Sexta-feira

TRIBUNA DO NORTE

RN perde condição perante o Tesouro para obter aval a empréstimos

Com a redução da quantidade de Estados aptos a tomarem empréstimos com garantias da União, o Tesouro Nacional divulgou nesta quinta-feira, 20, o primeiro boletim anual de Finanças Públicas dos Entes Nacionais. O número de Estados com nota de rating B - que os credencia ao aval do Governo Federal - caiu de 16 no ano passado para 14 neste ano. Entre os que perderam essa condição está o Rio Grande do Norte.

Para conferir o rating a cada Estado e ao Distrito Federal, o Tesouro leva em conta a capacidade de pagamento dos governos regionais, considerando seus níveis de endividamento e o custo do serviço de suas dívidas. Conceitos A e B sinalizam um risco de crédito baixo e médio, respectivamente.

Novamente, nenhuma Unidade da Federação conseguiu nota A nessa escala. Dentre as 14 Unidades da Federação que estão aptas a receberem o aval da União, 11 têm notas B-, sendo elas Amazonas, Amapá, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Mato Grosso, Maranhão, Pernambuco, Paraná, Rondônia e Tocantins. Com nota B estão Espírito Santo e Roraima. E o Pará continua tendo a melhor nota, com B+.

Do ano passado para agora, apenas três estados melhoraram seus ratings junto ao Tesouro. Alagoas e Mato Grosso do Sul passaram de D+ para C-, enquanto o Paraná subiu de C+ para B-.

Por outro lado, dez Unidades da Federação pioraram suas notas. Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte inclusive saíram do rol de Estados aptos a receberem aval da União, com seus ratings passando de B- para C+. "Queda na arrecadação, elevação do serviço da dívida e aumento da despesa de pessoal são os possíveis responsáveis pela piora da situação financeira", avaliou o Tesouro no documento.

De acordo com o boletim, o Estado do Rio de Janeiro, que enfrenta grave crise fiscal e inclusive precisou que o Tesouro cobrisse o pagamento de uma dívida de quase R$ 1 bilhão garantida pela União neste ano, continuou com nota D.

Os ratings de Rio Grande do Sul e Minas Gerais, que também têm passado por problemas de caixa, passaram de D+ em 2015 para D neste ano. Já o rating do Estado de São Paulo ficou estacionado em C-.

Alerta

O alívio trazido pela renegociação da dívida dos Estados com a União "deverá ser temporário", e a situação de insolvência pode retornar caso os governos estaduais não promovam ajuste em suas contas, mostra o Boletim de Finanças Públicas dos Entes Subnacionais do Tesouro Nacional. O acordo, firmado em junho, terá impacto de R$ 50 bilhões nos cofres da União neste e nos próximos dois anos.

"Caso os Estados não ajustem suas contas agora, estes se encontrarão no mesmo quadro de insolvência de antes e a renegociação perderá o seu sentido. O intuito do acordo foi o de conceder um alívio financeiro no momento atual para que os estados ajustem suas contas, criando mecanismos de contenção de gastos", diz o relatório.

O acordo concedeu um desconto de 100% nas parcelas até o fim do ano, limitado a R$ 500 milhões por mês para cada ente. A partir de janeiro de 2017 até junho de 2018, haverá um abatimento decrescente, até o retorno do pagamento integral do serviço da dívida. O boletim mostra que, neste momento, as contas dos Estados ficarão oneradas novamente, por isso a necessidade de promover ajustes nas finanças regionais.

A despesa mais alarmante nos Estados é com pessoal ativo e inativo. Segundo o boletim do Tesouro, a partir de dados de 2015 oito Estados estavam desenquadrados da meta do Programa de Reestruturação e Ajuste Fiscal (PAF). A meta prevê relação da despesa com pessoal e Receita Corrente Líquida (RCL) de até 60%.

Estão desenquadrados Minas Gerais (78%), Mato Grosso do Sul (73 49%), Rio Grande do Sul (70,62%), Paraíba (64,44%), Distrito Federal (64,19%), Goiás (63,84%), Rio de Janeiro (62,84%) e Paraná (61,83%). Esses porcentuais, no entanto, desconsideram gastos com indenizações e restituições trabalhistas, sentenças judiciais e despesas de exercícios anteriores.

