Sexta-feira

VALOR

Vamos na direção da redução e simplificação de impostos, diz Guedes

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta quinta-feira (8) que um dos próximos passos do governo é caminhar na reforma tributária. “A direção tem que ser clara e inequívoca, e vamos na direção de redução e simplificação de impostos”, afirmou o ministro.

Apesar de o secretário especial da Receita Federal, Marcos Cintra, ter sinalizado mais cedo que o governo vai apresentar sua proposta de reforma tributária, com três eixos, na semana que vem, Guedes não mostrou preferência por um ou outro projeto. "Se aprovar a reforma tributária do [Bernard] Appy, ótimo; se não, colocamos a nossa", disse.

Appy é economista, diretor do Centro De Cidadania Fiscal (CCiF) e autor de uma proposta de reforma, em debate no Congresso, que unifica cinco tributos: três federais (IPI, PIS, Cofins), um estadual (ICMS) e um municipal (ISS). FGTS O ministro destacou ainda que, em paralelo às reformas estruturais, o governo tem adotado medidas de curto prazo, como a liberação de recursos do FGTS.

"O saque aniversário do FGTS foi só mais uma alternativa, só que com percepção de renda permanente", afirmou, ressaltando que o trabalhador vai olhar para este recurso como um 14º salário. Guedes também disse que a preocupação ao modelar as regras para acessar as contas ativas e inativas do FGTS foi a de não comprometer o crédito imobiliário e só pegar o rendimento do fundo. Redução de ministérios

O ministro afirmou, sem estipular prazos, que o governo federal quer reduzir o número de ministérios para 15. Quando o presidente Jair Bolsonaro assumiu, havia 38 pastas. A estratégia de unificar os Ministérios do Planejamento, Indústria e Comércio Exterior e do Trabalho visou “trocar o eixo” da economia brasileira, que é muito fechada, disse.

“O Mdic era uma trincheira da Primeira Guerra Mundial. Não pode ter quatro, cinco ministérios, um atirando no outro. Fizemos uma troca de eixo, de uma economia fechada, vamos abrir decisivamente.”

Guedes voltou a dizer que quer “desindexar, desvincular e desobrigar todas as despesas de todos entes federativos” e questionou como a classe política se contenta em manejar apenas 4% do orçamento público. “O pacto federativo é um ataque frontal ao problema do déficit, todo mundo vai poder controlar suas despesas”, afirmou.

Além da reforma previdenciária e de desinvestimentos e privatizações, outro pilar importante para o governo é a reforma do Estado, afirmou Guedes, que disse estar morando em um hotel em Brasília até hoje.

O ministro da Economia participou, nesta quinta-feira (8) do Macro Day, evento do BTG Pactual, em São Paulo, em painel sobre os rumos da economia brasileira. Também esteve presente no debate Eduardo Guardia, que foi ministro da Fazenda no governo de Michel Temer e atualmente é sócio e presidente-executivo da BTG Pactual Asset Management.

 

IPCA acelera alta para 0,19% em julho, mostra IBGE

A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) avançou de 0,01% em junho para 0,19% em julho, informou nesta quinta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A energia elétrica residencial mais cara foi a principal responsável por essa aceleração. Apesar disso, o resultado é o menor para um mês de julho desde 2014.

O indicador de inflação oficial do país ficou, desta forma, abaixo da mediana das estimativas obtidas pelo Valor Data com 34 analistas, de alta de 0,25%. O intervalo das projeções ia de 0,16% a 0,30% de aumento.

No acumulado do ano, o IPCA subiu 2,42%. Nos 12 meses encerrados em julho, o indicador teve elevação de 3,22%, desacelerando em relação aos 3,37% registrados no acumulado até junho. A meta de inflação perseguida pelo Banco Central (BC) este ano é de 4,25%, com margem de 1,5 ponto percentual.

O resultado do IPCA é divulgado uma semana após o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreender o mercado com um corte de 0,5 ponto percentual da taxa básica de juros, a Selic, para 6% ao ano. Difusão A inflação se espalhou menos pelos produtos e serviços que compõem o IPCA em julho.

O Índice de Difusão, que mede a proporção de bens e atividades que tiveram aumento de preços, ficou em 47%, após marcar 50,4% em junho, segundo cálculos do Valor Data que consideram todos os itens da cesta. É o menor percentual desde novembro de 2017 (46,4%). Excluindo alimentos, grupo considerado um dos mais voláteis, o Índice de Difusão também recuou, de 53,5% para 46,5%, no menor nível desde julho de 2017 (43,9%).

