Sexta-feira

TRIBUNA DO NORTE

Construtoras também têm resultados negativos

No setor imobiliário de Natal e região metropolitana, o primeiro trimestre do ano também não foi favorável para vendas. Pesquisa divulgada ontem pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon RN), que considera informações de 27 empresas, mostra que o setor vendeu 286 unidades residenciais entre janeiro e março, 98 a menos que no trimestre anterior.

O índice de velocidade de vendas (IVV) do setor, que chegou ao final de março em 4,80%, também ficou abaixo do registrado no trimestre anterior, quando ficou em 5,67%. Outro indicador em queda foi o emprego. Houve perda de 70 postos de trabalho, uma redução de 3,24%, segundo os dados.

Os apartamentos e as casas foram os imóveis com maiores IVV. Respectivamente, tiveram crescimento de 7% e 7,2% nas vendas. Ainda segundo os dados, os imóveis em fase de acabamento foram os mais vendidos em março (10,8%). Os imóveis prontos aparecem em seguida com percentual de venda de 9,6%. No mês de março, todas as vendas ocorreram em Natal e Parnamirim. A maioria das vendas foram registradas na zona Sul de Natal. Ponta Negra aparece na liderança com 20% dos imóveis vendidos, seguido por Lagoa Nova (13,2%) e Capim Macio (10,5%).

O número de imóveis residenciais ofertados em Natal e Grande Natal passou de 2.433  (dezembro/2016) para 2.375 (março de 2017). A queda é um reflexo da falta de lançamentos de imóveis e novos empreendimentos. Ao longo do trimestre, só foram registrados lançamentos em fevereiro. Foram 43 imóveis residenciais.

“O ciclo da construção civil é muito longo. O sinal amarelo já está aceso. Não temos novos lançamentos. Isso é uma preocupação no ponto de vista para o consumidor e da geração de empregos. A indústria da construção civil é um pouco intermitente. Ela abre uma obra, encerra o trabalho e precisa de outra imediatamente para que possa dar continuidade às suas atividades”, explica a vice-presidente do Sinduscon, Larissa Dantas. O número de lançamentos em fevereiro, conforme explicou o diretor de Mercado Imobiliário do Sinduscon, Francisco Vasconcelos, é pontual.

“Há 1 ano e 8 meses não temos lançamentos de prédios e casas no mercado e isso afeta diretamente na oferta e nos preços. Com a melhoria da inflação, a redução da taxa de juros e a volta da confiança do consumidor na economia, o segundo semestre deve começar a melhorar e em 2018 deve acontecer a retomada significativa do mercado”, destacou.

 

VALOR ECONÔMICO

Juro real em nível histórico pode pôr PIB em nova rota

O Brasil está a poucos passos de ter uma das menores taxas de juro real desde o Plano Real e romper a linha dos 4% ao ano. Ainda que a taxa esteja acima do que foi testado entre 2012 e 2013, período em que o Banco Central levou o juro básico à mínima histórica de 7,25%, esta pode ser uma situação inédita, capaz de abrir caminho para retomada do crescimento consistente, mesmo que gradual. Inflação sob controle, mudança na dinâmica dos gastos públicos, aumento da produtividade, o que inclui a reforma trabalhista, e ajustes na orientação do financiamento público estão entre os elementos que apontam para uma mudança estrutural no nível de juro e condições de crescimento.

O cenário, no entanto, segue condicionado à aprovação da reforma da Previdência e, sobretudo, à confirmação de que o próximo governo também terá compromisso com a agenda reformista. Para Fernando Honorato Barbosa, economista¬chefe do Bradesco, o Brasil tem dificuldade de se recuperar da forte recessão devido ao elevado nível de alavancagem da economia e do quadro fiscal, que não pode ser expansionista.

O único instrumento disponível é estímulo monetário. O teto de gastos, a contração fiscal neste e no próximo ano e a reforma da Previdência ¬ que ele prevê ser aprovada com uma "desidratação" de 30% em relação ao projeto original ¬ devem garantir a sustentabilidade dos juros em níveis baixos por um período prolongado. Em seu cenário, a Selic chegará a 8% ainda este ano e permanecerá nesse patamar até o fim de 2018.

