Segunda-feira

ESTADÃO

Custo alto deve se manter até 2021 no material de construção

A elevação nos custos de cimento, aço, areia, fios, tubulação e outros materiais de construção – que ficou evidente na retomada dos negócios imobiliários após o flexibilização da quarentena – deve se estender até meados do primeiro semestre do ano que vem e, depois disso, perder força, de acordo com especialistas do setor.

Por enquanto, o movimento de alta segue em vigor, conforme mostra o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC) apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). O INCC em outubro avançou 1,50% até o segundo decênio do mês, mostrando uma aceleração frente aos 0,98% registrados no mesmo período de setembro. Com isso, o INCC chegou a 6,14% no ano e 6,44% em 12 meses.

A pressão vem do grupo materiais, equipamentos e serviços, com elevação de 3,04% no segundo decênio de outubro ante 2,02% no mesmo período de setembro. No ano, o crescimento desse grupo atingiu 10,84% e, em 12 meses, foi a 11,19%.

O superaquecimento desses itens é reflexo de uma distorção nas relações entre oferta e demanda, de acordo com a pesquisadora da FGV para o setor da construção civil, Ana Maria Castelo. “Houve uma parada da indústria por causa da pandemia e uma retomada muito forte e rápida da demanda com o arrefecimento da quarentena. Isso causou uma distorção surreal, nunca antes imaginada. A oferta da indústria não conseguiu acompanhar a demanda no mesmo ritmo”, explica.

“Por imposição da pandemia, a indústria viu sua produção diminuir abruptamente em cerca de 50% em abril e maio. E logo na sequência viu uma retomada abrupta da demanda, com necessidade de reposição de estoques e incremento expressivo dos volumes de produção”, afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), Rodrigo Navarro.

 

VALOR

Inflação sobe e desafia o ‘forward guidance’

Nas últimas semanas, a especulação sobre uma possível retirada da promessa do Banco Central não subir os juros tão cedo girava em torno de uma eventual mudança do regime fiscal. Às vésperas da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que começa amanhã, a ameaça é mais mundana: a prévia da inflação de outubro, o chamado IPCA-15, ficou mais salgada do que se imaginava, e pode levar menos tempo para o índice de preços convergir para as metas.

Como o Banco Central deverá reagir ao IPCA-15? O dado sinaliza que o balanço de riscos para a inflação, que já pendia para o lado negativo devido às incertezas fiscais, ficou mais desfavorável. “Acho vai mudar a cabeça daqueles que estavam pensando que havia risco de a inflação ficar baixa neste e no próximo ano”, afirma um experimentado analista de política monetária. “O BC vai ficar mais alerta, pensando quando será, no futuro, o momento de subir os juros.”

Para ele, o ambiente de fragilidade fiscal com o inflação alta é muito perigoso. Projeção do BC dirá prazo de validade dos juros estáveis O IPCA-15, em 0,94%, ficou acima da mediana das projeções coletadas pelo Valor Data, de 0,82%. Qualitativamente, o dado é ruim. Há sinais de que a forte depreciação cambial e alta de preços de commodities estão chegando aos consumidores. Os preços dos serviços esboçam uma reação inicial. Os núcleos de inflação seguem baixos, mas não estão mais na lona.

A provável vítima imediata do IPCA-15 é a sinalização do Banco Central de que poderia haver cortes residuais de juros, se o cenário básico inflacionário e o balanço de riscos melhorassem e houvesse espaço para uma Selic menor sem criar muitos perigos do lado da estabilidade financeira. “É pouco razoável falar em cortes adicionais de juros”, diz um outro analista, também com larga experiência em política monetária. “Eu retiraria essa possibilidade da comunicação. Se o cenário mais adiante melhorar, poderia voltar.”

 Muitos nem vão notar se essa brecha para cortes de juros, de fato, desaparecer no comunicado do Copom, que será divulgado na noite de quarta-feira. Poucos contavam com essa possibilidade após o agravamento do quadro fiscal. Hoje, essa porta aberta para mais cortes de juros está mais ligada a um possível segundo mergulho recessivo no primeiro trimestre de 2021.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o diretor de Política Econômica da instituição, Fabio Kanczuk, já disseram mais de uma vez que há dúvidas sobre o que vai segurar a economia quando acabar o pagamento do auxílio emergencial. Ninguém sabe se a poupança acumulada pela classe média nos últimos meses vai virar consumo mais adiante. Fechar a porta para novos cortes de juros, porém, poderá ter um sabor de aperto monetário. É provável que a curva de juros futuros empine um pouco mais.

