ESTADÃO
Com juros baixos e oferta de crédito, setor imobiliário fecha 2020 em alta
O ano que mudou padrões de consumo, fez o desemprego bater recorde e colocou a maior parte dos setores da economia em suspenso terminou melhor do que o esperado para o mercado imobiliário. Após um segundo trimestre de fortes incertezas, cancelamento de lançamentos e expectativa de queda nas vendas, o segmento chegou ao final de 2020 com números surpreendentes. De janeiro a novembro, as operações de financiamento contratadas com recursos da caderneta de poupança somaram R$ 106,5 bilhões. O valor mostra um aumento de 52% em relação ao mesmo período do ano anterior e é o melhor resultado desde 2014.
Na cidade de São Paulo, as vendas de imóveis novos no acumulado em 12 meses até outubro chegaram a 51,2 mil unidades, um crescimento de 13,1% em relação ao mesmo período de 2019. A expectativa inicial do Secovi-SP, o sindicato da habitação, era fechar o ano inteiro com uma venda de pelo menos 50 mil unidades, o que repetiria o resultado de 2019.
Os juros em um patamar historicamente baixo – o que se reflete em taxas de financiamento mais atrativas e estimula mais brasileiros a se voltarem para os imóveis como opção de investimento – e os recordes de captação na poupança durante a pandemia (irrigando a maior fonte de recursos para os bancos financiarem a casa própria) foram fatores que ajudaram a segurar o fôlego do setor no segundo semestre, apesar da crise.
Foi uma surpresa positiva, dado o cenário difícil do ano passado, avalia a presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Cristiane Portella. “Os juros estão em um patamar que nunca estiveram, em torno de 6,9% para o financiamento. Em 2017, a média era de 11,4%, em um contrato de 35 anos. A prestação chegou a se reduzir em 30% e muito mais gente ficou elegível para comprar um imóvel. Novas formas de indexação do financiamento, como as taxas prefixadas, trouxeram um leque maior para o consumidor”, afirma Cristiane.
Segundo ela, quem não foi diretamente impactado pela pandemia manteve os planos, parou de gastar em outras coisas e passou a valorizar o estar em casa, seja para trabalhar ou lazer. “Em 2020, a gente viu uma valorização do espaço e do ambiente em que se mora”, diz.
Fonte de recursos
Com as medidas de compensação de perda de renda durante a pandemia e a chamada poupança por precaução, a captação líquida da caderneta de poupança inundou a principal fonte de recursos para financiamento para a classe média, pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). De janeiro a novembro, a captação da poupança somou R$ 109,4 bilhões – volume recorde desde o Plano Real e que, desde a pandemia, só ficou negativo em novembro, quando saíram mais recursos do que entraram.
A perspectiva para 2021, no entanto, é que a captação caia, conforme a economia ainda demore a engrenar e os brasileiros gastem os recursos poupados durante o pior da crise.
Mas, ainda que o Banco Central entre em um novo ciclo de alta dos juros neste ano, não são esperados aumentos prejudiciais para o setor, diz o presidente do Secovi-SP, Basílio Jafet. “Há um ano, os juros estavam em cerca de 4,5% ao ano, caíram para 2%, mas a queda do juro do financiamento foi menor. A expectativa é que o crédito imobiliário se mantenha em 2021.”
Ano deve ser mais positivo para emergentes, diz BNP
Depois de um ano difícil para os ativos financeiros de países emergentes devido aos momentos intensos de aversão a risco causados pela pandemia, 2021 promete ser mais positivo, em meio à chegada das vacinas. Na visão do chefe global de estratégia para mercados emergentes do BNP Paribas, Gabriel Gersztein, há elementos que permitem aos investidores trabalharem com a perspectiva de mais apreciação dos ativos de países em desenvolvimento, inclusive os brasileiros, apesar da persistente incerteza sobre a política fiscal.