Isso levará o juro real, hoje um pouco maior que 6%, para perto de 4% ¬ sua projeção de inflação é de 3,7% em 2017 e de 4,1% no ano que vem. O efeito dos juros sobre a atividade ainda é dúvida, diz Honorato. O mais provável é que a resposta seja lenta ¬ o Bradesco trabalha com 2,5% de crescimento do PIB em 2018 ¬, o que aumenta a chance de corte de juros tão intenso. O economista Felipe Salles, do Itaú Unibanco, acredita que a resposta da economia será melhor ao ambiente de juros mais baixos.

Na visão do banco, o PIB vai avançar 1% neste ano e 4% no ano que vem. Com o passar do tempo, os juros menores devem produzir impacto maior sobre a atividade, puxando o consumo das famílias e o investimento, que passam também a se retroalimentar. Salles avalia que o crescimento potencial é de 2% ou pouco mais, projetando uma Selic em 8,25% no fim deste ano e também no fim de 2018.

O Brasil experimentou recentemente juro real muito menor que o vislumbrado pelos economistas agora e, nem por isso, assistiu a um ciclo consistente de crescimento. Em 2012, no mais profundo ciclo de alívio monetário do país, o juro real ficou perto de 2%. No ano seguinte, o PIB cresceu 3%. Mas esse movimento não se sustentou: em 2014, a economia avançou apenas 0,40%, com juro real perto de 4%, e mostrou contração de 3,77% em 2015.

Esse episódio confirma que juros baixos não contratam, necessariamente, crescimento. A combinação de inflação sem controle e baixa confiança na política monetária e, principalmente, na fiscal explica a incapacidade da atividade de responder ao estímulo monetário. Hoje, parte desses elementos foi retirada do cenário, o que torna o ambiente propício à retomada.

"Vivemos situação sem paralelo em que se tem um quadro econômico muito ruim, mas uma equipe muito boa, capaz de explicitar o caminho a seguir. E isso justifica a queda do juro neutro", diz o economista José Julio Senna, responsável pelo Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV.

Senna explica que o juro que permite crescimento econômico sem gerar pressão inflacionária, depende do comportamento dessa taxa nos mercados internacionais ¬ que tornou¬se mais baixa nos últimos anos ¬ e também da percepção de risco Brasil, variável que resulta da qualidade do ajuste fiscal, da política monetária e do ambiente de negócios. O nível de endividamento e o estoque de crédito subsidiado ainda servem de trava.

Senna diz que, mesmo tendo caído recentemente, o crédito subsidiado (como o do BNDES) corresponde a cerca da metade do estoque, e isso leva tempo para mudar. "Não dá para contar que acontecerá nos próximos dois anos", diz. Embora o corte de juros tenha efeito patrimonial imediato para empresas e famílias endividadas, que ganham melhores condições de cobrir despesas financeiras, há um intervalo para a retomada do consumo. "As pessoas voltam a fazer gastos quando estão mais confortáveis.

Nos Estados Unidos e Inglaterra, houve demora nesse movimento, o que deve ocorrer também aqui", diz Senna. Para o ex-¬secretário do Tesouro Nacional e economista-¬chefe do Banco Safra, Carlos Kawall, o quadro fiscal e a incerteza política explicam a intensidade e também a extensão da crise. Ele compara a recessão brasileira à americana e pondera que, enquanto os EUA tiveram problema de sobreendividamento das famílias, que se arrastou para o sistema bancário, o problema brasileiro ficou concentrado no balanço fiscal e nas empresas.

Mas ele observa que o PIB americano teve retração de 4,6% e, após 15 trimestres do início da recessão, retomou o pico que antecedeu a crise, do quarto trimestre de 2007. Já o PIB brasileiro encolheu 7,3%, e só deve voltar ao patamar pré-¬crise, marcado no quarto trimestre de 2014, pelo menos após 20 trimestres, em 2019 ou em 2020. Essa dificuldade da retomada, diz tem a ver com o contexto fiscal. "O legado de descontrole fiscal é duro e difícil de carregar", afirma.

"Ainda é cedo para acreditar que foi possível fazer uma quebra estrutural, ou seja, que o futuro deixou de conversar com o passado. Isso dependerá do compromisso com as políticas." Diretor da Escola de Economia de São Paulo da FGV, Yoshiaki Nakano também destaca a perspectiva para as contas públicas como importante para garantir a queda estrutural do juro. "Vai depender muito do que ocorrer com a política fiscal", afirma.

