Sexta-feira

VALOR ECONÔMICO

Emergentes desabam em agosto com temor de contágio

Agosto vai embora deixando um gosto bem amargo para os mercados emergentes. As ações devem registrar o pior desempenho para o mês em três anos, as moedas caem mais de 5%, enquanto a renda fixa recua aos menores níveis desde o fim de 2016. Entre mais e menos afetados, a Argentina permaneceu ontem nos holofotes - de novo, por razões indesejadas. O peso desabou mais 11%, arrastando para baixo o bloco de moedas emergentes, já abalado pelo recrudescimento de tensões comerciais entre China e Estados Unidos.

O pesadelo argentino voltou a se impor desde a quarta-feira, quando os mercados repercutiram o pedido do governo Macri para que o Fundo Monetário Internacional (FMI) antecipasse recursos prometidos pelo organismo dentro do acordo de socorro financeiro acertado.

Ontem, a decisão do BC local de empurrar os juros de 45% ao ano para 60% - maior patamar do mundo - acabou gerando um "sell-off" do peso, que aprofundou a queda no ano para cerca de 51%. "Isso [o choque de juros] será - e deveria ser - uma preocupação para a Argentina, o FMI e os detentores de ativos argentinos", disse ontem no Twitter Mohamed El-Erian, uma das mais respeitadas vozes do mercado financeiro atualmente. Alberto Ramos, diretor de pesquisas econômicas do Goldman Sachs para a América Latina, diz que, no atual estágio da crise, não há "solução sem custo".

"Em nossa visão, em vez de um esforço gradual, as autoridades deveriam considerar um choque de ajuste fiscal, na forma de rápida redução das necessidades de financiamento, como antídoto para a perda de confiança do mercado no gradualismo" do governo de Mauricio Macri. O caos argentino tem sido bem espelhado pelo câmbio. Mas, se o peso perde mais da metade do seu valor neste ano, é seguido de perto pela lira turca, que cai 43%. E mais cinco moedas emergentes exibem quedas de pelo menos dois dígitos, entre elas o real.

A queda em bloco tem fortalecido as discussões sobre contágio, debate que surgiu inicialmente no primeiro "sell-off" do peso neste ano, a partir de maio, e ganhou corpo quando a lira turca entrou numa imparável espiral de baixa no começo de agosto. Os temores de contágio são geralmente associados ao nível de dívida em moeda estrangeira - que fragiliza mais esses mercados em tempos de alta do dólar.

Não por acaso, as moedas de Argentina e Turquia exibem os piores desempenhos do ano, já que carregam não apenas elevada dívida em dólar em proporção ao PIB como também altos déficits em transações correntes. E os emergentes terão de encarar um aumento progressivo de pagamentos de dívida em moeda estrangeira nos próximos anos.

De acordo com a Bloomberg Intelligence, de menos de US$ 20 bilhões previstas para 2018, as amortizações saltam a cerca de US$ 50 bilhões em 2019, batem US$ 70 bilhões em 2020, superam US$ 80 bilhões em 2021 e alcançam um pico em torno de US$ 120 bilhões em 2022.

Mesmo quem ainda evita apostas negativas contra emergentes admite a persistência dos riscos. O Citi diz que seu índice de estresse para os mercados ainda não alcançou patamares extremos, mas alerta que, se investidores continuarem a tratar a Turquia "de forma desfavorável", uma onda de saída de recursos de emergentes se coloca como uma possibilidade.

"Nossos economistas esperam também que as tensões entre China e EUA continuem, o que torna ainda mais difícil prever um rali de alívio para os mercados emergentes neste momento", diz Jeremy Hale, integrante da equipe de alocação global de ativos do Citi, cuja visão negativa para o yuan, a moeda chinesa, compõe o quadro mais arisco para emergentes.

 

Crédito está estagnado à espera das eleições

O crédito, no Brasil, é caro, escasso e sua alocação é de eficiência duvidosa. A inadimplência é alta, e a recuperação, irrisória. A expansão do crédito é crucial para o crescimento econômico e para gerar ganhos de produtividade que vão alimentar o nivel da atividade. Nas últimas décadas o mercado de crédito, no Brasil, passou por duas experiências marcantes. Uma, de mudanças institucionais, a exemplo da lei de falências, que foi bem-sucedida e deu impulso ao mercado. A outra foi pautada por intervenções diretas do governo, mediante o uso dos bancos públicos para a redução do "spread" bancário, e fracassou.

