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BNDES acelera projeto de saneamento no Nordeste e prevê R$ 15,5bilhões

Na esteira do leilão de concessões de água e esgoto da região metropolitana de Maceió (AL), cuja arrecadação somou R$ 2 bilhões, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem mais quatro projetos de saneamento no Nordeste previstos para chegar ao mercado entre o quarto trimestre deste ano e o último de 2022. O cronograma inclui a licitação de concessões na Paraíba e em mais dois blocos de municípios em Alagoas, além de uma Parceria Público-Privada no Ceará.

O investimento total estimado é de R$ 15,5 bilhões, e a população beneficiada, de 8,28 milhões de habitantes. Só os investimentos projetados para a PPP dos serviços de coleta e tratamento de esgoto em 23 municípios cearenses totalizam R$ 8,6 bilhões. A previsão é de que o leilão ocorra ainda este ano, entre outubro e dezembro.

Dados do Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS) indicam que em 2019 pouco mais de um quarto da população cearense era atendida por rede de esgoto. A opção por uma PPP em vez de uma licitação das concessões de serviços de coleta e tratamento de esgoto levou em consideração uma análise técnica dos indicadores de saneamento, inclusive o acesso da população à água potável, explica Fábio Abrahão, diretor de Infraestrutura, Concessões e Parcerias Público-Privadas do BNDES.

Em Alagoas, outros dois blocos de municípios - além das 13 cidades da região metropolitana incluídas na licitação de setembro - deverão ter concessões leiloadas no primeiro trimestre de 2022, conforme a programação da BNDES. “O ‘efeito demonstração’ vale muito. Todo mundo olha Alagoas e diz: ‘Quero ter igual’”, resume Abrahão. Juntos, os novos blocos somam 89 municípios.

A injeção de recursos é estimada em R$ 2,9 bilhões. Sócio do escritório Giamundo Neto Advogados, Luiz Felipe Graziano destaca a percepção positiva do mercado a respeito da participação da estatal Sabesp (consorciada à Iguá Saneamento) no leilão de Alagoas. “Foi um indicativo muito interessante. Abriu a perspectiva para novos players [participantes]”, opina o advogado. Fundos de investimento buscam operadores privados de menor porte e até empresas estaduais bem administradas para entrar na disputa por concessões, conta Graziano.

A modelagem do processo de entrada da iniciativa privada nos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário está na fase inicial na Paraíba, com a contratação de consultores. “Estamos fechando a contratação com o BNDES, que vai estruturar um projeto nessa importante área da infraestrutura do Estado”, disse o governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania).

Em nota, ele esclareceu que o BNDES trabalhará em conjunto com a Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba (Cagepa) para apresentar “a melhor alternativa” de recursos, em parceria com a iniciativa privada. O alcance inicial estabelecido para o projeto é de 96 municípios.

A Cagepa presta serviços na maior parte (81,2%) dessas cidades. Pelas contas do BNDES, serão beneficiados 2,2 milhões de habitantes, o equivalente a 55% da população da Paraíba. Na região Norte, o banco de fomento conversa com os governos de Rondônia e Roraima. Em Rondônia, está em discussão o modelo de contrato que seria assinado entre o BNDES e o Estado - fase anterior à da modelagem. Também estão em estágio inicial as negociações com Roraima. Pelo menos até o fim de janeiro havia a expectativa de o governo baiano licitar concessões da Empresa Baiana de Água e Saneamento (Embasa).

Segundo apurou o Valor, o governo estadual comunicou sua desistência ao BNDES. Por e-mail, a Secretaria de Infraestrutura Hídrica e Saneamento (SIHS) da Bahia informou que estuda “a melhor modalidade de contratação para os estudos das concessões dos serviços de saneamento básico.” Previsto para o segundo trimestre deste ano, o leilão no Acre foi cancelado porque o Estado desistiu de ofertar a concessão plena de seus serviços de saneamento básico.

 

Juro real volta a ficar acima de zero após quase 1 ano em terreno negativo

Depois de ter se firmado em terreno negativo por quase um ano, a taxa de juro real voltou a ficar acima de zero de forma consistente. Cálculo do Valor Data a partir do contrato de swap de juro de 360 dias, descontada a projeção de inflação de um ano, extraída do Boletim Focus, aponta para uma taxa real de 0,29%.