O boletim ainda mostra que as estatísticas do PAF, calculadas pelo Tesouro, são diferentes - na maioria das vezes maiores - do que os apresentados por cada Estado no Relatório de Gestão Fiscal (RGF). De acordo com o RGF, por exemplo, o Rio de Janeiro tem uma relação de despesa com pessoal sobre RCL de 41,77%. Isso acontece porque muitos Estados criam exceções à classificação, abrindo brechas para que o número apresentado seja mais benigno.

"Em alguns casos, há diferença nas metodologias, sancionada pelos respectivos Tribunais de Contas, dos cálculos da despesa com pessoal feitos por alguns Estados. Em muitos casos não se consideram algumas rubricas de despesa, por exemplo, as despesas com obrigações patronais e com aposentadorias e pensões especiais", explicou o Tesouro.

Além dois oito Estados desenquadrados pelo PAF, há outros que estão no limite do permitido para a relação despesa com pessoal/RCL. Entre eles estão Roraima (59,76%), Mato Grosso (59 72%), Amapá (58,91%) e Bahia (58,48%).

 

VALOR ECONÔMICO

Resistência da inflação de serviços influencia BC

O comportamento dos preços de serviços é fundamental para entender a cautela do Banco Central (BC) ao iniciar o ciclo de redução dos juros com um corte de 0,25 ponto percentual, e não de 0,5 ponto. Na primeira metade do ano, a inflação desse grupo caiu de 8,2% para 7,1% no acumulado em 12 meses, uma queda razoável para um período de seis meses, mas depois parou de ceder. Ela chegou até mesmo a subir para 7,5% em agosto nessa base de comparação, recuando novamente para 7,1% em setembro. No mês passado, os serviços mostraram um resultado mais favorável, com variação de 0,33%, abaixo do 0,59% do mês anterior, segundo a LCA Consultores.

A queda relativamente moderada da renda, mesmo num cenário de forte contração da economia, contribui para explicar a resistência da inflação, segundo analistas. No trimestre de junho a agosto, o rendimento médio caiu 1,7%, descontada a inflação, em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com o IBGE. Também tem peso aí a inércia, o fenômeno pelo qual a inflação passada alimenta a futura, numa economia com grau elevado de indexação. Com a influência desses fatores, a inflação demora a cair, apesar de uma retração do PIB estimada em cerca de 7% no acumulado de 2015 e 2016 e de um forte salto no desemprego.

No período de junho a agosto, a desocupação ficou em 11,8%, bem em acima dos 8,7% do mesmo intervalo de 2015. Neste ano, a chamada inflação subjacente de serviços, que exclui quatro grupos de itens mais voláteis, está em queda mais forte no acumulado em 12 meses, recuando de 9,4% no fim de 2015 para 6,9% em setembro deste ano. No entanto, houve leve alta de agosto para o mês passado, de 0,4% para 0,42%. Em outubro, deve avançar 0,53%, segundo estimativas do economista Fabio Romão, da LCA.

Apresentado pelo BC no relatório de inflação de setembro, essa medida tem como objetivo identificar melhor a tendência das cotações de serviços, eliminando os itens que podem dificultar esse processo: os grupos de turismo (passagem aérea, hotel e excursão), serviços domésticos, cursos e comunicação. Nas contas de Romão, essa inflação subjacente de serviços em 12 meses deverá seguir em baixa, mas terá um processo mais lento de queda daqui para a frente. Deve terminar 2016 em 6,8% e 2016 em 6,2%.

Para o grupo original de serviços, o recuo será parecido, fechando este ano em 7% e o próximo em 6,3%. Coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, o economista Naercio Menezes tem ressaltado que o salário real (descontada a inflação) tem caído menos agora do que em outros episódios de contração mais forte da atividade. Em 1999 e 2003, por exemplo, o rendimento real teve recuos na casa de 7% a 8%.