Para ele, é fundamental aprovar a reforma da Previdência e cumprir o teto de gastos, além de fazer com que a receita corrente do governo supere as despesas correntes, a fim de garantir o financiamento do investimento público com recursos não inflacionários. Nakano considera fundamental uma reforma monetária, que exigiria desindexação do sistema financeiro, por ser atrelado à Selic. Ele critica há anos o fato de o BC usar nas operações de curto prazo a Selic, a mesma taxa dos títulos públicos. Esse conjunto daria grande espaço para a queda sustentada dos juros.

Uma boa notícia é que há uma chance razoável de que a política fiscal deixe de ser estruturalmente expansionista em breve. Com uma reforma da Previdência que torne viável o cumprimento do teto de gastos, isso pode ocorrer, abrindo espaço para a Selic ficar estruturalmente mais baixa, diz Salles.

Nesse cenário, a taxa neutra deve cair, permitindo que o juro básico siga em níveis menores, não havendo necessidade de a Selic voltar à casa de dois dígitos. Professor da PUC¬Rio, Marcio Garcia também vê boa chance de o país enfim ter uma política fiscal contracionista, tornando possível que a política monetária seja expansionista. Com isso, haveria o mix ideal de política econômica. "É o que nós deveríamos ter feito pelo menos desde o começo do Plano Real", diz Garcia. "Os macroeconomistas repetem isso sem cessar há mais de 20 anos." Garcia lembra ainda que os spreads bancários continuam elevados, o que tende a dificultar a recuperação da atividade. "O canal de crédito está bastante entupido", diz. Se as incertezas limitam a velocidade da resposta da economia, há avanços que parecem consistentes com um cenário de crescimento mais sustentável. E a inflação é um deles, na visão de Honorato, do Bradesco.

"É baixo o risco de haver descontrole nos próximos dois anos", diz. "Estamos ganhando a convicção de que a inflação baixa pode ser um fenômeno estrutural." O déficit em conta corrente, perto de 1% do PIB, diminui riscos de pressão do câmbio sobre os preços. E, internamente, o desemprego alto e a ociosidade da indústria demorarão a ser revertidos. "O ganho de renda real vem da inflação baixa, e não pela melhora no mercado de trabalho." Analistas também citam como elementos que contribuirão para a retomada da confiança, do investimento e da atividade a criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), atrelada às NTN¬Bs, em substituição à Taxa de Juros de Longo prazo (TJLP) e a mudança nas regras de conteúdo local do petróleo.

Para José Julio Senna, a fixação do teto de gastos é um avanço "inédito". "Não estou dizendo que isso vai funcionar para sempre, mas trouxe esperança de que será possível mudar a dinâmica", afirma. Estrategista da Fator Administração de Recursos (FAR), Paulo Gala vê uma mudança na economia brasileira recente que terá como uma consequência juros reais bem mais baixos.

Para ele, o excesso de oferta e o elevado nível de endividamento permitem uma redução mais agressiva da Selic, que pode atingir 8,25% no fim deste ano, e eventualmente continuar a cair em 2018. A perspectiva de uma situação fiscal melhor também contribui para juros menores. Ele chama a atenção para a enorme ociosidade na economia.

No primeiro trimestre, a taxa de desemprego beirou os 14%, ao passo que, na indústria, indicadores de capacidade instalada estão na mínima histórica e há grande vacância de imóveis comerciais e residenciais. "Sendo otimista, essa ociosidade vai ser preenchida em três ou quatro anos." Assim, Gala vê uma recuperação lenta da economia, estimando um avanço de 0,5% neste ano e algo próximo a 2% no ano que vem, mesmo com juros reais mais baixos.

 

Mercado amplia ficha em Copom mais agressivo

Os juros futuros tiveram ontem mais uma sessão de firme baixa, numa indicação de que o mercado financeiro tem avançado mais passos para se alinhar a um cenário de corte mais agressivo da Selic no fim deste mês, já considerado por alguns departamentos econômicos e que pode ser fortalecido hoje a partir de declarações do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn.