Na semana passada, inclusive, o juro real chegou a 0,54%, maior nível desde 23 de março de 2020. O aumento do juro real vem na esteira de um processo de alta dos juros futuros diante do aumento dos riscos fiscais e das expectativas de inflação no Brasil, além do salto dos rendimentos dos Treasuries.

Nesta segunda, o juro real americano medido pelas TIPS de dez anos chegou a -0,62%, após ter alcançado o nível de -1,08% no início deste ano. “Está claro que os fundamentos econômicos domésticos não se mostram suficientemente robustos para absorver possíveis impactos de uma conjuntura global que começa a se desenhar menos benigna que o imaginado até há pouco tempo.

Se a alta da Selic já era inevitável diante das nossas fragilidades internas, o quadro externo agora não apenas requer uma taxa básica mais elevada, como também que esse movimento seja iniciado pelo Copom imediatamente”, diz o economista-chefe da Porto Seguro Investimentos, José Pena, que projeta a taxa Selic em 5,5% no fim deste ano.

Em relatório enviado a clientes, Pena destaca que antes o cenário básico da Porto Seguro envolvia o juro básico em 4,5% no fim do ano. A elevação na projeção da casa para a Selic é “fruto de um câmbio que se mostrará mais persistentemente depreciado ao longo do ano (resultado de nossos problemas domésticos e da força do dólar em escala global), o que, por sua vez, manterá a inflação sob risco de exceder o centro da meta estabelecida para este e para o próximo ano”, diz.

A piora recente do cenário inflacionário e as expectativas de inflação acima do centro da meta em 2021 justificam a expectativa de um processo mais firme de normalização da política monetária, avalia o economista-chefe da Occam, Paulo Val. “Nas últimas semanas, tivemos surpresas inflacionárias consistentes e que justificam a antecipação do processo de alta de juros para março”, afirma. A gestora carioca elevou sua projeção para a Selic no fim deste ano de 5% para 5,5%.

“Existe a necessidade do processo de normalização. O cenário inflacionário já não justifica uma taxa tão estimulativa assim”, diz Val, que espera que o IPCA termine este ano em 4,5%. Assim, o juro real esperado no fim do ano é de 1%, que, na visão da Occam, ainda está em nível estimulativo.

“Nossa estimativa de juro real neutro é em torno de 2,5%. Então precisaríamos de juros ainda mais altos para chegar nesse nível. Vamos caminhar para isso aos poucos, até porque, em função da fragilidade da economia, é natural que a autoridade monetária seja um pouco mais cautelosa neste momento.”

Ao projetar o IPCA em 4,5% neste ano, Val nota que a inflação está se aproximando do teto da meta. “Ainda existe uma distância, mas o atual cenário não justifica o grau extraordinariamente estimulativo da política monetária”, diz.

O economista observa, ainda, que os segmentos de inflação mais pressionados são pouco sensíveis às medidas de isolamento social que têm sido impostas novamente. Assim, mesmo que haja perda de renda das pessoas, segmentos como alimentos e bens duráveis dão alguns sinais de superaquecimento, afirma.

No momento em que a pandemia deve ter impacto sobre a atividade econômica, diante de medidas de restrição impostas recentemente, há um obstáculo ao processo de normalização da política monetária, o que sugere que o juro real deve continuar abaixo do nível neutro mais à frente. É o que aponta o diretor de pesquisa econômica da Pezco, Helcio Takeda.

Ele, contudo, avalia que, apesar da fraqueza da atividade, o Copom deve dar início neste mês às altas de juros para evitar desancorar as expectativas de inflação. “O fato de a inflação corrente estar pressionada e o risco de as expectativas começarem a se distanciar da meta fazem com que a taxa de juro real precise ficar mais próxima do neutro no curto prazo”, afirma Takeda.

Para ele, porém, o nível de juro real que será atingido no fim do ano dependerá muito do início do processo de normalização. “Na nossa leitura, o BC deveria começar já neste mês para evitar que seja preciso um ajuste mais forte do que o necessário no futuro e, eventualmente, o BC conseguirá manter o juro real ex-ante levemente abaixo do neutro”, diz.

