Quarta-feira

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Risco fiscal faz BC afastar corte de juro

Os riscos fiscais levaram o Banco Central (BC) a descartar a hipótese de um novo corte de juros na semana passada, segundo a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada ontem. O colegiado considera que a possibilidade de a inflação ficar acima do projetado, em função de riscos ligados às contas públicas, “é suficiente para compensar” o fato de a projeção no seu cenário básico mostrarem inflação abaixo da meta.

O Copom decidiu na semana passada que a manutenção da Selic em 2% ao ano e do “forward guidance”, indicação de que não vai subir os juros tão cedo, são suficientes para que a meta seja cumprida no horizonte relevante, do qual fazem parte 2021 e 2022.

O colegiado esclareceu porque manteve em comunicado na semana passada a avaliação de que o espaço para novos cortes de juros, “se houver, deve ser pequeno” - que chegou a ser interpretada por alguns analistas como uma porta aberta para novos cortes de juros no futuro. Segundo o BC, essa avaliação está ligada às restrições de caráter prudencial para movimentos de redução da taxa básica.

Na visão da “maioria” dos membros do Copom, a Selic estaria próxima do nível a partir do qual novas quedas “poderiam ser acompanhadas de instabilidade nos preços de ativos”. Na sua avaliação prática, porém, concluiu que não seria o caso de cortar mais os juros para cumprir as metas, devido aos riscos fiscais.

“O Copom ponderou que, neste momento, a assimetria altista no balanço de riscos causada pelos riscos fiscais é suficiente para compensar o fato de seu cenário básico projetar inflações abaixo da meta no horizonte relevante”, disse na ata. Apresentado pelo BC após a reunião da semana passada, o cenário básico mostrava inflação em 3,1% em 2021 e 3,3% em 2022 - abaixo, portanto, das metas de 3,75% e 3,5%, respectivamente.

O Copom também apresentou novas projeções para preços administrados em 2021 (5,1%) e 2022 (3,9%), que não estavam presentes no comunicado da semana passada. Um segundo ponto abordado na reunião foi “a interpretação da cláusula fiscal” do forward guidance, que basicamente estabelece que um abandono do regime de disciplina fiscal poderia levar o BC a remover a promessa de não subir os juros mesmo em situações em que normalmente subiria.

“O Comitê refletiu que alterações de política fiscal que afetem a trajetória da dívida pública ou comprometam a âncora fiscal motivariam uma reavaliação, mesmo que o teto dos gastos ainda esteja nominalmente mantido”, disse.

O colegiado também detalhou o que aconteceria no caso de cair a promessa de não subir o juro - nesse caso, o BC passaria a conduzir a política monetária seguindo “o receituário do regime de metas para a inflação, sendo baseada na avaliação da inflação prospectiva e de seu balanço de riscos”.

 

Ata mostra Copom mais realista e menos inclinado a novo corte

A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, mostra um colegiado mais realista e menos inclinado a novos cortes de juros ou a manter estímulos a todo custo, que muitos enxergaram em comunicado divulgado na semana passada.

O documento revela que a discussão sobre eventual espaço para cortes de juros, em reunião na semana passada, restringiu-se ao campo prudencial e não à política monetária. Dito de outra forma: ninguém defendeu deixar uma porta aberta a corte de juros para estimular a economia.

A cláusula de escape fiscal para o “forward guidance” mostra-se mais dura. Medidas do governo e do Congresso que levem a uma piora na dinâmica da dívida, mesmo que formalmente o teto de gastos seja mantido, podem levar à retirada da promessa de não subir a taxa básica tão cedo.

Por fim, a projeção de inflação de 3,1% do colegiado para 2021 não parece tão diferente da do resto do mercado financeiro, a julgar pelo mapa da distribuição de expectativas divulgada pela autoridade monetária, em um outro documento. Apenas algo como 20% dos analistas preveem inflação ao redor de 3,5% em 2021. Algo como três quartos dos analistas projetam inflação de até 3,35% para o ano que vem.

A ata do Copom detalha por que o colegiado decidiu manter, na sua comunicação, o aviso de que o espaço para cortar juros, se houver, é pequeno. Muitos analistas entenderam a manutenção dessa mensagem como uma indicação de intenção de cortar juro. O documento divulgado ontem mostra que não é nada disso. Ele faz um claro corte entre questões prudenciais e de política monetária. No que toca a política monetária, o colegiado fez uma avaliação do cenário básico e balanço de riscos e concluiu que, naquela reunião, era apropriado o estímulo criado pelos juros de 2% ao ano e “forward guidance”.