Ontem, a curva de taxas de Depósito Interfinanceiro (DI) chegou a embutir mais de 50% de probabilidade de corte de mais de 1 ponto percentual da meta Selic no próximo dia 31. Na quarta-¬feira, essa precificação era de 39%. No fim da semana passada, de 26%. O mercado de DI passou a projetar Selic pouco abaixo de 8,5% para o fim de dezembro. A mediana das estimativas de economistas consultados pelo BC para a pesquisa Focus já mostra juro de 8,5% desde o começo de abril. Bradesco e as gestoras Garde e Infinity são algumas das instituições que esperam corte de 1,25 ponto do juro neste mês.

O reforço do mercado nessa direção tem sido alimentado por uma "confluência dovish" de fatores. Apenas nesta semana, as leituras do IGP¬DI e do IPCA (ambos de abril) e da primeira prévia de maio do IGP¬M confirmaram a continuidade do alívio nos preços. Ao mesmo tempo, a atividade segue enviando sinais mistos.

Na ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de abril, os membros do colegiado do BC admitiram discussão de corte além de 1 ponto da Selic. Mas ponderaram que a "continuidade das incertezas e dos fatores de risco" indicavam a manutenção do ritmo de corte como opção mais adequada. Desde então, porém, o texto-¬base da reforma da Previdência foi aprovado, com indicações de que o governo obterá os votos mínimos para aprovar o projeto na Câmara.

Além disso, os prêmios de risco no Brasil e no exterior voltaram a cair, e as expectativas de inflação para 2018 chegaram a ceder a 4,3% ¬ abaixo do centro da meta, de 4,5%. "O mercado vai para cima da curva porque está chegando à conclusão de que as ressalvas que o BC deu para não acelerar o corte da última vez estão perdendo força", diz o gestor sênior de renda fixa da Absolute, Renato Botto.

Ele chama atenção, porém, para o fato de as quedas dos DIs janeiro de 2019 e janeiro de 2018 ocorrerem em magnitudes similares. Para o gestor, isso eleva a "gordura" no DI janeiro de 2019, especialmente se o Banco Central confirmar cortes mais profundos dos juros. Botto diz que, em caso de surpresa com votação do texto da reforma da Previdência no plenário da Câmara ainda neste mês, a discussão no mercado deve migrar de corte de 1 ponto a 1,25 ponto para entre 1,25 ponto e 1,50 ponto.

Outro sinal do ajuste do mercado vem dos títulos públicos. Operadores relataram que o leilão de Letras do Tesouro Nacional (LTN) realizado ontem foi "demandado". A diferença média entre a taxa de venda da LTN outubro de 2017 e o DI equivalente foi de ¬2,1 pontos¬base. O consenso indicava "spread" de até 0,5 ponto. Ou seja, a forte demanda pelo papel reduziu mais as taxas pagas pelo Tesouro. "Depois da votação da Previdência, dos dados de inflação e de atividade, chegou-¬se à conclusão que esse vértice estava muito 'gordo'. Por isso essa corrida", diz Luis Laudisio, operador da Renascença.

 

Volatilidade no câmbio volta ao nível de 2014

As moedas emergentes cravaram ontem mais um dia de ganhos, consolidando a melhor série de dois dias em quase dois meses. O movimento foi respaldado por nova sessão de forte queda das medidas de risco, em meio a expectativas de um cenário ainda benigno para esses mercados. A volatilidade do câmbio emergente capta com atraso o colapso das medidas de risco do mercado de ações americano.

O índice VIX oscilou recentemente em mínimas desde 1993, com o S&P 500 orbitando máximas recordes. A expectativa de elevação apenas gradual dos juros nos Estados Unidos, dúvidas sobre a capacidade de Donald Trump de avançar com sua agenda econômica e algum suporte às commodities voltaram a beneficiar o câmbio emergente. Uma cesta composta por cinco divisas emergentes teve ontem alta de 0,77%, elevando a 1,64% os ganhos dos últimos dois pregões. É a melhor série de dois dias desde os pregões de 15 e 16 de março, quando essa cesta subiu 2,62%.