Na visão de Naercio, o salário cai menos na atual recessão porque uma parcela maior dos trabalhadores tem vencimentos próximos ao salário mínimo, devido à adoção da regra do reajuste do piso em 2007. Por ela, o mínimo é corrigido pela inflação do ano anterior, acrescido da variação do PIB de dois anos antes. Com isso, o piso teve aumentos bem maiores do que o salário médio.

Romão, por sua vez, avalia que o aumento da formalização no mercado de trabalho na última década também contribui para a queda menor da renda, mesmo num ambiente recessivo. Hoje, há mais trabalhadores favorecidos pelos dissídios salariais que ocorrem anualmente. Em relatório, o economista¬-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, diz acreditar que "a evolução dos dados e das notícias" vai permitir um corte de 0,5 ponto na próxima reunião do Copom, marcada para o fim de novembro. No entanto, ele admite que o tom do comunicado do BC, "principalmente em relação ao comportamento da inflação de serviços", sugere que a probabilidade de mais um corte de 0,25 ponto tenha aumentado".

Para Romão, a trajetória da inflação de serviços subjacente não abre espaço para uma redução agressiva da taxa Selic. Como ocorre desde meados de 2008, diz ele, essa medida deve continuar acima de 6% ¬ o teto da banda de tolerância da meta de inflação de 2017. Além disso, haverá uma recuperação gradual da demanda, lembra ele.

Nesse cenário, Romão avalia que o BC deverá promover um "ajuste cauteloso das condições monetárias" ao longo dos próximos dois anos, apostando que não haverá cortes agressivos dos juros. A LCA espera que a taxa Selic, atualmente em 14% ao ano, terminará 2017 em 11,75%. Alguns economistas são mais otimistas, prevendo que o BC cortará a Selic para 10% ou até menos no ano que vem, por acreditarem que a grande ociosidade na economia e a piora adicional do mercado de trabalho vão derrubar a inflação.

 

BC conservador esfria convicção em corte maior da Selic

A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) de cortar a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, para 14%, não chegou a ser uma grande surpresa, mas ainda assim provocou intensa movimentação no mercado financeiro ontem. Além de uma correção natural dos contratos futuros de juros, que consideravam cerca de 30% de probabilidade de o Copom ser mais ousado e reduzir a Selic em 0,5 ponto, o que provocou uma forte onda de ajustes foi o comunicado após a decisão, considerado muito mais conservador do que se esperava. E, com isso, no mínimo enfraqueceu a convicção de que o Banco Central vai acelerar o ritmo de alívio monetário na próxima reunião.

As dúvidas provocaram um rebalanceamento nas apostas para o ciclo de alívio monetário, que até a decisão contemplavam quase majoritariamente chances de um corte de 0,5 ponto em novembro. Agora, os contratos de curto prazo passaram a mostrar 48% de chance de uma redução de 0,50 ponto, contra 52% para 0,25 ponto. O que chamou a atenção no comunicado foi a demonstração de preocupação do Copom com dois elementos considerados necessários para a aceleração do ritmo de corte de juros: a inflação de serviços, que parou de cair, e o ajuste fiscal.

Outro ponto visto como conservador foi a afirmação de que a convergência da inflação para a meta é compatível com uma política monetária "gradual e moderada". E, por fim, a indicação do BC de que está menos preocupado com os dados recentes mostrando um quadro pior para a atividade, classificadas como "oscilações que normalmente ocorrem no atual estágio do ciclo econômico". Esse tom cauteloso levou alguns agentes a colocar em dúvida ou mesmo a revisar suas projeções para a política monetária.

É o caso do Citi. O banco esperava duas quedas de 0,5 ponto da Selic, uma em outubro e outra em novembro, e agora prevê um corte de 0,25 ponto no mês que vem. "O BC fez um contraponto a tudo que imaginamos que era 'dovish' [favorável a um corte maior]. A atividade está desacelerando, mas o BC acha que é temporário, ele destacou uma pausa da desinflação de serviços e também vê o avanço do ajuste fiscal ainda lento", diz Marcelo Kfoury, superintendente do Departamento Econômico do Citi Brasil.