Podemos imaginar um cenário muito positivo para os ativos emergentes”, afirmou Gersztein em entrevista ao Valor. De maneira abrangente, ele destaca que os ativos desses países estão expostos a duas principais forças sistêmicas: os canais de comércio, nos quais o principal agente é a recuperação da economia chinesa e seus efeitos benéficos ao restante do mundo, e os canais financeiros, em que o destaque é a manutenção de baixa das taxas de juros reais nos EUA e em outras nações desenvolvidas.
“Quando há perspectiva de taxas de juros reais em baixa nos países desenvolvidos, isso tem um impacto muito positivo para o crédito emergente”, diz o executivo do BNP. “Não estamos prevendo que a taxa real dos EUA suba substancialmente como aconteceu em 2013, quando tivemos o ‘taper tantrun’, que fez com que as taxas mais longas abrissem muito. Consideramos um cenário em que o crédito emergente continue crescendo. E, quando falo de crédito emergente, falo especialmente de ‘high yields’, como Brasil, Turquia, Ucrânia, México e África do Sul.”
A equipe de analistas do BNP espera que a tendência de fluxo vista nos últimos meses de 2020 se acentue neste primeiro trimestre, uma vez que a maior parte foi para países com grau de investimento, incluindo a China. Por isso, o banco está confiante de que moedas cíclicas, como o real, o peso colombiano, o rand sulafricano, o rublo e a rupia da Indonésia, se beneficiarão de uma provável rotação para os chamados “high yields” — que têm maior risco e prêmio.
Gersztein também destaca as condições favoráveis de financiamento em dólar, o que causa dois impactos fundamentais. “O primeiro é um dólar mais fraco; o segundo, um fluxo maior para mercados emergentes. Nos últimos meses, há uma tendência de aumento do fluxo de investimentos financeiros para os emergentes, mais significativamente para a Ásia, e vemos essa tendência se acelerando no começo de 2021”, pontua, citando ainda que o programa de compra de ativos do Federal Reserve (Fed) e a consequente expansão do balanço do BC americano é mais um elemento que reforça o cenário de fraqueza do dólar que favorecerá a recuperação das divisas emergentes.
O executivo lembra do “tsunami de liquidez” que tem inundado os mercados globais e favorecido o apetite por risco. O cenário, segundo Gersztein, é reforçado pelos fundamentos dos canais de comércio e a expectativa de alta das commodities, favorecida tanto pela tendência de fraqueza do dólar quanto pelo impulso do crédito, além da política expansionista adotada pelo BC da China. “É bom lembrar a importância da China como grande consumidor global de aço, cobre, alumínio, níquel e outras commodities. Essa recuperação é outro elemento fundamental para o nosso cenário favorável aos emergentes”, declarou.
Segundo levantamento do BNP, os metais industriais já subiram mais de 70% desde as baixas do fim de março. Gersztein destaca, inclusive, que os termos de troca do Brasil foram os que mais se beneficiaram em todo o mundo em 2020, o que contribui para a previsão ousada do BNP de uma valorização do real que levará o dólar ao nível de R$ 4,25 em 2021. O dólar encerrou o ano a R$ 5,187.
“Os termos de troca do Brasil foram os que mais se beneficiaram entre todos os emergentes neste ano. Por outro lado, o real teve o pior desempenho. Essa dicotomia entre os termos de troca e a performance do real vai ter que se ajustar de um jeito ou de outro. Por uma inflação maior, um fortalecimento do real ou por ambas as coisas. Por isso, temos uma projeção bastante ousada para a moeda brasileira”, diz.
Para o executivo do BNP, as perspectivas para os ativos brasileiros são positivas mesmo com as preocupações sobre a política fiscal e a influência política sobre a questão. “Qualquer notícia favorável à manutenção do teto de gastos vai ser um elemento adicional à apreciação”, disse.