O momento é propício para mudanças. As distorções do passado recente estão sendo corrigidas. O crédito direcionado, que cresceu e praticamente empatou com o crédito livre, está em queda, assim como encolhe a expansão do crédito concedido pelos bancos públicos. O governo passado induziu os bancos federais a reduzir o "spread" bancário (que representa a diferença entre a taxa de captação e a de aplicação dos bancos), na esperança, vã, de que as instituições privadas os seguissem.

De 2003 a 2015 houve um salto na oferta de crédito, primeiramente embalado pelo consignado. O saldo aumentou de 24% do PIB para 53,7% do PIB no período, que foi seguido de uma retração, durante a recessão, que reduziu a proporção para 46,4% do PIB, segundo os últimos dados do Banco Central relativos a julho. O mercado de crédito, hoje, está estagnado à espera de uma definição sobre o quadro eleitoral, que vai ditar os rumos da economia nos próximos anos. Até agora, dois candidatos à Presidência da República anteciparam propostas concretas.

O vice na chapa do PT, Fernando Haddad, disse que vai tributar os bancos na proporção do "spread" cobrado do tomador de crédito. Ciro Gomes, do PDT, anunciou que pretende tirar 63 milhões de pessoas do SPC mediante a renegociação das dívidas. Os demais candidatos mencionam de forma genérica a necessidade de expandir o crédito para que a economia possa voltar a crescer.

Ana Carla Abrão, da Oliver Wyman, doutora em microeconomia bancária, elaborou estudo sobre crédito - um dos temas da série Panorama Brasil, que ela coordena e que faz um diagnóstico de questões ligadas ao desenvolvimento do país. A economista fez uma abordagem detalhada da situação, tal como descrito acima. Como ponto de partida ela identifica causalidade entre o tamanho e a profundidade do mercado de crédito e o crescimento da economia.

Não há, segundo Ana Carla, uma "bala de prata" para corrigir as várias disfuncionalidades e ineficiências que afetam a política de crédito no país. Há, sim, uma vasta agenda de mudanças microeconômicas a ser empreendida para aumentar a segurança jurídica e diminuir a assimetria de informações com potencial para reduzir os preços e aumentar o volume de crédito. " No Brasil, as regras geram um crédito caro e estimulam a má alocação", diz ela.

A inadimplência, no país, é de 3,9% do total do crédito concedido. Mais alta do que no México (2,3%), na Argentina, no Chile (1,8%) e no Reino Unido (0,9%), diz o estudo. A recuperação do crédito é baixa e demorada. De cada R$ 1,00 de inadimplência, os bancos conseguem recuperar R$ 0,13 após 4 anos.

Nos países da OC DE essa proporção é de 0,71 para cada unidade em 1,7 ano. Na América Latina é de 0,31 em 2,9 anos. Com a lei de falência, a recuperação de crédito no Brasil chegou a 0,25 por unidade. Os juízes, porém, afrouxaram a aplicação da lei, e a recuperação caiu. Dentre as propostas do documento, consta o desenvolvimento de plataformas de compartilhamento de dados (implantação do "open banking").

Outra sugestão é aumentar o crédito livre e reduzir o direcionado. Hoje a faixa livre representa 24,52% do PIB, e a direcionada, que chegou a 26,39% do PIB em 2015, caiu para 22,25% do PIB em julho. O estudo defende a aprovação do novo projeto de cadastro positivo, como instrumento de redução do custo do dinheiro para os bons pagadores. Sugere, ainda, a diminuição dos depósitos compulsórios dos bancos no Banco Central, que no Brasil é maior do que no resto do mundo. Embora se saiba que a preferência do Banco Central é por reduzir a taxa de juros quando há oportunidade.

Peso relevante é atribuído à educação financeira dos tomadores de crédito. Os indicadores nessa área são alarmantes. Cerca de 99,4% da população brasileira desconhece o conceito de juro composto, taxa que incide sobre os financiamentos. Levantamento feito pelo SPC e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) mostra que 47% dos inadimplentes pouco ou nada sabem sobre a sua renda disponível para o próximo mês e 42% desconhecem o valor das contas básicas do mês.

