Quinta-feira

Com pressões variadas, IGP-M sobe 23% no ano, maior alta desde 2002

Num ano marcado por escalada do dólar, valorização de commodities no mercado internacional, mudança nos padrões de consumo da população brasileira, com aumento da demanda por bens em detrimento dos serviços, e, ainda, escassez de insumos industriais, a inflação anual medida pelo Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) foi a mais elevada em quase duas décadas. Divulgado ontem pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), o IGP-M desacelerou de 3,28% em novembro para 0,96% em dezembro.

No acumulado de 2020, porém, o índice que corrige aluguéis teve alta de 23,14% - a maior desde 2002, quando subiu 25,31%. Em comum com aquela época, houve forte depreciação cambial ao longo deste ano, de quase 25%.

Em dezembro de 2019, a taxa de câmbio média foi de R$ 4,17. Em igual mês de 2020, ficou em R$ 5,20. Não por acaso, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPAM) - que tem peso de 60% nos IGPs e possui grande participação de commodities em sua composição - registrou inflação de 31,63% em 2020, também a maior taxa desde 2002 (33,64%).

Para economistas, o dólar deve dar alívio à inflação no atacado em 2021, refletindo uma possível resolução para o impasse fiscal e a melhora do cenário externo, com a vacinação contra a covid-19, o que vai reduzir a alta do IGP-M no ano.

No primeiro trimestre, porém, ainda há algumas pressões de custos no radar vindo da indústria, devido ao novo ganho de fôlego das cotações do minério de ferro e ao encarecimento dos combustíveis. O IPA-M cedeu de 4,26% para 0,90% entre a medição passada e a atual. O resultado foi influenciado por deflação de 1,82% de produtos agropecuários, que aumentaram 8,96% em novembro, enquanto os produtos industriais se mantiveram em campo positivo, ao passarem de 2,31% para 2,09%.

Segundo André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Ibre/FGV, as matérias-primas brutas, que foram a maior pressão sobre os preços ao produtor ao longo de 2020, puxaram a desaceleração no último mês do ano, ao diminuírem 0,74%. Dentro desse subgrupo, algumas commodities contribuíram com a baixa, como soja (11,91% para -8,93%), bovinos (7,40% para -0,58%) e milho (21,85% para -2,17%).

“Mas a desaceleração de novembro para dezembro precisa ser tratada com parcimônia. Os preços da soja e do milho seguem em alta em bolsas internacionais e isso pode limitar a magnitude das quedas nas próximas apurações”, disse Braz. Há, ainda, outro vetor de aceleração na parte industrial do IPA: no último mês do ano, o minério voltou a subir, com alta de 4,34%, depois de cair 2,39% em novembro.

“Vamos continuar observando certa pressão na parte industrial no começo do ano”, avalia Daniel Lima, economista do banco ABC Brasil, que destaca a demanda firme da China pela commodity metálica como impacto altista sobre os preços. “Outro fator que deve puxar o IPA industrial no começo do ano devem ser os combustíveis. A Petrobras já anunciou reajustes no diesel e na gasolina”, acrescenta ele.

Por outro lado, as commodities agrícolas devem seguir em trajetória negativa no curto prazo, pondera Lima, o que também vai moderar a inflação dos alimentos ao consumidor, a principal “vilã” de 2020. Dentro do IPC-M, que tem participação de 30% no indicador geral, o grupo alimentação subiu 12,69% no ano. Os gêneros alimentícios (aqueles encontrados em supermercados) avançaram 16,89%.

No varejo, outras ajudas à inflação no primeiro trimestre virão da bandeira tarifária amarela nas contas de luz em janeiro, além do fim do auxílio emergencial, que terá impacto negativo na renda dos consumidores, e da alta mais fraca de passagens aéreas, enumera o economista.

“Neste começo de ano, vemos mais vetores para baixo do que para cima, tanto para a inflação no atacado quanto no varejo”, resume Lima, para quem o IGP-M terá alta de 6,5% em 2021. “A partir de fevereiro, devemos observar discussões sobre reformas estruturais e, com desfecho mais favorável delas, o dólar pode chegar abaixo de R$ 5.”

