Quinta-feira

Estudo mostra efeito prolongado da construção sobre a atividade

O impacto da construção de imóveis no crescimento da economia, investimentos e geração de emprego não está restrito ao período de obras, mas se arrasta após a conclusão. A entrega do imóvel puxa gasto como pequenos reparos, utensílios de cama, mesa e banho; confecção e acessórios; produtos de madeira, eletrônicos; instalações elétricas e mobiliário, prolongado o efeito da construção na atividade econômica.

Estudo inédito da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que será divulgado hoje e que foi antecipado ao Valor, mostra que os gastos da fase pós-obra resultam em aumento do Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de quase R$ 32 bilhões em três anos, já se levando em conta os impactos diretos, indiretos e induzidos. O valor corresponde a 0,44% do PIB de 2019.

“O efeito [multiplicador] total sobre a produção é da ordem de 0,36. Isso significa que, para cada R$ 1 de obras entregues são gerados mais R$ 0,36 de outras despesas típicas do pós-obra ao longo de três anos”, explica o estudo. “Encerrado o ciclo de edificação e entregues as chaves, a construção civil residencial é capaz de gerar mais 36% dos valores das moradias em termos de demanda para os diversos setores da economia, incluindo a própria construção”, complementa o estudo coordenado pela economista da CBIC, Ieda Vasconcelos.

Segundo o presidente da CBIC, José Carlos Martins, havia a sensibilidade de que a construção civil continuava impulsionando a economia mesmo após o término de uma obra. Ele cita que quando o proprietário recebe as chaves do imóvel acaba adquirindo outros produtos, como eletrodomésticos, linha branca e cortinas, e esse impacto nunca havia sido quantificado.

Com o estudo, conforme Martins, é possível reforçar a importância do setor da construção para economia não só durante a execução da obra - por afetar rapidamente na geração de emprego - como também depois, por impulsionar outros segmentos econômicos. “A construção civil acaba afetando a economia amplamente”, disse Martins.

O levantamento aponta ainda que o pós-obra resulta na geração de cerca de 676 mil de postos de trabalho em toda economia no período de três anos, o equivalente a 0,7% da população ocupada no último trimestre de 2019. Além disso, impulsiona a arrecadação de tributos em R$ 16,7 bilhões. Considerando-se a arrecadação total de tributos em 2019, da ordem de 35,2% do PIB daquele ano, a arrecadação associada ao gasto pós-obra corresponderia a 0,65% do valor total.

Em termos de geração de renda, esse adicional é da ordem de 16% e, em termos de tributos, mais 8%. Para cada R$ 1 milhão em residências entregues, geram-se 3,31 empregos no pós-obra.

A economista da CBIC explicou que para conseguir calcular o impacto do pós-obra na economia utilizou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com relação ao aumento do número de residências domiciliais de 2018 para 2019 que foi de 1,38 milhão. Em seguida, foi feita a distribuição dessas residências, por faixas de renda, fixada a partir daquela registrada pela Pnad no ano de 2017.

Com o incremento ao estoque de domicílios, conforme a economista, foi possível fazer a estimativa do valor dos investimentos necessários para a construção do 1,38 milhão de novas residências a partir dos preços médios dos imóveis por faixa de renda. Depois disso, foram selecionados sete setores para se avaliar o impacto, por três anos, a partir da entrega do imóvel ao proprietário.

“Estima-se que esse volume de novas moradias [1,38 milhão de 2018 para 2019] resultou em R$ 204 bilhões de investimentos no setor e R$ 501,5 bilhões em toda a economia. E o volume de gastos pós-obras para o mesmo ano foi estimado em mais R$ 73,6 bilhões, considerando todos os efeitos (diretos, indiretos e induzidos)”, mostra o estudo. A economista reforçou que o estudo só confirma o que já sabia: a importância da construção civil é bem maior do que se costuma divulgar. “Isso ajuda na formulação de políticas públicas”, ressaltou.

 

Mercado projeta inflação mais pressionada

O susto com o comportamento recente da inflação e a perspectiva de que mais estímulos fiscais virão adiante fizeram com que o mercado passasse a apostar em uma inflação mais alta à frente. Do início do ano até agora, as taxas de inflação implícita, medidas pelas NTN-Bs, têm acelerado o ritmo de alta e operado acima do centro da meta perseguida pelo Banco Central.

