Sexta-feira

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Interferência na Petrobras dá razão a ceticismo do investidor estrangeiro sobre governo, diz Pimco

O investidor estrangeiro tem dado demonstrações de ceticismo em relação à capacidade do governo brasileiro de implantar sua agenda de reformas. E a interferência do presidente Jair Bolsonaro na Petrobras confirma que essa visão é justificável. A avaliação é de Ismael Orenstein, gestor de portfólio da Pimco para mercados emergentes.

Para o profissional, a volta do capital estrangeiro para o país que se viu nos últimos meses — e que foi interrompida nesta semana, depois do imbróglio envolvendo a Petrobras — se deu muito mais por causa da melhora do ambiente para mercados emergentes e da alta dos preços de commodities do que por fatores domésticos. Assim, cabe ao governo a tarefa de aprovar as reformas para permitir que o ambiente continue positivo, diz.

“Nossa preocupação é menos em relação ao auxílio emergencial e mais quanto ao que acontecerá após ele terminar. O país precisa enfrentar um ajuste fiscal de dimensões elevadas nos próximos anos”, diz Orenstein, em respostas enviadas por e-mail ao Valor. Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Como enxerga a decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar o comando da Petrobras e qual a repercussão que o caso ganhou entre investidores no exterior?

Ismael Orenstein: Esta decisão remete ao passado recente em que a Petrobras foi usada como instrumento do governo para implementar uma política fiscal e parafiscal, incluindo subsídio para preços de combustíveis. Como sabemos, isso teve resultados desastrosos para a empresa e para o país. Portanto, apesar das promessas do novo presidente da estatal de que seguirá uma política de preços de paridade internacional, a decisão nos preocupa em função dos riscos de maior interferência do governo no futuro.

Valor: A imagem recente do Brasil no exterior tem sido prejudicada pela questão ambiental e por alguns atos do atual governo. No entanto, houve uma volta dos fluxos estrangeiros ao país desde o fim do ano passado. O episódio da Petrobras pode mudar esse movimento?

Orenstein: De fato, a volta de fluxos estrangeiros para o Brasil tem ocorrido muito mais em função de uma melhora do ambiente para mercados emergentes e uma alta nos preços de commodities. Os investidores estrangeiros continuam céticos em relação a capacidade do governo de implantar um plano de ajuste fiscal que coloque a trajetória da dívida Brasileira num patamar sustentável. Este episódio da Petrobras é só mais um sinal confirmando que este ceticismo em relação à política econômica é apropriado.

Valor: O governo e o Congresso discutem atualmente uma nova rodada do auxílio emergencial. Os investidores domésticos já parecem ter "precificado" o pacote em sua versão atual. Como esse assunto é visto de fora?

Orenstein: Nossa preocupação é menos em relação ao formato desta nova rodada do auxílio emergencial e mais quanto ao que acontecerá após ela terminar – o país precisa enfrentar um ajuste fiscal de dimensões elevadas nos próximos anos. As medidas da PEC Emergencial, que ajudam a criar limitações automáticas nos gastos públicos, são extremamente importantes nesse contexto para dar alguma credibilidade que este ajuste ocorrerá no futuro.

Valor: O Copom deve iniciar, nas próximas reuniões, um ciclo de aperto da Selic, em um momento de inflação alta, mas também de atividade fraca. Em sua avaliação, qual desses fatores o Copom deveria dar maior peso no encontro de março?

Orenstein: De fato, apesar do Copom já ter sinalizado que iniciará um processo de normalização das condições monetárias este ano, existe uma preocupação de que a economia já esteja em desaceleração e portanto o Banco Central poderia esperar até maio ou depois para começar o ciclo de alta de juros. Porém, caso seja confirmada uma nova rodada de auxílio emergencial, como nos parece mais provável, esse risco de recuperação em ‘W’ na economia se reduz bastante. O mercado já está precificando uma alta na reunião de março, o que parece em linha com esta visão.

Valor: Um retorno da Selic para 4% seria suficiente para levar o câmbio para um nível compatível com seus fundamentos?

Orenstein: Certamente o nível de taxas de juros influencia o comportamento da moeda. O real tem tido uma das piores performances entre moedas emergentes e achamos que o fato do Brasil ter mantido juros reais negativos ao mesmo tempo em que teve uma significativa piora na sua posição fiscal contribuiu para isso. A moeda nos parece bastante desvalorizada quando comparada a padrões históricos em relação a preços de commodities ou percepção de risco-Brasil. Um ajuste na Selic, que coloque a taxa de juro real em níveis mais próximos de outros países emergentes de risco semelhante, deveria ajudar na convergência da moeda de volta para estes padrões.

Valor: O ano de 2021 começou com a concretização da onda azul nos Estados Unidos e a volta do trade de reflação. Aqui, o BC tem discutido que o efeito de uma eventual retirada dos estímulos pelo Fed é incerta para o Brasil, uma vez que ele ocorre também em momentos de maior pujança da economia americana (e chinesa, desta vez), que costuma ter efeito positivo para os ativos emergentes, pró-cíclicos. Em sua avaliação, que lado pode predominar no caso brasileiro?

