Quarta-feira

Covid-19 e Selic puxam venda de imóvel de luxo

A combinação da Selic no mais baixo patamar da história com a procura por espaços maiores de moradia, decorrente da quarentena, e a oferta restrita de imóveis de luxo tem resultado em forte demanda por unidades do segmento na cidade de São Paulo e em lançamentos com esse perfil.

A maioria dos compradores são consumidores finais que buscam, além de conforto, mais espaço, melhor localização e opção para destinar parte de suas reservas em um cenário no qual a renda fixa não se mostra atrativa e há muita volatilidade na bolsa.

Neste mês, a Cyrela lançou empreendimento de luxo com unidades de R$ 5 milhões a R$ 10 milhões. Antes de o projeto Cyrela On the Parc by Yoo ser apresentado, oficialmente, as 49 unidades já estavam vendidas. Desenvolvido em parceria com o escritório britânico Yoo, o On the Parc tem Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 320 milhões.

“O empreendimento tem tudo de que as pessoas sentiram falta nesses seis meses de pandemia - sair do apartamento e respirar o que traz alegria, serenidade e paz”, conta Efraim Horn, copresidente. Entre as inovações do On the Parc, está a área de lazer suspensa sobre a copa de árvores, com piscinas e “pool houses” com sauna e sala de massagem.

O projeto tem uma torre com unidades de 230 metros quadrados e outra com apartamentos de 308 metros quadrados. O preço médio por metro quadrado fica entre R$ 21 mil e R$ 22 mil. “Se estivéssemos vivendo um momento de euforia, um ‘boom’, teríamos conseguido preço do On the Parc 20% maior do que o atual”, diz Horn.

Segundo ele, o preço médio por metro quadrado de imóveis de luxo, em São Paulo, costuma ser de R$ 30 mil a R$ 40 mil. Foi possível desenvolver projeto com valor menor porque a região do terreno de 5,6 mil metros quadrados, no bairro Ibirapuera, tem preço inferior ao da Vila Nova Conceição e da avenida Faria Lima. “O mercado apostava que, no local, só daria para vender o metro quadrado por R$ 15 mil”, afirma.

A AW Realty vai lançar, até novembro, seu primeiro projeto, um residencial de luxo, com VGV de R$ 130 milhões e 18 unidades na Vila Olímpia. O metro quadrado custará a partir de R$ 27 mil. As 16 unidades-tipo terão 230 metros quadrados, o “garden” (apartamento térreo com jardim privativo), 400 metros quadrados, e a cobertura, 460 metros quadrados. “O mercado está tomador desse tipo de produto. A pandemia remete às pessoas procura por espaços mais agradáveis, por experiências positivas e por mais verde”, afirma Ivo Wohnrath, um dos sócios da AW.

A expectativa, segundo o empresário, é vender, nas primeiras semanas após o lançamento, todas as unidades. “Há grande quantidade de pessoas interessadas”, diz. A AW pretende lançar, anualmente, quatro ou cinco projetos - um ou dois de luxo.

A Construtora São José e a Emoções Incorporadora - da qual o cantor e compositor Roberto Carlos é um dos sócios - preparam lançamento conjunto para este ano, o Horizonte Vila Nova, na avenida Hélio Pellegrino, na zona Sul, com 20 unidades e VGV de R$ 200 milhões. Os apartamentos têm 298 metros quadrados, e preço por metro quadrado a partir de R$ 30 mil.

Os Certificados de Potencial Adicional de Construção (Cepacs) da Operação Urbana Consorciada Faria Lima já foram comprados. “As pessoas estão passando mais tempo em casa e querem morar bem”, diz Mauro Silvestre, presidente da São José. A incorporadora está compondo terrenos para lançar, em 2021, pelo menos dois empreendimentos de luxo na capital paulista.

Há um ano, a São José apresentou projeto com unidades de 850 metros quadrados e VGV de R$ 800 milhões. Todos os apartamentos estão vendidos. Em junho, a Trisul lançou o Athos Paraíso, com preço médio por metro quadrado de R$ 20 mil e unidades de 160 metros quadrados.

Desde o lançamento, vendeu quase 40% do total, segundo o diretor comercial e de marketing Sérgio Marão. Já as vendas do Oscar Ibirapuera, apresentado em setembro de 2019, chegam a 90%. Esse projeto tem preço médio por metro quadrado de R$ 34 mil, e valor por unidade de R$ 5 milhões a R$ 8,5 milhões. “A demanda por imóveis de luxo está muito boa. Os juros caíram, e a renda variável tem oscilação muito grande. Vimos uma aceleração de vendas na pandemia”, afirma o executivo da Trisul. Segundo Marão, a fatia média de entrada paga por consumidores de imóveis de luxo costumava ser de 10% a 15% do valor do imóvel, parcela que dobrou recentemente.

O copresidente da Cyrela, avalia que, devido à dificuldade de reposição de terrenos para o segmento, há sempre mais demanda do que oferta de residenciais de luxo. “Não é fácil achar terrenos e nem desenvolver projetos para esse público. O Plano Diretor limita a quantidade de vagas por unidades”, diz o diretor da Trisul, lembrando que o estoque de unidades de luxo é pequeno no mercado.

 Segundo Marão, 90% dos compradores do segmento são consumidores finais e 10%, investidores. “A rentabilidade de um imóvel de luxo é boa, considerando-se a Selic baixa, mas não é a mesma de um imóvel compacto.” É mais comum que investidores busquem liquidez e diversificação das apostas. A Trisul pretende lançar dois projetos de luxo, em 2021, ambos em São Paulo.