 Para Takeda, a demora em começar o processo de alta da Selic poderia, eventualmente, manter o nível dos juros abaixo do que seria ideal no curto prazo, o que, portanto, demandaria uma taxa de juro real maior mais à frente

 

Risco de polarização política derruba mercados após decisão de Fachin

O risco de um novo cenário de polarização política, que poderia levar o governo a adotar medidas mais populistas de olho na eleição de 2022, derrubou os mercados financeiros nesta segunda-feira. Em um movimento considerado forte por gestores e analistas, o Ibovespa chegou a cair mais de 4% nas últimas horas do pregão, enquanto o dólar e os juros futuros dispararam. O dólar comercial fechou o dia negociado em alta de 1,70%, a R$ 5,7788, enquanto o Ibovespa encerrou o primeiro pregão da semana com queda de quase 4%.

Com a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, de anular todas as decisões contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva julgadas em Curitiba, o petista recobra seus direitos políticos. “Aumentou o risco de dois cenários binários. No curto prazo, Jair Bolsonaro pode ter a tendência de ficar mais populista para se viabilizar para 2022.

Com isso, uma hora ou outra, (o ministro da Economia, Paulo) Guedes pode deixar o governo”, alerta um gestor. O outro cenário seria de médio prazo, na qual a disputa eleitoral de 2022 arriscar repetir a de 2018, “que já foi binária como a de 2014”, acrescenta.

Para o economista Silvio Campos Neto, da Tendências, a turbulência política já estava na conta, mas o risco de Lula se tornar elegível torna o quadro ainda mais tenso. “O mercado sempre vai reagir mal ao aumento do risco de o PT voltar”, diz o profissional.

“Além disso, creio que é um cenário que reforça a polarização e dificulta uma terceira via”, acrescenta. De fato, o grande risco comentado no mercado neste momento é o de polarização política, que poderia respingar na área econômica, embora nada esteja claro sobre os desdobramentos da situação.

De qualquer maneira, em momentos de incerteza, o mercado foge do risco. “Acho que, neste momento, o mercado está refletindo a incerteza da situação. Não sabemos neste momento quais seriam o desdobramentos. Imagino que com o Lula voltando para o cenário politico, os ataques ao governo vão crescer e, pelo momento delicado que enfrentamos, Bolsonaro tem risco de avançar ainda mais no populismo. Ou seja, para os mercado, o clima é muito ruim”, diz outro gestor.

Vladimir Vale, estrategista-chefe do Crédit Agricole no Brasil, concorda que a eventual volta de Lula ao páreo diminui as possibilidades de uma alternativa centrista nas eleições presidenciais de 2022, mas ressalta que ainda “é muito cedo para falar qualquer coisa mais concreta" sobre o que a decisão do magistrado representa para as eleições e para o sistema político.

“O mais importante para o mercado é que essa notícia pode trazer mais dificuldade para a agenda de reformas, podemos ter uma guinada política na condução da política econômica do governo”, diz o analista.

Para Vale, o mercado tem a percepção de que Lula se “radicalizou” nos últimos anos. “A visão é de que o Lula mudou em relação aos seus outros mandatos, quando o mercado podia conviver com ele”, argumenta o profissional.

Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos, vê no caso uma antecipação de “uma discussão que provavelmente só teria mais força no segundo semestre, que é a eleição de 2022”, e reforça a preocupação com o andamento da agenda de reformas. “No nosso cenário político, sempre tem motivo para não engrenar medidas econômicas, e parece que, com essa notícia sobre o Lula, temos mais uma lombada nessa trajetória”, afirma.

Para ela, a reação negativa nos mercados brasileiros deve-se à incerteza política que representa a retomada dos direitos políticos do petista. Os analistas da XP Política, por outro lado, observaram aspecto diferente: a de que a ação de Fachin pode ter sido uma decisão estratégica para tentar preservar os demais casos da Lava Jato.

Para eles, a postura de Fachin evita que fosse decretada a suspeição do ex-juiz Sergio Moro. Assim, tudo o que foi feito pela Lava Jato de Curitiba em relação a Lula seria anulado. Uma das consequências esperadas dessa decisão é a redução da pressão sobre Moro e sobre os procuradores da Lava Jato, acrescentam.

De acordo com os analistas, Fachin busca retomar a relatoria dos casos da Lava Jato que foi virtualmente dividida com o ministro Ricardo Lewandowski após o pedido da defesa que resultou no acesso do ex-presidente às mensagens roubadas dos celulares dos procuradores.