Alguns vão dizer que o Banco Central não fechou a porta para eventuais novos cortes de juros. De fato, a porta segue aberta. Mas não há uma indicação futura, nenhum vislumbre de que as condições adiante serão propícias. A cada reunião, provavelmente, o BC vai olhar o balanço de riscos e as projeções de inflação para avaliar se há espaço para eventuais reduções adicionais de juros.

Na ata, o Copom dá um pouco de sua função reação, quando diz que a assimetria do balanço de riscos - causada pela política fiscal - compensa o cenário básico com inflação abaixo da meta. Ou seja, para cortar os juros, tem que mudar esse quadro, com melhoria no balanço de riscos e/ou no cenário básico de inflação. Sobre o “forward guidance”, o Copom parece disposto a julgar se as decisões tomadas pelo Congresso e governo mantêm o regime fiscal.

O colegiado poderia apenas dizer que avaliaria a continuidade do regime fiscal pela reação dos mercados. Mas a ata entra numa discussão mais concreta sobre a política fiscal em si, sobre teto e evolução da dívida. Os requisitos para dizer se houve uma eventual mudança no regime fiscal são menos rigorosos do que apenas uma queda do teto de gastos.

O colegiado, por outro lado, detalhou como vai agir caso o “forward guidance” caia. Nessa situação, volta ao regime de metas de inflação, avaliando as projeções no cenário central e balanço de riscos. A ata formaliza o que vem sendo dito por dirigentes do BC: não existe relação mecânica entre eventual queda do “forward guidance” e alta de juros.

Por fim, as projeções de inflação do BC no cenário básico - um dos condicionantes da duração do “forward guidance” - parecem mais alinhadas com o consenso de mercado, com a divulgação do mapa do que esperam os analistas econômicos.

O BC não está sozinho no lado otimista - apenas não se alinhou ao grupo mais pessimista que engrossou com o IPCA-15. O Banco Central, na ata, detalha as premissas de sua visão de que a alta de preços será temporária. O documento diz que seu cenário conta com uma “reversão” da elevação extraordinária dos preços de alguns produtos, afetados pela redução temporária na oferta em conjunção com um aumento temporário da demanda.

Esse é o cenário do Copom, e todos podem acompanhar se, de fato, ele será confirmado ao longo do tempo. O próprio colegiado informa, desde o comunicado da semana passada, que “monitora com atenção” a evolução desse cenário de inflação. Ou seja, não está abraçado incondicionalmente com esse cenário benigno.

 

Destino de poupança acumulada no ano será crucial para retomada

A solução a ser dada ao impasse fiscal, com a criação ou não de um novo programa de transferência de renda, é a principal, mas não a única dúvida em aberto no cenário econômico de 2021. Economistas estão divididos sobre qual será o efeito do significativo acúmulo de poupança ocorrido ao longo deste ano na retomada do Produto Interno Bruto (PIB) no próximo ano. Caso uma parcela mais expressiva do dinheiro guardado volte a circular na economia em forma de consumo, a reação pode ser mais forte.

As reservas financeiras extras em relação a 2019, que são de quase R$ 500 bilhões nas estimativas da Tendências Consultoria, podem ser destinadas ao consumo, suavizando o efeito contracionista do “abismo fiscal”. Mesmo sob essa hipótese, porém, é consenso entre especialistas que o impacto negativo da retirada dos estímulos do governo sobre a atividade será preponderante.

Somando o saldo da caderneta de poupança e o estoque aplicado em previdência privada, títulos de capitalização, do Tesouro e na renda fixa (LCI, CDB, CRA e CRI), o indicador de poupança agregada da Tendências subiu 21,9% em agosto ante igual mês de 2019, para R$ 3,6 trilhões. “Não é só o estoque que está crescendo, até porque, com a Selic baixa, os rendimentos não são muito altos”, observa a economista Isabela Tavares, responsável pelos dados.

Isabela destaca que as contribuições mensais das famílias em meio à crise seguem em ascensão: também em agosto, os novos aportes cresceram 24,3% em relação a igual mês de 2019, terceira alta seguida nessa medida.

Em sua visão, o acúmulo é resultado de auxílios do governo, que são depositados em contas poupança, da liberação de recursos do FGTS, da cautela maior de parte das famílias, que fizeram poupança “precaucional” em razão do cenário mais incerto e, também, da menor mobilidade imposta pela covid-19, que reduziu os gastos com serviços.

Em exercício feito para ter uma ideia do valor da “despoupança” que pode ajudar a demanda em 2021, a consultoria considerou apenas as reservas com liquidez de curto prazo - Tesouro Direto, caderneta e títulos de renda fixa - e comparou a média de estoque dos meses da pandemia em 2020 (março até setembro) com a média mensal de 2019. O diferencial entre um ano e outro, que poderia virar consumo, é de R$ 470 bilhões.

