A decisão do Fed significa um cenário de liquidez internacional bastante favorável a emergentes. Isso é muito favorável ao Brasil, mas o país tem que saber aproveitar o ambiente benigno para fazer reformas e nos levar a um crescimento mais alto no futuro. É preciso primeiro voltar a um cenário de consolidação fiscal efetiva pois, sem ele, nenhuma reforma vai trazer impactos ao crescimento. Depois, aprovar reformas que aumentem a produtividade, como a administrativa e a tributária. É preciso aproveitar essa oportunidade porque ela é incerta. Se o panorama virar, qualquer choque negativo de liquidez vai reverberar muito mais forte no Brasil por causa das vulnerabilidades do país hoje.

Valor: O Credit Suisse tem uma projeção de Selic voltando a 4% no fim de 2021, bem acima do consenso da Focus. Por quê?

Solange: Nossa previsão de que o Copom comece a elevar os juros no segundo semestre do ano que vem não tem nada a ver com risco fiscal, é apenas o BC agindo preventivamente e normalizando a Selic para um patamar ainda estimulativo. Vivemos uma inflação em patamares baixos por muito tempo e, com sua elevação junto com a recuperação da economia, algum momento isso vai atingir as expectativas. É até saudável que o BC não espere a inflação chegar na meta, que ele não fique atrás da curva, como se diz.

 

 

 

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