Expectativa é que incorporadoras tenham mais um ano aquecido
O setor de incorporação deve viver, em 2021, novo ano de forte crescimento, considerando-se a demanda e a expectativa de continuidade de juros baixos e do interesse dos bancos na concessão de crédito imobiliário. Nos últimos meses, várias incorporadoras com foco nos padrões médio e alto retomaram a prática de divulgar meta de lançamentos ao mercado, sinalizando confiança na manutenção do expressivo ritmo de venda.
O segmento começou o ano bastante aquecido, mas se retraiu na fase inicial da pandemia de covid-19, quando o funcionamento dos estandes de vendas foi suspenso, temporariamente, na cidade de São Paulo - maior mercado imobiliário do país.
A retomada da apresentação de projetos para as rendas média e alta, a partir de meados do ano, foi acompanhada de elevada velocidade de vendas, em resposta à demanda represada. A comercialização de estoques também está aquecida, refletindo aquisições por parte de compradores finais e investidores.
Para dar suporte às expansões buscadas, incorporadoras de capital aberto seguem na compra de terrenos, principalmente na capital paulista, e na busca de obtenção de licenças para os projetos. Em outubro, a EZTec anunciou que a soma de seus lançamentos neste ano e de 2021 chegaria à faixa de R$ 4 bilhões a R$ 4,5 bilhões.
Do total, o Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 700 milhões foi apresentado de janeiro a setembro. Com os R$ 330 milhões lançados em dezembro, a companhia chega ao fim do ano com o VGV de R$ 1,03 bilhão, o que significa perspectiva de triplicar seus projetos em 2021. A Tecnisa informou que o VGV lançado no biênio 2020-2021 será de R$ 1,2 bilhão a R$ 1,5 bilhão.
No acumulado até setembro, a empresa apresentou R$ 34 milhões, com parte própria de R$ 7 milhões. Em dezembro, lançou dois projetos, no total de R$ 264 milhões. Para cumprir a meta de dois anos, a Tecnisa terá de mostrar forte crescimento em 2021.
No último dia 16, a Trisul informou que seus lançamentos somaram R$ 1 bilhão neste ano. Esse VGV representa o piso da meta para 2020, que ia até R$ 1,3 bilhão. Considerando-se o elevado déficit habitacional do país, o ambiente é favorável também para empresas com atuação principal na baixa renda, mas o segmento pode ser, negativamente, impactado por novos saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), fonte de recursos do programa habitacional.
As margens mais apertadas do que as de incorporações dos padrões médio e alto e os limites de preço dos imóveis previstos no programa deixam o segmento mais suscetível também aos efeitos de pressão de custos de materiais de construção. Em unidades destinadas às classes média e alta, é mais fácil repassar esses aumentos para os preços dos apartamentos.
‘2021 melhor só depende de nós mesmos’, diz Sachsida
O cenário externo estará a favor do Brasil no ano que vem, com juros baixos e alta nos preços das commodities. Isso dá base à expectativa do governo de ter um bom ano, após o vendaval sem precedentes de 2020. “Só depende de nós mesmos”, disse ao Valor o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida. É necessário, porém, não descuidar do lado fiscal e avançar na agenda de reformas, segundo Sachsida.
Ele acredita que, após o primeiro trimestre, quando ainda estará presente a insegurança quanto ao comportamento do coronavírus, o ano será de consolidação de políticas, com destaque para privatizações, concessões e abertura da economia.
O governo Jair Bolsonaro, afirmou o secretário, deu uma demonstração inequívoca de compromisso com a vacinação da população, ao editar uma medida provisória com R$ 20 bilhões para adquirir imunizantes. “Tão logo haja a disponibilidade, vamos adquiri-las para vacinar a população”, afirmou. A seguir, os principais trechos da entrevista.
Congresso votou
“Mesmo durante a maior crise de saúde pública da nossa história, a agenda econômica avançou. O novo marco do saneamento e a nova lei de falências foram aprovados. O novo marco do gás está andando. A BR do Mar e o PL [projeto de lei] cambial foram aprovados na Câmara, a independência do Banco Central foi aprovada no Senado.