O IPCA refere-se à cesta de consumo de famílias com rendimento de um a 40 salários mínimos e abrange dez regiões metropolitanas, além dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís, Aracaju e de Brasília.

 

Quadro externo beneficia emergentes, mas de maneira seletiva, diz Campos

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a economia global está enfrentando uma grande revisão de crescimento, que tem resultado numa ampla queda de juros. Os emergentes ainda se beneficiam do fluxo de investimentos, destravados pelo custo do crédito mais baixo, mas o movimento agora é mais seletivo.

 "Temos um 'downgrade' bastante grande do crescimento", disse o dirigente em evento do banco BTG Pactual, ontem em São Paulo. Ao citar projeções do FMI, ele ressaltou que a estimativa de crescimento global está em 3,3%, mas as notícias levam a crer que essa cifra "vai ser revisada novamente".

Entre os fatores que criaram esse novo ambiente, Campos elencou a tensão comercial, envelhecimento da população e fatores geopolíticos. "O mundo está dizendo que vamos ter crescimento mais baixo por tempo mais prolongado", disse o dirigente.

Ele destacou que o novo quadro fez com os juros nos EUA, na Inglaterra e na Europa enfrentassem revisões para baixo, mas este é um movimento sequencial e gera mudanças em todo o mundo, inclusive em emergentes. "Agora temos alguns países na Ásia falando que não tem como cair tanto o juro", afirmou.

Os emergentes têm sido beneficiados pelo fluxo, avalia Campos. "Mas pelo juro baixo, o fluxo tem sido menor que o esperado e tem características diferentes", disse. O investidor prefere ativos com boa avaliação de crédito, como os de renda fixa e de economias ajustadas, que fizeram a "lição de casa". "Tem movimento de liquidez, mas é mais seletivo."

Para Campos, o Brasil é munido de uma posição sólida de reservas cambiais e está bem preparado para enfrentar o novo cenário global. Além disso, o BC tem feito um trabalho "bastante bom" de juros, política monetária e comunicação. Tudo isso com grande credibilidade junto ao mercado.

 O panorama externo é um dos componentes do balanço de riscos para a política monetária, ao lado da ociosidade da economia brasileira e a evolução da agenda de reformas. Durante o evento, o presidente do BC afirmou que o cenário global gera queda de investimento com risco de pressionar o crescimento mesmo no Brasil que é uma economia relativamente fechada.

Ele reiterou que o cenário preserve a política estimulativa e que a consolidação do cenário benigno para a inflação deve permitir ajuste adicional no grau de estímulo. Ainda assim, os próximos passos dependerão de atividade, balanço de riscos, projeções e expectativas de inflação.

O dirigente citou que a inflação está bem ancorada, assim como as projeções de mercado na chamada inflação implícita. Sobre a atividade econômica, ele afirmou que o Brasil tem mostrado uma "recuperaçãozinha". Por outro lado, os dados do varejo de junho, divulgados ontem, tiveram resultado fraco.

A Selic foi reduzida de 6,5% para 6% pelo Copom na semana passada, e boa parte do mercado aposta em nova queda, de 0,5 ponto percentual, em setembro. Campos aproveitou boa parte do discurso para falar sobre iniciativas para aumentar a produtividade no país. Também comentou sobre a lógica por trás de intervenções no mercado de moedas.

Ele afirmou que o mercado local tem elementos de precificação que indicam onde estão os pontos de concentração de demanda e oferta. "Se tem um mercado pressionado por demanda de 'spot' [oferta no mercado à vista], vamos para o spot. Se tem um mercado com demanda por pré-pagamentos, ofereço mais linha [venda de moeda com compromisso de recompra]", disse. "Não queremos ter preconceito com instrumentos."

Ele destacou que o BC tem de buscar instrumentos que custem o mínimo para a instituição. "E custar o mínimo possível significa atender a demanda", disse. Até por isso, observa a exposição líquida no câmbio para calibrar o equilíbrio entre swap e spot. "Se tiver custo grande de rolagem, tem instrumentos para atuar de uma forma ou de outra", afirmou.

