Segunda-feira

VALOR ECONÔMICO

Banco Central procura recolocar racionalidade no mercado financeiro

O Banco Central procurou recolocar racionalidade nos mercados com um comunicado, divulgado na sexta-feira, que basicamente triplica a oferta de swaps cambiais e avisa que não vai fazer um choque de juros para reagir à pressão no dólar. "Não há relação mecânica entre o cenário externo e a política monetária", afirma o BC, no comunicado. "A atuação do BC no mercado cambial é separada de sua política monetária."

Setores do mercado vinham temendo que o BC fosse obrigado a subir fortemente os juros para conter a desvalorização da moeda. A nota procura relembrar a todos que não é assim que se opera a política monetária num regime de metas de inflação com câmbio flutuante. Nele, o Banco Central usa dois instrumentos para atingir dois objetivos diferentes. As intervenções, por meio de swaps cambiais ou venda de reservas, visam garantir o bom funcionamento do mercado de câmbio. Já a política monetária é voltada ao equilíbrio interno - ou seja, o cumprimento das metas de inflação.

Assim, o BC deve deixar a moeda americana ir para seu valor de equilíbrio e atuar com intervenções apenas garantir a boa formação de preços. Os juros devem subir apenas se há ameaça ao cumprimento das metas de inflação. Nesse caso, a cotação do dólar é apenas um dos fatores que afetam o cenário inflacionário. O essencial é pesar o quanto, exatamente, a alta do dólar afeta a inflação e entender como o BC reage a um choque de oferta como a alta da cotação do dólar.

Na nota, o BC lembra que o efeito da alta do dólar na inflação é mitigado nas condições atuais, com a economia operando abaixo de sua capacidade e expectativas e projeções de inflação na meta. A eventual reação dos juros a um choque de oferta deve ser dosada. O BC tem repetido desde fins de 2016 que, depois que ancorou as expectativas de inflação, pode absorver o impacto primário do dólar no intervalo de tolerância da meta e combater apenas eventuais efeitos secundários.

Períodos de estresse, como o atual, são recorrentes - e muitas vezes o BC é chamado a dar racionalidade aos mercados, quando costuma ressurgir no mercado um resquício de memória do regime dos primeiros anos do Plano Real. Naquela época o BC subia os juros para defender o câmbio fixo, que era a âncora da inflação. Em setembro de 2015, por exemplo, depois do rebaixamento da nota de crédito do Brasil, o então presidente do BC Alexandre Tombini assegurou que não iria barbarizar na taxa de juros para conter a alta do dólar. A mensagem baixou os juros futuros.

No ano passado, depois da delação da JBS, o dólar também subiu muito, e o BC teve que intervir com a venda de swaps cambiais. O mercado, a exemplo de agora, temeu por uma contaminação do câmbio sobre a política monetária. Dessa vez, foi a vez de Ilan Goldfajn dizer que não iria ter uma reação exagerada.

Na época, o BC ofertou swaps e distribuiu uma mensagem muito parecida com a atual. "Não há relação direta e mecânica com a política monetária, que continuará focada nos seus objetivos tradicionais", disse o BC. A mensagem encorajou os analistas de mercado a olharem a política monetária dentro da lógica do regime de metas.

 

Mercados devem ter trégua após BC triplicar atuação no câmbio

Os mercados de dólar e juros devem iniciar os negócios hoje menos pressionados, respondendo à tentativa do Banco Central de acalmar os investidores. A alta de quase 10% da moeda americana em apenas quatro semanas, que levou a cotação para perto de R$ 3,80 na sexta-feira, e o aumento das críticas sobre a atuação no câmbio levaram a autoridade monetária a reforçar a injeção de dinheiro "novo".

Ao fim do mês, a oferta líquida de dólares pode chegar a US$ 6,5 bilhões - mais que o dobro dos US$ 3 bilhões programados no modelo anterior. Se confirmado, esse será o maior volume de dinheiro novo colocado no mercado cambial desde os US$ 10 bilhões registrados em maio do ano passado, mês das delações de executivos da JBS.