O PLP [projeto de lei complementar] 101, que aprimora o Regime de Recuperação Fiscal, foi aprovado. Nós também resolvemos um passivo importante da lei Kandir.” Dois desafios à frente “O primeiro é a consolidação fiscal. Devido aos gastos com a pandemia, a nossa relação dívida PIB aumentou.
Agora nós vamos ter que demonstrar ao mercado que vamos voltar àquela trajetória de redução consistente, algo em que já tínhamos tido sucesso no ano passado. Consolidação fiscal não é questão de ideologia. É questão de defender a população brasileira, principalmente os mais pobres.”
Privatizações e concessões
“Acredito que 2021 será o ano de privatizações, concessões e abertura econômica. E temos que continuar avançando na desburocratização. É natural que agenda de privatizações siga um rito próprio. A questão da Eletrobras, ela já tinha um certo consenso desde 2019.
Acho que teríamos tido sucesso neste ano, mas a pandemia mudou a ordem de prioridades. Me parece muito claro que a questão da Eletrobras vai se resolver no ano que vem, tal como a questão dos Correios.
Esses consensos estão sendo criados. São 117 leilões do PPI previstos para o ano que vem. É uma agenda robusta de privatizações e concessões.”
Agenda legislativa para 2021
“Na consolidação fiscal, a prioridade são as PECs [Propostas de Emenda à Constituição] que nós já enviamos: da Emergência Fiscal, do Pacto Federativo. E também a da reforma administrativa. A reforma administrativa não é só uma questão fiscal.
É uma questão de corrigir a má alocação de recursos. Mas não podemos confundir prioridade com aprovar primeiro. O fato de algo ser prioridade não quer dizer que vamos abrir mão de aprovar outras coisas. Na produtividade, posso citar: debêntures de infraestrutura, modernizar o setor elétrico, desestatização da Eletrobras.”
Tributária, ao menos em parte
“A discussão de um IVA [Imposto sobre o Valor Agregado] ganhou força no Brasil. A proposta do governo de juntar o PIS com o Cofins é um primeiro passo natural. Claro que, se a gente pudesse fazer mais coisas, seria melhor. Mas temos que avançar nos consensos.
É um erro achar que juntar o PIS e Cofins é pouca coisa, pois os dois tributos representam parte expressiva do contencioso tributário e da arrecadação. É um convite para que se mostrem os ganhos dessa junção e, aos poucos, Estados e municípios se sintam estimulados a entrar com mais força também nisso.
Os interesses não são fáceis de alinhar. Veja a dificuldade que é juntar o PIS e a Cofins. Agora, imagine juntar ICMS e ISS. É natural que o avanço de tudo seja por consenso e paulatinamente. Acho que vamos ter sucesso em parte desse debate no ano que vem.”
Efeitos dos novos marcos
“O novo marco do saneamento já está produzindo resultados. As últimas concessões de água e esgoto que ocorreram no Brasil foram um sucesso. Quando tivermos o PL do gás, as novas concessões seguirão o mesmo caminho. Existe muito dinheiro internacional esperando definições dos nossos marcos legais.
Esses resultados ocorrem de maneira rápida. Mas é claro que o grande efeito disso ocorre a longo prazo. Ano que vem, teremos a concessão do 5G, que é um dinheiro expressivo entrando. Temos também novos leilões de cessão onerosa, a Eletrobras. É um dinheiro importante entrando, mas, acima de tudo, é investimento privado que vai melhorando a eficiência da economia.”
Coronavírus
“Vou evitar falar sobre o número de casos e sobre segunda onda, porque são questões epidemiológicas. Do ponto de vista estritamente econômico, a importância para nós reside no distanciamento social, cujos indicadores estão diminuindo, e isso mostra que o setor de serviços está voltando.
Com isso, voltam os empregos e temos mais renda. Não estou fazendo juízo de valor, se está certo ou errado. Estou apenas observando que o distanciamento social se reduziu. O [crescimento no] terceiro trimestre foi liderado por comércio e indústria.
O quarto trimestre vai ser liderado pela retomada do setor de serviços. Acho que isso vai nos dar a tração necessária para entrarmos em 2021 e podemos seguir em frente sem a necessidade de auxílios emergenciais.”