O movimento pode ter continuidade nos próximos meses, a depender ainda do quadro internacional, já que o cenário de reflação têm elevado as expectativas de inflação de longo prazo em mercados desenvolvidos e também nos emergentes.

O avanço firme da inflação implícita, inclusive, foi notado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, ao participar de evento na terça-feira. O dirigente apontou que o mercado tem projetado inflação implícita mais alta no curto e no médio prazo.

Grosso modo, as implícitas são obtidas pela diferença entre os juros futuros e as taxas das NTN-Bs, papéis indexados pelo IPCA e cuja demanda tem aumentado recentemente devido às pressões inflacionárias mais fortes no curto prazo.

E, embora seja uma medida de mercado e cujas taxas embutem prêmio de risco, a inflação implícita acaba por indicar a trajetória que os investidores enxergam para o comportamento dos preços.

Nesta quarta, a NTN-B com vencimento em maio de 2021 embutia em seus preços uma inflação de 5,67%, de acordo com dados da Anbima. No último pregão de dezembro, o papel precificava uma inflação de 4,0%. Outros papéis um pouco mais longos viram movimentos semelhantes: a inflação implícita medida pela NTN-B para agosto de 2022 saiu de 3,66% para 4,52% no período.

Em sua carta referente a janeiro, a gestora Occam revelou que voltou a adotar posições compradas [aposta na alta] em inflação implícita no Brasil diante de dados mais fortes de inflação. Em seu cenário básico, inclusive, a gestora carioca projeta o IPCA no fim deste ano em 4,0%, acima do centro da meta (3,75%). “Estamos animados com a compra de inflação implícita no Brasil”, afirma Pedro Dreux, sócio e gestor macro da Occam.

Ele aponta que esse cenário se mostra favorável diante da segunda onda da pandemia, que está levando o país a adotar mais estímulos fiscais. Além disso, o profissional revela que a gestora não compartilha da visão do mercado de que a nova composição do comando do Congresso trará reformas estruturais relevantes. “A extensão do auxílio emergencial dificilmente virá acompanhada de corte de gastos. Isso tudo conspira a favor de um câmbio mais depreciado e, tudo isso somado, nos leva a mais inflação à frente”, diz.

Também em carta referente aos resultados do mês de janeiro, divulgada na semana passada, os profissionais da Ibiuna Investimentos se mostraram preocupados “com a volta da inflação como notícia e com a fragilidade fiscal pós-pandemia”.

Nesse contexto, a gestora informou que voltou a adotar posições aplicadas [aposta na queda das taxas] em juros reais e manteve posições de valor relativo nas curvas de juro real e de inflação implícita. Assim como a Occam, a Ibiuna revelou que segue preocupada “com a capacidade do governo em avançar com uma agenda de reformas ampla e fiscalmente responsável, mas custosa politicamente, nos dois anos finais do mandato presidencial”.

A gestora, assim, optou por manter uma avaliação cautelosa sobre os fundamentos do Brasil. Dreux, da Occam, destaca ainda a tendência de alta dos preços de commodities no mercado externo e cita o avanço do petróleo, cujos preços voltaram a níveis de janeiro de 2020, e do índice de commodities CRB, que está nas máximas de 2014.

“Se as altas dos preços das matérias primas não vierem acompanhadas de apreciação cambial, que é o que acreditamos, o cenário tende a ser mais inflacionário”, aponta. Em seu cenário, a Occam projeta a Selic em 5% no fim do ano, em um ciclo com início em maio.

O avanço recente das inflações embutidas nas NTN-Bs também tem relação com as revisões altistas nas projeções de inflação neste ano, avalia Bruno Carvalho, sócio e gestor de renda fixa da Asset 1. Além do aumento dos preços das commodities não ser acompanhado de alívio no câmbio, o profissional aponta que os números mais recentes de inflação mostram um “espalhamento” da inflação.