A pesquisa mostra, ainda, que 48% dos inadimplentes não sabem em quantas prestações dividiram suas compras e 47% não se lembram do que foi adquirido no cartão de crédito. Esse é um quadro que demanda educação e planejamento financeiro das pessoas bancarizadas. Há iniciativas, como as descritas no documento, para melhorar a segurança jurídica dos contratos, a exemplo da lei do distrato na área imobiliária - que foi aprovada pela Câmara em junho e rejeitada em julho pelo Senado.

A proposta que amplia e aperfeiçoa a legislação do cadastro positivo está em discussão no Congresso, e o projeto de lei que altera o sistema de garantias foi aprovado, mas ainda não está em operação. A proposta do PT de aprovar tributação progressiva sobre o "spread" bancário é um contrassenso, na medida em que os impostos são parte relevante da composição do "spread".

Ou seja, o custo da tributação vai ser repassado para o tomador final, que o programa do PT quer proteger. A ideia de Ciro Gomes, de tirar 63 milhões de brasileiros do SPC para que voltem a tomar crédito para aquecer o consumo, pura e simplesmente, traz o risco de retorná-los ao SPC. O melhor é tratar esse assunto levando em conta sua complexidade.

 

As propostas de economistas para o Brasil

Junte 50 dos mais respeitados economistas brasileiros e qual será o resultado? Surpreendentemente, nestas eleições, são vários pontos de consenso. O Valor procurou nomes de destaque no campo econômico que pensam o país para identificar, do ponto de vista técnico, quais as principais medidas deveriam ser adotadas pelo novo ou pela nova presidente em seus primeiros cem dias de governo, quando o capital e a força política são maiores. Para mais de 83% deles, a primeira medida que deveria ser levada adiante pelo novo governo é a reforma da Previdência.

A segunda prioridade seria a reforma tributária (69%), seguida da reforma do Estado, que inclui a reestruturação do funcionalismo e um programa de privatizações (57%). Também mereceram destaque o incentivo a investimentos em infraestrutura (21,5%), a revisão de reformas adotadas no governo Temer (19%), o incentivo ao comércio exterior e a tributação de grandes fortunas e dividendos (12% dos votos, cada). Apesar de o cenário eleitoral continuar nublado, para a maioria deles é evidente que o debate está melhor do que o de 2014. "Apesar de o voto me dar grande prazer, fiz 70 anos e me aproveito da lei porque não sou mais obrigado a ir às urnas", diz, em tom de brincadeira, Aloísio Araújo, professor da FGV-EPGE e do Impa (Instituto de Matemática Pura Aplicada).

"Mas estou tranquilo porque nunca vi economistas tão qualificados assessorando tantos candidatos." Ele cita Pérsio Arida (Geraldo Alckmin - PSDB), Mauro Benevides (Ciro Gomes - PDT), André Lara Resende e Eduardo Giannetti (Marina Silva - Rede), José Márcio Camargo (Henrique Meirelles - MDB), Gustavo Franco (João Amoêdo - Novo) e Paulo Guedes (Jair Bolsonaro - PSL). Seu alento é maior, diz Araújo, porque a pauta em discussão também passou a envolver problemas inevitáveis a serem enfrentados. "O Brasil só faz reformas à beira do abismo e com a corda no pescoço", afirma.

"Nosso desemprego está alto, a relação dívida/PIB caminha para o insustentável, o cenário externo está difícil, não temos mais 'investment grade': chegou a hora de resolver os problemas." O primeiro deles, seja nos discursos à esquerda e à direita, é o do ajuste fiscal: fazer com que as contas do governo fechem, considerando-se receitas e despesas. "É preciso procurar o equilíbrio fiscal, com uma série de reformas que deem a flexibilidade necessária para enfrentar o problema do emprego, combinada com reformas estruturais de gastos e arrecadação", afirma Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda e do Planejamento no governo Dilma Rousseff (PT).

Ele não é o único economista eleitor de Lula a pensar assim. "Defender a responsabilidade fiscal é uma obrigação e algo que sequer precisa ser dito", diz Leda Paulani, professora da FEA-USP. "É preciso cuidar de cada real de origem pública que cai no seu colo de maneira mais cuidadosa do que se gere seu próprio dinheiro." Nas eleições de 2014, o discurso eleitoral na área econômica que ajudou a dar a vitória à Dilma refutava a necessidade de ajuste nas contas públicas, seja por meio de corte nos investimentos do governo, readequação dos gastos públicos ou tarifaço de energia e combustíveis, usados então no controle da inflação. Ao se deparar com um déficit primário recorde de R$ 111 bilhões, no ano seguinte ao da eleição, o governo Dilma foi na contramão do que prometera em campanha.