Orenstein: Com certeza um aperto nas condições financeiras globais teria um impacto negativo para o Brasil (e para demais emergentes), mas o principal fator para os ativos brasileiros continua sendo a direção da política econômica e a capacidade (ou não) do governo de implantar um plano de ajuste fiscal de médio/longo prazo.

Valor: O senhor acredita que a alta dos yields das Treasuries, em um momento em que o Tesouro tem atuado para encurtar a dívida, pode trazer dificuldades de financiamento para o Brasil e/ou reviver a discussão de dominância fiscal?

Orenstein: Não. O Brasil tem bastante espaço para aumentar financiamento externo (em USD) se assim o desejar. Apesar da rápida alta recente das Treasuries, elas continuam ainda em níveis bem baixos. De qualquer forma, tudo depende da política econômica/fiscal do governo nos próximos meses. Não acreditamos em dominância fiscal no momento mas, em um cenário de rápida deterioração fiscal ao mesmo tempo em que o BC inicia um ciclo de alta de juros, esta discussão deveria voltar à tona.

 

Recursos de nova linha da Caixa serão usados rapidamente, diz Guimarães

A Caixa começa a oferecer na próxima semana uma linha de crédito imobiliário atrelada à poupança. Num ambiente de Selic baixa, a modalidade tende a ser mais barata para o mutuário que o financiamento convencional corrigido pela taxa referencial (TR). Para o banco, as vantagens esperadas são ampliar as concessões e equalizar o funding e a remuneração.

A instituição reservou um orçamento inicial de R$ 30 bilhões para a nova linha, e a expectativa do presidente da Caixa, Pedro Guimarães, é que os recursos sejam consumidos em poucos meses num mercado que está aquecido. “O preço [dos imóveis] ainda não aumentou e as taxas de juros nunca estiveram tão baixas. É um momento único”, disse ao Valor.

A Caixa vai cobrar spread de 3,35% a 3,99% ao ano mais TR (atualmente, zerada) mais a correção da poupança. Com isso, as taxas finais para o tomador ficarão entre 4,75% e 5,39% ao ano, dependendo do perfil e do relacionamento do cliente com o banco.

A linha convencional hoje tem taxas a partir de TR mais 6,25% ao ano. Simulação feita pela Caixa indica que a modalidade corrigida pela poupança é vantajosa mesmo que a Selic suba até 5% ao ano — acima, portanto, do patamar previsto por economistas para a taxa básica no fim de 2021. A linha poderá ser usada para aquisição, construção e reformas e terá prazo de até 420 meses.

Para Guimarães, o formato é positivo porque associa a captação e os financiamentos ao mesmo indexador. “Quando você liga os dois lados, é muito melhor e gera um spread claro”, afirmou.

Com o lançamento, a Caixa segue os passos do Itaú Unibanco e do Inter, que começaram a oferecer financiamento atrelado à poupança no ano passado.

A modalidade corrigida pela poupança é o passo mais recente de uma série de produtos imobiliários lançados pelo banco estatal desde 2019. Naquele ano, a Caixa começou a oferecer financiamentos corrigidos pela variação da inflação, que atualmente representam 20% da originação.

Posteriormente, a instituição colocou na prateleira linhas prefixadas, mas estas têm sido menos demandadas num contexto de Selic nas mínimas históricas.

Segundo Guimarães, o banco tem apetite e espaço para crescer na nova linha, já que tem uma base de R$ 400 bilhões na poupança, e as operações imobiliárias apoiadas nesse funding representam metade disso. O executivo indicou que a carteira habitacional da Caixa deve crescer pelo menos 15% em 2021, depois de ter avançado 28,8% no ano passado, quando chegou a R$ 509 bilhões. Dois terços do correspondem a crédito com funding do FGTS para moradia popular.

“Nosso objetivo é manter a participação no mercado [de crédito imobiliário com recursos da poupança] acima de 40% em 2021”, disse o executivo mais cedo em “live” promovida pelo banco. Guimarães afirmou que os números das primeiras semanas do ano indicam que será possível bater novo recorde na originação de crédito em 2021.

A produção cresceu 50% em janeiro e sinaliza um aumento de 40% em relação ao mesmo período de 2020. O executivo disse que as novas contratações devem ultrapassar R$ 120 bilhões neste ano depois de terem alcançado R$ 116 bilhões no ano passado.

 

Petrobras e vacina levam ASA a reduzir previsão do PIB a 2%

O atraso na vacinação e o aumento da incerteza política após a interferência do governo na Petrobras vão reduzir o crescimento econômico em 2021, na avaliação do ASA Investments. Em relatório divulgado ontem, a instituição informa que passou a projetar expansão de 2% para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano, ante 2,4% anteriormente.

O desempenho da economia em 2022 também será afetado na visão do grupo de investimentos, que revisou a estimativa para o próximo ano de 2,1% a 1,8%. O novo cenário da equipe econômica do ASA inclui uma recessão técnica - quando o PIB cai por dois trimestres seguidos - no primeiro semestre deste ano.