Fachin vinha buscando há semanas uma forma de retomar o controle sobre os processos, dizem. Eles afirmam que a decisão é definitiva em habeas corpus pedido pela defesa de Lula. “Para que seja analisada pelo plenário é preciso que o Procurador-geral da República recorra da decisão”. A PGR já anunciou que vai recorrer.

 

Estrangeiros retiram R$ 3,5 bilhões da B3 nas primeiras sessões de março

A saída de capital externo da bolsa brasileira continua no mês de março e reduz o saldo positivo acumulado em 2021. Os investidores estrangeiros retiraram R$ 3,558 bilhões do mercado secundário da B3 (ações já listadas) em quatro sessões até o último dia 4, de acordo com dados mais recentes divulgados pela bolsa.

Os não residentes sacaram capital da bolsa em três das quatro sessões do mês. Somente no dia 1º, houve entrada de R$ 65 milhões. Já nos dias 2, 3 e 4, as saídas foram de R$ 1,545 bilhão, R$ 1,188 bilhão e R$ 889,4 milhões, respectivamente. Apesar desse movimento negativo, que tem ocorrido desde as últimas semanas de fevereiro, o saldo do capital externo no ano ainda é superávitário, em R$ 13,214 bilhões.

No dia 4, o investidor pessoa física sacou R$ 247,4 milhões na B3. Assim, o saldo no mês é positivo em R$ 952,2 milhões e segue positivo no ano, em R$ 17,199 bilhões. Já o investidor institucional ingressou com R$ 987,8 milhões na B3 naquele dia. No mês, o saldo está positivo em R$ 1,869 bilhão e, no ano, negativo em R$ 19,838 bilhões.

 

Alta da Selic terá pouco ou nenhum efeito sobre o câmbio, diz Pastore

O ciclo de alta de juros que o Banco Central cogita começar em breve “deverá ter pouco ou nenhum efeito sobre o real”, conclui estudo da A.C. Pastore & Associados, do economista Affonso Celso Pastore. Com o rigor de ferramentas quantitativas, ele entra na polêmica sobre o acerto - ou erro - de fazer um forte movimento na Selic para tentar conter a depreciação da taxa de câmbio, como prega uma corrente do mercado financeiro.

“Nas condições atuais da economia brasileira, uma valorização do real somente ocorrerá com uma consolidação fiscal que ainda não está à vista, o que significa que o Brasil deverá continuar convivendo com o real fraco”, diz o estudo.

O dólar perdeu cerca de 10% de seu valor ante outras moedas importantes do mundo a partir do período entre abril e maio do ano passado, de acordo com o chamado “Dollar Index” (DXY), que acompanha o desempenho da moeda americana em relação ao euro, iene, libra, dólar canadense, dólar australiano, coroa sueca e franco suíço.

É o reflexo da forte expansão monetária pelo Federal Reserve (Fed) nos Estados Unidos, com a redução dos juros para abaixo de 0,25% ao ano, compra de mais de US$ 2 trilhões em títulos do Tesouro e relaxamento das metas de inflação e emprego, que criam a perspectiva de um longo tempo de condições estimulativas.

Esse ambiente favorece os fluxos de capitais dos EUA para outros países, levando ao enfraquecimento do dólar em relação às demais moedas. O estudo diz que, em condições normais, o enfraquecimento do dólar deveria contribuir para valorizar também o real ou, pelo menos, atenuar a sua desvalorização.

Foi o que aconteceu no Brasil de 2008 a 2014, quando o país ainda colhia os frutos das políticas macroeconômicas mais sólidas que levaram ao grau de investimento. Até 2012, o país cumpria as suas metas de superávit primário voltadas a reduzir a dívida pública. Nesse período, a atração de capitais ao Brasil superava o déficit em contas correntes e produzia superávits no balanço de pagamentos.

Mas não é o que se observa ultimamente. “A exemplo do ocorrido com as moedas de outros países em crise, como Argentina, Turquia e Rússia, o real não respondeu ao enfraquecimento do dólar”, diz o relatório. Essa mudança de padrão tem levado setores do mercado financeiro a dizer que a responsabilidade é dos juros historicamente baixos no Brasil, em 2% ao ano, que alimentam a depreciação cambial.