No leilão marcado para hoje, o BC vai disponibilizar até 15 mil novos contratos de swap cambial, o triplo do que vinha colocando diariamente na semana passada. Os últimos leilões já haviam representado uma mudança de estratégia do BC, que anteriormente estava oferecendo swaps em uma única operação, mas a expectativa era que o dinheiro novo só entrasse no mercado hoje. Com a persistência da alta do dólar, contudo, o BC decidiu antecipar para 14 de maio a injeção líquida de dólares. E, agora, reforçará a colocação em mais US$ 3,5 bilhões.

A decisão veio após uma rara semana de críticas à atual gestão, tanto do lado do câmbio quanto da política monetária. O mercado engrossou o coro em defesa de mais swaps depois que o real seguiu em queda livre a despeito da surpresa com a manutenção da meta Selic em 6,50% ao ano. Numa tentativa de fortalecer o recado ao mercado, o BC ressaltou, em comunicado, que "os montantes das ofertas adicionais de swap poderão ser revistos e se reserva o direito" de realizar intervenções discricionárias".

Ou seja, os 15 mil contratos de swap a serem ofertados a partir de hoje poderão ser aumentados. Na avaliação do sócio e gestor da Flag Asset, Sérgio Goldenstein, a estratégia do BC aumenta o seu poder de ação e é mais eficaz, já que nem sempre a previsibilidade é aliada da autoridade monetária. Uma atuação extraordinária serve para surpreender o mercado, gerando incerteza para quem tem posição comprada em dólar. "É preciso atuar de forma que gere um risco para quem está apostando contra o real. Seria o caso de entrar ao longo do dia, anunciar swap de surpresa, com volume grande", diz.

"A ação do BC deve quebrar a espiral negativa. E a taxa de câmbio pode voltar para cerca de R$ 3,50 nos próximos dias." Goldenstein, que foi chefe do Departamento de Operações do Mercado Aberto do BC, lembra que o real foi muito usado para "hedge" de posições em bolsa e renda fixa, além de ter sofrido como a maioria dos emergentes num contexto de adversidade no exterior.

"Mas também teve muita aposta puramente especulativa numa depreciação da moeda por causa da proximidade do ciclo eleitoral e do ambiente de incerteza", diz. E assim caberia ao BC suavizar esse movimento, até porque a piora no câmbio estaria descolada dos fundamentos. "O Brasil tem um quadro de contas externas muito sólido e melhor que a maioria dos pares", acrescenta.

Rogério Braga, sócio-diretor da gestora Quantitas e responsável pelos fundos de renda fixa e multimercados, acredita que o real poderá iniciar a semana "mais calmo", mas questiona o fato de o BC ter esperado para anunciar o reforço da atuação após o fechamento do mercado.

Também para ele, o fator surpresa é importante, porque acaba inibindo especulação. "Se o BC disse que poderá fazer atuação discricionária, por que já não a fez?", questiona. O chefe de estratégia de câmbio e renda fixa de um banco em Nova York acredita que a reação do BC "ajuda" o real, mas o caminho de depreciação do câmbio só mudará se o mercado global melhorar o humor para emergentes.

E, para o profissional, a tentativa de acalmar os ânimos não deveria se restringir ao Banco Central e precisaria incluir o Tesouro Nacional, com leilões de recompra de bônus. Por ora, o reforço da injeção de dólar já deve trazer alívio para a cotação. E esse movimento deve fortalecer a visão dos que enxergam oportunidade de compra de real.

Mesmo antes do reforço da atuação do BC, o Morgan Stanley já acreditava que a moeda brasileira pudesse ter desempenho melhor no curto prazo. Tanto que abriu, no fim da semana passada, quando o real aproximava-se das mínimas em dois anos, posição comprada contra o peso mexicano. Na sexta-feira, o dólar subiu 1,06%, a R$ 3,7409, maior nível em 26 meses.