 

Poupança deve ser insuficiente

No Brasil que vive longe dos grandes centros urbanos e das plataformas de investimentos, a boa e velha poupança ainda tem seu apelo. A expectativa de bancos e empresas do setor imobiliário é que os recursos da caderneta continuem crescendo, ainda que de forma "vegetativa".

"O grande poupador vai para rentabilidades maiores, mas o pequeno fica", afirma Basilio Jafet, presidente do Secovi-SP. "Nunca houve ameaça, nem nos tempos bicudos." A Abecip, associação das instituições financeiras que fazem crédito imobiliário com funding da poupança, prevê crescimento de 11% no saldo das cadernetas neste ano, para R$ 686 bilhões. Até julho, entretanto, a poupança teve resgate líquido de R$ 16,1 bilhões. "A captação negativa é mais resultado da economia fraca do que migração para outros investimentos. As plataformas ainda atingem um público restrito", afirma Luiz França, presidente da Abrainc, associação das incorporadoras.

Apesar disso, é consenso que a poupança será insuficiente para financiar o crescimento que se espera para o crédito imobiliário. "O estoque da poupança era maior do que o crédito imobiliário. Hoje, não mais é suficiente", diz Gilberto Abreu, presidente da Abecip. No Banco Central (BC), a constatação é que o segmento não vai mudar de patamar apenas com esses recursos, daí a busca por alternativas de mercado, apurou o Valor.

O presidente do órgão regulador, Roberto Campos Neto, tem ressaltado a importância do crédito imobiliário - linha de longo prazo, taxas de juros baixas e com garantia - para a economia.

A visão do BC é que os imóveis têm um valor que hoje não é aproveitado para alavancar negócios, como se faz em outros países com o financiamento lastreado em ativos imobiliários ("home equity"). Para José Rocha Neto, diretor-executivo do Bradesco, a participação do crédito no PIB deve dobrar em dez anos, chegando a 20%. "Aí a poupança não vai ser suficiente. Isso é líquido e certo."

 

FOLHA

Para Moodys, exclusão em reforma é negativa para nota de estados

A exclusão de estados e municípios da reforma da Previdência é negativa para a nota de crédito desses entes, afirmou nesta quinta-feira (8) a agência de risco Moody’s, em comunicado divulgado no mesmo dia em que a Câmara encaminhou ao Senado a proposta de mudanças na aposentadoria.

Segundo a agência, a exclusão vai atrasar o reequilíbrio da situação fiscal de estados e municípios e, com isso, limitar uma melhora em sua qualidade de crédito, o que daria, eventualmente, acesso a condições melhores de financiamento.

Servidores e municipais ficaram de fora do texto da reforma já no relatório do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), encaminhado para votação em primeiro turno no plenário da Câmara em julho.

A equipe do ministro Paulo Guedes (Economia) queria mantê-los na reforma, para que todos tivessem regras previdenciárias iguais. Mas o custo político de apoiar uma reforma que poderia ser vista como impopular fez com que governadores e prefeitos de oposição pressionassem por retirar os entes do texto da PEC (proposta de emenda à constituição).

Para a Moody’s, a situação fiscal de estados brasileiros é desafiadora. Mesmo com a expectativa de recuperação econômica moderada nos próximos 12 a 18 meses, com crescimento de 1,3% neste ano e de 2% no próximo, o aumento na arrecadação traria alívio limitado para as contas estaduais e municipais.

Esses entes continuariam enfrentando o crescimento dos gastos com pessoal –principalmente com Previdência.

Esses custos, continua a agência, refletem desequilíbrios estruturaisprovocados pela proporção menor e em queda do número de trabalhadores ativos para pagar os benefícios de inativos –os estados onde o problema é maior são Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, com mais trabalhadores inativos do que ativos.

A nota lembra ainda que o Senado tenta incluir estados e municípios na reforma por meio de uma PEC paralela. Um dos governadores que mais defendeu a inclusão de estados e municípios, Ronaldo Caiado, de Goiás, afirma que a medida é questão de sobrevivência.

O assunto foi debatido nesta semana no fórum de governadores, realizado em Brasília. Caiado disse que todos os líderes que participaram decidiram pedir apoio aos senadores para aprovação da PEC paralela. Ele afirmou que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia(DEM-RJ), se comprometeu a pautar a PEC assim que o texto for enviado à Casa.