O mercado e os analistas econômicos vão se concentrar, a partir de então, em adivinhar quando os juros vão voltar a subir - o que pode representar um desafio ao “forward guidance” do BC. Os mercados estão certos em duvidar da sobrevivência do “forward guidance”?

Provavelmente, sim, mas não é algo para já, apenas porque o balanço de riscos para a inflação piorou ou porque, supõe-se, o BC vai fechar a porta para novos cortes de juros. O que pode minar, aos poucos, o “forward guidance” são as projeções de inflação do Banco Central no cenário central e também as expectativas de inflação do mercado financeiro.

Apenas para lembrar, se não houver uma mudança no regime fiscal nem uma desancoragem das expectativas de inflação de longo prazo, o Copom promete não subir os juros enquanto a inflação no seu cenário básico e as projeções de mercados não se aproximarem das metas. A pergunta relevante, portanto, é o quanto as projeções de inflação do BC no cenário básico vão estar próximas da meta na reunião que começa amanhã.

O Copom indicou, no Relatório de Inflação, que o dado importante para os analistas acompanharem a evolução do cenário básico é a projeção com as previsões do mercado para a Selic e o câmbio calculado pelo método da paridade do poder de compra (PPC). Em meados de setembro, último dado conhecido, essa projeção de inflação estava num patamar bastante confortável.

O dado divulgado foi uma variação do IPCA de 2,9%, que deve ser acrescida de 0,1 ponto percentual, para capturar o efeito da nova metodologia do câmbio do PPC, que vai começa a valer a partir da reunião desta semana. Ou seja, o IPCA de 2021 estava em 3%, uma boa margem de folga sobre a meta, de 3,75%. De lá para cá, essa projeção no cenário básico deve ter subido, pelas mesmas razões que o mercado está revendo as suas estimativas.

Como disse há duas semanas o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, o cenário básico é previsível, já que “o Copom não inventou a roda” e faz projeções como todo mundo. Há uma dose adicional de inércia inflacionária e de repasse cambial. Na sexta-feira, o Valor PRO, serviço de informações de tempo real do Valor, coletou as primeiras mudanças nas expectativas de inflação para 2021.

 A LCA, por exemplo, reviu a projeção de 3,2% para 3,6%; o Credit Suisse, de 3,4% para 3,55%. Outras casas mantiveram a projeção. Mas parece provável que as expectativas migrem de 3,1% para algo mais próximo de 3,5%. Nesse percentual, seguiria abaixo da meta, de 3,75%. O Copom não teria motivos para retirar o “forward guidance” agora, mas uma gordura foi queimada no caminho.

Um terceiro analista com muito conhecimento de política monetária lembra que o Banco Central já havia avisado que a inflação iria subir no curto prazo e que os núcleos de inflação e expectativas também seriam afetados. Os dados vieram um pouco piores do que o Banco Central esperava, mas, para esse observador, não muda a grande história, e a autoridade monetária pode esperar o calombo dos núcleos passar. “O Banco Central poderá olhar para trás e dizer: ‘acertei’”, afirma. Mas a mágica só funciona se o fiscal ficar em pé, ou seja, se o presidente Bolsonaro fizer em novembro escolhas que garantem a sustentabilidade das contas públicas. Mais ruído fiscal levaria a dólar mais alto e mais repasse cambial para a inflação.

 

Inflação traz dúvida a futuro da Selic

Embora seja consenso entre economistas a avaliação de que a Selic deve se manter nas mínimas históricas e a normalização da política monetária será gradual, o mercado começa a mostrar insegurança em relação a essa tese. Os juros futuros encerraram a semana passada na B3 precificando uma taxa básica de 5,5% no fim de 2021 — processo que ganhou ainda mais força após a divulgação do elevado IPCA-15 de outubro na sexta-feira.