O empreendimento a ser desenvolvido no Itaim Bibi terá unidades com preço de R$ 3,2 milhões a R$ 3,5 milhões, enquanto os apartamentos do projeto a ser lançado em Pinheiros irá de R$ 1,8 milhão a R$ 2,5 milhões. Em 2021, a Cyrela estima lançar dois empreendimentos de luxo na capital paulista. Um deles terá uma parcela corporativa. No Rio de Janeiro, será lançado um projeto do segmento no próximo ano.

Em Porto Alegre, a Cyrela vai apresentar dois empreendimentos de luxo, um deles em parceria com o escritório Pininfarina. A Seed Incorp desenvolve condomínios de casas de alto padrão nas zonas Sul e Oeste da cidade de São Paulo com preços de R$ 3 milhões a R$ 3,5 milhões. Ela iniciou 2020 com plano de lançar R$ 200 milhões e vender R$ 150 milhões. Já lançou R$ 250 milhões e vendeu 95% do total. “Fizemos as vendas em maio, junho e julho para executivos do mercado financeiro e de empresas de tecnologia”, diz o presidente da Seed, Fernando Montenegro.

Há previsão de dois outros lançamentos, neste ano, com VGV de R$ 1 bilhão. Um deles, com casas de R$ 3 milhões, está 70% reservado. O outro tem imóveis de R$ 4,5 milhões, com reserva de metade das casas. “A pandemia só acelerou o desejo das pessoas de mudar para espaços maiores, seja de casas ou apartamentos”, diz Montenegro. A metragem das casas da Seed é de 500 metros quadrados a 550 metros quadrados.

 

Material de construção fica mais caro

As indústrias de materiais de construção vivem no últimos meses momento de forte demanda por seus produtos. O impulso foi dado pela concessão do auxílio emergencial de R$ 600 a uma parte da população e pela destinação de parcela maior dos gastos das famílias a suas casas. Com o aumento dos pedidos feitos pelo varejo às indústrias, os prazos de entrega cresceram.

Ao mesmo tempo, fabricantes de materiais têm feito reajustes de preços com o argumento de que é preciso repassar, ainda que parcialmente, as altas de custos das matérias-primas. Há expectativa de continuidade do aumento da demanda por materiais tanto pelo varejo quanto pelas construtoras.

O volume de lançamentos imobiliários voltou a crescer, principalmente em São Paulo - maior mercado imobiliário do país -, o marco regulatório do saneamento foi aprovado e o governo anunciou, recentemente, o Casa Verde Amarela, programa habitacional que substitui o Minha Casa, Minha Vida, incluindo pontos como regularização fundiária.

Segundo incorporadoras ouvidas pelo Valor, por enquanto, não há expectativa que os prazos maiores para recebimento de materiais resultem em atrasos de obras, e a preocupação se concentra na pressão de custos. Neste ano, de acordo com uma incorporadora, os preços do cimento aumentaram 30%; os de concreto, 20%; os de aço, 25%; os de vidro, 22% e os de perfil metálico para fundação, 62%.

A fonte conta que as altas de portas de madeira chegam a 43%, e as de gesso, a 50%. “Houve aumento pontual de 20% do cobre em setembro”, acrescenta. Outra incorporadora diz que o PVC está 10% mais caro. No último dia 1º, a Lorenzetti - fabricante de duchas, chuveiros elétricos, metais sanitários e purificadores de água - reajustou seus produtos em 10%, para repassar aumentos de insumos como resinas plásticas, PVC, fios e cabos.

Segundo o vicepresidente, Eduardo Coli, se a alta das matérias-primas prosseguir, a Lorenzetti poderá fazer novos aumentos ainda neste ano. Coli conta que a Lorenzetti continua abastecendo clientes, mas os prazos de entrega estão maiores. Em média, a empresa tem levado de sete a 15 dias para realizar entregas na capital paulista, prazo que cai para 72 horas no caso de clientes com os quais já há parceria.

Para a região metropolitana de São Paulo, são necessários 20 dias. “Estamos privilegiando quem já era cliente”, diz. Segundo ele, o tempo necessário para entregas pode aumentar um pouco mais. De acordo com o executivo da Lorenzetti, o atendimento aos clientes tem sido possível devido aos investimentos realizados para ampliação da capacidade produtiva e porque a empresa tinha estoques no início da pandemia, antes de suspender, temporariamente, a produção em suas fábricas.

 De janeiro a setembro, o faturamento da Lorenzetti cresceu 22% na comparação anual. É esperada alta de 15% ou 16% no acumulado de 2020. A Wavin (ex-Mexichem) - conhecida, principalmente, por tubos e conexões com a marca Amanco - informou, em nota, que reajustou preços, no início do mês, devido “à variação cambial e à situação dos principais fornecedores mundiais de insumos, que declararam interrupção da produção, relacionada à escassez de suprimentos e aos impactos causados pelo furacão Laura”.

Em nota, a empresa diz que está operando à plena capacidade, “adequadamente abastecida de resina para atender aos clientes atuais e aos novos”. O forte aumento da resina vem afetando os fabricantes de plástico no Brasil. Por consequência, segundo uma incorporadora, não só o abastecimento de tubos de PVC foi prejudicado, como também o de produtos de acabamento, caso de caixas de interruptores.

Recentemente, a Vedacit - fabricante de impermeabilizantes, mantas asfálticas, protetores de superfície, selantes, aditivos para concreto e argamassas - informou ao Valor que anunciaria aumento de preços de sua cesta de produtos da ordem de 3% a 4%, com entrada em vigor em novembro, para repassar as altas de custos de asfalto e matérias-primas dolarizadas.