Kfoury observa que houve uma piora das expectativas de inflação para 2018, tanto no cenário de referência como no de mercado, o que sugere que o BC pode estar mais preocupado com a sustentabilidade do processo de desinflação e da manutenção da inflação em 4,5% no longo prazo. "Apesar do hiato do produto estar abrindo, parece que o BC está dando mais peso ao desvio da inflação e aparentemente ele não quer que a convergência para a meta seja muito devagar", diz.

Na mesma linha, o economista¬-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, que esperava que o Copom iniciasse o ciclo de alívio monetário com um corte de 0,50 ponto, viu no comunicado sinais de que o cenário-¬base agora é de um novo corte de 0,25 ponto. "A cautela que ele colocou no comunicado, muito maior do que no relatório de inflação, me surpreendeu", afirma. "Para acelerar, o BC vai querer ver uma melhora adicional expressiva.

E eu não vejo a inflação melhorando tanto até lá", afirma. "Acho que o comunicado aponta para um ciclo menor e mais gradual porque mostra que a barra para acelerar o ritmo é mais alta do que o mercado esperava." O economista do Banco Pine Marco Caruso concorda que o BC deu um forte sinal de que não se deve esperar um corte profundo. Ele observa que, entre várias ressalvas feitas pelo Copom, está a de que "o processo de aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia é longo e envolve incertezas".

"Essa incerteza e a demora em torno do ajuste são verdades agora e continuarão sendo por muito tempo. Quando leio essa frase entendo que o BC está dizendo que talvez não haja tanto espaço para queda de juro quanto o mercado quer achar que existe", afirma o economista, que também passou a prever corte de 0,25 ponto percentual da Selic em novembro, e não mais de 0,5 ponto. A Nomura Securities vê no comunicado do BC alguns elementos que aumentam a chance de uma redução de 0,25 ponto percentual da taxa Selic em novembro, embora tenha mantido a projeção de queda de 0,50 ponto, esperando um avanço das reformas fiscais, que vai permitir uma queda da Selic para 10% no fim de 2017.

Já o Credit Suisse, uma das instituições que já contavam com um corte de 0,25 ponto nesta semana, mantém a expectativa de outra dose da mesma intensidade. Para o ciclo total, a equipe de economia da instituição, chefiada por Nilson Teixeira, espera um alívio de dois pontos, uma das projeções mais conservadoras do mercado. Mas há um grupo de economistas que acreditam que o cenário pode evoluir de forma a autorizar a aceleração do ritmo até novembro e também confirmar as projeções para o ciclo inteiro de corte, que hoje variam entre 2 pontos e 5,25 pontos no total.

É o caso do economista-¬chefe do BNP Paribas, Marcelo Carvalho, para quem o cenário mais provável ainda é de um corte de 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom, a despeito do tom mais conservador. "O tom foi mais cauteloso, entretanto o cenário mais provável é que o BC acelere o passo, porque a inflação de serviços deve continuar em queda e a PEC dos gastos já terá sido aprovada em primeiro turno no Senado até a próxima reunião", afirma.

Um dos argumentos para que o BC acelere o ritmo de corte é que, se o alívio ocorrer de forma lenta, haverá um aumento do juro real ¬ à medida que as expectativas de inflação caiam mais rapidamente do que o juro nominal. Ou seja, em vez de um alívio monetário, o BC produzirá um aperto. "Um corte de 0,25 ponto é muito lento, dado o ponto de partida", afirma o BNP. "Se for nessa toada, o juro real vai subir, e esse não é o plano de voo do BC."

O economista do BNP mantém também sua expectativa de que o orçamento total do ciclo será de 5,25 pontos, acima do que o mercado de juros hoje precifica. "Temos grande convicção de que o BC continuará cortando os juros porque os elementos que ele coloca como condições para acelerar o ritmo vão continuar se alinhando." Por esperar que a PEC dos gastos esteja aprovada em primeiro turno no Senado até a próxima reunião do Copom, o banco Brasil Plural acredita que o Copom vai intensificar o ritmo de corte de juros para 0,50 ponto.