“Todos entendem que essa matéria [a inclusão de estados e municípios], não sendo acrescida ao texto da emenda constitucional, vai criar uma situação totalmente grave, desarticulada no país, onde teremos milhares de legislações estaduais, municipais em confronto com a federal.”

O governador advertiu ainda para a possibilidade de estados e municípios quebrarem. Em Goiás, complementou, são necessários R$ 200 milhões por mês para quitar a folha de aposentados e pensionistas. Caiado se mostrou otimista com a aprovação da PEC paralela no Senado. “Pode ser votada em agosto e chegar na Câmara na primeira quinzena de setembro”, afirmou. Com isso, coincidiria com a votação no Senado da proposta aprovada na Câmara na última quarta.

Caiado ressaltou ainda o risco de deixar a votação da PEC para o fim do ano. "Se nós tivermos alguns governadores que, diante da crise, tentaram camuflar uma posição de declarar ou não apoio à aprovação da reforma da Previdência, imagine nós numa assembleia próximo a um ano de eleição de prefeitos em 2020?”

Rafael Fonteles, presidente do Comsefaz (comitê nacional de secretários de Fazenda), também defende a reinclusão de estados por PEC paralela. “A situação fiscal dos estados continuaria difícil, sem perspectivas de melhora”, disse. “A não aprovação da reforma dos estados vai obviamente piorar a avaliação de crédito dos estados, é natural. O principal foco de desequilíbrio fiscal é de fato o desequilíbrio na previdência dos estados.”

Ele também vê riscos na aprovação de reformas da Previdência próprias em cada ente. “Por uniformidade, seria importante incluir.”

 

ESTADÃO

A desaceleração global e o Brasil

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, comentou hoje de manhã a redução “bastante grande” das previsões de crescimento da economia mundial, como reportado por Altamiro Junior e Bárbara Nascimento, da Agência Estado.

A desaceleração global é o pano de fundo de agitações nos mercados globais que vêm se desenrolando desde 2018, mas recentemente o agravamento da guerra comercial entre Estados Unidos e China adicionou mais combustível à tensão.

Um reconhecido analista, com vasta experiência no setor privado e público, esquematiza os fatos que trouxeram a economia global até o presente momento de forma simples.

O ciclo de expansão mundial, que começou lentamente depois da grande crise financeira de 2018 e 2019, acelerou-se em 2016 e 2017, a fase do “crescimento sincronizado”, e chegou a um pico na virada de 2017 para 2018.

A partir daí, a desaceleração atingiu a Europa e a China em 2018, e chegou aos Estados Unidos em 2019.

Os principais BCs globais, que até a recente desaceleração vinham tentando “normalizar” suas políticas monetárias convencional e não convencional, no sentido de gradativamente torná-las menos estimulativas, viraram a chave.

A ideia, desde o fim do ano passado, tornando-se mais explícita nos Estados Unidos em 2019, passou a ser a de mitigar a intensidade da desaceleração, no sentido de gerenciar um “pouso suave”. Simplificadamente, estimular voltou à agenda dos BCs.

Em 31 de julho, o Fed, BC americano, cortou os Fed Funds, seu juro básico, em 0,25 ponto porcentual, para o intervalo entre 2% e 2,25% – o primeiro movimento para baixo da taxa em mais de uma década.

Entretanto, os grandes BCs foram atingidos em cheio, em plena sintonia fina do pouso suave, pelo choque provocado por Trump a partir de maio, quando o presidente americano resolveu intensificar sua ofensiva na guerra comercial com a China.

Há uma semana, Trump anunciou mais tarifas para produtos chineses e, na segunda-feira, os chineses reagiram, combinando uma desvalorização diária maior da sua moeda semiadministrada (que foi para mais de 7 renminbis por dólar) com declarações de que o movimento estava ligado à escalada protecionista americana.

Logo em seguida, a China recuou na retórica, mas os Estados Unidos aproveitaram a instância inicial para classificar o rival asiático como manipulador cambial.

Evidentemente, mais guerra comercial significa menos comércio mundial que significa menos crescimento global. Trump conseguiu tornar a tarefa dos BCs de gerir um pouso suave, evitando uma recessão mundial, bem mais difícil.

O alarme se espalhou e mais BCs entraram na temporada de cortes de taxa básicas, como Nova Zelândia, Filipinas e Brasil.

Mas qual o impacto de tudo isso na economia brasileira?