Ao mesmo tempo, um índice do Barclays que mede a volatilidade implícita no câmbio emergente bateu 7,1265% ao ano, menor patamar desde setembro de 2014. Desde o começo deste ano, esse índice recua 27%. De acordo com o Deutsche Bank, os retornos das operações de arbitragem com taxa de juros acumulam alta de 1,03% em maio. Ontem, o dólar comercial caiu 0,64%, a R$ 3,1465, menor patamar em mais de duas semanas, no terceiro dia seguido de baixa. Nesse período, a moeda acumula perda de 1,56% ¬ queda mais intensa desde a série finda em 17 de março.

O alívio no câmbio está diretamente relacionado a quedas nos prêmios de risco do Brasil. Na quinta-¬feira, os Credit Default Swaps (CDS) de cinco anos escorregou a 205 pontos¬base, menor patamar desde janeiro de 2015. O CDS é um derivativo que funciona como um seguro contra calote. Além do real, outras moedas ganharam força.

Rand sul¬africano e peso mexicano, por exemplo, subiram 1%, num dia de fôlego renovado das commodities. O índice CRB de matérias¬primas avançou 0,52% ontem, zerando as perdas do mês. A correlação entre as divisas emergentes e as matérias¬primas voltou a ficar positiva, depois de meses de perda de aderência por causa das diferentes repercussões nesses mercados vindas das propostas de Trump para a economia americana.

 

Pastore vê grande desinflação e projeta Selic a 8% no fim do ano

O ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore vê um amplo espaço para a redução dos juros, estimando que a Selic fechará 2017 perto de 8% ao ano ¬ hoje, a taxa está em 11,25%. Para ele, a desinflação em curso é muito forte, e o recuo dos índices de preços não tem nada de artificial. "É uma desinflação genuína e, portanto, não há voluntarismo em baixar mais os juros", resume Pastore, que diz ter simpatia pela ideia de o BC levar mais rapidamente a Selic abaixo da chamada taxa real neutra, aquela que permite que a economia cresça sem pressões inflacionárias. "Nós estamos vivendo a maior recessão da história, a mais longa e a mais profunda", afirma o economista, destacando a grande ociosidade existente na economia.

"Nesta altura do campeonato, a variável que pode botar essa economia num crescimento maior é realmente a queda da taxa de juro real", diz Pastore. Não haverá impulso fiscal, o canal do crédito está obstruído e, embora a economia global tenha melhorado um pouco, isso não deve ter grande impacto sobre o Brasil.

Para ele, o PIB deve crescer em torno de 0,5% neste ano e pode avançar cerca de 2,5% no ano que vem. A queda de juros, embora fundamental para fazer a atividade voltar a avançar, não vai levar a um crescimento dos mais fortes, defende. "A recuperação não deverá ser em 'V'", afirma, enfatizando que a recessão iniciada no segundo trimestre de 2014 é "muito diferente e mais grave" que as anteriores.

O ponto é que empresas e consumidores ainda estão bastante endividados, há muita capacidade ociosa, o desemprego subiu muito e há dificuldades em setores importantes da economia, como a construção civil, observa Pastore. Reduzir o juro real é o único instrumento que há para fazer a economia retomar o crescimento, mas não deverá ser suficiente para a atividade passar a avançar rapidamente, avalia ele.

Sócio da A.C. Pastore & Associados, o economista diz que a sua projeção de uma Selic a 8% no fim do ano se fundamenta numa "série de fatores desinflacionários". O hiato do produto (a diferença entre o PIB efetivo e o PIB potencial) mostra grande ociosidade na economia, a taxa de desemprego está muito elevada, há uma supersafra agrícola, contribuindo para a queda da inflação, e o câmbio se valorizou em relação aos níveis de 2016.

Para completar, a atitude cautelosa do BC, que começou lentamente um ciclo de redução dos juros em outubro de 2016, fez as expectativas de inflação desabarem. "Ao forçar as expectativas para baixo, Ilan [Goldfajn, presidente do BC] deu um xeque¬mate na inércia", diz Pastore. Nesse cenário, os modelos apontam para a possibilidade de uma Selic de 8% no fim do ano, segundo o economista. No Boletim Focus do BC, a mediana das projeções indica uma taxa de 8,5%. Pastore prefere não discutir se o Comitê de Política Monetária (Copom) vai manter o ritmo de corte da Selic em 1 ponto percentual na reunião do fim do mês ou se vai intensificá¬lo.