A última projeção feita pela Vedacit para seu faturamento, neste ano, é de crescimento de 5%. Em junho, julho e agosto, a empresa teve vendas recordes. Há duas semanas, o presidente do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC), Paulo Camillo Penna, disse ao Valor que reajustes de preços de cimento que estejam ocorrendo refletem a necessidade de compensar aumentos de custos e crescimento da demanda.

Na ocasião, Penna informou que existe “um movimento de recuperação, mas muito aquém das necessidades da indústria”. Segundo ele, entre 2015 e junho deste ano, os custos do cimento tiveram alta de 50% a 55%, pressionados por aumentos de insumos como energia, combustíveis e sacaria, além do frete. De janeiro a setembro, as vendas de cimento cresceram 7,5%, para 38,6 milhões de toneladas, de acordo com dados do SNIC.

 

Ata mostra que BC mantém porta aberta a corte adicional

O Banco Central (BC) concluiu, em reunião na semana passada, que estão satisfeitas as condições para a manutenção do extraordinário grau de estímulo monetário que injetou na economia a fim de combater a crise. Em ata divulgada nesta terça, o Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que as circunstâncias para que o “forward guidance” (“prescrição futura”) continue em vigor vêm sendo cumpridas. Ou seja, satisfeitas essas condições, o colegiado “não elevaria a taxa de juros, mas poderia reduzi-la”. Atualmente, a Selic está em 2% ao ano.

“O Copom avaliou que as condições para a manutenção do forward guidance seguem satisfeitas”, disse na ata. “As expectativas de inflação assim como as projeções de inflação de seu cenário básico encontram-se significativamente abaixo da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária; o regime fiscal não foi alterado; e as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas.”

As expectativas de inflação e as projeções do cenário básico, por exemplo, “seriam consideradas conjuntamente” pelo colegiado. “Caso estivessem suficientemente próximas da meta de inflação para o horizonte correspondente, indicariam o fim” do forward guidance, reforçou o BC na ata. O horizonte relevante inclui 2021 e, em menor grau, 2022.

Já a ruptura do regime fiscal “implicaria alterações significativas para a taxa de juros estrutural da economia”, referindo-se à taxa que permite o máximo de crescimento da atividade sem que isso acelere a inflação.

 No início do mês, o diretor de política econômica da autoridade, Fabio Kanczuk, citou na “Live” do Valor a ruptura do teto como um exemplo desse rompimento de regime fiscal. Por sua vez, a desancoragem das expectativas de longo prazo “indicaria que os custos derivados do estímulo monetário estariam se sobrepondo a seus benefícios”.

O forward guidance foi adotado pelo Copom na reunião de agosto, quando houve o último corte do ciclo mais recente de quedas da Selic, de 2,25% para os 2% atuais. O objetivo da medida tem sido fornecer o estímulo monetário considerado adequado para o cumprimento da meta de inflação, em um contexto de pouco ou nenhum espaço para novos cortes da taxa básica de juros.

“O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno”, reiterou.

“Consequentemente, eventuais ajustes futuros no atual grau de estímulo ocorreriam com gradualismo adicional e dependerão da percepção sobre a trajetória fiscal, assim como de novas informações que alterem a atual avaliação do Copom sobre a inflação prospectiva.”

Em relação ao cenário externo, o Copom alertou que, embora ele siga “relativamente mais favorável” para países emergentes, “uma possível redução abrupta e não organizada dos estímulos governamentais pode atrasar a recuperação da demanda por bens e o processo de recomposição de estoques”.

Também destacou que a própria evolução da pandemia tem potencial para atuar como “limitante para o pleno funcionamento do setor de serviços”. O Copom volta a se reunir nos dias 27 e 28 de outubro.

 

Juro futuro tem alívio após Copom mostrar incerteza com retomada

O entendimento do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de que há “bastante incerteza” sobre a evolução da recuperação econômica reforça o cenário de que a taxa básica de juros deve permanecer em níveis baixos por um período prolongado, na avaliação de analistas. Essa leitura, inclusive, foi compartilhada pelo mercado de juros, que, após dias sucessivos de estresse, teve um pregão de alívio nesta terça.

O impacto mais forte da ata do Copom foi sentido nos trechos de curto prazo da curva de juros. No fechamento dos negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 caía de 2,97% para 2,91%. Também os juros de prazos intermediários e longos se ajustaram em queda, mas o movimento se mostrou mais contido, tendo em vista que o mercado continua bastante atento aos desenvolvimentos na arena fiscal.

Assim, a taxa do DI para janeiro de 2025 passou de 6,32% para 6,29%. A interpretação do colegiado quanto ao crescimento econômico mudou desde a reunião de agosto, notam os economistas do J.P. Morgan em relatório, diante da indicação do Copom de que o ambiente para economias emergentes se mostra relativamente favorável. Além disso, o destaque dado pelo comitê à incerteza relacionada à remoção dos estímulos fiscais também foi observado pelos economistas.

No início do mês, o J.P. Morgan revisou sua projeção para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 e passou a esperar uma contração de 5,2% ante um tombo de 6,2% esperado anteriormente. “No entanto, mantivemos nossa projeção para 2021 em 2,5%, o que está significativamente abaixo do consenso, que aponta para um crescimento de 3,5%, por acharmos que a retirada do estímulo fiscal para o cumprimento do teto de gastos deve ser um entrave à demanda interna no início do ano que vem, permitindo que a política monetária permaneça extremamente acomodatícia por mais tempo”, afirma a equipe chefiada pela economista Cassiana Fernandez, que projeta a Selic nos atuais 2% até o fim de 2021.