O analista mencionado acima vê perspectivas binárias. O cenário bom é aquele em que os grandes BCs, mesmo com as perturbações de Trump, conseguem realizar o pouso suave. A economia global cresce menos, mas não entra em recessão e há abundância de liquidez. O Brasil, com juros ineditamente baixos, segue em sua retomada e quem sabe até atinge um ritmo mais aceitável.

O cenário ruim é aquele em que os BCs não dão conta do recado e há uma recessão mundial. Neste caso, há mais restrições ao crescimento no Brasil, mesmo levando em conta que o País é pouco aberto e o comércio internacional tem menos impacto do que em outras economias.

A recessão global também pode aumentar a aversão a risco, levando a intensificação do fenômeno caracterizado hoje por Campos Neto com a seguinte fórmula: “Há liquidez, mas esta liquidez está bastante seletiva”.

Se isso ocorrer, mesmo com a liquidez abundante (que deve perdurar no cenário negativo), países com fragilidades macroeconômicas mais graves podem ser forçados a elevar juros, ainda que a economia afunde.

A grande questão, segundo o analista, é se o Brasil poderá reagir a uma eventual desaceleração global mais aguda como a maioria saudável dos países, isto é, reduzindo juros (mesmo se o câmbio se depreciar).

Como o Brasil está com inflação baixa, BC em fase de alta credibilidade, setor externo sólido e os graves problemas fiscais começam a ser atacados de forma mais consistente (com a reforma da Previdência), ele acha que, sim, o Brasil deve ser capaz de usar política monetária anticíclica se o quadro externo se agravar.

Curiosamente, isso significa, na sua visão, que a Selic pode terminar o ano até abaixo dos 5,5% ou 5% do cenário bom, caso ocorra o cenário ruim.

De qualquer forma, a prescrição de política econômica é evidente: acelerar a agenda de reformas econômicas pós-Previdência, o que possibilitará ao Brasil navegar melhor no caso do cenário de desaceleração aguda ou recessão global, ou crescer de forma mais rápida se houver um pouso suave.

 

'Reforma ficou melhor que a encomenda', avalia economista

Para o ex-diretor do Banco Central e economista-chefe do Itaú Unibanco, Mário Mesquita, a potência fiscal da reforma da Previdência aprovada pela Câmara dos Deputados é de uma economia de R$ 1 trilhão em 10 anos, considerando os efeitos da medida provisória antifraude do INSS.

A mudança na estrutura dos impostos pagos no País, entretanto, não deverá ser simples. "Se a reforma da Previdência ficou melhor do que a encomenda, a tributária corre grande risco de acabar sendo menos ambiciosa", pondera.

Em relação aos juros, ele projeta que o Comitê de Política Monetária (Copom), do BC, fará ainda este ano mais dois cortes de 0,5 ponto porcentual, levando a taxa Selic a 5%, nível que seria mantido durante todo o ano de 2020. Mesquita acredita que o mercado de trabalho está em marcha tão lenta que nem mesmo repiques com combustíveis, alimentos ou energia elétrica, seriam capazes de pressionar a inflação.

De acordo com Mesquita, os efeitos da escalada de uma guerra cambial para o Brasil não mudam, por ora, essa expectativa em relação aos juros. "O dólar a R$ 4 não muda a perspectiva do ciclo, ainda mais porque o repasse cambial é baixo", avalia. No entanto, se a moeda depreciar mais, entre R$ 4,10 e R$ 4,20, aí pode ser necessário recalibrar o movimento total da Selic, prevê. Confira a seguir a entrevista.

O corte na Selic veio em linha com sua estimativa. O que o sr. espera desse novo ciclo de política monetária?

Nossa expectativa é que o Banco Central faça mais dois cortes de 0,50 ponto cada, levando a Selic a 5,0% até o final do ano. A expectativa está baseada em um conjunto de projeções de inflação abaixo da meta e que dá ao BC espaço para cortar o juro e colocar a inflação em torno de 4% em 2020. Agora, as decisões de política monetária têm influência sobre 2020 e não mais sobre 2019. Nesse contexto, o BC pode flexibilizar a política monetária, o que tem efeito também de contribuir para a retomada da economia.

Por quanto tempo o Copom deve manter o juro em 5%?