 

BNDES diz estar 'cheio de dinheiro' e com 'vontade de emprestar'

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Dyogo Oliveira, pediu nesta sexta-feira, durante evento na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que empresários submetam projetos para análise do banco. “Estamos cheios de dinheiro e queremos que as empresas nos procurem. Temos muita vontade de emprestar”, afirmou para uma plateia de empresários e dirigentes do setor.

Dyogo ressaltou que as linhas de crédito do banco são competitivas com relação ao mercado. “A TLP (Taxa de Longo Prazo), que está projetada em 6,7% ao ano, é muito competitiva. E reduzimos os spreads”, disse. Segundo ele, a maioria dos projetos é viável com a TLP. “Dá para fazer muito negócio.” O BNDES já reduziu o componente de spread de suas operações em 50% neste ano, destacou. “Trabalhamos muito para cortar custos com operações”, disse. O presidente da instituição anunciou também que o banco de fomento pretende lançar, em breve, o “BNDES Garagem”, para jovens empreendedores.

“Queremos expandir muito o apoio ao venture capital.” Dyogo ressaltou para os empresários que as linhas tradicionais do banco continuam ativas. “Queremos facilitar o acesso de empresas ao BNDES. A inadimplência está caindo, as provisões estão sendo reduzidas, a queda da inadimplência deságua na retomada do crédito. Existe muita capacidade ociosa das empresas, mas isso se reverte com a recuperação”, disse.

Prazo

A instituição estuda ainda aumentar o prazo de financiamento dos empréstimos, numa medida para dar mais folga ao caixa das empresas. “São medidas que em breve vamos anunciar.” Dentro de cerca de três meses, o banco espera ter um diagnóstico sobre quais linhas de crédito poderão ter seus prazos alongados. “Ainda alavancadas, as empresas têm espaço pequeno para se endividar e queremos adpatar os produtos do banco a essa realidade”, afirmou. Segundo ele, o alongamento, assim que instituído será apenas para novas operações. Um estudo foi pedido ontem à equipe técnica da instituição.

Dyogo disse que o estudo envolve todas as linhas, mas nem todas poderão ter seus prazos de financiamento estendidos. PIB “Os bancos brasileiros têm um resultado maior do que a média do mundo, mas isso por causa do juro alto. Quando a Selic está a 6,5%, você ganha menos e é melhor fazer outra coisa” que não seja investir em títulos públicos, afirmou.

“O juro menor vai movimentar uma massa de dinheiro para a economia.” Durante o evento, Dyogo afirmou que estima que a economia brasileira cresça em torno de 2,5% em 2018. A previsão é inferior à estimativa oficial do governo, ainda em 3%, mas que pode ser reduzida para uma faixa de 2,3% a  2,5% no próximo relatório bimestral de receitas e despesas. Para o presidente do BNDES, a economia está se recuperando mais lentamente do que o governo esperava, mas disse preferir ver o “copo meio cheio”.

“O copo meio cheio é que a atividade se refere a um crescimento de pelo menos 2,5%. Para quem saiu de uma recessão, não é nada mau crescer 2%, 2,5% ou 3% em 2018”, disse. Segundo ele, “não existe uma crise” em torno da questão do crescimento da economia. “Há um ajuste das estimativas, mas a economia está se recuperando de modo contínuo.” De acordo com o presidente do BNDES, há setores que estão indo “muito bem”, como segmento de caminhões, que estaria crescendo em torno de 60%.

Questionado se, por causa da recuperação mais lenta, o BNDES mantém a expectativa de desembolso para o ano, Dyogo disse que trabalha com meta de R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões anuais. Em outras ocasiões, ele deu previsão de R$ 75 bilhões a R$ 80 bilhões.

 

Piora nas condições financeiras seria risco à retomada, afirma economista

A manutenção da Selic em 6,5% ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom) provocou uma reação em cadeia no mercado, criando na prática uma retroalimentação entre o câmbio e os juros, o que pode levar a um aperto mais forte nas condições financeiras, diz o economista Paulo Miguel, sócio e diretor de investimentos da GPS Investimentos. Se esse aperto persistir, pode ser "mais um fator de potencial desaceleração para a atividade econômica, que ainda está cambaleante", avalia ele.