Muitos pregam um aperto mais forte de juros para estabilizar a cotação do dólar em relação ao real. Pastore disse ao Valor, em reportagem publicada ontem, que, dado o quadro inflacionário mais geral, o BC deve iniciar um ciclo de alta de juros “para mostrar que está comprometido com a meta de inflação e em não repetir o erro cometido em 2011, quando desancorou as expectativas [de inflação] e custou caro em termos de produto”. Mas ele manifestou preocupação com as pressões do mercado para uma alta forte e acelerada.

“Se for para subir os juros para baixar o câmbio, acho um erro, vai impor uma desaceleração adicional à economia”, afirmou Pastore. “Se tem que começar a subir, vai devagar, deixando contingente aos dados.”

A consultoria de Pastore comparou, com ferramentas matemáticas e estatísticas, o comportamento das moedas de 20 países emergentes e desenvolvidos com o Dollar Index. No levantamento, conseguiu identificar quatro grupos de países com padrões diferentes entre si.

Tem um grupo com desempenho mais positivo, com uma breve depreciação com a pandemia, mas que logo voltaram ao padrão anterior, com uma apreciação de suas moedas mantendo a relação histórica com o DXY.

Esse grupo inclui dois países que fazem parte do DXY (Canadá e Austrália) e outros seis que não fazem parte (Coreia do Sul, Croácia, Lituânia, Polônia, República Checa e Nova Zelândia). Um segundo grupo teve uma forte depreciação, seguida de uma apreciação cambial. Mas, embora o enfraquecimento do dólar tenha levado a um fortalecimento dessas moedas, elas ficaram persistentemente depreciadas em relação ao padrão anterior.

Ainda assim, após esse deslocamento da taxa de câmbio, as moedas continuam a responder mais ou menos da mesma forma ao Dollar Index. Fazem parte do grupo África do Sul, Chile, Colômbia, Hungria, Índia e México E há um terceiro grupo (do qual o Brasil faz parte, ao lado de Rússia e Turquia) que tem uma forte depreciação, que não se reverte mais tarde, nem mesmo parcialmente.

“Antes da pandemia havia uma correlação positiva entre o real e o Dollar Index, mas depois da pandemia o real passa a oscilar em torno de um valor médio estável, sem nenhuma reação ao enfraquecimento do dólar.”

O quarto grupo são os países que estão nos extremos. Dois, do lado negativo: a Argentina, com a maior crise econômica e maior depreciação; e o Peru, que enfrenta uma crise política e risco eleitoral. Do lado positivo, está a Ucrânia, que geopoliticamente afastou-se da Rússia e se aproximou da União Europeia e fez um profundo programa de reformas, que apreciou sua moeda antes da pandemia e a manteve estável no mesmo nível de 2018 durante a pandemia.

A conclusão é que, atualmente, a situação brasileira se assemelha à de Rússia e Turquia: os fluxos de capitais gerados pela expansão monetária americana preferem ir para outras economias com as contas públicas menos preocupantes. “A menos que haja uma mudança radical na condução da política fiscal, o país continuará convivendo com um real fraco”, conclui o estudo.

 

 

Governo prepara mais prazo para linhas de crédito da pandemia e novo programa

Os pedidos da iniciativa privada e o avanço da pandemia fizeram o governo começar a planejar um novo fôlego para empresários por meio do crédito. Além do aumento do prazo de pagamento das linhas de financiamento criadas durante a pandemia, um novo programa está sendo debatido.

As discussões mais avançadas são voltadas ao Pronampe (Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte), criado em maio. Os empresários que captaram recursos por meio da linha tinham originalmente uma carência de até oito meses para começar a devolver os recursos.

Como o programa só foi regulamentado em junho, a carência dos primeiros empréstimos começa a vencer agora (entre fevereiro e março). Com o avanço da pandemia e novas medidas de restrição que devem afetar o faturamento, os empresários pedem mais tempo.

A CNC (Confederação Nacional do Comércio, setor que está entre os mais afetados pelos efeitos da Covid) divulgou carta aberta ao ministro Paulo Guedes (Economia) pedindo a prorrogação, dizendo que as empresas ainda não conseguiram se recuperar das consequências da pandemia.