 A leitura da ata do Copom feita pela economista-chefe do banco Inter, Rafaela Vitória, é a de que o documento traz uma visão mais favorável a estímulos (“dovish”), tendo em vista que o ambiente de recuperação econômica é incerto e que a inflação benigna deve permanecer em vigor, embora o colegiado reconheça a alta da inflação de curto prazo.

“O cenário é bastante benigno e temos fundamentos que vão segurar a inflação em níveis baixos”, afirma a economista. Para ela, a decisão do Copom de manter os juros baixos e adotar uma comunicação que aponte para a continuidade da Selic em níveis estimulativos por um bom tempo é condizente com o cenário atual.

O banco Inter projeta inflação de 3,3% em 2021 e vê uma recuperação mais acelerada da atividade, com crescimento de 3,9% do PIB em 2021, após tombo de 4,3% neste ano. Diante da retomada mais forte, Rafaela acredita que o início da normalização monetária se dará no segundo semestre de 2021, com a Selic em 3% no fim do próximo ano.

A economista também destaca que o posicionamento reforçado do Copom quanto à necessidade de manutenção da ancoragem fiscal passa uma mensagem importante de que o retorno ao ajuste fiscal é necessário para a continuidade dos juros em níveis baixos. São justamente as incertezas em relação à rota a ser trilhada pelas contas públicas que tem limitado, inclusive, a atuação da comunicação do Copom de que não pretende retirar o estímulo monetário por enquanto, avaliam os economistas Tony Volpon e Fabio Ramos, do UBS.

Para eles, as atas das futuras reuniões do Copom devem ter a característica de avaliar se as condições para a manutenção da prescrição futura (“forward guidance”) para a política monetária permanecem sobre a mesa. Volpon e Ramos também destacam o tom mais inclinado a estímulos da ata ao apontarem que o Copom não se mostrou muito impressionado com a recuperação em “V” de alguns setores da economia. Além disso, “o Copom ainda acredita que a natureza da atual recessão pode gerar impacto mais duradouro na demanda do que recessões anteriores”, escrevem os economistas do UBS.

 

Ata do Copom reforça visão de Selic nas mínimas até 2022, diz Garde

O teor extraído do comunicado e da ata da reunião de semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central é o de que a taxa básica de juros deve permanecer na mínima histórica de 2% por um período bastante prolongado, com uma normalização da política monetária tendo início, possivelmente, somente em 2022. É o que aponta o economista-chefe da Garde, Daniel Weeks, cujas projeções de inflação se mantêm abaixo da meta neste ano, em 2021 e também em 2022, diante da alta ociosidade presente na economia.

Em entrevista ao Valor, Weeks também nota que o cenário de incertezas relativo ao rumo das contas públicas brasileiras pode continuar a afetar os mercados, mas avalia que, no fim das contas, as discussões em torno do Renda Brasil e de programas de auxílio mais abrangentes devem ter resultado positivo. “No curto prazo, estamos mais pessimistas. Acho que o Brasil vai à beira do precipício, mas não vai se jogar. No fim das contas, o resultado tende a ser bom: ou reformas mais profundas nos gastos serão feitas ou o Renda Brasil não será tão grande quanto se gostaria, mas o teto será mantido em vigor”, afirma. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Qual a sua avaliação sobre a ata do Copom?

Daniel Weeks: Se alguém esperava uma mudança de posição do BC por causa do mercado ou da inflação, a ata e o comunicado reforçam os sinais anteriores da autoridade monetária. Os dois não trouxeram grandes novidades, mas a ata veio com um “checklist” em que mostra inflação significativamente abaixo da meta, manutenção do regime fiscal e expectativas ancoradas. São os três requisitos para a continuidade do “forward guidance” e todos continuam em vigor.

Valor: As projeções de inflação do Copom indicam um cenário bastante benigno para os preços no próximo ano. É o que você enxerga também?

Weeks: O cenário do Copom é bem parecido com o nosso. Com essas pressões inflacionárias temporárias e localizadas na parte de alimentos, temos uma projeção de 2,3% para o IPCA neste ano, mas nossa expectativa é de inflação de 2,5% no ano que vem, porque o choque de alimentos vai ser desfeito. Apesar de termos alguma aceleração nos preços de industriais e serviços, o cenário ainda é muito tranquilo e o que gera isso é o hiato do produto, que continua bastante aberto. O ano de 2018 foi bastante educativo nesse sentido porque vimos o câmbio em depreciação e não houve inflação porque o hiato ficou bem aberto e amorteceu possíveis pressões cambiais. Nas nossas contas, o hiato do produto está, agora, duas vezes mais aberto do que em 2018 e, por isso, ele deve continuar absorvendo esse choque e limitando o repasse dos IGPs para o IPCA. Além disso, quando jogamos nossas projeções mais para a frente, vemos inflação de 3,2% em 2022, também abaixo da meta de 3,5%. O hiato só deve se fechar em meados de 2023. Por isso, tudo me faz crer que o BC só vai elevar os juros em 2022, quando estiver olhando para a meta de inflação do ano seguinte.

Valor: O Copom também aponta para incertezas quanto à velocidade de retomada da atividade...

