Quarta-feira

VALOR ECONÔMICO

Real zera perdas no ano com expectativa por reformas, mesmo sem Temer

O dólar voltou a cair frente ao real, fechando esta terça-feira no menor patamar em cerca de seis semanas e zerando os ganhos no ano. Mais uma vez a divisa doméstica foi destaque positivo entre pares emergentes, beneficiando-se da perspectiva de que a política econômica e a agenda de reformas no Brasil sejam mantidas, independente de quem assumir a Presidência da República.

O real tem sido amparado também pela ideia de que o processo de retirada de estímulos no mundo desenvolvido se dará de forma muito gradual. E nesse contexto mercados em processo de reequilíbrio macroeconômico e com juros comparativamente altos – caso brasileiro – seguem atrativos. Desde a eclosão da crise política, em meados de maio, o câmbio tem mostrado alguma resiliência.

Embora em patamares mais depreciados que na primeira metade daquele mês, o real tem ficado em torno de 3,30 por dólar, testando atualmente o patamar de 3,25 por dólar. A “tranquilidade” tem sido atribuída a constantes fluxos de investimento direto, à abundante liquidez no exterior e ao elevado custo de carregamento de posição de venda em reais, além das atuações do Banco Central por meio de oferta de “hedge”. Isso tudo em meio à perspectiva de que alguma reforma ainda seja aprovada neste ano.

O dólar comercial terminou esta terça-feira em queda de 0,24%, a R$ 3,2524. É o patamar mais fraco desde 1º de junho (R$ 3,2461). O real sobe 0,95% no acumulado desta semana, melhor desempenho entre 33 moedas globais. No mês, a alta é de 1,91%, de longe a mais intensa na lista.

No acumulado de 2017, o real praticamente zerou as perdas, mostrando variação negativa de 0,06%. Em 18 de maio, dia seguinte às denúncias do empresário Joesley Batista contra o presidente Temer, o real acumulava perda de 3,93% no ano.

 

Venda da indústria de materiais cairá para nível de 2004

As vendas da indústria de materiais de construção terão, em 2017, a quarta queda anual consecutiva, retornando ao nível de 2004, segundo a nova estimativa da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). Após a retração de 7,1% registrada no primeiro semestre, a entidade - que estimava estabilidade - revisou a projeção para R$ 160 bilhões, com retração de 5% na comparação com 2016, se considerado o faturamento deflacionado.

"As empresas têm apresentado queda de volumes e margens pressionadas", afirma o presidente da Abramat, Walter Cover. Há três semanas, o Valor divulgou que a tendência era que a entidade revisasse a projeção de vendas de 2017 para baixo após os resultados de junho.

A Abramat espera que as vendas de materiais para o varejo - que tendem a responder por 55% do total, neste ano, ante a média histórica de 50% - cresçam de 3% a 4%. Já a expectativa em relação à comercialização para as construtoras é de queda de 13% a 14%. No primeiro semestre, as vendas do setor tiveram recuo de 7,1%. O patamar foi mais acentuado do que o que estava previsto pela entidade, mas a redução de vendas segue em desaceleração desde o segundo semestre do ano passado.

O faturamento da comercialização de materiais de base caiu 7,6%, no semestre, e o de acabamento encolheu 6,3%. No período, as vendas de um importante insumo na cadeia produtiva de materiais - cimento - tiveram recuo de 8,8%, para 26 milhões de toneladas, na comparação anual, informou ontem o Sindicato Nacional da Indústria de Cimento (SNIC). O volume total - incluindo exportações - caiu 9%, para 28,6 milhões de toneladas.

No mês de junho, a redução foi de 8,6%, para 4,5 milhões de toneladas, segundo o SNIC. A queda acumulada nos 12 meses encerrados em junho é de 9,8%, para 54,9 milhões de toneladas. No fim do semestre, o SNIC alargou o intervalo de queda previsto para o ano para a faixa de 5% a 9%, conforme antecipou o Valor.

A projeção anterior era de queda de 5% a 7% na comercialização de cimento. Em nota divulgada ontem, o presidente do SNIC, Paulo Camillo Penna, informou que espera melhora do desempenho do setor no segundo semestre em relação ao da primeira metade do ano. Dados da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção (Anamaco) apontam que as vendas do varejo do segmento aumentaram 4% no primeiro semestre na comparação anual. Para o ano, a Anamaco espera expansão de 5% na comercialização de materiais.