Para ele, o que importa é que, no fim do ciclo, a taxa deve ficar perto de 8%. No entanto, ele diz ter simpatia pela ideia de se derrubar o juro mais rapidamente abaixo da taxa neutra. De difícil cálculo, essa taxa estaria na casa de 5%, descontando a inflação, segundo alguns economistas.

"A teoria e a evidência empírica me dizem que, com esse hiato negativo do PIB, o juro real de mercado tem que cair abaixo da taxa neutra", diz Pastore. Com a Selic em 8% e o IPCA na casa de 4%, o juro real ficaria em cerca de 4%, abaixo, tudo indica, da taxa neutra. Pastore diz que é difícil dizer se essa taxa é de 5% ou já é inferior a esse número, mas "considera muito possível que ela caia relativamente ao nível em que está hoje".

Para ele, a tendência da taxa neutra é de queda, devido à perspectiva de aprovação de reformas como a da Previdência, que melhoram a situação fiscal, mas também pela expectativa de avanços na agenda microeconômica. Pastore cita os esforços do BC para reduzir spreads e mexer nos compulsórios, as mudanças promovidas no BNDES pela gestão de Maria Silvia Bastos Marques, como a nova Taxa de Longo Prazo (TLP), as alterações no setor de petróleo, com a maior participação do setor privado, e medidas para reduzir o risco regulatório.

Ao comentar por que faz sentido acelerar a queda dos juros, Pastore diz que política monetária não é feita no vácuo. "Embora o único mandato do BC seja a meta de inflação, ele tem que levar em conta a perda de produto", afirma ele, ressaltando a enorme distância entre "o PIB atual e o PIB potencial". Com uma enorme ociosidade na economia, "a opção racional que minimiza esse custo é reduzir os juros mais depressa. Não é um palpite voluntarista."

Para ele, há uma possibilidade razoavelmente grande de a Selic ficar 2018 inteiro em 8%. Considerando um dólar entre R$ 3,10 e R$ 3,30 no ano que vem, as projeções apontam para um IPCA de 4,5%, exatamente a meta perseguida pelo BC. Com a remoção de riscos e distorções da economia e a perspectiva de redução da taxa neutra, Pastore diz não ver motivos para a Selic voltar para dois dígitos, caso seja necessário elevá-¬la em algum momento.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Atividade econômica está em um patamar mais alto, diz Meirelles

O IBC-Br, índice de atividade econômica calculado pelo Banco Central, deve cair em março, afirmou nesta quinta-feira (11) o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles.

"A economia não funciona em linha reta. Ela sobe, cai, sobe, cai mais, mas o fato é que a atividade econômica está em um patamar mais alto", disse o ministro após entrevista dada a emissoras de rádio transmitida pela EBC (Empresa Brasil de Comunicação).

"Dados do Banco Central mostram que em janeiro sobre dezembro houve crescimento, assim como fevereiro sobre janeiro. Março deve cair um pouquinho, mas no trimestre já há crescimento", afirmou, ao comentar os resultados da Pesquisa Mensal de Comércio, do IBGE, que mostrou recuo de 1,9% em março na comparação com fevereiro.

Meirelles ainda disse que as mudanças aprovadas pela comissão no Programa de Regularização Tributária, que reduzem a arrecadação, "não são adequadas do ponto de vista fiscal".

"Estamos aguardando que essa medida provisória seja votada pelo Congresso. As medidas propostas pelo relator não são adequadas do ponto de vista fiscal. O que iria se arrecadar com esse processo cai muito. Achamos que isso deve ser modificado no plenário da casa", disse o ministro.

Meirelles disse que a equipe econômica vai trabalhar "com rigor e severidade" para que as mudanças da comissão sejam revertidas em plenário. "Por enquanto o que existe são propostas preliminares, propostas pelo relator e aprovadas pela Comissão, mas estamos trabalhando para que o plenário reverta isso".

Sobre a retirada do projeto de regularização fiscal dos Estados do aumento da contribuição previdenciária dos servidores para 14%, o ministro disse que a retirada de uma contrapartida "terá que ser compensada por outra".

"O Rio de janeiro, por exemplo, tem que conseguir fechar as contas para pagar salários dos servidores. Por isso, se não tem aumento de contribuição previdenciária, terá que ter mais corte de despesas para compensar, por exemplo. Em resumo, o que importa é fechar a conta no final".