Weeks: Como achamos que o hiato do produto vai demorar para fechar, projetamos uma queda de 4,8% do PIB neste ano, em um resultado amortecido pelos programas do governo e manutenção de renda, mas estamos mais pessimistas com o crescimento no ano que vem. O setor de serviços roda mais devagar e, então, gera uma recuperação mais lenta. É normal porque ainda não temos uma vacina e a retomada do contato social demora. O setor vai ser mais prejudicado mesmo. Além disso, varejo e indústria estão se recuperando melhor devido ao auxílio emergencial. Trabalhamos com um crescimento de 2,1% do PIB em 2021 e o crescimento mais fraco no médio prazo é mais um fator que reforça a tese de que a inflação deve continuar abaixo da meta nos próximos dois anos.

Valor: Como tem visto as discussões em torno de programas de renda básica?

Weeks: O mercado ainda deve sofrer bastante estresse por causa da incerteza fiscal. Vemos uma demanda na classe política para se ter um programa social mais robusto, mas temos uma limitação muito grande dentro do teto de gastos. Dado isso, para se ter um Renda Brasil, ou o teto é flexibilizado ou reformas mais profundas são feitas. A maioria das mudanças propostas até agora de corte de gastos foi descartada pelo presidente. Sobram alguns penduricalhos, mas nenhuma medida economiza tanto por si só. Teria de haver uma cesta de pequenas medidas e eu acho difícil que isso permita a realização de um Renda Brasil muito robusto. Nós calculamos que teria de haver de R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões para se chegar a um benefício médio de R$ 300 a 20 milhões de famílias. É bem complicado se se fechar a conta e isso indica um pressão grande sobre o teto.

Valor: O mercado pode reagir ainda mais negativamente a pressões sobre o teto de gastos e o regime fiscal?

Weeks: Não me parece que o mercado seja um mero espectador nessa questão, mas sim um participante ativo. Conforme as ideias mais irresponsáveis, de flexibilização do teto, surgirem, o mercado tende a piorar e ser um elemento educador para a classe política. Assim, quando vemos essa discussão, ainda tem muito pano pra manga e a volatilidade e estresse nos ativos deve continuar para que essas aventuras mais arriscadas sejam seguradas. No curto prazo, estamos mais pessimistas. Acho que o Brasil vai à beira do precipício, mas não vai se jogar. No fim das contas, o resultado tende a ser bom: ou reformas mais profundas nos gastos serão feitas ou o Renda Brasil não será tão grande quanto se gostaria, mas o teto será mantido em vigor. É verdade que os ativos brasileiros já incorporam esse estresse no lado fiscal e poderiam estressar ainda mais. Olhando pelo outro lado, se o mercado acreditar que o teto será mantido, pode gerar uma boa valorização para os ativos brasileiros, que estão muito descontados no momento.

Valor: Uma Selic em níveis mais elevados poderia ajudar na rolagem da dívida pública pelo Tesouro, como argumenta uma parte do mercado?

Weeks: O Tesouro enfrenta um problema que é de origem fiscal e a solução para isso é fiscal. O BC tem um problema que é inflação baixa e um hiato do produto aberto e a solução para isso é monetária. As coisas, claro, são interligadas, mas não consigo entender como elevar os juros poderia melhorar o problema da rolagem da dívida pelo Tesouro. Não compro esses argumentos. O déficit fiscal é enorme, o mercado pediu prêmio, mas a origem do problema é essencialmente fiscal. Se as reformas forem aprovadas e o teto for mantido e não houver um Renda Brasil super robusto, as condições para a rolagem da dívida tendem a se normalizar.

 

'O Brasil sai da crise do coronavírus mais fragilizado', diz Alfredo Setubal

À frente da Itaúsa, holding de investimentos que tem no portfólio empresas como Itaú Unibanco, Duratex e Alpargatas, Alfredo Setubal acredita que a retomada da economia brasileira após a crise da covid-19 deve ser lenta. “Vamos ver o desemprego ainda muito alto, para depois reduzir aos poucos. E o cenário internacional também não deve ajudar.”

Em entrevista às vésperas do evento anual em que a companhia debate as estratégias e as perspectivas do negócio – que acontece hoje, em formato completamente digital –, Setubal ressalta que, apesar da conjuntura econômica, a queda nos juros nos últimos anos trouxe mudanças positivas para a Itaúsa. “Hoje é possível fazer captações a longo prazo com taxas mais baixas. Há essa vantagem financeira.”

Para amenizar os efeitos da crise, Setubal cita a necessidade de o Brasil ser mais eficiente e menos corporativista. E, em tempos de cobrança cada vez maior para que as empresas adotem as melhores práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês), Setubal reforça o compromisso com esses valores. “Faz parte do nosso DNA, não é marketing. As famílias controladoras – Moreira Salles, Setubal e Villela – estão no Brasil para ficar, moram aqui e vão permanecer, apesar de todas as dificuldades.”

Leia, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Como está sendo planejar e gerir investimentos nesses tempos de pandemia?

Não se pode investir pensando no curto prazo. E nós sabemos que (a economia do) Brasil é um eletrocardiograma, nos acostumamos a isso. Mas, nos últimos anos, desde o governo Michel Temer, o juro real começou a cair – e, hoje, pelo menos para parte da sociedade, considerando a inflação, ele já é negativo. E o que isso muda para a Itaúsa? Hoje você consegue fazer investimentos com taxas de retorno reais muito atraentes, principalmente se alavanca isso (com empréstimos). É possível fazer captações a longo prazo com taxas mais baixas. Há essa vantagem financeira. Mas, em relação à conjuntura econômica, a gente não vê o Brasil crescendo muito. Antes, a gente pensava que, se o Brasil crescesse de 2% a 3%, estava ótimo. Agora a gente mal vê esses 2% – a não ser no ano que vem, porque a base de comparação vai ser muito fraca. E o Brasil não cresce muito porque sai da crise mais fragilizado, com a dívida subindo e pressão para aumentar gastos. O crescimento potencial é de 1% a 2% ao ano, não mais do que isso.