Segundo a Abramat, houve retração de 8,9% nas vendas da indústria no acumulado de 12 meses. Em junho, o setor vendeu 5,4% a menos do que no mesmo mês do ano passado e 0,5% abaixo do que comercializou em maio, de acordo com a entidade. Para 2018, a expectativa da Abramat é que o desempenho da indústria de materiais seja parecido com o do Produto Interno Bruto (PIB) do país.

"O desempenho do setor tem uma relação muito próxima com a da política pública. Neste momento, a infraestrutura está sofrendo mais, seguida pelo segmento imobiliário e, por último, pelas reformas", ressalta Cover. A indústria de materiais cresceu no período de 2004 a 2013, com exceção de 2009, de acordo com a Abramat. No ano passado, o encolhimento foi de 11,9%.

 

CNI defende privatização e regime de incentivos para acelerar saneamento

Estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) defende a regulamentação de Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento Saneamento Básico (Reisb) e privatização de companhias para impulsionar os investimentos no setor e, com isso, possibilitar o cumprimento das metas de universalização de água e esgoto em 2033, como previsto no Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab).

Sancionado em 2016, o projeto que criou o regime especial depende da criação do sistema de crédito de PIS-Cofins (previsto para investimentos adicionais aos realizados na média dos últimos cinco anos), que foi vetado, para sair efetivamente do papel. Dois novos projetos de lei já estão em tramitação no Parlamento para tentar viabilizar o sistema, porém, com a crise política e a restrição fiscal, a aprovação da matéria pode levar tempo.

Segundo estudo Impactos fiscais decorrentes do Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento do Saneamento Básico, encomendado pela CNI da GO Associados, em cinco anos, o sistema de acúmulo de crédito poderia implicar em uma renúncia fiscal para o governo de R$ 12,5 bilhões ou R$ 10,6 bilhões em valor presente líquido (representa o valor atual de pagamentos futuros considerando o custo de oportunidade de se abrir mão desse recurso ao longo do tempo).

Porém, isso seria compensado com arrecadação de R$ 10,1 bilhões. O cálculo considera um investimento adicional das empresas de R$ 3,8 bilhões ao longo do período. "O setor de saneamento básico receber subsídio e não ser taxado", frisou Gesner de Oliveira, sócio da GO Associados e consultor da CNI.

O levantamento apontou que em 2015 e 2016 houve uma diminuição dos investimentos em saneamento básico. "Estima-se uma redução de investimentos de R$ 13,9 bilhões (em valores constantes de dezembro de 2015) alcançado em 2014 para cerca de R$ 8 bilhões nos próximos anos", informa o estudo. Na avaliação do consultor da CNI, o país precisa elevar para algo entre R$ 19 bilhões e R$ 20 bilhões os investimentos em saneamento básico para conseguir cumprir a meta de universalização dos serviços de água e esgoto.

Atualmente, conforme Oliveira, o investimento está perto dos R$ 12 bilhões. "Estima-se que, mantido o atual nível de investimentos, a universalização que está planejada para daqui a duas décadas demoraria cerca de quatro décadas. Apenas após 2050 alcançaríamos os níveis de atendimento desejados", destacou o estudo.

O consultor da CNI explicou que o impacto da medida seria praticamente neutro do ponto de vista fiscal para o governo, pois ao mesmo tempo em que abre mão de receitas, o governo também consegue elevar a arrecadação de tributos. Além disso, a expansão de serviços de saneamento ainda vai gerar economia relacionadas a gastos com saude.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), para cada US$ 1 investimento em água e saneamento, são economizados US$ 4,3 em custos de saúde. Apesar desse diagnóstico, o governo tem sido reticente em conceder novos incentivos fiscais devido à forte restrição fiscal. Além disso, a equipe econômica elabora a reforma do PIS, o que também precisa ser considerado para a elaboração do sistema de acúmulo de créditos pelo setor.

 

Para Arminio, saída de Temer não deve atrasar retomada econômica

Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central, a eventual saída de Michel Temer da Presidência da República não vai atrasar a recuperação da economia, cujo ritmo está sendo ditado pelo processo sucessório de 2018 e suas incertezas. "O econômico, agora, não é tão importante", disse ele. "O mais importante é que as instituições funcionem" e resolvam a crise política e moral sem apelar para a economia.