Além disso, é esperada uma melhora da inflação de curto prazo, com uma queda da inflação de serviços juntamente com a reversão do choque dos preços de alimentos. "Esses dois fatores combinados devem dar maior confiança para o BC aprofundar o ciclo de corte", diz o banco em relatório. A despeito dos ajustes que o Copom provocou no mercado, uma demonstração de que as expectativas futuras seguem positivas foi o resultado do leilão do Tesouro Nacional, que conseguiu pagar pelos títulos prefixados de longo prazo a menor taxa em três anos.

A NTN¬F 2027, atual benchmark de dez anos, foi vendida à taxa de 11,1099%, o menor nível para um papel de prazo equivalente desde agosto de 2013. Na ocasião, o papel benchmark de dez anos foi vendido no leilão primário do Tesouro com um spread de pouco mais de dois pontos percentuais ¬ já que a Selic, à época, estava em 9% ao ano. Ontem, portanto, o Tesouro pagou pelo papel quase três pontos percentuais a menos do que a Selic, agora em 14%.

 

Índice de atividade do BC recua 0,9% em agosto e piora projeções de PIB do 3º tri

O pior resultado para meses de agosto desde o início da série histórica do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC¬Br), em 2003, ajudou a reforçar no mercado a aposta de que o Produto Interno Bruto (PIB) virá negativo no terceiro trimestre, atrasando o momento de retomada da atividade econômica para o ano que vem. Divulgado ontem, o IBC¬Br de agosto recuou 0,91%, feito o ajuste sazonal, na comparação com julho, quando o resultado foi negativo em 0,2% ¬ sem ajuste, o indicador teve alta de 0,88% em agosto. Na comparação com agosto de 2015, a queda foi de 2,7%.

No ano, o IBC¬Br está negativo em 4,98% e em 5,48% no acumulado em 12 meses, na série sem ajuste sazonal. Depois de avaliar os dados negativos do IBC¬Br, a Tendências Consultoria decidiu intensificar sua projeção de baixa do crescimento para o PIB do terceiro trimestre e do fechamento do ano. "A projeção atual é de recuo de 0,2% do PIB no terceiro trimestre, mas com essa sequência de informações negativas em agosto [comércio, serviços e indústria] consolidadas no IBC¬Br, nossa tendência é alterar esse dado.

Vamos revisar oficialmente quando a gente tiver em mãos os dados da produção industrial de setembro", afirma o economista Rafael Bacciotti, dado que será divulgado no começo de novembro. Para 2016, Bacciotti revela que a projeção de queda do PIB da consultoria deve sair dos atuais 3,1% para "um número possivelmente mais próximo de 3,5%." Segundo o economista, o setor industrial é chave para a análise do desempenho como um todo da atividade econômica do país.

Ele avalia que os indicadores antecedentes de setembro sugerem que a queda da produção da indústria em agosto foi revertida no mês passado. "Produção de papelão, fluxo de veículos pesados, carga de energia elétrica e produção de veículos, entre outros, representam um conjunto de indicadores que mostram que a queda da produção industrial de agosto não deve ser revertida em setembro", diz Bacciotti.

Como exemplo, o economista lembra que o indicador de produção de automóveis da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) em setembro teve alta de apenas 0,2% sobre uma queda 10,8% em agosto ¬ crescimento não suficiente para reverter a baixa do mês anterior. O fluxo de veículos pesados nas estradas, captado pela Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR), recuou 0,2% em setembro e 2,5% em agosto.

"Quando olhamos mais globalmente para os indicadores, enxergamos que há uma série de limitações para a recuperação, que inicialmente vinha acontecendo por causa do crescimento gradual da indústria de janeiro a julho. Porém, muito da produção industrial estava sendo direcionada para a exportação, que não é um vetor muito forte para impulsionar o crescimento do PIB", afirma.

Em relatório, a MCM Consultores afirma que o dado negativo do IBC¬Br "reforça o cenário de contração do PIB para o terceiro trimestre deste ano." Na mesma linha, o banco Fator informou que "o dado do IBC¬Br corrobora nossa expectativa de um terceiro trimestre de atividade ainda em marcha ré, mas já um pouco melhor do que o segundo trimestre e já exercendo alguma influência por causa da fraca base de comparação com o ano passado." O Monitor do PIB, calculado pela Fundação Getulio Vargas, reforçou essa avaliação.