“Não trabalhamos com um cenário de quebra fiscal, mas também não trabalhamos com um cenário brilhante. As forças externas são de tal magnitude que, mesmo que as condições fiscais não sejam ótimas, os ativos brasileiros devem se apreciar. Por isso a perspectiva de dólar a R$ 4,25.”
Questionado sobre os riscos políticos que envolvem o tema, Gersztein reiterou que a “questão política” sempre está presente no Brasil. “É como uma dor de costas crônica. Tem dias que você acorda se sentindo bem e disposto até a jogar futebol, mas tem outros que você não vai querer sair da cama. Isso está sempre no cenário, às vezes com mais intensidade, às vezes com menos.”
Sobre o BC brasileiro, o chefe de estratégia do BNP disse que a instituição mostrou pragmatismo ao anunciar o provável abandono do “forward guidance”. “Essa estratégia tem duas coisas. Primeiro, o BC precisa ter compromisso de longo prazo. Não é um instrumento de curto prazo. Segundo, é uma ferramenta que se aplica a economias mais desenvolvidas e não a economias emergentes com uma situação fiscal tão delicada como a brasileira. Portanto, vemos como positiva a sinalização de que voltará ao regime tradicional de metas.”
Em relação à taxa Selic, Gersztein destaca que os níveis de inflação e da recuperação da economia já não justificam um patamar de juros tão baixo no Brasil, e vê um aumento gradual para, no mínimo, 3% até o segundo semestre. “Vai ser o início de um ajuste. As condições não são mais as mesmas que tínhamos no terceiro trimestre [de 2020], quando as perspectivas eram bem mais negativas e ainda nem tinha vacinas” prontas contra o coronavírus.
BC começa a retirar estímulos ao crédito
O fim das medidas de estímulo fiscal, entre as quais a mais importante foi o pagamento do auxílio emergencial, não é a única força que poderá conter o crescimento da economia neste começo de 2021. Cumprindo o cronograma que havia estabelecido, o Banco Central deixou expirar no fim de 2020 alguns dos programas de crédito direcionado que havia criado na primeira onda da covid-19 para manter o fluxo de crédito na economia.
Saiu de cena uma linha que liberou R$ 51,7 bilhões em depósitos compulsórios sobre depósitos em poupança, que estavam retidos no BC, para operações de crédito a micro, pequenas e médias e empresas. Essa mesma iniciativa canalizou outros R$ 7,6 bilhões dos grandes bancos para as instituições financeiras de menor porte, que em geral são especializadas em dar crédito aos pequenos negócios.
Não é só o “abismo fiscal” que ameaça a retomada em 2021 Também expirou uma linha de assistência financeira de liquidez que injetou R$ 69,5 bilhões em 49 bancos, com foco nos pequenos. Esse programa ajudou a reciclar a carteira de crédito das instituições financeiras, porque usa como colateral papéis (as chamadas LFGs) que são lastreados por empréstimos, garantindo assim o fluxo de novas operações.
Chegou ao fim em novembro outra iniciativa que liberou capital dos bancos, antes imobilizado para dar suporte a créditos tributários, que permitiu a realização de R$ 14,4 bilhões em financiamentos para micro, pequenas e médias empresas. Essa facilidade acabou antes do esperado porque a medida provisória (MP) que deu origem a ela não foi aprovada no Congresso.
Mas, pelo cronograma original, expiraria de qualquer forma no dia 31 de dezembro. Uma rara iniciativa voltada às empresas de menor porte que ganhou sobrevida é o bem-sucedido Pronampe, em que o Tesouro deu garantia de 85% dos empréstimos. No finzinho do ano, foi realizado um aporte extra de R$ 10 bilhões no fundo que lastreia o programa. Mas esse é um programa fiscal.
As medidas de crédito direcionado que usam exclusivamente o balanço do Banco Central acabaram no prazo previsto. Seguem em vigor, por hora, medidas mais gerais que injetaram liquidez no mercado financeiro como um todo, sem um carimbo que obrigue os bancos a aplicarem o dinheiro num setor ou no outro. É o caso, por exemplo, da redução temporária, de 25% para 17%, da alíquota dos compulsórios sobre depósitos a prazo.