"Se houver perda de credibilidade nas instituições, porque elas estão agindo de forma errática, será mais grave", salientou. Na sua opinião, a situação de Temer deteriorou-se bastante após a divulgação da gravação e da delação de Joesley Batista, da JBS. Em entrevista ao Valor, ontem, Arminio lançou ao debate a ideia de ampla privatização das empresas estatais, inclusive da Petrobras e do Banco de Brasil, velhas joias da coroa tratadas como tabus quando o assunto é privatização. "Se não estava claro até o caso da Petrobras, agora não pode haver mais dúvida de que esse modelo de estatal é muito vulnerável, cheio de problemas e precisa ser repensado.

Eu não vejo, sinceramente, justificativa para se ter empresa estatal. Nenhuma", disse ele, referindo-se ao propinoduto instalado na Petrobras e desvendado pela Operação Lava-Jato. Se Temer for substituído pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEMRJ), como desfecho do processo que corre no Congresso e no Judiciário, Armínio defende a permanência da equipe econômica liderada por Henrique Meirelles durante esse período. "Isso seria o ideal", disse. Quanto à possibilidade de vir a ocupar o cargo de Ministro da Fazenda em alguma administração futura, ele responde que já esteve por duas vezes no governo e não tem intenção de voltar. "Muito menos" de vir a ser um eventual candidato à Presidência da República, como um dia sugeriu Larry Summers, economista e ex-secretário do Tesouro americano.

A seguir, a íntegra da entrevista:

Valor: Dada a fragilidade do governo e o adiamento das reformas, hoje o presidente Temer mais ajuda ou atrapalha a recuperação da economia?

Arminio Fraga: O que mais atrapalha a recuperação nesse momento provavelmente ainda é 2018 [ano de eleições presidenciais]. E isso é em função de uma percepção de que hoje existe uma condução das coisas econômicas de boa qualidade, com uma boa agenda que se atrasar, ou adiantar um pouco, não faz tanta diferença, desde que lá na frente o país não descambe para algum tipo de populismo que fatalmente, com a economia tão fragilizada, seria trágico. Com relação ao presidente e às questões que estão nas manchetes todos os dias, a partir da gravação [e delação feita por Joesley Batista, da JBS], e os muitos ruídos vindos do entorno dele, a minha leitura é que importa mais o processo do que o resultado.

Valor: Como?

Arminio: Quando se olha a decisão do TSE [Tribunal Superior Eleitoral, que julgou e não cassou a chapa Dilma/Temer], com a justificativa de natureza econômica, vejo com grande preocupação. Não há nada mais importante nesse momento do que reconstruir, além da economia, a nossa democracia, o nosso sistema político. Eu sou dos que acreditam que ambos têm origens comuns, mas nesse momento domina a questão política. Cito nesses últimos dias um certo amadurecimento do mercado, se quiser chamar do PIB, com relação a esses assuntos.

Valor: O sr. se refere à saída de Temer e a condução da sucessão sendo feita pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia?

Arminio: A sucessão, do processo, das incertezas naturais que estamos vivendo com o envolvimento de tantos atores, inclusive um número importante deles no poder, ou nas cercanias do poder, ou recém-saídos do poder. O número é significativo, tanto do ministério quanto das assessorias e tudo o mais. O fato é que havia uma certa tolerância da parte da opinião pública até o momento da famosa gravação. De lá para cá as coisas mudaram, os problemas só fazem aumentar, o número de pessoas envolvidas só vem crescendo e a impressão é que isso vai continuar.

Valor: A situação é insustentável?

Arminio: Sem querer personalizar, acho que infelizmente a situação para o presidente se deteriorou muito. Já se sabia que ele era pessoa do círculo mais intimo do poder desde o primeiro mandato da presidente Dilma, como vicepresidente e parceiro preferencial do PT. Ele teve uma atuação importante, positiva, de pular fora e apresentar um programa e merece crédito por isso. Mas o fato é que ele trazia essa outra bagagem, que agora se apresentou de uma forma bastante dramática.

Valor: E as supostas consequências para a economia?

Arminio: O importante, a meu ver, é que essas questões que passam pelo Judiciário e pelo Congresso se resolvam dentro de um certo processo e que não apele para o econômico. O econômico, agora, não é tão importante. O mais importante é que as instituições funcionem. Se houver perda de credibilidade nas instituições porque elas estão agindo de forma errática, será mais grave.

Valor: Mesmo que isso atrase a recuperação?