Nos níveis de hoje, a gestora optou por abandonar posições em inflação implícita e operar com posições tomadas [aposta na alta das taxas] na parte curta da curva de juros nominais.

De acordo com Carvalho, os níveis atuais das implícitas, bem acima da meta de inflação em alguns casos, mostram prêmio de risco já bastante elevado no preço dos ativos. “Acho mais interessante ficar ‘tomado’ nas taxas dos DIs curtos”, diz Carvalho, diante da aposta de início do ciclo de normalização monetária já em março. “Se formos imaginar uma normalização parcial, imagino que seja de pelo menos 2 pontos percentuais”, afirma.

A Asset 1, que tem o ex-diretor do BC Carlos Viana como sócio, trabalha em seu cenário básico com a Selic em 4% até o fim do ano. Carvalho, contudo, revela que o ritmo do processo ainda está em aberto. A BNP Paribas Asset Management, por sua vez, também tem preferido trabalhar preferencialmente com a curva de juros nominais, ao apostar na queda das taxas de prazo intermediário (DI para janeiro de 2024, por exemplo).

Ao observar a alta recente da inflação implícita de curto prazo, Michael Kusunoki, gestor de renda fixa e multimercados da casa, aponta como principais causas as incertezas relacionadas ao retorno do auxílio emergencial e ao cenário externo, diante do processo de reflação, que tem aumentado expectativas de inflação ao redor do globo.

Nos Estados Unidos, por exemplo, as expectativas de inflação medidas pelos títulos de dez anos estavam, nesta quarta, em 2,21%, nos maiores níveis desde 2014. “O movimento das expectativas de inflação foi sincronizado e esse componente global ajudou no viés altista das nossas implícitas e de todos os ativos ligados ao tema de reflação”, afirma.

Para Kusunoki, o componente global é um fator que pode continuar a apoiar o avanço das implícitas. O gestor avalia ainda que as apostas em alta da inflação implícita em prazos mais curtos pode servir como um bom “hedge” caso a trajetória da dívida pública mostre deterioração adicional. “Existe o risco, mas tratamos como  um risco de cauda. Se o cenário fiscal piorar, a tendência é as implícitas andarem ainda mais”, diz o profissional.

 

Atividade fraca vira dilema para o Copom

A fragilidade da atividade econômica, demonstrada pela surpreendente queda nas vendas no varejo, deve impor um teste de fogo ao Banco Central: como elevar juros e enfrentar a alta da inflação em um ambiente de recuperação tão lenta?

O quadro ganha contornos ainda mais tensos, evidenciados pelo desempenho dos ativos financeiros, que reagem à delicada situação fiscal do país com a pressão por novas rodadas de auxílio emergencial de volta ao foco dos agentes.

“É bem difícil a posição do BC. Achamos que o número do varejo veio em linha com uma atividade mais fraca nos próximos meses, embora os fundamentos não sejam para quedas tão espetaculares como foi. Nesse sentido, a atividade traz pressão desinflacionária, mas, do outro lado, tem a inflação de custos, com a alta das commodities, e o choque cambial, mais os riscos fiscais, que apontam na direção de mais inflação”, diz Mauricio Oreng, superintendente de pesquisas macroeconômicas do Santander Brasil.

Ontem, os dados de vendas no varejo em dezembro pegaram os analistas de surpresa. A queda de 6,1% ante novembro configurou o pior tombo de toda a série histórica iniciada pelo IBGE em 2000. Não à toa, o resultado ficou bem distante da expectativa dos analistas consultados pelo Valor, de um recuo de 0,6%.

“Isso provavelmente deixará o Copom em um dilema”, afirma o economista-chefe para mercados emergentes da Capital Economics, William Jackson. Para ele, a contração do varejo em dezembro indicou que a economia está fraca e que ainda necessita de suporte, especialmente se os números de janeiro continuarem indicando um ambiente desafiador.

“Por outro lado, esses números podem reforçar o desejo dos políticos de estender o auxílio emergencial - o que pode fazer o Copom sentir que uma política monetária mais rígida é necessária”, pondera.