"Na eleição de 2014, todos os candidatos fugiram do problema [fiscal], e a campanha de Dilma foi muito agressiva com quem falava de ajustes", diz Pedro Cavalcanti Ferreira, professor da FGV-EPGE. "Nessa, não só todos estão discutindo o problema ativamente como têm propostas para resolver a questão." Para o PT, o que os adversários chamaram de estelionato eleitoral foi causado pelo agravamento da crise internacional e pelas medidas adotadas pelo então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, contrárias ao desejado pelo partido, que pedia aumento ainda maior nos gastos do governo para estímulo à economia.

"Foi uma grande bobagem trazer o Levy porque a economia já estava desacelerando: ele pegou uma conjuntura em que as variáveis da demanda agregada estavam mutiladas e fez mais política de austeridade", afirma Leda. "Qualquer aluno meu de primeiro ano da FEA que não enxerga o erro nessa política é reprovado." Os números que levaram a maior parte dos economistas a falar sobre a necessidade da busca pelo equilíbrio fiscal pioraram desde as últimas eleições.

Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), entidade do Senado criada no fim de 2016 para ampliar a transparência nas contas públicas de forma técnica e apartidária, houve interrupção da alta do déficit primário e redução nos pagamentos de juros, mas há um longo caminho para a consolidação fiscal. A dívida bruta do governo tem crescido a uma taxa média de meio ponto percentual do PIB ao mês, chegando a 77,2% do PIB em julho. Desde que essa trajetória se iniciou, em 2013, já são 24 pontos percentuais de elevação.

Num dos cenários traçados pelo IFI, a dívida bruta deve crescer a 84% do PIB, no pico estimado em 2023 e 2024. "O grande desafio é que o gasto público obrigatório por lei é muito maior do que as receitas e é insustentável a médio prazo", diz Marcos Lisboa, presidente do Insper. "Não fossem receitas extraordinárias, a dívida estaria fora de controle e não tem crescimento que dê conta da diferença." Há ainda muitos outros tons de vermelho nos números da arrecadação, da distribuição e da qualidade dos gastos públicos. Mas o que talvez tenha tornado a discussão inevitável na campanha foi a vida real.

Desde as últimas eleições, parte dos brasileiros sofreu na pele a profunda deterioração dos serviços públicos, causada pela quebra dos Estados. "Em lugares como Rio, Minas e Rio Grande do Sul, houve uma piora abissal em saúde, educação e segurança públicas", diz Samuel Pessôa, pesquisador do FGV-Ibre. "O congelamento, o atraso e o parcelamento de salários do funcionalismo também foram um remédio ruim e amargo para os próprios servidores, que dedicam suas vidas à área e têm expectativa de carreira."

A ameaça, dizem especialistas, é que sem o equilíbrio nas contas públicas a situação se replique tanto em outros Estados quanto em escala nacional. "Em 2014, essa era uma pauta que não existia", diz Ana Carla Abrão Costa, sócia da consultoria Oliver Wyman. "Ninguém viu então os Estados quebrando?" Ex-secretária da Fazenda de Goiás no governo Marconi Perillo (PSDB) e especialista em políticas públicas, Ana Carla vem sendo procurada não só por equipes de candidatos à Presidência, mas principalmente por pleiteantes a governos estaduais. "Governadores que têm chance de assumir sabem que vão herdar verdadeiras bombas", diz ela. "Não há nenhum Estado em situação confortável, vários estão com perspectivas gravíssimas, e os candidatos, de maneira geral, têm consciência e querem entender e saber como resolver o problema."

Segundo Ana Carla, tem havido uma percepção de que a pauta da reforma do Estado é mais convergente e menos de enfrentamento do que parece a princípio. "O objetivo não é cortar gastos, mas melhorar a qualidade do serviço público", afirma. "Quando os assessores entendem que o processo é esse e o corte de gastos é consequência, esse discurso é incorporado."

Não há receita fácil nem solução mágica, porém, para nenhum dos prismas do problema fiscal. Do lado das despesas, a reforma da Previdência é o apontada como mais evidente, por conta do fim do bônus demográfico e das regras peculiares adotadas pelo país, que sequer tem idade mínima de aposentadoria. Mas o modelo a ser adotado está longe de ser unanimidade. "Tenho muito medo de a qualidade do gasto público deteriorar", diz Araújo.