Arminio: Não acho que isso atrasa a recuperação, esse é que é o ponto. A recuperação vai ter seu ritmo ditado pelo momento culminante que serão as eleições de 2018. Nesse meio tempo, é melhor para o Brasil a longo prazo, para o Brasil que a maioria das pessoas gostaria de construir, que toda essa grande crise política e moral se resolva e seja processada. Uma enorme dificuldade com relação a isso é que muitos dos envolvidos, especialmente no Legislativo, estão diretamente ameaçados e vários já investigados, condenados e defenestrados. Essa operação é muito difícil, mas ela tem que continuar e desembocar em um final minimamente feliz.

Valor: Fala-se, atualmente, que a economia está se descolando da política? Isso é possível?

Arminio: Hoje, elas já estão totalmente imbricadas e não é possível que isso aconteça. Eu acredito que os problemas de ambas têm a ver com esse modelo político/econômico e isso tudo com um caldo de problemas éticos espalhados por toda parte. A solução terá que vir nas duas frentes, mas a que hoje existe, está em andamento e é mais forte, é a política. A econômica está aí, existe uma agenda já bastante antiga, que vem até surpreendentemente sendo tocada. E nada garante que uma mudança feita de maneira objetiva em parte dessa questão maior da política vá atrapalhar a economia. Não creio que seja esse o caso.

Valor: Alguém já disse que a economia é a rainha das ciências sociais desde que a política esteja bem equacionada.

Arminio: É verdade. Mas tem muitos sistemas que funcionaram enquanto a economia também estava indo bem, e um dos exemplos temos aqui. O regime militar acabou quando perdeu a capacidade de manter a economia crescendo. E foi um final relativamente tranquilo, sem prejuízo da economia ter se esborrachado e o Brasil ter levado anos para se recuperar. Podemos estar diante de situação semelhante na Rússia, na China, que são sistemas autoritários, mas em democracias seria a mesma coisa, alternância entre liberais e social-democratas, conservadores e esquerda. Mas com o nosso caso, onde o regime político explodiu e está todo mundo correndo de um lado para o outro querendo se safar, fica mais complicado. A única esperança que tenho é que esse processo, iluminado pela liberdade de imprensa, de opinião, de debate, vá aos poucos chegar em algo melhor. Difícil dizer em quanto tempo. Mas em nome de uma reforma ou outra eu não prejudicaria o andamento institucional que há hoje no Brasil. Pode até ser imperfeito, como todos nós, mas está funcionando bem e precisa, a meu ver, continuar.

Valor: Quais seriam as consequências de deixar as reformas para 2019?

Arminio: As consequências são que o país vai acumular mais dívida e, no que diz respeito a uma agenda mais micro, voltada para o aumento da produtividade, vai continuar muito aquém do seu potencial. É o que é. Agora, não tenho essa certeza toda de que a agenda de reformas vai parar. Não é nada impossível que o Congresso, sentindo as dores da população, aprove a idade mínima para a aposentadoria e a reforma trabalhista. O Ministério da Fazenda fala em dar um passo na reforma tributária começando pelo PIS. Eu não jogaria a toalha na aprovação de algumas dessas questões. Elas são parte da resposta que os nossos representantes devem à sociedade.

Valor: E se não for adiante?

Arminio: Se não for, isso vai ficar claro. O que não dá é para ficar tentando aprovar segundo o modelo de um Brasil velho, negociando um cargo aqui, um negócio ali. Sei que a política tem muito disso, mas passou do ponto. Chegamos a um ponto tal na economia e na própria política em que algumas dessas questões terão que ser discutidas em um contexto de crise e, portanto, em um quadro maior de valores, e não aprovadas na base da negociação de um modelo que faliu.

Valor: Nesse sentido a reforma política não deveria encabeçar a lista de prioridades?

Arminio: Sim, com certeza. Essa é mais difícil, porque toca em temas delicados em um país movido ainda, predominantemente, dentro de um modelo velho. Mas seria desejável e o primeiro item da lista. Me parece que há algum consenso para abordar a cláusula de barreira e as coligações nas eleições proporcionais. Já seria um belo de um avanço.

Valor: Novos partidos continuam sendo criados.

Arminio: É. Teria que mexer no fundo partidário e no tempo de televisão, que viraram um meio de vida para esse Brasil velho que está estrebuchando.

Valor: O governo Temer, se encerrar agora, avançou e deixa algum bom legado?