O BC definiu que, em abril, a alíquota seja elevada a 20%, mas sem retornar a 25%. O Fundo Monetário Internacional (FMI) chegou a recomendar, no seu relatório de avaliação do país, que a alíquota fosse mantida em 17%. Mas o BC respondeu que só avaliará essa possibilidade depois que colocar para funcionar seu novo mecanismo de assistência financeira de liquidez.
A importância do crédito direcionado é, em geral, pouco reconhecida pelos economistas na resposta do governo à crise, que evitou uma recessão mais profunda. Como muitos dos programas se sobrepõem, é difícil medir o seu efeito exato. Mas alguns dados ilustram o seu alcance.
As concessões dos chamados “outros créditos direcionados”, que incluem algumas dessas linhas, somaram R$ 99,048 bilhões no período de janeiro a novembro de 2020, ante R$ 10,490 bilhões no mesmo período do ano anterior. O acréscimo equivale a 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB).
O crédito bancário cresceu 15,6% no período de 12 meses até novembro graças ao “renascimento” dos direcionamentos. Sem ele, teria avançado algo como 8,5%, atendendo basicamente as grandes corporações, que sugaram o caixa dos bancos depois que o mercado de capitais ficou paralisado.
Com o fim de vários programas, o Banco Central estima que o crédito vá crescer apenas 7,8% em 2021. O crédito direcionado a empresas vai encolher 5,3%, ou perto de R$ 35 bilhões. É compreensível a determinação do Banco Central em extinguir os programas de crédito direcionado no prazo combinado.
No Brasil, essas iniciativas temporárias costumam se tornar permanentes. A crise econômica do governo Dilma Rousseff se deve, em grande medida, às ações tomadas como resposta à crise financeira mundial.
O aporte emergencial de R$ 100 bilhões no BNDES em 2009 virou uma espécie de orçamento, que se repetiu todos os anos. Nos anos 1960 e 1970, o BC tinha dentro de si um banco de fomento para crédito agrícola. Deu na grande inflação dos anos 1980.
A manutenção do cronograma do fim dos programas de crédito direcionado da pandemia é uma aposta do Banco Central de que o sistema financeiro já pode caminhar com as suas próprias pernas, fornecendo linhas para quem precisa, e de que o mercado de capitais vai reengatar, com volumes mais expressivos de captações em debêntures e notas promissórias.
A liquidez internacional está favorável, mas o Brasil não deverá aproveitar muito. O BC espera que as empresas rolem apenas 85% das captações no exterior. Esse, porém, é um cenário ainda muito incerto.
A crise não acaba com o anocalendário, no dia 31 de dezembro, como previu o Banco Central em junho, quando criou alguns dos principais programas. A segunda onda da covid-19 e o atraso do governo em providenciar a vacinação da população representam riscos relevantes.
Nos Estados Unidos, o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, cortou verbas que sustentam as linhas de financiamento aos pequenos negócios do Federal Reserve (Fed). Embora, por lá, essas linhas tenham sido utilizadas bem menos do que o esperado - o Brasil se saiu melhor nesse aspecto -, dirigentes do Fed reclamaram, sustentando que preferem ter essa ferramenta creditícia ao alcance das mãos se a situação voltar a piorar.
Ao contrário do Brasil, porém, os Estados Unidos têm espaço fiscal e emitem moeda de reserva - estão colocando na rua mais um pacote de estímulo neste ano. Por aqui, o BC reconhece os riscos de que, com o fim do auxílio emergencial, a economia possa ter um novo mergulho recessivo, embora o cenário central não seja esse. O único ponto de conforto é que, se a coisa piorar, o BC pode rapidamente reinstituir os programas que expiraram.