O nível de Selic, hoje em 2%, indicado pelo mercado para 2021 está bem acima do esperado por economistas. Em pesquisa realizada pelo Valor com 76 instituições financeiras, o ponto médio das estimativas para o juro básico está em 2,75% no fim do próximo ano. Na ponta altista, aparece a Pezco, que projeta a taxa Selic em 4,75% em dezembro de 2021.

Não somente o resultado cheio do IPCA-15 de outubro — que ficou em 0,94%, acima da mediana das projeções coletadas pelo Valor Data, de 0,82% — surpreendeu o mercado, mas também alguns de seus componentes. E isso às vésperas da reunião do Copom (Comitê Política Monetária) do BC, que anunciará sua decisão para a Selic nesta quarta-feira.

“Esperávamos uma pressão concentrada nos alimentos, mas outros itens vieram pressionados e houve aceleração nos núcleos, mesmo que leve”, diz um gestor. “A inflação assustou e isso nos faz crer que o BC pode mudar a comunicação nesta semana. É difícil pensar que ele continuará com o ‘forward guidance’ inalterado depois de um movimento tão forte da inflação, que justificou uma disparada dos juros futuros.”

No fim do pregão regular na sexta na B3, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 subia de 3,27% no ajuste anterior para 3,46%. Em relatório, os economistas da BlueLine Asset avaliam que, se não bastassem os riscos fiscais em alta, a reunião do Copom será marcada, justamente, por “uma aceleração inflacionária mais aguda e disseminada do que o comitê vinha antecipando”.

A gestora espera a continuidade da sinalização sobre a Selic nas mínimas, mas prevê alterações na comunicação, com a eliminação da assimetria de riscos para mais cortes. Essa alteração na comunicação do Copom também é esperada pelo economistachefe da Occam, Paulo Val, para quem os sinais de mais cortes na Selic devem ser retirados diante da deterioração do cenário e de questões prudenciais.

Em seu cenário base, Val pressupõe a manutenção do teto de gastos e da Selic em 2% em 2021. No entanto, ele afirma que a probabilidade de um cenário alternativo, com flexibilização do teto, “aumentou substancialmente e está quase tão elevada quanto a do cenário base”.

Para o diretor de pesquisa econômica da Pezco, Helcio Takeda, o Banco Central deveria indicar que o balanço de riscos mudou e que está menos favorável à manutenção da Selic nos atuais 2%. “Os dados atuais sugerem que o risco sobre a dinâmica e as expectativas de inflação aumentou e a materialização desse quadro de inflação maior no curto prazo colocaria em risco a continuidade da recuperação da atividade econômica”, diz.

O elo entre a política monetária expansionista em vigor e o regime fiscal, representado principalmente pelo teto de gastos, tem sido reforçado pelo BC. Não por acaso, economistas alertam que uma flexibilização ou até mesmo o rompimento do teto de gastos alteraria por completo o que se espera para a política monetária.

O economista-chefe da XP Asset, Fernando Genta, ilustra bem as possibilidades que estão sobre a mesa. Com o teto de gastos intacto, a Selic seria mantida nos atuais 2% ao menos até dezembro de 2021. Caso haja flexibilização do teto, mas acompanhada por medidas de ajuste fiscal, o processo de normalização monetária teria início no terceiro trimestre de 2021 e a taxa básica encerraria o ano em 3,5%.

Um outro cenário que contempla uma flexibilização do teto, mas sem sinalização para aprovação de medidas fiscais, poderia levar a um aumento do juro básico já no começo do próximo ano, “com a Selic subindo rapidamente para pelo menos 6%”. Com base nessa mudança brusca de cenário em caso de alteração no regime fiscal, Genta diz acreditar que o BC deve destacar a piora observada nos preços dos ativos.

Na avaliação do Santander, há um risco de cenário de dominância fiscal no médio prazo se um rompimento do teto se materializar. O superintendente de pesquisas macroeconômicas do banco, Maurício Oreng, diz que, nesse caso, a Selic poderia ser elevada a 6% até o fim de 2021 e a 9% em 2022.

