Segunda-feira

‘Alívio externo não muda gravidade do risco local’

As eleições gerais nos Estados Unidos começam a desenhar um cenário bastante favorável para ativos de risco em todo o mundo. A chegada do democrata Joe Biden à presidência e a perspectiva de um Congresso dividido apontam para um quadro de crescimento moderado, estímulo fiscal razoável e amplo apoio monetário - tudo isso combinado com relações comerciais mais diplomáticas.

Até os mercados brasileiros se beneficiaram dessa perspectiva nos últimos dias. No entanto, as vantagens desse novo cenário externo arriscam ficar em segundo plano por aqui, devido ao tamanho dos problemas domésticos, representados principalmente pelas incertezas sobre os rumos das contas públicas.

Esse é o alerta do economista-chefe do Opportunity Total, Marcelo Fonseca, que afirma que o espaço de manobra está esgotado e o governo precisa assumir a liderança na busca por uma solução fiscal. “Há uma diferença substancial em relação à saída da crise de 2008, quando o ambiente global de expansão de liquidez e retomada de crescimento produziu uma ilusão de que as coisas no Brasil poderiam estar acomodadas. Agora, a folga não existe mais. A urgência permanece. Os mercados não vão conceder o benefício da dúvida”, disse o economista ao Valor. Leia os principais pontos da entrevista.

Valor: As eleições nos EUA começam a desenhar qual cenário para os mercados financeiros?

Marcelo Fonseca: De certa forma, caminhamos para um cenário muito parecido com o que vigorou desde a crise de 2008: crescimento moderado, alguma expansão fiscal e amplo suporte monetário. Embora o aumento de gastos fique aquém do que tem sido requerido até pelos bancos centrais, ainda é ambiente de expansão fiscal razoável. Isso diminui o risco de inflação ou superaquecimento da economia. Ao mesmo tempo, você tem um suporte monetário significativo. Estamos caminhando para um ambiente de menor volatilidade e crescimento moderado, que tem sido muito positivo para os emergentes.

Valor: Qual é a principal mensagem que a eleição dos EUA deixa?

Fonseca: A principal mensagem dessas eleições é que a sociedade americana está procurando a normalidade e refutando pautas radicais dos dois lados. O desempenho frustrante do partido democrata para cargos do Congresso revela que há uma resistência na sociedade contra pautas da esquerda, como excesso de intervenção estatal, aumento agressivo de carga tributária e de gastos públicos. Ao mesmo tempo, o desempenho de Trump mesmo em relação a outros candidatos republicanos no Legislativo mostra que pautas radicais da direita conservadora também foram rejeitadas.

Valor: O que o retorno à normalidade significa para a economia e os mercados?

Fonseca: Trata-se da volta à institucionalidade nas relações entre poder público e privado, e também da institucionalidade nas relações globais. Um retorno do multilateralismo, com a abordagem de temas geopolíticos que envolvem competição estratégica entre Ocidente e China dentro da diplomacia. É uma reaproximação da aliança entre Estados Unidos e Europa. Devemos ver um recuo do risco geopolítico. Isso favorece ativos de risco e emergentes, principalmente aqueles associados à economia chinesa.

Valor: E a configuração do Congresso que caminha para maioria republicana no Senado e democrata na Câmara?

Fonseca: O Congresso dividido coloca limites para uma agenda mais radical na política fiscal. Devemos ter menos aumento de gastos e de impostos do que seria o caso em uma “blue wave” [cenário de vitória democrata na Casa Branca, Câmara e Senado]. Isso evita um risco de um superaquecimento da economia dos EUA e uma virada na política monetária. Ou seja, você evita o risco de um excesso na política fiscal e garante uma perspectiva de juros baixos por mais tempo. No plano regulatório, retira uma preocupação do mercado especialmente sobre o setor de tecnologia, já que os setores mais à esquerda do partido democrata pressionam por políticas de maior intervenção nas grandes empresas do setor.

Valor: Como o mercado brasileiro se encaixa nesse ambiente?