Fundos imobiliários já têm R$ 5,4 bilhões de emissões para 2021
Um dos segmentos do mercado financeiro que mais cresceu nos últimos anos vai iniciar 2021 aquecido. Neste momento, existem 18 emissões de fundos de investimentos imobiliários (FIIs) em andamento ou já programadas para começar no ano novo. Juntas, elas totalizam R$ 5,4 bilhões, de acordo com levantamento feito a pedido da Coluna pelo Ticker11, central de conteúdos especializados no setor. O montante corresponde a 12% do volume de cotas emitidas em todo o ano de 2020, o que indica que investidores seguem com apetite por esta classe de ativos, mesmo após as turbulências provocadas pela pandemia.
Público-alvo. Do total de emissões para 2021, R$ 3,5 bilhões (64,8%) são ofertas públicas, em que qualquer um pode participar. A parcela restante de R$ 1,8 bilhão (35,2%) são processos restritos a investidores profissionais, isto é, donos de um patrimônio mínimo aplicado de R$ 10 milhões.
Pop. A indústria de fundos imobiliários quase dobrou neste ano em número de participantes, totalizando 1,136 milhão até novembro, segundo boletim da B3. No fim de 2019, eram 645 mil, e no fim de 2015, apenas 89 mil. Com a queda na taxa de juros, cada vez mais pessoas têm buscado diversificar suas aplicações. Também pesa o fato de que o brasileiro gosta de comprar imóveis.
Liderança. A maior oferta em andamento é do fundo XP Logística. Ele chegou à sua quinta emissão de cotas, no valor total de R$ 720 milhões, sendo R$ 600 milhões no lote principal mais R$ 120 milhões no adicional. O fundo é especializado em galpões para abrigar pequenas indústrias, varejistas e, principalmente, centros de armazenagem e distribuição de mercadorias. Este ramo decolou junto do comércio eletrônico durante a pandemia.
Pódio. A segunda oferta mais volumosa é do fundo Kinea Renda Imobiliária (sétima emissão de cotas, R$ 690 milhões incluindo lote adicional), voltado para gestão de imóveis comerciais e galpões logísticos. O terceiro da lista é o BTG Agro Logística (oferta inicial, R$ 600 milhões ao todo), um estreante que vai focar numa classe de ativos pouca exploradora por agentes do mercado financeiro: os imóveis que dão suporte ao agronegócio, como terras, silos e terminais.
Líderes empresariais e investidores cobram clareza do governo sobre planos para a economia em 2021
Em 2020, a pandemia afetou drasticamente operações e investimentos de empresas, obrigou governos a expandir gastos e dívidas e derrubou Bolsas em todo o mundo. No Brasil, não foi diferente, mas o ano passado terminou com o Ibovespa, principal índice da Bolsa de São Paulo, a B3, avançando quase 3%.
Líderes empresariais ouvidos pelo GLOBO ponderam que, para a recuperação se consolidar no mercado financeiro e alcançar toda a economia, o governo tem que apresentar o plano de voo da equipe econômica, liderada pelo ministro Paulo Guedes. Apesar de alguns revezes ao longo de 2020, ele segue com o apoio declarado do presidente Jair Bolsonaro.
— Seria uma utopia ter todas as reformas e as privatizações andando ao mesmo tempo, mas mais importante que o ritmo de realização é o governo mostrar clareza no andamento de sua agenda, sempre com a garantia de preservar os ganhos obtidos até agora, como controle da inflação, juros baixos — diz o presidente executivo da B3, Gilson Finkelsztain.
A taxa básica de juros (Selic) está no seu nível histórico mais baixo, em 2%, um fator favorável aos investimentos e ao desenvolvimento do mercado de capitais. Mas o Finkelsztain lembra que isso só se mantém se o governo precisa se comprometer com o controle das contas.
— É preciso comprometimento fiscal, preservação do teto de gastos, que não haja negligência com as despesas do governo. É essa clareza que o mercado espera — diz o presidente da B3.