A retomada vai ser desigual?

A retomada vai ser lenta, porque a economia do Brasil é dividida assim, a grosso modo: 25% estão com o agronegócio, que vai muito bem; 15%, com a indústria; e 60% ficam com o setor de serviços. E isso vai demorar a recuperar: viagens, hotéis, restaurantes, cinema, teatro... Vamos ver o desemprego ainda muito alto, para depois reduzir aos poucos. E o cenário internacional também é complicado, não deve ajudar.

E o que se pode fazer para reverter esse cenário?

Reduzir impostos, fazer as reformas... O Brasil é um país muito ineficiente. Você tem algumas ilhas de eficiência, setores com vantagens competitivas, como o agronegócio e a celulose, e algumas empresas como a Weg, que consegue competir em nível global. Mas o Brasil precisa caminhar nessa direção, somos muito corporativistas, tanto no setor privado quanto no público. Todo mundo pensa muito no individual e muito pouco no coletivo.

As concessões, nesse cenário, podem ser tábua de salvação?

Sim, como o juro está muito baixo, dá para atrair capital para investimento em infraestrutura, em saneamento, estradas e aeroportos. As taxas de retorno no exterior estão muito baixas, há atratividade. É possível que, com uma boa lei de saneamento, consigamos atingir a meta de ter mais de 90% das casas com água e esgoto até 2030. O dinheiro virá, mas tem de ter segurança jurídica. Até porque, no setor industrial, que depende da demanda interna, tem muita capacidade ociosa. Não se vai investir um prego em uma fábrica nova.

E qual vai ser o impacto dessa crise nos bancos, em função dos calotes?

Essa crise não é comparável a nenhuma outra – nós vínhamos correndo e batemos em um muro, de repente. Não foi piorando aos poucos. Nesse ponto, nós fizemos muita provisão adicional para as nossas carteiras de crédito no primeiro e no segundo trimestres. Mas achamos que vai ser uma crise longa. A gente ainda não tem uma noção muito clara (da inadimplência), pois a crise fez com que a gente prorrogasse os contratos. Então, vamos ver o real impacto de tudo isso quando as dívidas começarem a vencer novamente. Mas, do lado bom, a economia está indo, de forma geral, um pouco melhor do que se esperava.

Além do cenário de dificuldades macro, o Itaú deve enfrentar agora um aumento da concorrência. Como fica a participação do banco no portfólio da Itaúsa?

Alguns anos atrás, tomamos a decisão de ter uma gestão de portfólio mais ativa, mas definimos que não mexeríamos na posição do banco, que gira em torno de 38,5% das ações. A partir disso, começamos a refazer o portfólio: vendemos a Elekeiroz e fechamos a Itautec. Para o setor financeiro, o cenário mudou muito, com a entrada das fintechs e das empresas de investimento. Mas a visão é de que o banco continuará a ser grande, relevante e rentável. Apesar desse ataque à posição (do Itaú), decidimos investir em digitalização, mas investindo no Itaú, e não em construir outras marcas. É claro que fazer esse movimento com um banco tão grande não é fácil. Nós somos um transatlântico, então os movimentos são um pouco mais lentos.

E qual é o perfil de investimento da Itaúsa?

Estamos construindo um portfólio de participações em empresas já consolidadas. Não estamos buscando startups. Nosso portfólio mostra isso. Em parceria com a família Moreira Salles, temos a Alpargatas, que é dona da Havaianas; a Duratex, que tem marcas como Deca, Hydra e Portinari; e agora estamos comprando a Liquigás, da Petrobrás, junto com a família Zahran, controladora da Copagaz. Essa operação ainda depende da aprovação do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica). O nosso tíquete médio de operação vai variar entre R$ 1,5 bilhão e R$ 2 bilhões. Temos de ser parte do acordo de acionistas para ter alguma influência, porque alguns aspectos de governança a gente não abre mão. Em dez anos queremos participar de 10 a 12 empresas com investimentos de longo prazo.

Como é a política da empresa para os elementos ESG (meio ambiente, sociedade e governança, na sigla em inglês)?

Esses são valores de longo prazo da Itaúsa. O importante é que o nosso comprometimento com o apoio à cultura, às artes e às causas sociais é legítimo. Faz parte do nosso DNA, não é marketing. E a gente vai se aprimorando. As famílias controladoras – Moreira Salles, Setubal e Villela – estão no Brasil para ficar, moram aqui e vão permanecer, apesar de todas as dificuldades. E a doação de R$ 1 bilhão em meio à pandemia serviu como um gatilho, uma provocação. A partir disso, o Brasil arrecadou R$ 7 bilhões em doações de empresas.

Qual sua opinião sobre iniciativas como a do Magazine Luiza, que fez um programa de trainee só para candidatos negros?

Achei muito bacana. É uma empresa do século 21: usa tecnologia, se preocupa com diversidade, não tem medo de enfrentar (opiniões contrárias). O Frederico Trajano está no conselho do banco. Está super antenado, e fez essa provocação. Mostra que a empresa é moderna e vê real valor na diversidade.

Como está o processo de sucessão do Itaú, que deve ocorrer nos próximos meses?