Para Miguel, contudo, é muito prematuro alterar ainda mais as projeções para a economia devido aos eventos da semana passada. Ele trabalha hoje com uma taxa de crescimento de 2,5% neste ano ou um pouco menos - no começo do ano, esperava 3%. É possível reverter essa espiral negativa, diz o economista da GPS, empresa de gestão de patrimônio do grupo suíço Julius Baer.

É importante verificar se haverá uma estabilização das percepções no mercado, sendo relevante aguardar o teor da ata da reunião do Copom, a ser divulgada amanhã, e ver se haverá uma reação mais enérgica do BC no câmbio - na sexta-feira, depois do fim dos negócios, a autoridade monetária informou que vai ampliar a oferta de swaps cambiais (instrumentos para proteção contra oscilações da moeda).

Para Miguel, o mercado entendeu que, ao manter a Selic em 6,5% ao ano, reforçou-se "a ligação entre câmbio e juros" na função de reação do BC. A maior parte do mercado apostava em queda para 6,25%. Em manifestações anteriores, diz o economista, a autoridade monetária destacava o papel das expectativas ancoradas e da atividade fraca - os efeitos secundários do real mais desvalorizado é que eventualmente seriam combatidos, para impedir a contaminação para outros preços. Essa percepção provocou ajustes fortes no mercado de juros, com uma diminuição de posições dos investidores, e o câmbio seguiu em depreciação. Essa espiral é preocupante, se mantida, porque pode levar a um aperto mais forte das condições financeiras, com impacto negativo sobre a atividade, num momento em que a economia se recupera lentamente, diz Miguel.

Antes da decisão do Copom, o real vinha se desvalorizando, um movimento que teve um papel importante do cenário externo, afirma Miguel. Há uma apreciação do dólar no mercado global que leva ao enfraquecimento das moedas emergentes. Além disso, incertezas no campo político e algum impacto da crise na Argentina também podem ter pesado sobre a moeda brasileira. O comportamento, porém, era ordenado, segundo Miguel.

Isso mudou depois da decisão do Copom, dada a reação do mercado. Ele reitera, porém, que o mercado passou por um forte movimento técnico de ajuste após a reunião dos diretores do BC. É preciso ver como será a reação nos próximos dias. Embora a economia tenha começado o ano um pouco mais fraca, Miguel acredita que ela vai ganhar tração com o passar do tempo.

A queda expressiva dos juros deve impulsionar a atividade, e a possibilidade de um crescimento na casa de 2,5% ou um pouco menos lhe parece factível. "É cedo para mudar as projeções novamente." Nas últimas semanas, houve revisões expressivas das estimativas para o crescimento neste ano - o Itaú Unibanco baixou a sua estimativa de 3% para 2%.

Para Miguel, o efeito dos juros mais baixos vai dar gás à atividade, ainda que a melhora seja lenta. Há fatores que seguram uma retomada mais firme, como o fato de o avanço do emprego ser em boa parte no setor informal, por exemplo. Além disso, há muitas empresas ainda bastante endividadas e com nível elevado de inadimplência, o que afeta o investimento. O efeito da política monetária expansionista, contudo, deve impulsionar a atividade.

"Se persistir a agenda de reformas e uma política fiscal responsável, eu arrisco dizer que nós temos a melhor oportunidade desde o Plano Real para consolidar níveis de juros reais [descontada a inflação] mais próximos, ou menos distantes, dos patamares internacionais." Os juros mais baixos têm ajudado o mercado de capitais, com o crescimento das emissões de títulos por empresas privadas, como debêntures.

Para Miguel, dada a grande ociosidade na economia, a Selic tende a subir apenas no fim de 2019 ou no começo de 2020, desde que as despesas do governo e o crédito dos bancos públicos sigam contidos e o risco-país se mantenha comportado. Para isso, também é fundamental que o candidato eleito siga princípios de responsabilidade das contas públicas em seu governo. A própria situação fiscal delicada tende a desestimular "loucuras" nesse front, avalia ele. "Não tem dinheiro", resume Miguel.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Análise de crises passadas indica que Brasil vive pior retomada da história

Para os economistas que avaliam dados sobre crescimento, está cada vez mais claro que o Brasil vive o mais lento ciclo de retomada econômica da história.