Ele avalia que a expectativa dos mercados globais em relação à vacina e uma injeção de liquidez pelos bancos centrais favorecem crescimento no mundo e no Brasil em 2021:
— Isso se transforma em mais empregos, crescimento das empresas e oportunidades de negócios. E parece que o Brasil tem agora uma grande oportunidade de ter o mercado de capitais como motor propulsor das empresas e do crescimento econômico.
Na B3, o ano de 2020 foi bastante positivo. Com juros baixos, investidores pessoas físicas e gestores de fundos foram buscar melhor retorno com mais risco na Bolsa.
O resultado foi o registro de nada menos que 23 IPOs (ofertas iniciais de ações na sigla em inglês) e 27 operações de follow on (novas ações de empresas que já são listadas na Bolsa). O número de negócios, que tinha média diária de 4 milhões em 2019, cresceu três vezes no ano passado.
— Em alguns dias, tivemos 12 milhões de negociações no mercado à vista e derivativos — recorda Finkelsztain.
Confira a visão de outros líderes
Maite Leite, presidente do Deutsche Bank no Brasil
Maite Leite, presidente do Deutsche Bank no Brasil, não tem dúvidas de que o teto de gastos e o controle fiscal são “fundamentais para a economia” este ano.
Para ela, o governo deve retomar as privatizações e construir uma agenda consistente alinhada aos 16 objetivos globais de sustentabilidade, estabelecidos pela ONU, em áreas como a social e ambiental.
Para Maite, há muito a fazer no Brasil para recuperar a economia, tão prejudicada pela pandemia. Ela também lista como importantes a reinclusão da luta contra a corrupção como uma prioridade de Estado e o avanço nos acordos internacionais bilaterais para que o Brasil possa atrair investimentos estrangeiros de longo prazo, além das reformas tributária e administrativa.
— Outros pontos que devem estar no radar para 2021 são a agenda digital, o comércio exterior e as parcerias público-privadas, que nos possibilitarão reduzir o atraso em questões estruturantes como infraestrutura, logística, energia, educação e saúde. Com a pandemia, o desequilíbrio se agravou, e o Estado precisará contar mais fortemente com o apoio do setor privado enquanto estabelece credibilidade na disciplina fiscal e no estímulo a investimentos - acrescenta a executiva.
A presidente do Deutsche Bank no Brasil acredita que, depois de passar por algumas revoluções em 2020, como a criação do PIX, o setor financeiro no país deve viver neste ano maior diversificação na área de investimentos com um cenário de juros ainda baixos.
Laio Santos, diretor-executivo da Rico Investimentos
Laio Santos, diretor-executivo da Rico Investimentos, do Grupo XP, diz que o ano de 2021 começa com duas prioridades.
— A vacina é uma prioridade absoluta, assim como as reformas, que hoje parecem uma realidade distante, principalmente a tributária e a administrativa, que fariam com que a engrenagem voltasse a girar e a economia fosse alavancada — avalia.
O executivo observa que 2020 foi marcado pelo rombo das contas públicas — embora tenha sido necessário pela pandemia —, alta da inflação e o que define como “uma sensação clara de maior distanciamento entre as instâncias do governo”.
Ele acredita que os juros baixos favorecem a recuperação global e, no Brasil, consolidam uma nova cultura de investimentos, para além da caderneta de poupança.
João Carlos Brega, presidente da Whirlpool Latin America
Se a economia brasileira fosse um avião, estaria voando agora só com o motor da indústria, diz João Carlos Brega, presidente da Whirlpool Latin America, dona das marcas Cônsul e Brastemp.