Vemos que deve continuar nesse patamar até o final do ano que vem. Basicamente porque observamos a economia brasileira operando em um grau bastante elevado de ociosidade, em torno de 4%. Em termos concretos, vemos o desemprego caindo muito lentamente, próximo ainda de 12%, um mercado de trabalho fraco com dinâmica salarial bastante contida e, portanto, sem pressões inflacionárias vindo do lado da demanda no horizonte de 2019-2020. Alguns fatores podem pressionar a inflação, como combustíveis, alimentos e bandeiras tarifárias de energia elétrica, mas isso não dita a tendência da inflação, que tem muito mais a ver com o grau de ociosidade da economia, com as expectativas e com a própria trajetória de metas. Os repiques ou quedas causadas por esses fatores citados tendem a ser mais ruídos do que algo a ser levado em conta na formulação da política monetária.

Mesmo com estímulos do governo, como o FGTS?

Não muda, ainda mais se levarmos em consideração que a economia mundial está dando sinais de desaceleração e as tensões comerciais globais seguem elevadas, o que afeta negativamente as perspectivas para o crescimento mundial. Nesse contexto, a iniciativa do FGTS, por ora, parece ser mais algo que evita revisões negativas nas projeções do PIB do que algo que motiva a fazer revisões altistas. Nós estimamos crescimento de 0,8% do PIB para este ano.

O corte de juros pelo BC americano em 0,25 ponto porcentual chancelou a decisão do Copom?

Para calibrar a Selic, o Banco Central considera projeções de inflação e balanço de riscos em relação à trajetória de inflação para a meta. Quando o Fed entra em uma trajetória de corte de juro, tende a enfraquecer o dólar perante todas as moedas, o que cria uma perspectiva de apreciação do real. Isso tende a influenciar projeções e expectativas de inflação. Uma vez que entra no modelo do BC, pode favorecer a política de flexibilização monetária. Existe, sim, uma ligação entre a política monetária do Fed e a daqui, mas é bastante indireta e o mecanismo que liga uma a outra é o balanço de risco em torno das projeções de inflação. O Fed fez o que era majoritariamente esperado, que era cortar a taxa em 0,25 ponto porcentual. Aqui, o apreçamento do mercado estava mais perto do 0,50 do que de 0,25 e, dessa forma, a decisão do BC foi predominantemente esperada. Caso não tivesse cortado em 0,50, um efeito colateral negativo teria sido que as pessoas aqui, quando fossem pensar em Copom, passariam a dar um peso extraordinário às decisões do Fed. Seria quase como criar uma dependência do mercado com relação à perspectiva de política monetária dos Estados Unidos. As decisões lá são relevantes, mas não há uma relação de 1 para 1. Vale notar que, este ano, as decisões do Copom são todas em dia de decisões do Fed. Então ficaríamos exageradamente sensíveis às decisões de lá.

Qual sua visão sobre o recrudescimento da guerra comercial e a postura do presidente Donald Trump?

O presidente americano foi eleito em uma campanha na qual prometeu tomar medidas para recuperar empregos industriais nos EUA, notadamente naqueles estados do meio-oeste. Os economistas que estudam o tema concluíram há tempos que o principal fator a eliminar emprego nos EUA e no mundo é a automação, e não o comércio internacional. Mas Trump escolheu um inimigo externo, a China e outras economias, como responsável por isso. Adotou política protecionista que tem servido a seu propósito mais imediato, que é garantir o apoio da sua base eleitoral. Apesar de toda controvérsia, ele é um candidato competitivo à reeleição, não será fácil de derrotar. Do ponto de vista político, está funcionando para ele. Da mesma forma funciona, do ponto de vista político, criticar o Fed, porque ele tem alguém a quem culpar caso a economia americana desacelere. Eu estou falando da política no seu aspecto mais imediato e que está funcionando. Assim sendo, não acho que ele vá mudar.

E quais efeitos sobre o Brasil?