Ao analisar oito recessões brasileiras desde a década de 1980, a economia nunca demorou tanto para reagir, aponta análise do economista Affonso Celso Pastore, com base em séries históricas do PIB (Produto Interno Bruto).

Passados quatro trimestres desde o fim da recessão, a economia está apenas 2,2% acima do vale verificado no quarto trimestre de 2016. Na recuperação de 1998, considerada a mais lenta até o momento, a economia, a essa altura, já estava 4,2% acima do piso.

Os dados sobre os períodos de recessão e de recuperação são todos do Codace, o comitê que data os ciclos econômicos formado pela FGV (Fundação Getulio Vargas).

 

“Há sete meses, a gente já vinha alertando para a lentidão da recuperação; Agora todas aquelas projeções de crescimento de 3%, algumas de até 4%, foram por água abaixo e estamos mirando nos 2%”, afirma Pastore.

A Folha ouviu especialistas que buscam explicar as razões para essa frágil reação. O diagnóstico é que uma atípica associação de travas atua contra o crescimento.

Ponta que faz a roda da economia girar, o setor empresarial ainda não conseguiu se reerguer. Na indústria, apenas alguns segmentos, como o automotivo, ganhou fôlego. A maioria ainda opera com capacidade ociosa. O melhor indicador está no segmento que dá suporte à produção.

“A chamada industria de bens intermediários —cimento, tecido, aço—, que responde por 60% da produção e serve de parâmetro para a atividade, não vem tendo um bom desempenho”, diz Armando Castelar Pinheiro, coordenador de economia aplicada do Ibre/FGV (Instituto Brasileiro de Economia da FGV).

O mesmo vale para os dois segmentos da construção. Tanto a civil, que ainda precisa desovar um grande número de imóveis, quanto a pesada, em que grandes empresas foram atingidas pela Operação Lava Jato, têm dificuldades para voltar a crescer.

“Nós, no Ibre, sempre fomos conservadores em relação à retomada, mas admito que a fraqueza que vemos me surpreende”, diz Castelar.

Pesa também o fato de que, apesar de todos os ajustes, boa parte das empresas saiu da recessão endividada e sendo obrigada a manter cortes e ajustes.

 A consultoria Alvarez & Marsal analisou 170 empresas listadas em Bolsa. O resultado é que a dívida delas cresceu em 2017, mas a expansão do lucro operacional foi superior, reduzindo o que se conhece como alavancagem.

Para Carlos Priolli, diretor da consultoria, lucrar mais com a operação é primeiro sinal de que a economia está melhorando, ainda que de modo tímido. “As empresas estão fazendo a parte delas, mas dependem de contrapartidas: o governo e os bancos precisam fazer a sua parte.”

Nesse front, as respostas também têm sido mais lentas do que o desejável.

Não é possível recorrer ao socorro público, como acontecia nos solavancos econômicos da década de 1980 e em 2009. A grave crise fiscal, que deixa o caixa público no vermelho, impede benesses, subsídios e até obras.

União, estados e municípios restringiram tanto seus Orçamentos que o investimento público chegou a um dos menores patamares da história. Nos 12 meses encerrados em março, o investimento federal totalizou R$ 30,2 bilhões —queda de 54% apenas na gestão de Michel Temer.

O processo de escolha do novo presidente num ambiente de polarização política atua como inibidor na outra ponta, o investimento privado. “A incerteza eleitoral joga mais areia na engrenagem econômica”, diz Juan Jensen, sócio da 4EConsultoria.

Uma alta na oferta de crédito, que poderia irrigar a economia, também não está no cenário de curto prazo. Apesar de o Banco Central ter reduzido a Selic, a taxa básica de juros da economia, a 6,5%, o menor patamar desde a implantação do Plano Real, os juros dos financiamentos caem lentamente.

"Corremos o risco de o PIB não chegar nem a 2% no fim o ano, já que não há reação nem no mercado de crédito nem no mercado de trabalho”, afirma Jensen.