Ele acredita que as empresas voltarão a recompor seus estoques e o país terá crescimento no primeiro e no segundo trimestres na comparação anual, diz que a segunda metade do ano ainda é uma grande dúvida que cabe ao governo dissipar com a agenda de reformas:
— O governo acertou com o auxílio emergencial e a flexibilização das leis trabalhistas, como a MP 936, que permitiu às empresas redução da jornada de trabalho e salário, além de suspensão de contratos. Usamos e não paramos fábricas. Tivemos um estresse na cadeia de suprimentos por falta de matéria-prima, mas a produção não parou. Temos uma demanda dormente por produtos. Se o governo levar adiante sua agenda de reformas, teremos a volta do crescimento dos serviços e o país pode crescer 4%, 5% ou até 6% ao ano.
O executivo reconhece o papel do auxílio emergencial para minimizar a perda de renda dos mais pobres, mas observa que manter o benefício é insustentável diante da atual situação fiscal do país.
Para ele, o governo precisa aprovar imediatamente a PEC Emergencial, que já está no Congresso, e estabelece novas medidas para a redução de gastos, facilitando também a gestão do Orçamento. Ele também cita a autonomia do Banco Central, que avançou no Congresso em 2020:
— Isso já acalmaria o mercado, e as expectativas para o segundo semestre em relação à inflação e ao câmbio melhorariam. Com uma taxa de 14% de desemprego, a retomada da economia não se sustenta — diz.
No campo das reformas, o líder no Brasil de uma das maiores fabricantes de eletrodomésticos do mundo diz que o governo precisa trabalhar de forma pragmática com as reformas tributária, administrativa e as privatizações. Só dessa forma poderá voltar a atrair um volume expressivo de investimentos estrangeiros.
— O investidor quer vir, mas o Brasil não é a última bolacha do pacote. É preciso reduzir o tamanho do Estado, dar segurança jurídica.
Leticia Andrade, presidente interina da Equinor Brasil
Com quase 20 anos de atuação no Brasil, a norueguesa Equinor considera a reforma tributária e o respeito aos contratos fundamentais para a retomada do investimento estrangeiro no país.
A simplificação dos tributos e a redução da burocracia, diz Leticia Andrade, presidente interina da empresa no Brasil, serão capazes de melhorar o ambiente de negócios em 2021.
Ela também defende a aprovação da Lei do Gás Natural, que muda o marco regulatório do setor. O projeto de lei foi aprovado no Senado em dezembro, mas, como houve alteração no texto, terá que voltar para a Câmara no ano que vem.
— Precisamos que o país continue com sua tradição de respeito aos contratos e que haja sempre previsibilidade, estabilidade jurídico-regulatória e competitividade. Isso é fundamental para investimentos de longo prazo — diz Leticia.
A Equinor já investiu US$ 11 bilhões no Brasil. Para 2021, a empresa espera o primeiro óleo da fase 2 do campo de Peregrino, na Bacia de Campos.
Peregrino é a maior operação da companhia fora da Noruega. A terceira plataforma no campo já está instalada e aumentará a produção em 250 a 300 milhões de barris de petróleo por dia.
Eduardo Ricotta, executivo da Ericsson na América Latina
Uma reforma tributária capaz de reduzir a carga tributária é o que Eduardo Ricotta, presidente da Ericsson para o Cone Sul da América Latina, defende como estímulo a investimentos no país nos próximos anos. Em alguns estados, diz ele, a tributação do serviço de telecomunicações pode chegar a 60%.
Em meio aos preparativos para o leilão de 5G, a nova geração de telefonia móvel, previsto para este ano, o executivo da companhia sueca de equipamentos de telecom destaca ainda a necessidade de o país investir em educação e inovação:
—- O 5G vai promover a digitalização de diversos segmentos e ajudará na retomada da nossa economia. Assim, para fomentar a inovação, o Brasil deveria adotar um plano nacional para o 5G, com a garantia de acesso a baixo custo.
Para ele, é essencial que o leilão não tenha um viés arrecadatório. O executivo defende que, no lugar da cobrança de outorgas bilionárias, o modelo do leilão priorize exigências maiores de investimento das empresas.