"A retomada não ocorreu conforme o previsto e continuamos experimentando as consequências e o agravamento da situação, com o retorno de medidas que incluem o fechamento de estabelecimentos", afirma o texto da CNC.

Alexandre Sampaio, diretor da CNC, diz que é urgente uma saída. "Estamos vendo o desastre que tem sido a política de vacinação, com as cidades fechando, e isso está jogando o comércio numa situação de inadimplência. Sabemos que ele [Guedes] está trabalhando numa saída, mas o tempo urge", disse.

A equipe econômica está estudando as alternativas e questões jurídicas para a prorrogação, mas já há o entendimento que é possível e desejável um aumento da carência do Pronampe por ao menos mais quatro meses —o que resultaria em um prazo total de 12 meses para que o início dos pagamentos.

A pasta afirma que as carências foram pensadas considerando um horizonte de retomada da atividade no começo de 2021, cenário alterado pelo recrudescimento da pandemia.

O Pronampe, destinado a micro e pequenas empresas, liberou R$ 37,5 bilhões em crédito contratado no ano passado.

Os demais programas de crédito possuem prazos maiores e, em alguns caso, é interpretado que as regras permitem renegociar as condições diretamente com os bancos. Mas, mesmo assim, a equipe econômica já cogita flexibilizações também nesses casos, dada a continuidade da pandemia.

A equipe de Guedes considera que o enfrentamento da pandemia neste ano tem como vantagem o fato de as medidas estarem prontas, e que alterações pontuais podem dar fôlego à economia sem demora sobre formulação de novas iniciativas.

Há um complicador para conceder o prazo maior nas linhas de crédito. Como as empresas já contrataram as condições junto aos bancos, adiar a carência faria com que eles perdessem parte da rentabilidade da operação ou que as empresas tenham que pagar parcelas maiores depois.

A CNC pede também que o custo não aumente para elas após a prorrogação da carência, e o governo ainda avalia a questão. Uma solução para o problema tende a avançar somente após a aprovação definitiva no Congresso da PEC Emergencial, que libera gastos públicos em caso de decretação de calamidade pública, e do Orçamento de 2021 —ainda estacionado no Congresso.

Ao todo, os programas de crédito criados na pandemia liberaram R$ 148 bilhões em créditos contratados. O principal deles foi o PEAC (Programa Emergencial de Acesso ao Crédito), voltado também a grandes empresas, com R$ 92 bilhões em operações contratadas.

Outros programas foram o Pese (Programa Emergencial de Suporte a Empregos, coordenado pelo Banco Central), o PEAC Maquininhas, o Fampe (Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas) e o BNDES Giro (do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

O governo também prevê novos programas de crédito para 2021. Neste ano, técnicos discutem um meio de os empréstimos dependerem menos de recursos públicos e terem uma parcela maior do risco assumido pelos próprios bancos.

Os números ainda estão sendo estudados, mas já se falou internamente que as garantias podem ser baixadas para patamares próximos a 30% do valor de cada operação em ao menos parte das linhas. No ano passado, em parte dos programas o Tesouro arcava com todo o risco da operação.

A pasta ainda faz as contas sobre fatores que influenciam a definição das taxas de juros dos financiamentos. No programa voltado a pequenas empresas, a avaliação é que a rodada deste ano deve ter juros mais altos, próximos a 6% ao ano, contra 3,25% ao ano do Pronampe em 2020.

Mesmo com a perspectiva de liberação de novos gastos públicos neste ano para combater as consequências econômicas da pandemia de Covid-19, a equipe econômica planeja amenizar o impacto das medidas nas contas públicas.

A equipe econômica desenha iniciativas em 2021 com uma engenharia financeira que reduza ou até mesmo descarte a necessidade de recursos do Tesouro Nacional dependendo do caso. Além do redesenho das medidas de crédito, também estão nessa lógica a limitação nas parcelas de auxílio emergencial e o uso de recursos do seguro-desemprego para o programa de manutenção de empregos.

As medidas devem passar por avaliação do Congresso. No ano passado, após pressão de parlamentares e bancos, o governo acabou cedendo e flexibilizando alguns pontos das linhas de crédito, como uma ampliação da garantia com recursos públicos. Neste ano, para evitar mudanças, a equipe econômica tenta fechar acordos políticos antes da apresentação da medida.