O comportamento do emprego é, de longe, a variável que mais preocupa analistas porque apresenta uma complexidade nova para discussão.

"Além da crise conjuntural, temos uma transformação estrutural: o emprego formal, com carteira assinada, está sendo substituído em todo o mundo por diferentes formas de trabalho que muitos chamam de informal, mas prefiro chamar de independente”, diz José Roberto Afonso, Professor do IDP (Instituto Brasiliense de Direito Público)

Do total de 1,6 milhão de postos de trabalho abertos nos quatro trimestres até março, foram criadas 530 mil vagas sem carteira e outras 840 mil pelos chamados conta própria, pequenos empreendedores que, no geral, atuam na informalidade.

Há ainda um grande contingente de pessoas subutilizadas. Mais especificamente 27,7 milhões, entre desempregados, pessoas que trabalham menos do que gostariam ou poderiam ou aqueles que simplesmente desistiram de procurar, os desalentados.

“Parte desse grupo ainda nem chegou ao mercado e trabalho e pode engrossar o desemprego”, afirma Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria.

Em um país acostumado a valorizar a segurança do serviço público e da carteira assinada, o avanço da informalidade pode trazer mudanças imprevisíveis na forma de poupar e principalmente consumir —e o consumo responde por mais de 60% do PIB.

Ninguém agora quer se arriscar a decifrar a grande incógnita: quando todas essas peças da engrenagem do crescimento vão se ajustar.

 

País terá de encontrar novo ponto de equilíbrio no câmbio, diz Canuto

A taxa de câmbio no Brasil não deve voltar aos patamares anteriores à atual volatilidade, mas ainda não está claro qual é o seu novo ponto de equilíbrio, disse Otaviano Canuto, diretor executivo do Banco Mundial para o Brasil e outros oito países. “Isso dependerá da estabilização das expectativas em relação ao patamar de juros nos Estados Unidos e à cotação do dólar diante de outras moedas.”

Segundo ele, o que está ocorrendo nos últimos dias é um ajuste global de portfólio de investidores, depois de um longo período de oferta ampla e barata de recursos. Se em 2013 houve o susto com os primeiros sinais de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) acabaria com a expansão monetária do pós-crise, agora há a consequência da elevação real dos juros na maior economia do mundo, ressaltou.

Canuto observou que o cenário “benigno” para a atual turbulência é que ela se limite ao ajuste de portfólio, com investidores retirando recursos de mercados emergentes. Esse movimento é estimulado não apenas pela elevação dos juros americanos, mas também pela alta do dólar. Quanto mais ele se valorizar, menor é a atratividade de investimentos em outras moedas, ainda que os juros oferecidos sejam maiores.

O cenário “maligno” é aquele no qual o ajuste de portfólio “contamine” outros setores da economia e crie um círculo vicioso de saída de capital e desvalorização que estimule mais fuga de recursos. O que pode ajudar a balança a pender para esse cenário são eventuais surpresas negativas em relação à inflação nos EUA, avaliou Canuto.

O economista defendeu a decisão do Banco Central brasileiro de manter a taxa de juros na reunião do Comitê de Política Monetária encerrada na quarta-feira. “O BC é responsável pelo controle da inflação. A desvalorização recente do real não é pequena e pode ter consequências sobre os preços.”

 

‘Não se sabe qual será a nova ordem econômica'

A ordem econômica global criada depois da Segunda Guerra Mundial está se desmanchando e não está claro qual arranjo a substituirá, afirma Michael Spence, vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001, ao lado de Joseph Stiglitz e George Akerlof. Em sua opinião, a nova estrutura tenderá a ser “balcanizada” e a ter menos liberdade para fluxos de bens, serviços, capital, pessoas, informação e tecnologia.