Ricotta diz que um dos desafios para a expansão das redes de telefonia é a modernização da legislação nas diversas cidades do país como forma de aumentar a instalação de antenas:
— A tecnologia avança em uma velocidade descompassada da atualização de regras. Por exemplo, em alguns estados as regras sobre antenas estão desatualizadas há 15 anos, quando ainda predominava o 2G. Hoje, estamos discutindo 5G. As regras claramente não estão acompanhando a velocidade da evolução da tecnologia.
Manuela Kayath, presidente da MDC
Manuela Kayath, presidente da empresa de soluções energéticas MDC, vê com preocupação o cenário macroeconômico do país, embora acredite que seu setor deva ter um ano embalado pela agenda ambiental.
Para ela, as reformas administrativa e tributária e as vacinas, ao lado do equilíbrio fiscal, são importantes para dar segurança aos investidores, não apenas em 2021. Ela defende que o governo tenha um planejamento mais estratégico para o crescimento.
— O Brasil precisa de um planejamento de longo prazo para atrair investimentos. Reformas e equilíbrio fiscal são fundamentais para isso — afirma a executiva.
Na sua opinião, ainda há receio se o Congresso vai de fato aprovar as reformas, mas vê uma agenda positiva possível na sustentabilidade:
— Estou cautelosamente otimista, apesar do cenário macro do Brasil que nos deixa mais reticentes. Mas o nosso setor de energia sustentável tem uma agenda positiva muito importante, que mudou muito o mercado. A pauta de sustentabilidade ganhou muita força neste ano, antes mesmo da pandemia e da eleição de Joe Biden (para a presidência dos EUA).
A MDC tem três unidades de biometano e deve inaugurar uma quarta fábrica em 2021. Para Manuela, esse tipo de investimento deve ganhar força com a aprovação final da Lei do Gás no ano que vem.
Pietro Labriola, Presidente da Tim no Brasil
Pietro Labriola, presidente da TIM, avalia que, com o início da vacinação e a volta gradual à normalidade, é importante que o país retome a agenda de modernização da economia, prejudicada pela pandemia.
Ele cita a reforma tributária como uma das prioridades, mas destaca ainda a necessidade de uma aliança entre poder público e iniciativa privada como forma de combater a desigualdade social e o desemprego, acentuados pela crise sanitária e econômica:
— O Brasil vive há pouco mais de duas décadas um processo de reformas gradativas e contínuas, na busca pela construção de um ambiente econômico mais encorajador para o investimento. Exemplos disso são as privatizações, as sucessivas reformas da Previdência e a relativamente recente reforma trabalhista. Parece chegada a hora de não só o governo, mas a sociedade, fazer avançar a reforma tributária, para simplificar o sistema de impostos e destravar a atividade produtiva.
O executivo, que assumiu a operação brasileira da tele italiana no início de 2019, defende o estímulo à inovação para que o país tenha “condições de participar do jogo econômico cada vez mais globalizado”.
Um exemplo desse desafio é o futuro leilão de 5G, a nova geração de telefonia, que deve ocorrer este ano. O Brasil está atrasado nessa corrida tecnológica em comparação com outros países.
— Com a pandemia a percepção sobre a atividade de telecomunicações evoluiu de útil para essencial. Mesmo quando terminar a necessidade de distanciamento social, a adoção de tecnologias disponíveis e de novos métodos de trabalho flexíveis não voltarão para trás.
Labriola lembra que a pandemia impulsionou o processo de digitalização na economia, gerando oportunidades para serviços bancários, carros conectados e novos métodos de gestão do campo.
— Essa peculiaridade sugere que o futuro do setor é de expansão sólida e irreversível. Como todos os países do mundo, o Brasil sofreu os efeitos da pandemia, com arrefecimento e até a interrupção forçada de muitas atividades produtivas. Os números agora estão mostrando que, no balanço geral, pode-se dizer que a economia brasileira mostrou uma certa resiliência e, na comparação com as de outras partes do mundo, vem dando sinais de recuperação — afirma o executivo.
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