Para alertar sobre esse fato, o Copom deveria “explicitar uma elevação dos riscos fiscais e reforçar a condicionalidade para a manutenção do plano de voo: juros estáveis condicionais à manutenção do regime fiscal e ancoragem de expectativas”. Na Macro Capital, o cenário de rompimento do teto já é o principal. Para conter as reclamações dos agentes e impedir uma derrubada dos mercados, que poderia colocar em risco a recuperação, o governo precisaria criar uma narrativa consistente, diz Thiago Pereira, economista-chefe da gestora.

 Para ele, isso significaria propor elevação da carga tributária para bancar não apenas parte do gasto com o Renda Cidadã, mas também dar maior folga à dinâmica da dívida, ao mesmo tempo em que haveria o compromisso de acelerar reformas. A forma como isso seria comunicado é importante porque a reação dos agentes provavelmente seria negativa em um primeiro momento.

Além de impedir que se forme a impressão de “tudo liberado” após o teto ser furado, a estratégia significaria, no limite, mudar o entendimento sobre a âncora fiscal. “Se essa mudança for feita, o teto é rompido, mas a solvência da dívida melhora. A reação dos mercados pode ser ruim no curto prazo, mas, com o tempo, a avaliação pode ser positiva.”

 

FOLHA

BC conta com poupança das classes média e alta para estimular economia após fim do auxílio

Contando com o fim do auxílio emergencial no próximo ano, o Banco Central aposta na volta ao consumo daqueles que conseguiram poupar durante a pandemia para continuar a estimular a atividade, hoje dependente do auxílio pago pelo governo aos mais pobres.

No “cenário ideal” traçado pelo BC para o término do auxílio, as classes média e alta vão canalizar a poupança, que bateu recordes durante a pandemia, para o consumo, permitindo a manutenção do estímulo à atividade.

A autarquia se baseia em estudos próprios para as previsões. Um deles mostrou que o auxílio emergencial foi usado essencialmente para compras e pouco do benefício foi guardado para o futuro.

Outro levantamento sugere que a poupança foi formada pelas economias das classes mais altas, que deixaram de consumir pelas restrições impostas pelo distanciamento social e a falta de mobilidade, ou por incertezas.

Nesse documento, o BC mostra que pessoas de renda mais elevada (que varia de R$ 4.000 a R$ 20 milhões mensais) tiveram queda acentuada no consumo em abril, mês mais afetado pela pandemia da Covid-19. Nesse contexto, a retomada sugerida pelo BC viria da poupança feita por essa ampla faixa de renda, após o fim do auxílio emergencial pago aos mais pobres.

As duas pesquisas foram divulgadas no relatório de inflação da autarquia, publicado no fim de setembro.

“A massa salarial ampla foi quase que totalmente recomposta [pelos auxílios], mas o consumo caiu. Houve um aumento da poupança por parte da população de mais alta renda, que não teve acesso ao consumo de algum bem pelo distanciamento, por exemplo”, afirmou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, na ocasião.

“O cenário ideal é aquele que o auxílio deixa de existir ou diminui e o efeito poupança tende a voltar para a economia”, disse Campos Neto.

Nos últimos documentos oficiais, o BC mostrou preocupação com o fim do auxílio emergencial e suas consequências sobre o nível de consumo e a economia. Apesar desse temor, a autoridade monetária tem reforçado a necessidade do fim do benefício, dado seu impacto negativo sobre os cofres públicos.

O professor de economia da UnB (Universidade de Brasília), Roberto Piscitelli, no entanto, alerta que o montante guardado pode não voltar imediatamente à economia.

“A poupança provavelmente não será automaticamente revertida em consumo depois de dezembro e mesmo que isso ocorra é difícil imaginar que se dê na mesma intensidade e velocidade.”

Para ele, caso o cenário traçado pelo BC se concretize, as diferenças econômicas e sociais entre as regiões do país serão acentuadas. “A população de baixa renda seria mais penalizada, especialmente no Norte e no Nordeste, onde o auxílio teve mais efeito e onde as economias das classes mais altas não devem compensar o fim do benefício”, ponderou.

O especialista destacou ainda que o mercado de trabalho pode demorar a responder a esse tipo de estímulo. “Enquanto isso, os mais pobres ficariam desassistidos”, disse.