Arminio: Avançou em algumas questões importantes. No núcleo da área econômica avançou bastante mas agora está ameaçado de retrocesso, por exemplo, no caso do BNDES, que a meu ver tinha um projeto muito bom, que começou com a definição de critérios, algo que fazia falta há muito tempo para um banco público que usa dinheiro do contribuinte. E mais recentemente com a proposta de criação da TLP [Taxa de Longo Prazo, que vai substituir a TJLP nos financiamentos do BNDES]. No geral, na área econômica, diria que as coisas andaram surpreendentemente bem. Houve um certo alívio com a saída da presidente Dilma que rapidamente explodiu o país e, se tivesse ficado mais um tempo, iria explodir ainda mais. E as coisas andaram bem à frente da inflação, o BC se posicionando com mais apoio do resto do governo também. Nos outros setores não tenho uma visão completa, mas vejo com bons olhos as mudanças na área da energia, da educação e das cidades. No meio da confusão toda, isso as vezes passa despercebido. Não diria que o governo nesse sentido merece avaliação ruim. Mas no quadro geral da política já vem de muito tempo, está aparecendo agora e precisa ser resolvido.

Valor: Não está no gigantismo do Estado brasileiro o convite à corrupção?

Arminio: Com certeza. Mas o gigantismo do Estado não surgiu do nada. A atribuição de culpa ou de causa não é trivial. O Estado é grande porque opera em parceria com o setor privado, porque na Constituição se espalhou direitos para todos os lados sem pensar nas contas, porque trouxe um componente ideológico a partir do governo do PT. E tudo se casou com lideranças empresariais que jogaram o jogo. É preciso fazer uma reforma que tire da mesa esse balcão de subsídios, desonerações, proteções, contratos e, assim, diminua o espaço da corrupção.

Valor: A saída seria reduzir o tamanho do Estado?

Arminio: Se o Estado vai ser menor é outra discussão fascinante. Uma parte do Estado gigante é a nossa Previdência, que é de fato enorme para as nossas caracteristicas demográficas e isso está em discussão há muito tempo. O papel do Estado nas áreas da saúde, educação, infraestrutura também, precisa ser repensado. Não sou defensor de um Estado minimalista, não. Acho que precisamos ter um Estado menor. Outro item que está no ar são as empresas estatais em geral. Se não estava claro até o caso da Petrobras, agora não pode haver mais dúvida de que esse modelo de estatal é muito vulnerável, cheio de problemas e precisa ser repensado. Eu não vejo, sinceramente, justificativa para se ter empresa estatal. Nenhuma.

Valor: Nem os xodós como a própria Petrobras e o Banco do Brasil?

Arminio: Não. Nenhuma, nenhuma. Não faz o menor sentido. Isso não quer dizer que o Estado não possa ser um enorme provedor nas áreas da saúde e da educação e que possa participar incentivando as coisas que sejam genuinamente públicas, nas áreas de infraestrutura e distributiva também. Agora, no geral, o modelo de empresa não combina. O Estado pode contratar empresas de forma transparente e competitiva. O Estado ter empresas, para nós, tem sido um problema. Quantas vezes os bancos públicos federais já tiveram problemas. Os bancos estaduais quebraram tantas vezes. O Banco do Brasil quebrou e teve que ser capitalizado, a Caixa também. O Banco do Brasil tem potencial para ser uma corporação privada.

Valor: A Petrobras deveria ser privatizada?

Arminio: Poderia ser perfeitamente privatizada. Não a venderia nunca para um oligarca de uma nação pouco democrática ou para um fundo soberano de outra. Isso jamais faria. Mas teria um setor competitivo, regulado se necessário, e fora da tentação que tem sido ao longo dos anos. É difícil entender como pode ter acontecido aquilo tudo lá dentro da forma que aconteceu [referência ao propinoduto criado na Petrobras e desvendado pela Lava-Jato].

Valor: A lei das estatais representou algum progresso?

Arminio: A lei é bastante boa. Mas um item não foi aprovado, que era a revogação do artigo 238 da Lei das S/A, que supostamente dá alguma justificativa para que empresas tenham objetivos não econômicos [Art. 238. A pessoa jurídica que controla a companhia de economia mista tem os deveres e responsabilidades do acionista controlador (...), mas poderá orientar as atividades da companhia de modo a atender ao interesse público que justificou a sua criação]. Acho que é uma contradição fatal. Qualquer governo mais racional e mais isento de ideologias e pressões políticas sabe que o fato de uma empresa ter que trabalhar como empresa não significa que o governo não possa contratar serviços. Acompanhei de perto esse processo e sai frustrado, apesar de achar que a lei das estatais foi um grande avanço. Esse brinquedo com esses interesses todos expostos desapareceria. É um brinquedo caro, injusto, regressivo.