“Mas vemos esse cenário com cautela”, diz Isabela, que aponta o fim de todas as medidas de suporte à renda e a perspectiva de algum aumento da inadimplência como fatores limitantes ao consumo. Por isso, a Tendências tem projeção abaixo do consenso de mercado para a expansão do PIB em 2021, de 2,9%, afirma ela.

Em baixa há três semanas, a mediana de estimativas do boletim Focus, do Banco Central, agora aponta crescimento de 3,3%. Essa também é a percepção do economista-chefe do BTG Pactual, Cláudio Ferraz, para quem o consumo deve desacelerar no começo de 2021 com a retirada dos auxílios.

“Existe um sinal vindo da poupança ao longo deste ano, mas temos olhado com cuidado para o desempenho da economia no início do próximo ano. Até por isso, temos uma projeção abaixo do consenso”, disse Ferraz, que, por ora, espera crescimento de 3% no ano seguinte.

Ele acredita que, caso a resolução das questões fiscais seja “muito virtuosa”, pode haver efeito positivo nas expectativas e no canal de confiança. As projeções do BTG, no entanto, estão em modo “stand by”, em que se tenta observar o comportamento de algumas forças e seus impactos na atividade, ponderou.

Entre os fatores analisados, estão a política monetária estimulativa, a herança estatística para 2021, um crescimento global dependente da evolução da pandemia, o efeito da chegada da vacina e, ainda, a permanente incerteza fiscal por aqui, que se soma ao efeito do fim dos auxílios.

Além desses dois últimos fatores que pesam negativamente sobre o nível de atividade, há a perspectiva de retomada lenta da criação de empregos, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE, já vem evidenciando, acrescenta Natalie Victal, economista da Garde Asset.

“Os dados estão melhorando em velocidade aquém do que seria compatível com uma volta robusta do mercado de trabalho. Por isso vemos a retomada em 2021 com pessimismo. E a poupança não será suficiente para suavizar a queda referente ao “abismo fiscal”, resume Natalie, que ressalta o impulso dado pelo carregamento estatístico deixado pelo segundo semestre de 2020 na previsão de alta de 3% do PIB no ano que vem.

“O quarto trimestre deste ano ainda deve ser positivo, o que deixa um bom carrego para 2021, mas não estamos otimistas com o próximo ano.” “O ponto de partida precisa ser levado em consideração. Sem fazer muita coisa, você consegue chegar a 3% [de crescimento em 2021] ou um pouco mais”, reforça Drausio Giacomelli, estrategista-chefe para países emergentes do Deutsche Bank.

O cenário-base do banco alemão é de crescimento de 2,8% em 2021. Outro possível motor do crescimento seria o investimento, mas Giacomelli elenca algumas dificuldades para que esse cenário se materialize. O investimento do governo seria praticamente nulo, já que, com a dívida em quase 100% do PIB, o Brasil estaria sem espaço para esses gastos.

Ao avaliar o investimento local, ele aponta que a situação se mostra ainda bastante incerta, “com o governo fazendo o mínimo necessário para o mercado não explodir, em atitudes reativas e nada proativas, o que deixa o investidor doméstico com o pé atrás”.

Além disso, Giacomelli nota que o investidor estrangeiro não se mostra muito confiante com o Brasil, devido à combinação entre incerteza política e uma agenda ambiental “nada alinhada ao capital externo”.

O estrategista-chefe para economias emergentes do Deutsche alerta que o PIB pode cair no primeiro trimestre do próximo ano, e que o ritmo de recuperação vai depender de quão forte será o sinal do governo em relação à agenda fiscal e ao teto de gastos. “O impulso fiscal negativo será relevante”, avalia Natalie, da Garde.

“A intensidade dos estímulos em 2020 foi muito elevada e, por isso, o efeito da saída deles preocupa”, diz a economista, destacando que a incerteza gerada pelo quadro fiscal aperta as condições financeiras, deixando empresários e famílias mais cautelosos. “Isso resulta em adiamento de gastos”, diz. É mais uma razão que justifica não ver o acúmulo de poupança como grande indutor do consumo no próximo ano.

 

FOLHA

Construção puxa recuperação do investimento pelo 2º mês seguido, diz Ipea

Puxado pelo setor da construção civil, o indicador de investimentos do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) cresceu em agosto pelo segundo mês seguido, mas ainda não recuperou toda a queda registrada desde março.

O Indicador Ipea Mensal de FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo) cresceu 2,2% em relação a julho. Na comparação com agosto de 2019, houve queda de 2,2%.