Piscitelli lembrou também que o consumo gerado pelo auxílio emergencial foi preponderantemente de itens essenciais, como alimentos, e não de bens duráveis. “Isso não alavanca a economia e a indústria”, avalia.

Entre os consumidores analisados no estudo do BC, estão os super-ricos. O coordenador do curso de economia da Universidade Católica de Brasília, Matheus Silva de Paiva, ressaltou que este grupo tradicionalmente gasta fora do país.

“Eles foram impedidos de viajar e devem continuar consumindo em outros países quando a pandemia acabar”, diz.

Em sua visão, esperar uma retomada com base no consumo, sem investimentos, pode significar repetir o que considera erros de gestão do governo Lula (2003–2011).

“Além disso, é preciso insistir nas reformas estruturais, ou vamos experimentar voos de galinha [pequenos avanços seguidos de quedas]”, argumentou.

Dados mostram que o brasileiro guardou dinheiro durante a pandemia. No segundo trimestre, período em que a crise foi mais acentuada, a taxa de poupança do brasileiro cresceu 1,4 ponto percentual e ficou em 15,5% do PIB (Produto Interno Bruto).

O percentual, calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), é formado com base na poupança bruta do brasileiro, que é o valor da renda que não consumido. Ao todo, R$ 256,8 bilhões foram economizados, R$ 10,4 bilhões a mais que no mesmo período do ano passado.

Desde o início da crise sanitária, a caderneta de poupança também tem registrado valores elevados em captação líquida (diferença entre depósitos e saques) na comparação com o restante da série e bate recordes no saldo.

No mês passado, o saldo do investimento, que é a soma de todo montante aplicado, alcançou pela primeira vez na história a marca de R$ 1 trilhão. No acumulado de março a setembro, os depósitos superaram os saques em R$ 153,1 bilhões.

Em outra ponta, o consumo foi impulsionado pelo auxílio emergencial. De acordo com a Caixa Econômica, 67,7 milhões de pessoas receberam o benefício. O socorro foi dividido em cinco parcelas de R$ 600 e quatro de R$ 300, que serão pagas até dezembro.

Nem todos, no entanto, tiveram direito a todas as parcelas. Até agora, R$ 228,4 bilhões já foram pagos e o custo total do programa será de R$ 321,8 bilhões, já com a prorrogação até o fim do ano.

Marcelo Neri, diretor da FGV Social, avalia que o governo se encontra em um dilema. “O governo vai gastar [com o auxílio] R$ 322 bilhões, são nove anos de Bolsa Família em nove meses. Foi um programa voltado para a base da pirâmide e foi muito bem direcionado, mas desregulou a economia em alguns aspectos, como distorções nos preços dos alimentos”, afirma.

 

Quase 60% dos consumidores têm adiado compras por causa da pandemia

A pandemia levou quase 60% dos consumidores a adiar a compra de bens e serviços. Segundo sondagem especial realizada pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) feita com 1.171 pessoas, 58% dos brasileiros frearam o consumo.

O principal motivo apontado para adiar as compras é a incerteza com relação à pandemia de Covid-19 (53%), crise sanitária que levou às restrições de circulação, inibindo o consumo, e gerou insegurança em relação ao futuro.

Os consumidores também afirmam que estão poupando por precaução (31%), estão com medo do desemprego de alguém na família (19%) ou com dificuldade de obter emprego (13%).

Entre as famílias com renda de até R$ 2.100, 34% relatam como motivo a dificuldade de obter emprego, praticamente o mesmo percentual dos que citam as incertezas com a pandemia (35%).

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que a taxa de desemprego chegou a 14% em setembro, maior percentual da série histórica da Pnad Covid, pesquisa criada para mensurar os efeitos da pandemia. A taxa é maior entre mulheres (17%) e negros (16%).

Outra razão para o freio nos gatos apontada na pesquisa do Ibre é a falta de recursos —cerca de 10% dizem não ter como pagar as contas. A perda de renda com o fim dos benefícios emergenciais é citada por 7% dos entrevistados.

Entre os 11,3% que apontaram outros motivos, muitos relataram a redução de consumo por causa da alta de preços. Em outubro, a prévia da inflação (IPCA-15) acelerou para 0,94%, o maior valor para o mês desde 1995.