Tudo isso indica um equilíbrio extremamente difícil, entre estímulo monetário e fiscal, que também deve levar em conta a situação precária das contas públicas. “O que pode fazer o BC elevar os juros apesar dos preocupantes dados do varejo é uma leniência no front fiscal que faça a percepção de risco fiscal se elevar, o dólar se valorizar e as expectativas de inflação se desancorarem”, diz Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho no Brasil.

Para ele, isso aconteceria, por exemplo, se a pressão sobre um novo auxílio aumentar, e, em vez de R$ 200, um valor maior for aplicado. “Do mesmo modo, fazer um auxílio emergencial fora do teto e não propor reformas também adiantariam o movimento de alta do BC, mesmo em um cenário de economia fraca”, acrescenta.

Ontem, todas essas incertezas culminaram no recuo da bolsa, com a desvalorização de ações ligadas a consumo e bancos. O Ibovespa fechou em queda de 0,87%, aos 118.435 pontos, com giro de R$ 23,90 bilhões.

Outro indicador da percepção de risco é o prêmio entre juros de longo prazo e os de curto prazo - que segue bastante elevado, próximo de 4 pontos percentuais entre o DI para janeiro de 2027 e o DI para janeiro de 2022.

Apesar do tombo no varejo, o mercado de juros continua precificando chance de elevação da Selic na reunião de março do Copom, com 66% de possibilidade de um aumento de 0,50 ponto percentual e 34% de chance de uma alta de 0,25 ponto.

O cenário básico defendido pela RPS Capital é de que o ciclo de normalização monetária deve ter início no mês que vem, apesar da frustração com o comércio varejista em dezembro e com o IPCA de janeiro abaixo do esperado.

O economista-chefe da casa, Gabriel Barros, aponta a retomada das discussões sobre o auxílio emergencial como um ponto que reforça seu cenário. Ele nota que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, “foi bastante duro ao falar da questão fiscal e disse que, se houver uma prorrogação [do auxílio], eventualmente ela teria de ser compensada com medidas de austeridade”.

Na visão de Barros, “como a promessa do Congresso de avanço das reformas é algo futuro, o mercado não tem se mostrado disposto a dar o benefício da dúvida e a acreditar que reformas serão adotadas”. Instituições financeiras como Barclays, Itaú Unibanco e Bank of America (BofA) são algumas que esperam o início do ciclo também em março. Há divergências, contudo, em relação ao ritmo de normalização.

O BofA, por exemplo, defende um aumento de 0,50 ponto percentual no mês que vem na Selic, enquanto o Barclays espera que o ciclo tenha início com uma elevação de 0,25 ponto.

Já os analistas do Citi apontam que o discurso de Campos Neto, na terça, sugere um Copom “data dependent”, mas que isso se dará, principalmente, “no que diz respeito aos potenciais impactos que as negociações fiscais podem exercer sobre as expectativas de inflação e sobre os preços dos ativos domésticos”.

O Citi mantém inalterada sua projeção de que a Selic terminará o ano em 4%, com um ciclo de alta que terá início em junho. A Capital Economics trabalha com alta só em agosto, embora reconheça probabilidade maior de ajuste em junho. Já o Santander deve anunciar hoje nova projeção de Selic, para 4% no fim do ano.

“Provavelmente, achamos que a alta inicial de juros viria entre o 2º trimestre e o 3º trimestre. Sobre março, ainda estamos divididos”, diz Oreng. Ontem, o dólar comercial encerrou em leve queda, de 0,20%, para R$ 5,3716, com ajuda do exterior após dados fracos de inflação nos Estados Unidos.

 

Empresa de crédito espera alta de inadimplência em 2021

Os registros de inadimplência do birô de crédito Boa Vista caíram 3,4% em janeiro na comparação com dezembro. O indicador é elaborado a partir da quantidade de novas dívidas vencidas e não pagas informadas pelas empresas credoras.

A expectativa, porém, é que a inadimplência aumente em 2021 com o mercado de trabalho enfraquecido.

Segundo Flávio Calife, economista da Boa Vista, o recuo ainda é reflexo do auxílio emergencial e das postergações pagamentos oferecidas pelos bancos na pandemia. Em relação ao mesmo período do ano passado, a queda dos registros foi de 33,4%.

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