O indicador também mostrou um desempenho bastante ruim em agosto, com queda de 1,6% em relação a julho, maior recuo mensal desde junho de 2014. Na comparação entre os trimestres móveis, porém, a recessão perdeu força: de uma contração de 1,05% entre março e maio, o PIB encolheu 0,35% entre junho e agosto.

Já a Rosenberg Associados assinalou em nota que a trajetória de queda da economia brasileira só deverá atingir o "fundo do poço" no quarto trimestre, deixando a recuperação ¬ e o crescimento do PIB ¬ apenas para o primeiro trimestre de 2017. "Concorrerão para isso a inflação em queda e a trajetória de retração dos juros, iniciada na quarta¬-feira."

 

Recuperação é adiada e balanços continuam fracos no 3º trimestre

A esperada retomada da economia brasileira ainda não deve ser vista nos balanços das companhias de capital aberto no terceiro trimestre, indicando que a recuperação da atividade deve ser mais lenta que o esperado. Especialistas ouvidos pelo Valor estimam que o trimestre seja de transição em direção à recuperação de indicadores operacionais, mas com um desempenho ainda anêmico, compensado por efeitos financeiros.

Nesse processo de transição, com a taxa básica de juros do país sendo reduzida nesta semana pela primeira vez em quatro anos, analistas divergem sobre o ritmo de melhora das atividades. Isso fica claro na diferença de projeções de instituições financeiras para o universo de empresas acompanhado por cada uma delas. De um lado, o Itaú BBA estima recuo de 5% na receita líquida de julho a setembro, em base anual, enquanto o BTG Pactual calcula queda de 3,9% ¬ se essa tendência se confirmar, será a primeira vez que as companhias registrarão baixa nessa linha do balanço, em base anual, desde 2012.

Já o J.P. Morgan e o Morgan Stanley veem receitas em crescimento, embora valha destacar que os dois bancos utilizam números em dólar. "A temporada ainda vai ser modesta", diz o analista Daniel Gewehr, estrategista¬chefe do Santander. "Começamos a sair daquele círculo vicioso de revisões para baixo. O viés é ter revisão para cima nas estimativas das empresas, principalmente para 2017."

Para o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), as instituições financeiras têm uma leitura mais convergente, com expectativas de crescimento variando entre 3,8% e 11%. Segundo Lucas Tambellini, estrategista do Itaú BBA, o desempenho é explicado em parte por uma maior eficiência operacional adotada pelas companhias para fazer frente às dificuldades macroeconômicas. "Apesar da receita em queda, o resultado operacional pode ser maior porque as empresas vêm fazendo a lição de casa em busca da eficiência. É o caso da Vale.

Por mais dúvidas que você tenha com China, a mineradora está fazendo esse esforço", afirma. Em relação ao lucro líquido, quatro casas consultadas apontam para um crescimento no trimestre, embora haja grandes diferenças quanto ao tamanho dessa expansão, enquanto apenas o Santander ainda vê uma redução, em base anual, de 1,5% (veja tabela abaixo). Nessa linha do balanço, afirmam analistas, efeitos como o alívio do câmbio sobre a dívida podem ajudar a um fechamento de balanço no azul.

Além disso, com a base de comparação muito fraca (o terceiro trimestre do ano passado já foi bastante atingido pela crise), é possível ver um aumento exponencial em alguns casos ¬ a projeção de lucro do Itaú BBA, por exemplo, aponta para uma alta de 333% em base anual, distorcida especialmente pela reversão de prejuízo no ano passado para um lucro em casos como o da Petrobras.

Analistas e investidores, porém, não devem estar tão concentrados diretamente nas métricas das empresas, mas justamente nos indicativos de quando a retomada começará a acontecer. "A recuperação não virá nas linhas de receita e lucro agora. O mercado não está esperando por isso", diz Tambellini, do Itaú BBA. Apesar de um trimestre ainda distante da recuperação, algumas análises procuram destacar que ela está no horizonte, em especial depois que as empresas reduziram custos e funcionários para enfrentar a atividade econômica fraca.