“O consumidor continuar se mantendo bastante cauteloso em relação à compra de bens ou serviços . Esse percentual é mais alto para as faixas de renda mais baixas, que foram as que mais sofreram na pandemia, com perda de emprego e suspensão de contrato de trabalho e estão com nível de endividamento mais alto”, afirma Viviane Seda Bittencourt, coordenadora das sondagens do FGV Ibre.

“Nas faixas renda mais alta, grande parte está poupando por precaução, mas isso está acontecendo também nas faixas de renda mais baixas, pelo medo do desemprego e de uma nova onda da pandemia”, diz a coordenadora.

Segundo ela, a postergação tem sido maior no consumo de serviços do que de bens.

O produtor Paulo Serpa, 34, é um dos que passou a reduzir seus gastos por temer uma redução na renda.

“Nunca fui cuidadoso com dinheiro, mas passei a ficar mais atento. Comecei a comprar e cozinhar mais em casa para economizar e por medo de contaminação.”

Serpa tem uma planilha de gastos que atualiza semanalmente e conta que economizou, em média, R$ 2.000 por mês.

Ele também cortou gastos ao passar alguns meses na pousada da sogra em Cunha (SP), que ficou sem receber hóspedes.

“Supermercado no interior é mais barato, então, quando voltei para São Paulo, assustei com a conta no final das compras. Aí você começa a reduzir, come menos arroz e se acostuma a marcas mais baratas”, diz o paulistano.

Serpa diz ainda ter reduzido as despesas com vinhos, optando por itens promocionais. A preocupação atual é com o reajuste do valor do condomínio. Segundo ele, a depender do aumento, será necessário cancelar a assinatura do serviço de TV a cabo.

“Sou PJ, não tenho um guarda-chuva de lei trabalhistas, e trabalho com cultura, algo difícil no Brasil”, diz.

O setor de cultura foi um dos mais impactados pela pandemia, com o fechamento de cinemas, teatros e casas de show. Apesar da flexibilização da quarentena, ainda há resistência do consumidor a voltar a esses espaços, mesmo que fossem tomadas medidas preventivas contra o vírus.

Esse temor, no entanto, está diminuindo. Segundo levantamento do FGV Ibre, os números melhoraram em outubro em relação à pesquisa semelhante realizada em julho: cinema e teatro (de 80% para 64%), viajar de férias de avião ou ônibus (de 70% para 48%), frequentar bares e restaurantes (de 64% para 42%) e shopping centers (de 55% para 38%).

“Há uma propensão maior das pessoas voltarem aos shoppings do que, por exemplo, irem a cinema e teatro. Faz sentido, se você está indo para o shopping center você tem a questão dos serviços lá, mas também tem muitas lojas. Nos outros serviços há uma cautela maior dos consumidores”, afirma Bittencourt.

Como mostrou reportagem da Folha deste domingo (25), dados abertos do Monitor do PIB do FGV Ibre mostram que o consumo de bens voltou aos níveis anteriores à pandemia em julho e, em agosto, já estava 0,8% acima do nível de fevereiro. Nos serviços, ainda está cerca de 10% abaixo.

Com isso, o consumo total ainda apresenta queda de 5,8%.

Os serviços são responsáveis por cerca de 30% dos empregos, o que faz com que a lenta retomada do setor se reflita no mercado de trabalho.

“A perda de renda com o fim dos benefícios não aparece como principal fator para postergação de compras de bens e serviços. Isso chamou a atenção. Nem nas rendas mais baixas o percentual é tão grande quanto a gente esperava, e acho que isso tem a ver muito mais com a questão do emprego, do mercado de trabalho, do que dos benefícios mesmo”, afirma a pesquisadora.

No mês passado, outra sondagem da instituição mostrou que mais de 25% das empresas previam ajustes na folha de pagamento.

“Como o consumidor está muito cauteloso em relação ao consumo de serviços, esse setor é o que está tendo a maior dificuldade de recuperação e é o que emprega 30% da população, por isso, tem dificuldade de cumprir a folha de pagamento”, afirma a coordenadora das sondagens do FGV Ibre.

 

 

 

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