Vacinação e atividade
“Está muito claro o compromisso deste governo, haja vista que já foi editada uma medida provisória com previsão de R$ 20 bilhões para a compra de vacinas. Tão logo haja a disponibilidade, vamos adquiri-las para vacinar a população. É natural que no primeiro trimestre tenhamos essas preocupações. Mas ao longo do semestre acho que vamos consolidando a nossa retomada.”
Fim do auxílio emergencial
“Os auxílios não foram retirados de uma vez. Ele foi aprovado por três meses, depois expandido para mais dois meses a R$ 600, e por mais quatro meses a R$ 300. Então, essa versão que o auxílio está sendo retirado de uma vez está incorreta. Outra coisa: o Bolsa Família continua e nosso Orçamento [para 2021] está prevendo um aumento.
Dados mostram que a renda efetiva da população está se aproximando da renda habitual. Ou seja, estamos retornando ao cenário pré-pandemia. Se as pessoas estão podendo voltar a trabalhar e a gerar renda, é natural que se vai reduzindo o auxílio emergencial.”
Mercado de trabalho
“Diferentemente de crises passadas, o grosso do desemprego está vindo do setor informal. Tão logo o setor de serviços retome, as contratações vão voltar. Além disso, temos que destacar o sucesso das medidas econômicas na preservação do emprego formal. A taxa de ocupação vai voltar a subir, seja porque nós preservamos empregos no setor formal, seja pela retomada do setor de serviços.”
Perspectivas para 2021
“No Brasil, nós enfrentamos dois choques negativos em 2019: uma tragédia humanitária em Brumadinho, que teve impactos negativos na extração de minérios, e o choque negativo no comércio com a Argentina. Em 2020, tivemos um outro choque negativo, agora de proporções ímpares na nossa história, decorrentes da pandemia.
O cenário externo desta vez está ajudando. Se não tivermos outros choques negativos, acho que estamos no caminho certo. Teremos um ambiente com juros internacionais baixos e juros no Brasil baixos. Esses são movimentos no subterrâneo da economia. Juros mais baixos terão efeito real na economia no ano que vem.
Junto a isso, estamos vendo um aumento no preço internacional de commodities, que também nos ajuda. Nós só dependemos de nós mesmos para termos um bom 2021: fazer a lição de casa no lado fiscal e continuar avançando na agenda de reformas econômicas. Essa é a estratégia a ser mantida.”
Dólar sobe até 2% e BC injeta US$ 530 milhões para segurar câmbio
O dólar chegou a registrar uma alta 2,05%, indo a R$ 5,31, nesta segunda-feira (28), o que levou o Banco Central a leiloar US$ 530 milhões à vista para conter a valorização. Foi o primeiro leilão do tipo desde 30 de outubro.
Após a intervenção, a moeda perdeu força e fechou em alta de 0,75%, a R$ 5,2390, segundo dados da CMA, maior valor desde 2 de dezembro.
Segundo analistas, a valorização é típica de final de ano. Neste período ocorre o encerramento de posições e remessas ao exterior de empresas e bancos. Também contribuiu o chamado overhedge, a proteção cambial adicional adotada por bancos que precisa ser desfeita na virada no ano e implica compra de dólares.
“Vimos no começo da tarde um grande aumento na demanda por remessa ao exterior, especialmente de empresas, que estão fechando operações para acertar balanço de 2020", diz Paulo Henrique Duarte, economista da corretora Valor Investimentos. "Falamos com tesourarias dos bancos e tudo indica que o movimento deve seguir ao longo desta semana.”
Para fechar as contas no ano, multinacionais enviam valores às sedes fora do país, em dólares, o que eleva a procura pela moeda americana no Brasil.
Na sessão, o real foi a moeda que mais se desvalorizou no mundo.
O ajuste do overhedge ao fim do mês deve gerar uma compra bilionária de dólares por bancos na virada do ano. As instituições financeiras com filiais no exterior gastarão cerca de US$ 30 bilhões para quitar contratos de proteção cambial até 2022.
Há a expectativa que o BC absorva parte da demanda, com oferta de US$ 9,602 bilhões em dinheiro novo via swaps.