Como riscos à estimativa para o IGP-M, ele menciona a trajetória do minério e o fenômeno climático La Niña, que pode afetar os preços de alimentos. Assumindo que o câmbio será menos volátil como reflexo de uma política de vacinação e de uma proposta crível para reduzir a dívida pública como proporção do PIB, os IGPs devem perder ímpeto no próximo ano, concorda Braz, do Ibre/FGV.

“Dado que cremos que o ano que vem pode ter maior estabilidade do câmbio e redução gradual da incerteza, acredito que teremos um IGP-M muito abaixo do acumulado em 2020, sendo um terço disso [23,14%] ou menos, a depender das questões da covid e da política fiscal”, afirmou o coordenador do IPC.

 

Retomada compensa término do auxílio, afirma Guimarães

Depois de nove meses e R$ 298 bilhões em pagamentos, o auxílio emergencial chegou ao fim ontem, deixando em aberto como a economia reagirá sem esse aditivo. À frente da operação, que atendeu 67,9 milhões de pessoas, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, descarta um baque no nível de atividade. “Não vejo um impacto relevante porque já vejo uma retomada da economia e de empregos.”

De acordo com o executivo, o setor imobiliário tem desempenho recorde, o agronegócio está muito aquecido e a indústria já mostra bons indicadores, o que deve atenuar o impacto do fim do programa. Ao mesmo tempo, Guimarães afirma que a dinâmica da economia está muito diferente agora e o próprio uso do auxílio mostra isso. “No comecinho, foi para comprar comida e remédio. Depois, acabou o tijolo e foi muito por conta disso. No final, eu vi as pessoas usando mais para fazer investimento.”

Para Guimarães, o programa deixou como legado um banco digital com mais de 100 milhões de contas. Essa estrutura será usada agora para pagar outros benefícios sociais, como o Bolsa Família, num processo que será implantado até março. Também tornará viável uma operação de microfinanças. A seguir, os principais trechos da entrevista, concedida pelo executivo ao Valor por telefone:

Valor: O pagamento do auxílio emergencial chegou ao fim ontem. Como avalia a operação?

Pedro Guimarães: Foi uma coisa transformacional. A gente fez mais de 500 milhões de pagamentos, quase R$ 300 bilhões. Pagamos 67,9 milhões de pessoas. Em alguns meses, 90 milhões porque fizemos antecipação do FGTS, pagamos o BEm [Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda] etc. Nunca ninguém fez isso e espero que não faça porque só numa pandemia há necessidade. Mas o legado é muito importante. É o fato de que a gente tem um banco digital que vai beneficiar dezenas de milhões de pessoas no longo prazo. Todos os 35 milhões de brasileiros que recebem algum tipo de benefício social pela Caixa passarão a receber no Caixa Tem. Vai se aproximar de 110 milhões [de contas abertas no aplicativo], já tem mais de 100 milhões. O banco digital é um meio único de relacionamento com a população mais carente.

Valor: O sr. já disse anteriormente que a intenção é abrir o capital do banco digital...

Guimarães: Não tenho conforto de fechar joint-venture de tecnologia. Para cada 1 milhão, uma dá certo. Quando a empresa é listada, com selo de qualidade, cem mil acionistas, isso é controlado de forma diferente. A abertura de capital vem muito para manter o banco digital ‘up to date’.

Valor: Que impacto espera para a economia com o fim do auxílio?

Guimarães: Até o dia 27 de janeiro continua tendo recebimento em dinheiro. Já depositamos [a última parcela] e existem pessoas que já estão usando, mas tem outras que só vão receber na boca do caixa [para sacar em dinheiro, há um cronograma]. Já há um crescimento de fato. A economia hoje é totalmente diferente da de abril ou maio. Em 160 anos de Caixa, batemos recorde de crédito imobiliário neste ano. O setor vive um crescimento fortíssimo por causa da oferta de crédito, e estimamos mais 20% no ano que vem. É um segmento crucial para emprego e renda. Além disso, estamos no Pronampe [o programa para micro e pequenas empresas]. Até amanhã, devemos fazer mais R$ 5 bilhões nessa terceira rodada, e o uso da linha está muito diferente do que cinco meses atrás. Ali, era para evitar o fechamento, pagar conta em atraso, salário. Hoje, é para expansão. O setor agropecuário está bombando. Tem uma indústria com o melhor dado desde 2010. Tem setores de serviços que sofreram muito. Mas, do ponto de vista econômico, não se compara com abril e maio.