 

O ESTADO DE SÃO PAULO

BNDES diminui empréstimos e setores reclamam

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está entre as principais mudanças na política econômica neste um ano do governo Michel Temer.

Maria Silvia Bastos Marques, primeira mulher a ser indicada para o alto escalão, assumiu a presidência do banco, em junho de 2016, com a missão de reduzi-lo. A tarefa não tem sido fácil - a restrição ao crédito subsidiado e as mudanças internas têm sido alvo de críticas do empresariado e de parte do corpo técnico.

Nos últimos dias, Maria Silvia enfrentou "fogo amigo" de setores do próprio governo. As reclamações são de que o banco travou o crédito e não está funcionando, como mostrou na última segunda-feira o Estado. A revista "Época" publicou que o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, estaria procurando um substituto para Maria Silvia, mas o Palácio do Planalto descartou mudanças.

As críticas vêm desde o ano passado. Maria Silvia vem argumentando, reiteradas vezes, que, em meio à recessão, falta demanda por crédito para investir e não oferta por parte do BNDES. Ano passado, os desembolsos para empréstimos já aprovados encolheram 40% em termos reais.

Ainda que o tamanho da queda seja explicado pela falta de demanda, a redução do BNDES foi uma das primeiras medidas do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Antes de Temer completar um mês no cargo, o próprio presidente anunciou a devolução de R$ 100 bilhões, parcelados em três anos, da dívida do banco de fomento com a União.

Foi uma marcha à ré na expansão do BNDES, uma marca nos governos do PT. Turbinados por R$ 440,8 bilhões em aportes do Tesouro, entre 2009 e 2014, os desembolsos saltaram de R$ 88,5 bilhões em 2003 para R$ 267 bilhões em 2010, em valores de 2016. "O que a nova diretoria do BNDES está fazendo é dar uma travada, porque o que estava acontecendo antes era um absurdo", disse Cláudio Frischtak, sócio da Inter.B Consultoria, completando que o aumento do crédito subsidiado não elevou os investimentos.

Reconhecida como uma executiva exigente e focada em resultados, Maria Silvia acelerou as mudanças pedidas por Meirelles. Em novembro, o BNDES surpreendeu, ao devolver os R$ 100 bilhões de uma vez, e não em três.

Outro sinal do ritmo acelerado imposto por Maria Silvia foi a criação da Taxa de Longo Prazo (TLP), que substituirá a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) nos empréstimos do BNDES a partir de 2018.

Cerca de três meses se passaram entre a revelação, pelo Estado, de que a equipe econômica estudava atrelar os juros do BNDES às taxas das NTN-Bs, títulos públicos corrigidos pela inflação, e o anúncio da TLP, no fim de março.

O destaque das mudanças foi o anúncio da nova política de crédito do banco, na primeira semana deste ano, com regras que valem para todos os setores e incentivos "horizontais" aos projetos que recebem crédito subsidiado.

Para José Roberto Afonso, especialista em finanças públicas e professor do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), os aportes do Tesouro formaram um "esquema que concedeu crédito ao sistema bancário à custa de endividamento público", que faliu e foi corretamente abandonado, mas a forma das mudanças preocupa. "O mais preocupante é que esteja sendo ferido e desmontado o banco de desenvolvimento. O resto do mundo, inclusive as economias avançadas, quando mergulhou na crise global, fez justamente o contrário", disse o consultor, por e-mail.

Do lado do empresariado, a Abimaq, associação que representa os fabricantes de máquinas e equipamentos, e a Fiesp, principal representante da indústria paulista, criticaram a mudança na TJLP. José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, acha que, como banco de desenvolvimento, a instituição precisava ser mais ativa na oferta de crédito durante a crise.

"O que não está sendo atacado pelo governo é o problema de endividamento de crédito das empresas", disse Roriz, ressaltando que a interlocução com o BNDES avançou a partir de abril.

Em nota, o BNDES lembrou que "ampliou e aperfeiçoou" a linha de capital de giro, o Progeren, "para permitir que as empresas atravessem esse período preservando suas atividades e empregos". "De 2016 até agora, foram desembolsados R$ 4,4 bilhões", diz a nota do BNDES.

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