A gente fez a sucessão do Roberto (Setubal) para o Candido (Bracher) há quatro anos. Ele foi excelente, enfrentou momentos difíceis e teve presença muito forte durante a pandemia. E agora vamos para um novo momento. Será uma sucessão interna, há vários nomes muito bons. Estamos muito tranquilos. O Candido tem de sair, no máximo, em abril. Essa pessoa nova deve conviver um tempo com ele, fazer alguns meses de transição.

 

Governo apresenta lista com os setores mais prejudicados pela pandemia

Depois de quase sete meses do início da pandemia, o governo publicou agora uma portaria que lista as 34 atividades econômicas mais prejudicadas no Brasil pela decretação do estado de calamidade pública devido à covid-19. Elaborada pelo Ministério da Economia, a lista foi feita para priorizar e orientar as instituições financeiras oficiais de fomento, inclusive regionais, na concessão de crédito.

O governo diz que a lista é para orientar o Programa Emergencial de Acesso a Crédito (Peac), mas o “carimbo” do Ministério da Economia reconhecendo as atividades mais prejudicadas animou as empresas de setores que foram incluídos oficialmente no levantamento de olho em políticas futuras da equipe econômica para a retomada da economia em 2021.

Apesar de ter começado a fluir no último mês, o crédito ainda é um dos principais problemas no enfrentamento da covid-19 pela dificuldade das empresas em dar garantia ao financiamento. A lista facilita o acesso a crédito com garantia da União via Fundo Garantidor para Investimentos (FGI).

Desde o início da pandemia o governo contabiliza que lançou uma série de linhas de crédito voltadas para toda a economia. Até o momento, do total das ações anunciadas, 622 mil empresas foram atendidas e R$ 85,86 bilhões de crédito já chegou na ponta, segundo os dados oficiais.

Entre os setores mais impactados estão as atividades da indústria, comércio e serviços, como empresas de saúde e educação privadas, transporte, serviços de alimentação e alojamento, fabricação de veículos automotores, combustíveis e lubrificantes e metalurgia, além de exploração de petróleo.

Segundo o Ministério da Economia, a lista foi elaborada com base na variação do faturamento do setor com dados da Receita Federal. Não foram fornecidos detalhes pedidos pela reportagem do Estadão de como a lista será usada para a liberação do crédito e como ficam as empresas que estão de fora.

A Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade informou apenas que foram consideradas a relevância do setor na economia, tanto por valor agregado produzido quanto por pessoal ocupado, e as particularidades de cada atividade econômica.

Faturamento

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e Confecção (Abit), Fernando Pimentel, avalia que a lista facilitará a concessão de crédito para as empresas com faturamento além de R$ 300 milhões. Pela regra, elas não podem obter empréstimos com a garantia do Tesouro porque tiveram impactos severos com a crise. “Para os setores extremamente impactados pela crise, como os listados, esse financiamento pode ser dado para empresas que faturem acima de R$ 300 milhões”. Pimentel considera que a lista traz uma boa radiografia da crise. O setor têxtil e de confecções teve de interromper as atividades por 90 dias no início da pandemia e até hoje ainda sente o impacto.

O economista Marcos Ferrari, presidente executivo do SindiTelebrasil, disse que a inclusão das telecomunicações torna mais “sensível” os pedidos de medidas de apoio à expansão da banda larga. “Caso tenha outra medida, o setor pode ser contemplado.”

O advogado tributarista Luiz Bichara avaliou que, embora a lista não gere nenhum direito adquirido, a União não poderá indicar “algo e não cumprir”. “É o princípio da confiança legítima”, disse. Segundo ele, a publicação da portaria cria expectativa de atuação estatal no sentido da implementação de políticas públicas concretas visando a recuperação econômica.

O vice-presidente da Confederação Nacional dos Serviços (CNS), Luigi Nese, alerta que existem muitas empresas que ainda estão prejudicadas pela falta de crédito. Para ele, o Pronampe, programa com garantia do Tesouro, funcionou bem, mas os recursos acabaram. Ele cobra mais recursos com garantia. “O governo prometeu mais R$ 19 bilhões e ainda não vieram.”

Veja a lista com os setores mais atingidos:

1.            Atividades artísticas, criativas e de espetáculos

2.            transporte aéreo

3.            transporte ferroviário e metroferroviário de passageiros

4.            transporte interestadual e intermunicipal de passageiros

5.            transporte público urbano

6.            serviços de alojamento

7.            serviços de alimentação

8.            fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias

9.            fabricação de calçados e de artefatos de couro

10.          comércio de veículos, peças e motocicletas

11.          tecidos, artigos de armarinho, vestuário e calçados

12.          edição e edição integrada à impressão

13.          combustíveis e lubrificantes

14.          fabricação de outros equipamentos de transporte, exceto veículos automotores

15.          extração de petróleo e gás, inclusive as atividades de apoio

16.          confecção de artefatos do vestuário e acessórios

17.          comércio de artigos usados

18.          energia elétrica, gás natural e outras utilidades

19.          fabricação de produtos têxteis

20.          educação privada

21.          organizações associativas e outros serviços pessoais

22.          fabricação de coque, de produtos derivados do petróleo e de biocombustíveis

23.          impressão e reprodução de gravações

24.          telecomunicações

25.          aluguéis não-imobiliários e gestão de ativos de propriedade intelectual

26.          metalurgia

27.          transporte de cargas (exceto ferrovias)

28.          fabricação de produtos de borracha e de material plástico

29.          fabricação de máquinas e equipamentos, instalações e manutenções

30.          atividades de TV, rádio, cinema e gravação/edição de som e imagem

31.          saúde privada

32.          fabricação de celulose, papel e produtos de papel

33.          fabricação de móveis

34.          comércio de outros produtos em lojas especializadas

 

O GLOBO

Brasil vive fuga recorde de investidores estrangeiros, e questão ambiental pode piorar quadro

O Brasil está perdendo atratividade para os investidores estrangeiros. Os efeitos da crise global provocada pela pandemia e as incertezas em relação à retomada da trajetória do controle de gastos públicos no próximo ano reduziram o apetite pelos ativos brasileiros. Com o avanço de queimadas e desmatamento, esse quadro tende a se agravar, segundo especialistas e gestores.