Spence acredita que parte da turbulência vivida recentemente pelos mercados internacionais se deve à incerteza sobre o que substituirá a estrutura do pós-guerra. O ataque a ela vem dos países desenvolvidos, que passaram a sofrer consequências negativas na distribuição de renda em consequência da criação de cadeias de produção global. “É muito difícil prever onde isso terminará.” A seguir, trechos da entrevista:

No início do ano parecia haver otimismo em relação à economia mundial, mas recentemente esse sentimento deu lugar a turbulências, especialmente nos países emergentes. O que aconteceu?

Na segunda metade do ano passado, houve o que o FMI chamou de aceleração sincronizada no crescimento. As pessoas pensaram que era uma mudança real, mas foi apenas uma retomada cíclica. Agora, temos a combinação da alta da taxa de juros nos Estados Unidos e o nervosismo de investidores internacionais. Fluxos de capital internacionais se tornaram bastante voláteis, o que provocou dificuldades para várias economias emergentes. O exemplo mais recente é a Argentina. Também há incerteza em relação à tensão comercial entre a China e os Estados Unidos e como isso afetará outros países, incluindo os emergentes. Há volatilidade nos mercados, volatilidade nos fluxos de capital e crescente incerteza. E parece não haver um fim disso no horizonte. Ao mesmo tempo, o preço das commodities está subindo, em particular o do petróleo, o que é bom para países exportadores. É um cenário misto.

Quais são os principais riscos para a economia mundial?

O que me surpreende é que o crescente sentimento anti-establishment e a intensificação da polarização política de maneira geral não contaminaram os mercados ou as economias. Mas eu acredito que essas tendências são riscos. Um conflito aberto entre a China e os EUA nas áreas de comércio, investimentos e tecnologia é outro risco. Por trás de tudo isso, há uma espécie de ruptura da ordem mundial criada depois da Segunda Guerra Mundial, com suas convenções relativas a comércio e investimentos.

Quais as características da nova ordem que poderá substituí-la?

Ninguém sabe, e isso é parte do problema. Há duas possibilidades. Uma é a balcanização (fragmentação) da economia global. A internet, por exemplo, será regulada de maneira distinta em diferentes partes do mundo. A regulamentação da América e da Europa será diferente da chinesa e isso criará problemas para companhias que operem além das fronteiras nacionais. Isso é apenas um exemplo. Eu também acredito que o fluxo relativamente livre de bens, serviços, capital, pessoas, informação e tecnologia – que define como a economia global funciona – será menos livre. A ordem mundial criada depois da Segunda Guerra Mundial tinha o objetivo de facilitar a recuperação no pós-guerra. Mas seu principal efeito foi acelerar o crescimento em todos os lugares, especialmente nos países em desenvolvimento. No passado, a economia aberta e a transferência de parte das atividades econômicas para países em desenvolvimento não tiveram grande impacto sobre a distribuição de renda nas economias desenvolvidas. Na medida em que o sistema evoluiu, os emergentes passaram a responder por fatia cada vez maior do PIB e a eficiência das cadeias de produção começou a diminuir. Há falhas sísmicas cada vez maiores nessa ordem.

Quais são elas?

As principais se desenvolveram ao longo dos 20 anos. Tendências negativas na distribuição de renda produziram ceticismo crescente em relação à globalização. Isso foi exacerbado pelo fato de que estruturas governamentais não fizeram nada sobre isso. A polarização econômica, social e política que estamos vendo tem uma fonte econômica. Nós vemos isso no Brexit, na eleição de (Donald) Trump e nas correntes anti-establishment na Europa. O que estamos vendo agora são os países desenvolvidos dizendo “não estamos mais dispostos a arcar com as consequências dessas assimetrias”. E os grandes países em desenvolvimento respondendo “bem, nós podemos sobreviver sem vocês”. É muito difícil prever onde isso terminará.

Há o risco de uma crise nos emergentes semelhante às que vimos no passado?

Não vejo o surgimento de uma crise sistêmica. Se há um problema com potencial de se tornar sistêmico, ele é a grande quantidade de dívida que a economia global contraiu no período posterior à crise (de 2008). Esse passivo vem na forma de dívida soberana, corporativa e das famílias. Na última vez em que olhei, a economia global havia acrescentado três quartos do PIB global em dívida bruta.

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