Valor: Gostaria de lhe perguntar quais podem ser, na sua avaliação, os candidatos potenciais para 2018, além de Lula e Bolsonaro, que são os mais citados nas pesquisas?

Arminio: Acho que está cedo. Os partidos chamados de centro, centroesquerda, centro-direita, vão ter que se organizar e se posicionar e não estão fazendo isso. Vão ter que ter um pouco de humildade, sabem que estão expostos. O PSDB não está se posicionando outra vez. Perdeu a chance lá atrás, no mensalão. Fez essa parceria, embora mais bem administrada, com parte do Brasil velho por falta de alternativas, na época era o argumento.

Valor: E está novamente em um impasse...

Arminio: Desde sempre. Se o país tivesse hoje um PSDB como aquele de quando o partido nasceu, seria barbada ganhar as eleições. Mas o PSDB se perdeu no meio do caminho. Não sou filiado, pra deixar claro. Para mim o ideal teria sido ver o PSDB apoiando as boas reformas, mas não fazendo parte do governo. Pessoas ligadas ao partido até poderiam participar, em caráter pessoal. Mas na medida em que a história [da delação da JBS] foi aparecendo, o partido teria que ter se posicionado. Até agora não fez e vai fazer tarde. As coisas têm um certo momento, também.

Valor: Haveria a necessidade de novo programa econômico para 2019?

Arminio: O Brasil entrou em um buraco fiscal sem tamanho a partir de 2014, que vai ter que ser revertido. As agendas da produtividade, da igualdade de oportunidade, da oportunidade pura e simples, são agendas bem conhecidas e há um mundo de coisas a fazer, uma vez superada a crise política. Mas os riscos aumentaram muito. O país está muito endividado, vários Estados estão em situação ainda pior. É um enorme desafio. Mesmo com o teto e a reforma da Previdência, tudo indica que a dívida vai lá para cima. Passa de 90% nos próximos quatro a cinco anos.

 

Economia começou a estabilizar no Brasil, diz Thyssenkrupp

Um dos maiores grupos industriais da Alemanha, a Thyssenkrupp já percebe sinais de estabilização na economia brasileira. Com uma operação de € 1 bilhão no Brasil - em épocas mais auspiciosas, a receita local equivaleria a praticamente o dobro, ou 5% a 7% do total no mundo -, a Thyssen mantém seu plano de investimento, mas o ritmo dos desembolsos vai depender da velocidade de retomada econômica e da elevação do uso de capacidade no país, afirma o presidente da companhia, Heinrich Hiesinger, em entrevista exclusiva ao Valor.

"Eu enxergo o começo da estabilidade da economia com potencial de melhora no segundo semestre", diz o executivo. "Estamos preparados para continuar investindo aqui, o Brasil é um país muito rico e com grande potencial de médio e longo prazos. Mas precisamos da volta do crescimento para investir mais." Assim como em outras indústrias nacionais, a Thyssen tem convivido com taxas de ocupação próximas a 50%.

De acordo com Hiesinger, o orçamento das operações brasileiras precisou ser corrigido para níveis "mais críveis", em linha com o atual momento da economia. "Nossos planos para o país são consistentes, mas precisamos de maior ocupação antes de pensar em novos investimentos, como ocorre no resto do mundo", explica.

A Thyssenkrupp é um conglomerado industrial que teve receita líquida de € 20,34 bilhões no primeiro semestre de seu ano fiscal, findo em março, lucro operacional de € 501 milhões e resultado líquido positivo de € 58 milhões. O grupo atua em cinco divisões de negócios - componentes, elevadores, soluções industriais, matérias-primas e siderurgia. As cifras excluem os números da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), no Rio, que está sendo vendida à Ternium, do grupo italiano Techint. Em 2015, a perspectiva da Thyssen era investir aproximadamente R$ 2 bilhões no Brasil até 2020.