A avaliação que temos, que é de FMI, OCDE e da maioria dos analistas independentes, é a de que essa sanção comercial gera importante aumento da incerteza nas economias que costumavam ser totalmente abertas, onde as empresas eram totalmente tranquilas em buscar seus fornecedores e compradores no mercado mundial. No momento em que o acesso a isso começa a ser incerto, ainda que nada mude, a vida dessas companhias fica mais difícil. Com isso, investem e contratam menos mão de obra. A incerteza sobre o comércio tem sido um dos principais fatores para segurar o crescimento global. Isso é ruim para o Brasil. Um único efeito que eu vejo como potencialmente positivo é que, ao não ter alinhamentos comerciais mais fortes, o Brasil se torna um parceiro disputável. A União Europeia fez um acordo com o Mercosul e agora surge a notícia de que os EUA também querem fazer acordo com Mercosul. Fica claro que os EUA querem trazer o Brasil mais para perto para reduzir a influência da China na região. Mas, em termos líquidos, a situação é pior.

Qual sua avaliação sobre uma possível crise global?

Vemos, sim, algumas consequências da política monetária de juro muito baixo por muito tempo, que tem sido perseguida pelos principais bancos centrais do mundo. Isso acaba levando a uma busca por retorno e os investidores têm deprimido as taxas de juros de vários instrumentos de renda fixa, com papéis de dívida com juro negativo. Isso não é uma situação usual. Por esse lado, vemos algum excesso de exuberância no mercado. Em segmentos do setor de tecnologia, vê-se empresas fazendo operações em mercado de capitais com apreçamento bastante agressivo. Muitas não só não têm lucro como têm custo de aquisição de clientes crescente. Talvez seja um outro sinal de exuberância.

O que poderia provocar uma crise ou mudança rápida de humor?

Se a dinâmica salarial nos Estados Unidos começasse a mostrar pressão inflacionária maior e o Fed, em vez de cortar a taxa de juros, tivesse de subi-la mais agressivamente. Por ora, não parece o cenário mais provável e a tendência é que este ambiente mundial, de certa permissibilidade com risco, tenda a continuar.

Em termos de política monetária, quais os efeitos de uma guerra cambial para o Brasil?

O impacto depende da intensidade da depreciação cambial. O dólar a R$ 4,00 não muda a perspectiva do ciclo, ainda mais porque o repasse cambial é baixo. Se a moeda depreciar mais, digamos acima de R$ 4,10 ou R$ 4,20, aí pode ser necessário recalibrar o movimento total da Selic.

Isso pode dar fôlego ao Brasil para fazer o dever de casa?

O ambiente de flexibilização monetária por parte do Fed, não que seja necessário nem suficiente, mas favorece a implementação dessa política aqui também. Isso ajuda nessa transição de uma economia mais dependente do Estado para ser aquela em que o setor privado genuinamente lidera o processo de crescimento, sem precisar de muleta de crédito subsidiado, do Estado dizendo em qual setor a companhia deve investir.

Acha que o texto da reforma da Previdência será mantido?

A reforma não deve sofrer diluição adicional. É bastante expressiva, pois, considerando o que foi aprovado na Câmara e a MP antifraude do INSS, é algo perto de R$ 1 trilhão. Acreditamos que o Senado não tomará iniciativas que coloquem em risco a sua aprovação de forma tempestiva. Até outubro devemos ter a reforma promulgada. O que inferimos de conversas com membros da classe política é que a questão de Estados e municípios avançará, mesmo como PEC paralela que sairá do Senado.

Qual sua expectativa para a reforma tributária?

É um tema mais complexo. A começar porque há várias propostas na mesa. O noticiário mostra que o governo quer promover reunião com vários estudiosos e proponentes para afunilar e convergir a uma proposta única para, aí sim, avançar. Vamos observar como isso vai ocorrer. Outra coisa é que lidar com o pacto federativo é uma questão sempre complicada no Brasil. Se a reforma da Previdência acabou ficando melhor do que a encomenda, a tributária corre grande risco de acabar sendo menos ambiciosa do que algumas das propostas sugerem. Mas, para além disso, a MP da liberdade econômica - que está para ser aprovada na Câmara - é muito importante, uma vez que facilita bem a vida das empresas.

O foco dos presidentes da Câmara e do Senado nessa agenda traz alívio?

Temos um Congresso com um grau de ativismo legislativo e atuando com um grau de autonomia em relação ao poder Executivo poucas vezes visto. Pode até ser que estejamos vendo uma atividade no Congresso mais em linha com aquilo que o Constituinte de 1988 tinha em mente, de um Legislativo mais protagonista. Isso é bom. Acho que nós brasileiros, historicamente, atribuímos talvez importância demais a eleições do poder Executivo e importância de menos ao poder Legislativo. O ideal é balancear isso.

 

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