Em outra estratégia para dar um alívio às empresas, segue no radar do governo, ainda sem definição, a possibilidade de adiar por alguns meses o pagamento de impostos federais, assim como em 2020.

Técnicos afirmam que o ministério monitora os resultados da arrecadação de tributos e a inadimplência para avaliar a necessidade de adotar a medida.

 

Frustração com governo e risco PT afetam cenário econômico, dizem economistas

A possibilidade de um segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula nas eleições de 2022 é vista como um fator adicional de incerteza em relação ao cenário econômico brasileiro e que deve ser colocado no preço de ativos, como o dólar, e postergar decisões de investimento.

Com a volta de Lula ao debate eleitoral, a desvalorização dos ativos brasileiros passa a refletir a frustração com o atual governo somada ao risco do retorno à política econômica dos governos petistas. Essa piora poderia inclusive intensificar o ritmo da alta dos juros esperada para este ano.

Desde 2019, o câmbio brasileiro segue descolado das divisas de outros países emergentes, por conta da frustração com a ação do governo atual na área fiscal e na agenda de reformas. Esse cenário piorou desde o ano passado, com a falta de ação no combate à pandemia. Em 2021, juntou-se a isso uma postura mais intervencionista na economia por parte do presidente.

A avaliação de economistas ouvidos pela Folha é que há pouco risco de o atual presidente abandonar de vez a agenda liberal, em busca de apoio popular, neste momento. Pelo contrário, a polarização com a esquerda poderia reforçar a necessidade de resgatar os compromissos de campanha na área econômica.

Em relação a Lula, a visão é a de que a política econômica do PT continua sendo aquela adotada no segundo mandato do ex-presidente e intensificada no governo Dilma Rousseff, de mais presença do Estado na economia e mais gasto público.

“O cenário de polarização com o PT vai ser de muito estresse, mais do que foi em 2018. Lá, também houve polarização, mas o mercado abraçou o Bolsonaro. Agora a gente já viu que o Bolsonaro não é competente, então é escolha de Sofia”, afirma a economista Zeina Latiff.

“É um cenário de piora preços de ativos, de pressão cambial. Isso contamina a economia. O Banco Central pode precisar subir precocemente os juros, mesmo com a economia de joelhos. Agentes econômicos com intenção de investir no Brasil talvez fiquem em compasso de espera ou desistam.”

Zeina avalia que a decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin é positiva para Bolsonaro do ponto de vista eleitoral, pois reforça polarização com um candidato que ela avalia ser mais fácil de ser derrotado pelo atual presidente.

Também deixaria Bolsonaro mais distante de uma radicalização rumo ao populismo econômico, a não ser que a reação do mercado seja tão negativa que o presidente veja seus planos de reeleição ameaçados por uma intensificação da crise econômica.

O economista José Márcio Camargo, da Genial Investimentos, afirma que a maior preocupação neste momento é a possibilidade de que o atual presidente mude a direção da política econômica.

“Será que o Bolsonaro vai mudar de posição? Provavelmente não. A vantagem dele é justamente polarizar com o Lula, adotar uma estratégia diferente da que o Lula vai adotar, que é no sentido populista, e o Bolsonaro deve se afastar cada vez mais dessa postura”, afirma.

José Márcio diz que a trajetória do atual presidente não é a história de uma pessoa liberal, mas que deu uma guinada durante a campanha eleitoral e, atualmente, emite sinais dúbios. Por isso, os investidores ficam sempre em dúvida sobre os rumos da política econômica, que ainda assim pode se manter na trajetória atual até o final do atual mandato.

“Se o governo seguir em uma trajetória liberal até 2022 e ganhar a eleição, acho que vai continuar liberal. Não vai ter nenhuma razão para mudar. A pergunta é como fica daqui até 2022.”

José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, avalia que o governo Bolsonaro deve recuperar parte da popularidade perdida ao explorar a ressurreição do Lula como um perigo para o país, por isso, não vê necessidade de que o presidente tenha de tomar medidas populistas em busca de apoio.

Afirma também que, apesar da desconfiança com o atual presidente, os agentes de mercado ainda preferem Bolsonaro a Lula, embora ainda esperem por um candidato de centro que possa se mostrar competitivo em 2022.

Enquanto isso, avalia, o cenário será de mais estresse que tendem a agravar a atual crise econômica.