O indicador mede os investimentos no aumento da capacidade produtiva da economia e na reposição da depreciação do estoque de capital fixo. A FBCF é composta por máquinas e equipamentos, construção civil e outros ativos fixos.

Em agosto, houve aumento de 1,2% nos investimentos em máquinas e equipamentos na comparação com o mês de julho, também a segunda alta seguida. A produção nacional destinada ao mercado interno desses bens teve alta de 1,3%, enquanto a importação recuou 0,4%, segundo o Ipea.

Os investimentos em construção civil avançaram 3,2% no mês, quarta alta seguida, chegando ao maior patamar desde agosto de 2016.

Os outros ativos que compõem o índice geral fecharam o mês com queda de 1,2%.

Segundo o Ipea, na comparação com agosto de 2019, a construção civil apresentou alta de 7,3%, o segmento de máquinas e equipamentos recuou 10,3% e outros ativos caíram 7,4%.

 

ESTADÃO

'Sem diminuir o tamanho do Estado, não tem chance de saída', diz Mendonça de Barros

Eterno otimista, desta vez José Roberto Mendonça de Barros* baqueou. Examina o Brasil de alto a baixo e diz sentir “certa falta de suprimento de otimismo”. Não só por causa de uma pandemia onipresente ou pela dívida pública rumo à casa dos 100% do PIB. O País exibe, mais uma vez, a cena de políticos querendo gastar mais. E justo em “um momento em que a estatura da equipe econômica diminuiu muito”. Para completar a paisagem, diz o economista, “a nossa sociedade não gosta de mudar”. O resumo da ópera? “Sem diminuir o tamanho do Estado, se não quebrar um pouco o tamanho das corporações, não tem chance de saída.”

Nos anos 90, Zé Roberto, como o chamam os amigos, levou seus anos de janela como professor na USP para dentro do governo FHC, onde foi secretário de Política Econômica. Também passou pela área de comércio exterior – e hoje é sócio, em São Paulo, da consultoria MB Associados. Nesta entrevista ao programa Cenários, parceria do Estadão com o Banco Safra, ele enfatiza: ao gastar 12% do PIB na pandemia, o Brasil não fez nada de mais. “O que fizemos de menos foi não ajudar as empresas.” Não obstante, o ministro da Economia, Paulo Guedes, “fica sonhando com um crescimento em ‘V’ que não vai acontecer”.

Previsões para o futuro? Ele acha bem possível uma estagflação em 2021 e torce para que se crie uma plataforma de centro, um centro democrático (não o Centrão de hoje). “Esse empoderamento do centro tem de ser construído. O populismo vigente não vai dar certo.” A seguir, os principais trechos da conversa:

Nesses tantos anos lidando com a economia, o sr. sempre se mostrou otimista com o Brasil. Como se sente hoje?

Estou com uma certa falta de suprimento de otimismo. Acho que vivemos um impasse que não é pequeno – e o que me preocupa é que ele ocorre num momento em que a estatura da equipe econômica diminuiu muito. Isso é raro de acontecer.

Em que sentido?

Claramente, o ministro da Economia e sua equipe perderam espaço no governo. Está claro para mim que o ministro perdeu um pouco o rumo das coisas. Repete temas parciais, tipo CPMF, e não enfrenta o que é relevante. À medida que o coronavírus foi se expandindo, a resposta do governo foi adequada: transferir dinheiro para as famílias. Mas o sistema político quer mais, quer estender para 2021 esse mecanismo de transferências, para o qual definitivamente não há dinheiro. Um gasto em torno de 12% do PIB.

Como vê a ideia de unir todos os programas de assistência em um só?

Todas as propostas da equipe econômica para compatibilizar a retomada de controle fiscal com os desejos do presidente foram sumariamente rejeitadas. Assim como o corte de gastos nas folhas de pagamento do setor público. O que ficou aberto foi aumentar os impostos. Então, temos um impasse criado. A política quer aumentar os gastos, e os ministérios querem milhões para fazer obras públicas. E o presidente resolveu que só vai olhar isso depois da eleição municipal. Portanto, vamos chegar a dezembro sem a menor ideia de para que lado se vai.

Pela primeira vez depois do Plano Real, ouço falar em ameaça de inflação. Vamos ter uma guinada para trás?