Além disso, como há menos liquidez no mercado pelo fim de ano, a demanda das empresas no pregão desta segunda teve um efeito potencializado na oscilação do câmbio.
Nos mercados internacionais, o dia foi de alívio depois que novas medidas de auxílio econômico foram aprovadas nos Estados Unidos.
O presidente americano Donald Trump sancionou no domingo (27) um pacote de ajuda pela pandemia e de gastos no valor total de US$ 2,3 trilhões, restaurando o auxílio-desemprego a milhões de cidadãos e evitando a paralisação do governo federal.
Outro fator positivo é o acordo comercial pós-Brexit entre o Reino Unido e a União Europeia.
Acompanhando Wall Street, a Bolsa brasileira se aproximou dos 120 mil pontos, patamar que faria frente ao recorde de 119,5 mil pontos de janeiro.
Nesta segunda, o Ibovespa fechou em alta de 1,11%, a 119.123,70 pontos, maior valor desde que bateu o recorde, em 22 de janeiro.
“A sanção por Trump do alívio à Covid-19 e do projeto de lei de gastos do governo tirou a incerteza do caminho, e o mercado agora está no piloto automático —indo mais alto a caminho do novo ano”, disse Sam Stovall, estrategista-chefe de investimentos da CFRA Research.
A aprovação do projeto de lei pelo republicano foi uma surpresa, já que ele havia se manifestado contra o valor dos cheques de estímulo para americanos (US$ 600), pedindo US$ 2.000.
A discussão do valor dos cheques, porém, persiste. Democratas devem votar na Câmara um destaque que eleva o auxílio, o que os republicanos tendem a se opor.
Democratas, que têm maioria na Câmara dos Deputados, querem cheques de US$ 2 mil dólares e esperam usar o ponto de acordo com Trump para avançarem na proposta —ou pelo menos deixar registrado que os republicanos estão contra ela— em votação nesta segunda, que deve seguir pela noite.
Os parlamentares também tentarão anular o recente veto de Trump a um projeto de US$ 740 bilhões para o Departamento de Defesa. Se bem-sucedida, seria a primeira anulação do veto da Presidência de Trump.
Segundo a equipe da Guide Investimentos, a discussão é especialmente importante, tendo em vista a popularidade da medida e a proximidade das eleições para duas cadeiras no Senado a serem disputadas na Geórgia, em 5 de janeiro.
“Caso pareça que os republicanos obstruíram a proposta em meio ao ambiente econômico deteriorado pela pandemia, os republicanos perdem chances de controlar o Senado novamente”, escreveram em relatório a clientes.
Em Wall Street, os principais índices acionários renovaram recordes com a aprovação do pacote por Trump. O S&P 500 subiu 0,87%. Dow Jones teve alta de 0,68% e Nasdaq, de 0,74%
Com o acordo pós-Brexit, a Bolsa alemã também atingiu máxima recorde, com alta de 1,5%. Londres subiu 0,9% e Paris, 1,2%
O início de um programa europeu de vacinação no domingo também alimentou esperanças de um segundo semestre livre de pandemia em 2021 e de uma forte recuperação econômica na região.
Na Bolsa brasileira, as ações do IRB foram o destaque da sessão, com alta de 12%, a maior valorização do Ibovespa. A empresa divulgou prejuízo de R$ 23,8 milhões em outubro, mas lucro líquido R$ 110,3 milhões se excluídos efeitos não recorrentes.
As ações da Cielo saltaram 7,9%, com expectativa eventual venda da participação na empresa de meios de pagamentos por um de seus controladores, o Banco do Brasil, segundo o blog de Lauro Jardim, no jornal O Globo.
Pressionadas pelo dólar, dívidas de empresas atingem pico de 60,5% do PIB
A alta do dólar este ano e a busca pelo fortalecimento do caixa levou a dívida das empresas brasileiras a um nível recorde. Segundo o Centro de Estudos do Mercado de Capitais (Cemec/Fipe), a dívida corporativa total chegou a R$ 4,3 trilhões, ou 60,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Em dezembro do ano passado, estava em 51,2% do PIB.