“Em qualquer caso, é mais incerteza. Isso significa que tem mais um ‘driver’ que trava o patamar dos preços dos ativos brasileiros próximo ao nível atual. Acho difícil a Bolsa voltar àquele otimismo que estava tendo. O dólar é a mesma coisa. Isso já estava acontecendo, mas vai ficar mais consistente. Esse movimento consolida esse patamar mais alto, talvez não R$ 5,80, mas esse R$ 5,70 teria vindo para ficar”, afirma.

Segundo José Francisco, com isso, a pressão em cima do Copom (Comitê de Política Monetária), que se reúne na próxima semana, será para começar o ciclo de aumento de juros levando a taxa de 2% para até 2,75% ao ano e chegar a algo próximo de 5%, 5,5% no final deste ano.

 

Expectativa para inflação neste ano no Focus se aproxima de 4%, com real mais desvalorizado

A expectativa do mercado para a inflação neste ano se aproximou de 4% em meio a um real mais desvalorizado, ao mesmo tempo em que a projeção subiu para a taxa básica de juros em 2022 na pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira (8) pelo Banco Central.

O levantamento semanal apontou que a expectativa para a alta do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) este ano subiu pela nona semana seguida e chegou a 3,98%, de 3,87% na semana anterior. Assim, permanece acima do centro da meta oficial, que é de 3,75%.

Para 2022 a conta para a inflação permanece em 3,50%, exatamente o objetivo. Para ambos os anos a margem de tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

Em relação ao câmbio, os especialistas consultados passaram a ver o dólar a R$ 5,15 ao final de 2021, contra R$ 5,10 antes. Para o ano que vem a taxa subiu a R$ 5,13, de R$ 5,03.

O cenário para a taxa básica de juros permaneceu em 4% ao final deste ano, mas para 2022 a Selic passou a ser calculada em 5,50%, de 5% no levantamento anterior.

Para o PIB (Produto Interno Bruto), a estimativa de crescimento este ano caiu 0,03 ponto percentual, a 3,26%, e 0,02 ponto para 2022, a 2,48%.

 

Tendência para a economia é de turbulência até 2022, diz economista

A economia brasileira, atingida pela pandemia e pelo avanço lento na agenda de reformas, pode ficar mais desgastada caso haja acirramento da polarização entre Lula e Bolsonaro. Essa é a avaliação de Silvio Campos Neto, sócio da consultoria Tendências, sobre a decisão do ministro do Supremo Tribunal  Federal (STF) Edson Fachin que anula as condenações do ex-presidente Lula.

A notícia mexeu com os mercados, levando a Bolsa a uma queda de mais de 3% e o dólar a atingir a maior cotaç do ano, de R$ 5,77.

Do ponto de vista econômico, quais são os efeitos da decisão do ministro Edson Fachin?

Há preocupação com um sucesso eleitoral do ex-presidente Lula, dado que o grupo político que o apoia tem uma visão econômica bastante heterodoxa, crítica às reformas trabalhista e da Previdência, ao teto de gastos. O segundo foco de preocupação é com a polarização, que pode dificultar o surgimento de uma terceira via, que aos olhos do mercado seria uma saída mais interessante.

Isso pode inviabilizar a aprovação de reformas como a tributária e a administrativa?

São reformas complicadas, que envolvem engajamento do governo e convencimento da sociedade. Um próximo governo Bolsonaro teria as mesmas dificuldades políticas que vemos hoje, e um eventual governo Lula teria dificuldades porque é um grupo político que tem como base de apoio, por exemplo, movimentos ligados ao funcionalismo público, resistentes a uma reforma administrativa. Na reforma tributária, há disputas entre setores da economia, entre regiões. A dificuldade maior é coordenar politicamente tudo isso.

Em um cenário de polarização com Lula, Bolsonaro pode expandir o gasto público?

Há duas possibilidades, a de ser mais populista e ter aumento de gastos no momento em que a pandemia ainda exige um suporte maior, mas também a de eventualmente tentar se diferenciar do que seria uma gestão petista.

Qual o cenário econômico para os próximos dois anos?

A tendência claramente é de turbulência. Temos ainda um ano difícil de pandemia pela frente. No ano que vem, o cenário é de preocupações eleitorais. 


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