Segundo Hiesenger, a perspectiva está mantida, mas ainda depende do andamento da economia. Além disso, o valor incluía a CSA. Nos últimos dois anos, o grupo inaugurou uma nova fábrica em Poços de Caldas (MG), uma nova linha de produção em Campo Limpo Paulista (SP), expandiu sua fábrica de elevadores em Guaíba (RS) e a planta de rolamentos em Diadema (SP).

Para o executivo, a situação política adversa no Brasil, com ondas de instabilidade, não se diferencia tanto das surpresas observadas em outros lugares do planeta. Ele cita o "Brexit" - Reino Unido saindo da União Europeia - e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Em sua opinião, são necessárias agilidade e flexibilidade a grandes grupos como o dele para responder a essa volatilidade, com foco nos planos de longo prazo. Hiesinger prefere não arriscar um palpite sobre qual será o momento exato da retomada econômica substancial no Brasil, ou o tamanho dela.

No ano que vem, com as eleições que serão realizados, o cenário ainda parece muito incerto. "A boa notícia é que já vemos estabilidade", diz. Em visita ao país para participar do fórum regional do grupo com lideranças locais, o presidente do grupo conta que o negócio mais resistente por aqui tem sido o de elevadores. Ao contrário de outras áreas, como o setor automotivo - que depende de lançamentos -, a carteira de clientes garante estabilidade nos serviços de manutenção.

Além disso, cerca de 70% da produção na fábrica é exportada. Têm também posição privilegiada no portfólio da alemã no país as soluções para a indústria cimenteira e de mineração. As duas áreas, contudo, lembra Hiesenger, estão enfraquecidas - a primeira, pelo mau momento da construção imobiliária e obras de infraestrutura, e a segunda, pela desvalorização das commodities no mercado internacional. "Mas, no geral, gostamos de nossa presença no Brasil exatamente porque nos permite exercer a diversificação dos nossos negócios", diz o executivo.

Nos últimos anos, a Thyssen acelerou a transformação de seus negócios, com a redução da exposição à siderurgia e maior foco em engenharia e serviços. Como resultado, nos últimos cinco anos, os desembolsos em pesquisa e desenvolvimento têm crescido em média 10% ao ano, totalizando € 3,5 bilhões no período. Em novas fábricas, sobretudo na Ásia e nas Américas, o desembolso somou € 6,7 bilhões.

A nova orientação dos negócios foi ditada também pelo surgimento de novas tecnologias. Hoje, segundo Hiesinger, não é possível manter-se no jogo sem pensar em digitalização. Mas há o desafio inerente ao que é novo e a adesão à digitalização é feita na base da tentativa e erro.

"É preciso testar [a digitalização], o que não é usual para grandes companhias", admite. O programa de eficiência e reestruturação, contudo, não foi suficiente. Com economia de € 800 milhões a € 1 bilhão em custos anuais, o grupo precisou anunciar, ontem, redução de 2.000 a 2.500 trabalhadores de seu efetivo na área administrativa, até 2020. Esse novo enxugamento pode reduzir despesas em aproximadamente € 400 milhões.

O menor interesse pela produção de aço também se refletiu no Brasil. Em fevereiro, a CSA, única remanescente da Thyssen na operação siderúrgica nas Américas, foi vendida para a Ternium, por € 1,5 bilhão. A previsão é que o negócio seja concluído até o fim de setembro. "Já havíamos tentado vender a CSA em 2013, quando a laminadora do Alabama [EUA] foi comprada", afirma o executivo, em referência à alienação da outra metade da Steel Americas.

"Não conseguimos, então continuamos investindo em inovação e licenças, mas sempre deixando claro que uma proposta interessante ficaria com o ativo. Era impossível no cenário de hoje ficar com uma empresa que só produz placas, como a CSA." Esse cenário é o enorme excesso de capacidade que acomete a siderurgia mundial. Na Europa, a Thyssen também quer resolver essas dificuldades, após um plano de reestruturação ter elevado as margens do negócio.

O grupo alemão está negociando atualmente com a indiana Tata Steel a fusão dos ativos de aço na Europa. Mas o processo, acrescenta Hiesinger, será longo, e ainda não há nada definido. "Precisamos de uma liderança responsável em relação ao excesso de capacidade. Estamos abertamente buscando um parceiro para tocar a Steel Europe, em uma joint venture", diz. "A questão é que, principalmente após a reestruturação dos negócios, a unidade dá lucro e gera caixa, mas o retorno de capital é muito baixo. Até quando teríamos que continuar fazendo planos de reestruturação?"

 

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