Valor: Sem o auxílio, a inadimplência vai subir?

Guimarães: A gente tinha uma expectativa de PDD [provisão para devedores duvidosos] que não se verificou. Chegamos a pausar 2,6 milhões de contratos de crédito imobiliário e 98% voltaram a pagar. O auxílio veio num momento de ruptura. Só que a gente está em dezembro, indo para janeiro. Qualquer coisa relativa ao programa é uma definição do governo. Mas não vejo um impacto relevante porque já vejo uma retomada da economia e de empregos. Na Caixa, o nível de perdas é um dos mais baixos da história. Em seguros, nunca crescemos tanto. Óbvio que vão existir problemas, mas um dos focos é a criação de um programa de microfinanças que vai atingir 10 milhões de pessoas. Em um mês? Não. Até porque a gente não quer dar a ideia de que é um novo auxílio. Esse é para quem tem condições de pagar. Para quem não tem, é via transferência de renda.

Valor: Vai haver uma ampliação do Bolsa Família ou será criado outro programa?

Guimarães: Não estou nessa discussão. Isso é uma questão do Ministério da Cidadania e quem decide é o presidente. O que posso dizer é que a gente está numa economia muito diferente e houve também um processo de transferência de renda que muita gente usou para melhorar moradia e condições de vida. Esse dinheiro foi investido. No comecinho, foi para comida e remédio. Depois, até acabou o tijolo e foi muito por conta disso. No final, vi as pessoas usando mais para fazer investimento.

Valor: Como funcionará o microcrédito oferecido pela Caixa?

Guimarães: Não vou mais falar de microcrédito, e sim de microfinanças. A gente vai fazer um programa mais abrangente. Vai ter o nome de Crédito Caixa Tem. Nosso objetivo é de 30 milhões de pessoas até o fim de 2022 e pelo menos 10 milhões até o fim do ano que vem. Vai vir exclusivamente pelo canal digital, porque no físico não é rentável. O banco digital já está com dois produtos-chave. Um deles é o pagamento de benefício social, que a pessoa vai poder receber pelo celular ou continuar indo na agência. O outro produto é de microfinanças.

Valor: Por que microfinanças e não microcrédito?

Guimarães: O microcrédito tem critérios do Banco Central muito restritos. Queremos ampliar. A gente quer fazer para os MEIs, para os que fazem parte da cadeia, por exemplo, de franquias. Temos uma base de dados que ninguém tem, criada com o auxílio e com parcerias como a do Sebrae. Já fizemos R$ 2,5 bilhões com o Fampe [Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas]. O digital reduz de forma tão brutal meu custo que me permite aprovar clientes que eu não conseguiria nas agências. Não poderia fazer um crédito de R$ 300 na agência, mas no digital eu posso. Valor: Quando começa? Guimarães: Da metade para o final de março. Mas a gente quer fazer com tranquilidade. Já temos alguns pilotos.

Valor: Qual a estratégia para transformar os beneficiários do auxílio em clientes do banco digital?

Guimarães: Nosso objetivo são 50 milhões [de clientes]. Desses, 35 milhões vão receber beneficio social, por baixo 10 milhões vão entrar no microcrédito e mais 5 milhões vêm da habitação. A Caixa já é o maior no Pix, com 25 milhões de CPFs cadastrados. Mais da metade veio pelo Caixa Tem. É uma demonstração de que esses clientes vieram para ficar. Quem vai ter um banco digital com 25 mil pontos de venda? Isso é um de nossos pontos mais fortes. Relacionamento com empresa de saneamento e cliente de imobiliário do SBPE será feito via Caixa. Não posso zerar a tarifa de todo mundo. O que for banco social vai para o digital, que me permite reduzir R$ 1 bilhão de custo. Estamos devolvendo mais de cem prédios, vou precisar de menos papel-moeda, menos ATMs.

Valor: A Caixa adiou duas vezes, neste ano, o IPO da Caixa Seguridade. Quando será retomado?