Creio que ainda não é o caso. Temos no sistema econômico uma coisa que eu chamo de “bandeirinhas”, que nos alertam quando temos um problema. E quais são as relevantes? A primeira é a taxa de juros, a segunda é a cotação do dólar: o real está muito desvalorizado. Tem uma terceira que é um pouco resultado da primeira e da segunda, que é que o Tesouro Nacional, ao fazer a rolagem da dívida pública, fica frente a um dilema e tem de ir para o papel curto. Só que, ao fazê-lo, o caixa vai diminuindo. Ele já usou R$ 150 bilhões da reserva, o CMN permitiu transferir do BC para o Tesouro R$ 325 bilhões do resultado do lucro das operações cambiais, e ele já usou. Isso já vimos no passado: toda vez que você começa a encurtar o prazo da dívida, é porque tem algum problema. A quarta “bandeirinha”, mais nova, é a entrada de investimentos estrangeiros. É preocupante ver que não há investimento de fora, as pessoas não estão confortáveis com o que estão vendo. Tirando alguns casos específicos, e alguns soluços no caminho, ninguém vai investir; e não é só o estrangeiro.

Professor, por que a produtividade no Brasil é um problema recorrente?

A melhor maneira de entender isso é pegar um pedaço da economia onde ela não é problema: o agronegócio. Nele, a produtividade do sistema não para de crescer. E por quê? Porque nesse setor a ciência, a busca de melhorias, existe há 50 anos sem parar. Mas se você vê o setor urbano, a produtividade não mudou. Boa parte do comércio de tecidos e da construção civil de prédios funciona exatamente como há 50 anos. E uma parte dos nossos empresários e federações sempre querendo ir a Brasília arrumar uma moleza fiscal ao invés de brigar por produtividade.

O nosso problema é cultural ou é falta de incentivo?

Primeiro, a nossa sociedade não gosta de mudar, ela muda com um pé no abismo. O próprio sistema político foi desenhado para não mudar, pois com dezenas de partidos é impossível gerar maiorias estáveis. Outro exemplo é a inflação. Foi preciso chegar à hiperinflação para que aparecesse uma iniciativa que desse certo. Mas há duas coisas às quais não chegamos ainda porque não estamos no abismo. Uma é que o tamanho do Estado passou do ponto. Outra coisa é que você não consegue organizar o sistema político para crescer se não mobilizar, em torno dele, algumas ideias de um “modelo de crescimento”, uma estratégia.

Que tipo de estratégia?

Tem de ter uma visão de mundo que aponte quais os puxadores do crescimento. Os asiáticos se plugaram no Japão. A Europa Oriental se plugou na Alemanha. E nós deveríamos ter feito um projeto decente de Mercosul ao invés dessa competição tola. Esse protecionismo que muitos pedem ficou velho. Minha percepção é que vamos sair da recessão para uma certa estagflação, um crescimento baixo.

Há anos que entrevisto o sr. e nunca o vi tão desanimado. Tem chance de 2021 ser um ano razoável?

Parece que saímos da recessão e que em 2021 teremos PIB positivo, de 2,2%. Mas é raso. A recuperação só aconteceu por causa do coronavoucher. Mas teria de crescer a demanda, produção, folha de salários – e isso não está ocorrendo. E o desemprego vai subir porque muita gente vai sair de casa e procurar emprego. Nós projetamos um desemprego passando dos 16%.

O que houve de errado na condução da briga contra o coronavírus?

Países onde o chefe de Estado negou que o vírus era sério lidaram mal com o problema. Trump é igualzinho a Bolsonaro e eles são iguaizinhos ao presidente da África do Sul, todos atuando desastradamente. Veja, o Brasil gastou 12% do PIB. O FMI calcula que o mundo gastou os mesmos 12% do PIB. Não fizemos menos, nem mais. O que fizemos de menos foi não ajudar as empresas. E não temos uma política econômica consistente. Mas o nosso ministro da Economia fica sonhando com crescimento em ‘V’, que não vai acontecer.

Talvez eles corram agora atrás da produtividade...

Exatamente, e a favor da sustentabilidade, da educação, da produtividade. Mas se não diminuir o tamanho do Estado, quebrar o tamanho das corporações, não temos chance.

Faria sentido fazer um plebiscito sobre isso, já que o nível de conscientização aumentou?

O que eu espero, dentro das regras democráticas, é que perto da sucessão de 2022 essas coisas fiquem mais claras. Especialmente se o cenário de estagflação se materializar, não vai ser esse passeio a reeleição. Com um governo desarranjado como esse, que não tem proposta para nada, que só pensa em armas. Espero que, com a mobilização de grupos cívicos, se consiga formar uma plataforma de centro. A esquerda se radicalizou, a direita radical está fazendo um desastre, então esse empoderamento do centro tem de ser construído. Que não é esse Centrão de Brasília, mas um centro democrático que pare, pense. O futuro do Brasil está ligado a isso. Esse populismo que temos não vai dar certo.

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