Fonseca: O Brasil não está isolado. Certamente, vai se beneficiar desse ambiente que favorece commodities e ativos que dependem da China. Mas os desafios domésticos são tão gritantes e tão gigantescos que o ambiente internacional acaba sendo secundário, embora ainda seja importante. O principal elemento aqui é a necessidade de encontrar uma resolução para o dilema fiscal. É sempre melhor trabalhar em um ambiente externo mais benigno do que desafiador. Mas, apesar de ganhar algum conforto, não muda o quadro da necessidade de encontrar uma solução para o problema fiscal.

Valor: O ambiente externo mais favorável muda o senso de urgência em relação à pauta doméstica?

Fonseca: Essa é uma boa pergunta, mas a resposta é não. Tivemos um alívio recente nos últimos dias, por causa do otimismo global, mas métricas relevantes a respeito da situação do país continuam alarmantes. A curva de juros continua precificando ciclo agressivo de alta de juro começando nos próximos meses. Os vértices mais longos da curva de juros estão em quase dois dígitos. A taxa de câmbio continua muito depreciada. O desempenho do real em relação a outras moedas ainda tem um desconto tremendo. A própria bolsa de valores, que também conta com uma dinâmica mais dependente de casos específicos, continua com desconto elevado.

Valor: Mas como os mercados vão lidar com as duas realidades, a doméstica e a externa?

Fonseca: Minha percepção é que os investidores vão ser muito conscientes em separar as duas questões. Não vai ter um alívio se não tiver solução. É uma diferença substancial em relação à saída da crise de 2008, quando o ambiente global de expansão de liquidez e retomada de crescimento produziu uma ilusão de que as coisas no Brasil poderiam estar acomodadas. Agora, a folga não existe mais. A urgência permanece. Os mercados não vão conceder o benefício da dúvida. A dificuldade para o Tesouro Nacional gerenciar a dívida pública se mantém. Vimos de novo as taxas de juros sendo afetadas pelo volume de emissão do Tesouro. Isso não muda. Os colchões e o espaço de manobra se esgotaram.

Valor: Saindo de um quadro político para outro, os investidores vão mostrar paciência com o governo em tocar a agenda econômica após as eleições municipais?

Fonseca: Os investidores estão olhando o período pós-eleição com muita atenção. Eu acho que existe um ceticismo muito grande sobre a capacidade de encaminhar a agenda de votação nesse fim de ano no Legislativo em função de sinais bastante confusos que são emanados do próprio governo e de sua base de apoio. A única maneira para que a gente possa caminhar com a agenda é um sinal muito claro e inequívoco do Executivo em direção ao apoio da agenda fiscal.

Valor: O que seria esse sinal inequívoco do Executivo?

Fonseca: Mais do que palavras, precisamos ver um plano que envolva um calendário, matéria legislativa robusta e sinais de acordo entre o governo e sua base. Valor: Qual é o cenário base para esse impasse político? Fonseca: Eu acredito que, a despeito de todo esse ruído e incerteza, a seriedade e a gravidade da situação vão ser percebidas pelas nossas lideranças. O que isso significa? O regime fiscal vai sobreviver. Talvez esse caminho ainda vai ser tortuoso com reações ainda bastante negativas do mercado. Mas, no fim, existe o entendimento de que uma aventura fiscal levaria a uma tragédia, que não favorece politicamente ninguém. A memória do que passamos em 2015 ainda está muito viva.

Valor: O teto de gastos sobrevive também?

Fonseca: A questão é mais profunda do que a sobrevivência do teto em 2021. É fundamental pensar quais medidas serão tomadas para que o teto sobreviva ao longo dos próximos anos e coloquem a dívida em uma trajetória mais sustentável. Nesse sentido, mais reformas terão de ser aprovadas. E não só aquelas que garantam a sobrevivência do teto. Isso é necessário, mas insuficiente. O país precisa caminhar, com medidas de ajuste fiscal e cortes de despesas, em direção à recomposição do superávit primário, além do efeito do teto de gastos. Por isso, esse dilema vai ficar conosco por muitos anos. Não se trata apenas da virada de 2020 e 2021, o fim do auxílio emergencial. Esse é só o começo da discussão.

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