A maior parte dessa alta do endividamento, 70% do total, tem como motivo a variação cambial. As dívidas feitas em dólar pelas empresas tiveram aumento expressivo com a valorização da moeda americana, que chega a 30,57% este ano.
Segundo o coordenador do Cemec/Fipe, Carlos Antonio Rocca, o maior problema, neste caso, é que cerca de 25% das empresas não têm proteção contra essa variação cambial (hedge, no jargão financeiro). Podem ter, portanto, mais dificuldade em fazer frente a essa alta.
Outra parte da explicação para o endividamento recorde foi o maior volume de dinheiro que as empresas pegaram emprestado para reforçar o caixa e fazer frente à crise provocada pela covid-19. Neste caso, o risco é a economia não se recuperar rapidamente e as empresas não conseguirem retomar suas atividades de forma consistente.
“A expectativa para o próximo ano é de um cenário crítico. As instituições que não conseguirem fazer a rolagem da dívida precisarão buscar alternativas para fazer a adequação desses números, que pode ser via calote ou pedido de recuperação judicial”, diz o presidente da Corporate Consulting, Luís Alberto de Paiva.
Somado a isso, as empresas que postergaram os pagamentos de suas dívidas com os bancos, na esteira das medidas que foram lançadas para mitigar os efeitos da crise, estão tendo de retomar os pagamentos das parcelas. Isso traz ainda mais pressão para as companhias.
O estudo do Cemec tem como base os dados do fim de agosto deste ano e levam em conta apenas empresas não financeiras, como os bancos. Segundo Rocca, a rigor, a dívida das empresas é a maior desde 1947, ano em que se começou a se ter esse tipo de dado disponível para análise.
Em 2000, início do levantamento pelo Cemec, o coeficiente da dívida das empresas não financeiras brasileiras em relação ao PIB foi de 34,9%. Mesmo em 2015, ano em que as empresas passaram por profunda crise, tanto por conta da recessão quanto pelos efeitos da Operação Lava Jato, e em que o dólar subiu 48% em relação ao real, o índice estava em patamar mais baixo que o deste ano: 57,7%.
Mais afetadas
Um levantamento feito pela empresa de informações financeira Economática mostra que, dentre as empresas de capital aberto, a Petrobrás foi a que viu sua dívida crescer mais neste ano. No acumulado de janeiro a setembro, o endividamento bruto subiu quase 28% em relação ao valor observado em dezembro, para cerca de R$ 449 bilhões. Na sequência, entre as empresas que mais registraram aumento da dívida no ano estão a Embraer, Vale, JBS, Braskem, Suzano e Azul.
No caso da Petrobrás, a alta da dívida se deu basicamente por conta do dólar, já que grande parte de seu endividamento é na moeda americana. Fora isso, em maio, ainda no meio ao período de maior incerteza em relação à pandemia, a Petrobrás fez uma captação no exterior na casa de R$ 17 bilhões, mas utilizou para pré-pagar empréstimos mais caros. Em dólar, contudo, a dívida bruta da Petrobrás caiu. No fim de setembro estava em US$ 66 bilhões, US$ 9 bilhões a menos do que no fim de dezembro. A meta da petroleira é fazer esse número chegar em US$ 60 bilhões.
“Vamos trabalhar e, ao longo do caminho, vamos tentando tirar as dívidas mais caras e melhorar o perfil. Mas acho que ainda temos um período até alcançarmos o nível de dívida bruta que consideramos ótimo, para efetivamente conseguirmos chegar ao custo que esperamos ser próximo a uma empresa de grau de investimento no Brasil”, disse a diretora executiva de Finanças e Relacionamento com Investidores da Petrobrás, Andrea Almeida, em teleconferência sobre o resultado do terceiro trimestre da companhia.
A professora e coordenadora do curso de Ciências Contábeis e Administração da Trevisan, Marcia Santos, aponta, contudo, que a situação entre as companhias não é homogênea. O efeito da crise é diferente entre as empresas de tamanhos distintos, visto que esse é um ponto que interfere na sua capacidade de captação de recursos. “As empresas precisam, agora, fazer de forma emergencial um ajuste de custo. Há empresas que desde 2008 vêm carregando uma situação de desvantagem financeira”, diz.