Os dados do fluxo cambial mostram um quadro inédito de saída de recursos externos. Nos primeiros oito meses deste ano, US$ 15,2 bilhões deixaram o país, o maior volume para o período desde que o Banco Central (BC) começou a compilar as estatísticas, em 1982. Além disso, os investidores estrangeiros retiraram R$ 87,3 bilhões da Bolsa brasileira de janeiro a 17 de setembro de 2020.

Isso é quase o dobro do registrado em todo o ano passado, quando saíram R$ 44,5 bilhões. É a maior saída da série da B3, iniciada em 2008.

Os dados do fluxo cambial consideram os resultados das exportações e importações do país, a chamada conta comercial, e o fluxo financeiro de investimentos, aportes em títulos ou dividendos remetidos e recebidos do exterior, a conta financeira. As saídas se concentram exatamente na conta financeira: foram US$ 89,6 bilhões no período de 12 meses até agosto.

Já a conta comercial tem saldo positivo de US$ 36,2 bilhões nessa comparação.

Já os números de saída de estrangeiros da Bolsa não consideram a entrada de capital por meio de ofertas públicas de ações, os IPOs.

Em uma audiência virtual promovida na terça-feira pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente do BC Arminio Fraga alertou para a piora da imagem do Brasil no exterior.

— Em função da piora concreta das taxas de desmatamento e de sinais abundantes de que prevalece hoje uma certa tolerância com a questão, o Brasil tem merecido uma imagem bastante negativa na cena internacional. O mesmo obscurantismo que nos prejudicou e nos prejudica no combate à pandemia nos afeta também nos temas ambientais — disse Arminio.

Ele ressaltou que qualquer hesitação nessa área “reforça essa percepção negativa que hoje se abate” sobre o Brasil, que corre o risco de se tornar um pária.

Essa imagem negativa no exterior também pode ser observada nos dados sobre investimento estrangeiro, que registrou o menor resultado para um primeiro semestre em mais de uma década. Nos primeiros seis meses deste ano entraram US$ 22,8 bilhões, o menor patamar desde os US$ 13,9 bilhões registrados em 2009 e uma queda de 27% na comparação com o mesmo período de 2019.

Ainda assim, contrariando os dados do BC, em seu discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que os investimentos cresceram:

— O Brasil foi, em 2019, o quarto maior destino de investimentos diretos em todo o mundo e no primeiro semestre de 2020, apesar da pandemia, verificamos um aumento de ingresso de investimentos em comparação com o mesmo período do ano passado.

Arminio ressaltou que o desmatamento vai prejudicar cada vez mais o agronegócio, as exportações e os investimentos estrangeiros no Brasil:

— O desmatamento e outros crimes ambientais, além de agravarem o problema global, trazem enorme risco para o ecossistema do agronegócio, nosso setor mais bem-sucedido, e também para a oferta de energia no nosso país.

Segundo ele, isso prejudica também cada vez mais o acesso a mercados para os produtos brasileiros:

— Basta lembrarmos o acordo com a União Europeia. A crescente ênfase, por parte das melhores empresas do mundo, do trio chamado em inglês ESG, traduzindo, meio ambiente, social e governança, reduz a atratividade do Brasil como destino de investimentos.

Daniela da Costa-Bulthuis, gestora para o Brasil da holandesa Robeco Asset, também alerta para as consequências da atual política ambiental para o futuro do país:

— O país está perdendo o capital de longo prazo, que é o que vem para ficar e que vai aumentando os investimentos ao longo do tempo. Em um exemplo hipotético, o estrangeiro pode ficar receoso de investir em uma fábrica de alimentos no Brasil e, dali a certo tempo, algum produto agrícola brasileiro ser proibido no mercado internacional por causa de práticas contra a preservação ambiental.

Para Daniela, o governo deveria escutar o que a comunidade estrangeira tem a dizer:

— Quando os investidores estrangeiros alertam sobre a situação ambiental brasileira, não é uma questão política. Estamos olhando os dados oficiais, e eles apontam que o desmatamento está avançando. E o Brasil não é o único país que recebe alertas de investidores estrangeiros.

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Eric Christian Pedersen, diretor de Investimentos Responsáveis, da gestora finlandesa Nordea Asset Management, considera que, no curto prazo, o risco maior diz respeito à aprovação do acordo entre Mercosul e União Europeia (UE). Isso porque a questão ambiental tem grande espaço na agenda europeia.

Daniela ressalta que, hoje, conservação ambiental e economia estão ligados:

— No mundo atual, não é possível conduzir atividade predatória no meio ambiental no longo prazo. Pode-se chegar a um ponto em que não haja fertilizante que faça a terra ser produtiva.

Arminio vê relação de dependência entre meio ambiente e atividade econômica:

— A persistir o aumento da temperatura do planeta, as consequências serão devastadoras. O trem já partiu, e todo cuidado é pouco. Estima-se que o impacto econômico e social ao longo do tempo será maior que o da pandemia. Imagino até bem superior.

 

 

 

 

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