A redução dos juros nesta semana pelo Banco Central deve contribuir para essa dinâmica. "Representantes de diferentes setores seguem otimistas, porém cautelosos com a recuperação lenta", afirma Paulo Eduardo Nogueira Gomes, economista¬chefe e estrategista da Azimut Brasil Wealth Management. A agência de classificação de risco Moody's faz coro ao grupo de analistas que procura reforçar as perspectivas favoráveis, mas apenas para o ano que vem. Em recente relatório, a agência classifica a desvalorização do dólar sobre o real como um dos aspectos que traduzem uma melhora da confiança na economia.

Além disso, o trimestre deve contar com reflexos positivos para empresas brasileiras do aumento de 6% nos preços do minério de ferro e de 32% para o aço, segundo o J.P. Morgan. "A melhora nos preços das commodities metálicas e a percepção de estabilização no ambiente político definem o cenário para uma recuperação acentuada do sentimento no Brasil, mas o desemprego, as altas taxas de juros e os fracos negócios vão represar substancialmente os ganhos ao menos até 2017", afirma a Moody's.

A queda do dólar frente ao real ao fim do trimestre, em relação ao mesmo período do ano passado, foi de 18,3%, para R$ 3,2462 ¬ mostrando que a menor pressão sobre o endividamento deve continuar nos resultados de julho a setembro. "A apreciação da moeda no Brasil ante o dólar foi elevada e pode se traduzir em ganhos para empresas com dívida líquida em dólar", diz o J.P. Morgan.

Por outro lado, com um dólar médio no trimestre de R$ 3,2460, 8,2% menor do que no mesmo período de 2015, as exportadoras, que antes ajudaram a impulsionar a receita conjunta das empresas, agora não devem se sobressair. "Os resultados no setor de papel e celulose devem possivelmente continuar a se deteriorar no trimestre devido à apreciação do real e em meio à queda nos preços da celulose.

Esperamos que Fibria e Suzano reportem resultados mais fracos", afirma a análise do Itaú. Expostas ao ambiente interno que ainda engatinha rumo à recuperação, companhias de varejo devem também ajudar a compor um cenário de receitas prejudicadas. Para o Santander e o Itaú, esse deve ser o caso da Lojas Renner, cujo desempenho nessa linha deve decepcionar diante de um resultado negativo das vendas no conceito mesmas lojas (unidades abertas há pelo menos um ano). "A margem Ebitda da Renner deve mostrar alguma queda, considerando a diluição mais fraca das despesas com vendas, gerais e administrativas devido à piora na receita", diz o Santander.

Na ponta positiva, os especialistas apostam em setores que já vinham com boa performance e devem conseguir mantê-¬la, como saúde, com empresas como Hypermarcas, Raia Drogasil e Fleury nos destaques, e agronegócio, com Cosan e São Martinho como expoentes. Para o J.P. Morgan, companhias de saúde devem, em conjunto, apresentar alta de 45% no lucro, 18% no Ebitda e 21% na receita. "[A Cosan e a São Martinho] devem continuar favorecidas pela perspectiva positiva para o setor de açúcar e etanol, principalmente devido às expectativas crescentes de um déficit global de açúcar. Prevemos crescimento de dois dígitos no Ebitda", afirma o Santander.

Embora o alívio sobre o endividamento em dólar das companhias seja lembrado pelos analistas para este terceiro trimestre, as empresas seguem com uma queima de caixa relevante. Para Ricardo Carvalho, diretor-¬sênior de ratings corporativos da Fitch Ratings, a geração de caixa seguirá fraca e, mesmo assim, será consumida diante do elevado nível de juros, gerando desafios na rolagem das dívidas internas.

Dessa maneira, o corte da Selic (taxa básica de juros) para 14% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na quarta-¬feira (19) fica em linha com as perspectivas mais favoráveis para o ambiente de negócios ¬ efeitos que só serão sentidos, porém, no futuro. "Temos um governo muito mais orientado para uma dinâmica de mercado do que o governo anterior e isso tem gerado alguma recuperação no valor dos ativos, mas os balanços do terceiro trimestre e do fim do ano ainda terão um contínuo aumento do endividamento porque as expectativas positivas ainda não chegaram nos resultados das companhias", afirma Carvalho.

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