A expectativa é que a economia recue 0,8% de janeiro a março na comparação com os três meses anteriores, feitos os ajustes sazonais. “E o segundo trimestre agora deverá também ser negativo (-0,3%), impactado pela demora da vacina e aperto das condições financeiras, que operam com defasagem de três a seis meses”, afirmam os economistas.

A instituição que tem como diretor o ex-secretário do Tesouro Carlos Kawall lembra que, em outubro, já alertava sobre a possibilidade de redução do PIB também neste ano.

Naquele momento, diz o ASA, essa ideia soava como exagero, mas agora parece, ao menos em parte, algo próximo de ser confirmado. “Ser mais pessimista no Brasil sempre pagou bem, pois você pode contar com que a (in)competência do poder público estará, na maior parte do tempo, do seu lado”, diz o departamento econômico do ASA.

Além da omissão do governo em relação às vacinas, que já colocava um viés de baixa sobre o crescimento, os economistas destacam o impacto da maior incerteza política nas condições financeiras como outro fator que levou à revisão nas projeções de PIB.

Desde a sexta-feira passada, observam os economistas do ASA, a decisão do governo de trocar a presidência da Petrobras jogou os preços de ativos brasileiros em seu pior patamar desde novembro do ano passado.

Segundo eles, é “lamentável que haja, aparentemente, tão pouco conhecimento por parte dos governantes e classe política de como os movimentos do mercado, via condições financeiras, se transmitem para o setor real da economia e afetam o crescimento econômico e o nível de emprego”.

Este também deve ser o impacto da vacinação “morosa” sobre a atividade, comentam os analistas. A observação de países mais avançados no processo de imunização mostra que a queda nos casos é lenta, ressaltam eles. Assim, dizem, medidas de distanciamento podem ser necessárias no Brasil no segundo trimestre ou, eventualmente, até ao longo dos dois trimestres seguintes, se a vacinação atrasar ainda mais.

O aumento da percepção de risco, de acordo com a equipe econômica liderada por Kawall, deve depreciar ainda mais a taxa de câmbio, apesar da situação favorável das contas externas. Por isso, o ASA elevou a projeção para a cotação média do dólar em 2021, de R$ 5,15 para R$ 5,40. Sem contrapartida de valorização do real, a alta das commodities e pressões de preços industriais devem levar a inflação a estourar a meta neste ano, aponta o ASA.

A instituição passou a prever alta de 4% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021, 0,5 ponto percentual acima do número anterior. No começo deste ano, observam os economistas, a avaliação era que a retomada econômica mais lenta adiaria o ciclo de alta da Selic para 2022.

Essa percepção, no entanto, estava errada, ponderam eles, uma vez que a deterioração das expectativas inflacionárias conduziu o Banco Central a sinalizar que a normalização da política monetária terá início provavelmente no mês que vem. “

Com o balança pendendo mais para o lado da incerteza e menos para o lado da vacina, optamos em fazer nova modificação no cenário econômico brasileiro, combinando mais inflação, menos crescimento e juros mais altos”, afirma a equipe econômica do ASA, que ajustou a projeção para a Selic ao fim de 2021 de 3,5% para 4% anuais.

 

FOLHA

Brasil tem espaço para novo auxílio emergencial 'bem modesto', diz Fitch

A agência de classificação de risco Fitch avalia que a situação fiscal do Brasil é difícil, mas que há espaço para a criação de um novo e "bem modesto" auxílio emergencial.

Em evento realizado pela agência nesta quinta-feira (25), Shelly Shetty, diretora da Fitch Ratings para as Américas, afirmou também que ainda é cedo para dizer se a intervenção do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Petrobras representa uma mudança na direção da política econômica, mas que a interferência não é um bom sinal para os investidores.

Sobre a possibilidade de o país ter uma melhora na sua nota de crédito, a avaliação é que isso dependerá, principalmente, do andamento da agenda de reformas.

“Há algum espaço para absorver um pacote de emergência bem modesto. Isso dito, o que vai ser a chave para a classificação futura será a perspectiva de reformas”, afirmou Shetty.

Em relação ao auxílio emergencial em discussão no Congresso e no Executivo, ela lembrou que ainda não se sabe quais os valores envolvidos, mas que a sinalização é que eles serão bem inferiores aos gastos de 2020, e que não será algo suficiente para causar preocupação em relação à trajetória da dívida pública.

Shetty disse que só recentemente, particularmente nesta semana, houve alguma ênfase do governo na agenda de privatizações, com a entrega dos projetos que tratam da Eletrobras e dos Correios ao Congresso, na sequência dos problemas causados pelas mudanças na Petrobras.

“Não é um bom sinal”, afirmou Shetty ao responder uma série de questões sobre a Petrobras.

Para a executiva, o episódio mostrou que o Brasil pode estar propenso a dar um passo para frente e dois para trás. “Se é uma mudança para uma nova direção política, ainda é cedo para dizer”, afirmou. “Temos que monitorar os próximos passos.”

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