Guimarães: Amanhã [hoje] está previsto o recebimento de R$ 7 bilhões da joint venture [com a CNP Assurances ]. No dia 4 de janeiro, oficializa com a Tokyo Marine. Então, já temos os dois maiores para começar o ano. Valor: Esse dinheiro entra no caixa imediatamente? Guimarães: Já vai para o patrimônio inclusive. Um em 2020 ainda e outro em 2021. Vai fazer a mesma coisa com a Icatu, com a Tempo e depois com a CNP também. Sã o cinco joint-ventures, fora a nossa corretora e o ‘bid’ da cocorretora. Resolve isso e o IPO, para março, já está 100%. Era a única questão de incerteza que o mercado tinha. Quando a gente for, vai estar tudo funcionando.

 

Do ponto de vista fiscal, encerramos aqui a calamidade, diz Guaranys

O ministro da Economia substituto, Marcelo Guaranys, destacou que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que prorroga parte das medidas de enfrentamento à pandemia faz uma separação entre questões sanitárias e fiscais. “Encerramos aqui, do ponto de vista fiscal, nossa calamidade”, disse Guaranys em referência ao estado de calamidade pública, decretado para fazer frente à crise e que se encerra amanhã. De acordo com ele, o ministério segue acompanhando os efeitos da pandemia e, se necessário, serão retomadas as discussões sobre novas medidas econômicas de enfrentamento.

Salário mínimo

Em relação à previsão de aumento do salário mínimo em 2021, Guaranys afirmou que há compromisso do governo com o teto de gastos e o ajuste fiscal. “Todos os impactos serão considerados dentro do Orçamento, dentro do teto.” O presidente Jair Bolsonaro anunciou que assinará amanhã medida provisória (MP) estabelecendo salário mínimo de R$ 1.100 a partir de 1º de janeiro. O valor para 2021 estava estimado em R$ 1.088.

Atualmente, o piso é de R$ 1.045. Guaranys acrescentou que o novo valor considera a previsão de INPC de 5,22% em 2020, levando em conta o realizado até novembro e a previsão para dezembro. Não há alta real, ou seja, acima da inflação.

Sem dar detalhes, o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues, afirmou que ajustes no Orçamento para acomodar a despesa podem ser feitos nos relatórios bimestrais de avaliação de receitas e despesas no ano que vem. Cada R$ 1 a mais no mínimo aumenta as despesas em R$ 351,1 milhões, disse. O impacto total cabe dentro do teto, frisou o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida.

 

 

Com juros da dívida, rombo nas contas públicas vai a R$ 939 bilhões no ano

Em meio à crise da pandemia de Covid-19, o rombo nominal nas contas públicas — quando o pagamento de juros da dívida é incluído — atingiu R$ 939 bilhões neste ano, entre os meses de janeiro e novembro. Os dados foram divulgados nesta quarta-feira pelo Banco Central.

No período, o resultado primário (que não considera os encargos da dívida) foi negativo em R$ 651 bilhões, o equivalente a 9,58% do Produto Interno Bruto (PIB).

Os dados referem-se ao setor público consolidado, envolvendo  governo central (formado por Previdência e Tesouro, além do próprio BC), estados, municípios e estatais. Ficam fora da conta Petrobras, Eletrobras e bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

O resultado primário indica a capacidade do governo de pagar as contas, exceto os encargos da dívida pública. Se as receitas são maiores que as despesas, há superávit. Caso as despesas ultrapassem as receitas, há déficit. O resultado nominal considera também os juros da dívida no cálculo. Neste ano, o governo tem pago uma média de 7,3% em juros, de acordo com o BC.

Na terça-feira, dados divulgados pelo Tesouro Nacional mostraram que o governo acumula um rombo de R$ 699,1 bilhões neste ano, entre janeiro e novembro. No mesmo período do ano passado, o déficit nas contas públicas era R$ 80 bilhões.

Desde o início da pandemia, o governo tem gastado mais, com medidas de combate à crise na economia e na saúde. E também arrecadado menos em razão da queda da atividade e das medidas de restrição, o que também contribui para o aumento no rombo das contas públicas.

Como a despesa é maior que as receitas, o governo lança títulos da dívida no mercado, para cobrir essa conta, e paga juros sobre essa dívida. Com o rombo maior, a dívida também cresce.

A dívida bruta do governo atingiu no mês passado o equivalente a 88,1% do PIB. No ano, o aumento na relação dívida/PIB, até agora, foi de 13,8 pontos percentuais. Isso é resultado das emissões de dívida para cobrir o déficit, da incorporação de juros nominais e da alta do dólar.

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