Recursos no caixa das empresas
O estudo do Cemec mostra também que as medidas emergenciais tomadas pelo Banco Central durante a pandemia conseguiram irrigar o caixa das empresas. A captação líquida total de recursos das empresas brasileiras em todas as fontes do mercado doméstico e externo nos 12 meses terminados em agosto de 2020 bateu os R$ 325,8 bilhões, aumento de 76% ante o período imediatamente anterior.
Segundo Rocca, as empresas seguiram aumentando o caixa no terceiro trimestre do ano, mas isso, segundo ele, não significa que estão ainda mais endividadas. Isso porque muitas renegociaram com os bancos mais prazo para o pagamento de empréstimos e que agora começarão a vencer.
O trabalho mostrou ainda que o crédito para as médias, pequenas e micro empresas demorou mais para chegar. Os recursos começaram a irrigar esse grupo de empresas, depois de novas configurações dos programas emergenciais, a partir de julho. Com isso, o saldo de crédito desse segmento de empresas cresceu 28,1% em 12 meses.
No período de um ano encerrado em setembro, a captação liquida de recursos das empresas de menor porte, com faturamento anual de até R$ 300 milhões, atingiu R$ 148,1 bilhões.
Mercado financeiro eleva projeção para crescimento do PIB em 2021
O mercado financeiro melhorou um pouco a projeção para o crescimento da economia no ano que vem. Segundo os economistas ouvidos pelo Banco Central no Boletim Focus, o PIB deve ter alta de 3,49% em 2021. Na semana passada, essa previsão era de 3,46% e, há quatro semanas, de 3,45%. Para este ano, o número se manteve igual ao da semana passada - queda de 4,40%.
Para o IPCA, o índice oficial de inflação, a previsão para este ano, de acordo com o relatório divulgado nesta segunda-feira, 28, também se manteve igual à da semana passada: alta de 4,39%. Há um mês, estava em 3,54%. A projeção para o índice em 2021 foi de 3,37% para 3,34%. Quatro semanas atrás, estava em 3,47%.
O boletim trouxe ainda a projeção para o IPCA em 2022, que seguiu em 3,50%. No caso de 2023, a expectativa permaneceu em 3,25%. Há quatro semanas, essas projeções já eram de 3,50% e 3,25%, respectivamente.
A projeção dos economistas para a inflação está acima do centro da meta de 2020, de 4%, sendo que a margem de tolerância é de 1,5 ponto porcentual (índice de 2,50% a 5,50%). No caso de 2021, a meta é de 3,75%, com margem de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%). A meta de 2022 é de 3,50%, com margem de 1,5 ponto (de 2,00% a 5,00%), enquanto o parâmetro para 2023 é inflação de 3,25%, com margem de 1,5 ponto (de 1,75% a 4,75%).
Há três semanas, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a inflação de novembro foi de 0,89%. Em 12 meses, a taxa acumulada está em 4,31%.
Juros mais altos
Em relação à Selic (a taxa básica de juros), os economistas elevaram as projeções para o ano que vem. Segundo o Focus, a mediana das previsões para a taxa no próximo ano passou de 3% para 3,13% ao ano. No caso de 2022, a projeção seguiu em 4,5% ao ano, igual a um mês antes. Para 2023, seguiu em 6%, mesmo patamar de quatro semanas atrás.
Há três semanas, ao manter a Selic em 2% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) preparou o terreno para possível elevação dos juros em 2021. O motivo é que as projeções de inflação estão se aproximando das metas perseguidas pelo BC nos próximos anos. A avaliação é de que a instituição poderá acabar com o chamado forward guidance (ou prescrição futura, na tradução do inglês).
Adotado em agosto, o forward guidance é uma indicação técnica do BC de que não pretende elevar os juros se a inflação seguir sob controle e o risco fiscal não se alterar. O problema é que, nos últimos meses, a inflação ao consumidor está mais salgada, puxada por aumentos de preços em itens como alimentos e energia.
Ao avaliar o cenário, o BC afirmou que "em breve, as condições para a manutenção do forward guidance podem não mais ser satisfeitas". Na prática, se retirar esta mensagem técnica de suas comunicações, o BC ficará mais livre para elevar os juros se achar necessário.
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