"Se não houver a reforma da Previdência, com o teto do gasto, será preciso continuar cortando atividades fundamentais." Segundo grande parte dos economistas ouvidos, será inevitável mexer no teto em algum momento do próximo governo. Apesar de o princípio (não gastar mais do que se tem e colocar limites no Congresso e no Judiciário) ser aprovado, a fórmula adotada no governo Temer não é sustentável no longo prazo, dizem. "O teto é importantíssimo: foi como um tapa na mesa para organizar as expectativas e as mudanças no rumo da política fiscal", diz Felipe Salto, diretor-executivo do IFI.

"Mas já em 2021 o risco do descumprimento do teto estará elevado." Estudo da entidade mostra que, num eventual descumprimento, o acionamento dos gatilhos previstos na Constituição não serão suficientes para trazer o nível da despesa ao patamar requerido pela regra. "Será necessária uma PEC [Proposta de Emenda Constitucional] que mude a fórmula para uma mais adequada à nossa realidade", afirma Barbosa.

Se a mudança fosse feita no início do governo, ressaltam outros especialistas, o capital político exigido na aprovação da mudança seria menor. "Tem de ser um pacote único, de um teto que mantenha os princípios de rédea sobre as despesas públicas, mas sem bater de frente com o Congresso e com medidas benéficas para o povo, somado à reforma da Previdência", diz Monica de Bolle, professora na Johns Hopkins University e "senior fellow" do Peterson Institute for International Economics. "São medidas que têm de ser discutidas juntas, desde o primeiro dia."

Ao mesmo tempo em que falam de cortes, os economistas discutem também medidas de crescimento, como contrapartida aos sacrifícios que serão exigidos da população. "Da mesma forma que Lula em 2003, o próximo presidente vai encontrar um ciclo econômico favorável", afirma Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações no governo FHC. "É claro que não haverá outro superciclo de commodities, mas se no segundo dia de governo não houver uma mensagem de crescimento, não haverá reformas."

Mendonça de Barros diz ter aprendido com o ministro Sérgio Motta (1940- 1998) que há muitas soluções mágicas e corretas quando não se inclui o povo. "Sempre que discutíamos um problema ele perguntava: 'com o povo ou sem o povo?'", diz o economista. "Não dá para pedir que esperem mais dois anos, em sofrimento, enquanto as reformas são feitas: qualquer plano de voo tem de tratar das duas questões."

Na área dos estímulos, há quase uma unanimidade em torno da reforma tributária proposta do Centro de Cidadania Fiscal (CCF), dirigido por Bernard Appy, ex-secretário de Política Econômica do governo Lula. Sua principal medida é criar um imposto único sobre bens e serviços, que substituiria ICMS, ISS, IPI, PIS e Cofins, de 25%, com um período de transição de dez anos.

"Acompanho esse tema há no mínimo 40 anos: o modelo do Appy é o melhor que já foi feito, nunca houve tamanho consenso em torno de uma proposta de reforma tributária, e o país está maduro para avançar nessa direção", afirma Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda no governo Sarney. "É um modelo semelhante ao da Índia, onde havia uma grande bagunça nessa área e se conseguiu praticamente um milagre."

Segundo Nóbrega, a retirada do cipoal de tributos tornará a economia mais leve e produtiva, sendo que a estimativa do FMI com a simplificação é a de um estímulo de crescimento do PIB em até dois pontos percentuais. "Será um grande impulso para acabar com nosso complexo de Peter Pan, já que as empresas ficam com medo dos impostos na hora de crescer", diz ele. Ainda na linha de estímulo à atividade - e consequente aumento na arrecadação -, os economistas citam investimentos em infraestrutura e comércio exterior como as alternativas com retorno mais imediato.

"Em vez de construir estradas e portos de primeiro mundo, o governo Dilma preferiu colocar o dinheiro público em indústria naval com conteúdo nacional", diz Lisboa, em tom de ironia. Roberto Macedo, ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda e ex-presidente do Ipea no governo Collor, brinca dizendo que há uma "enrolation tremenda" quando o assunto são concessões e privatizações.

"Perdemos uma década e a economia continua no buraco", diz. "É preciso haver uma agenda que inclua a infraestrutura de forma mais ampla para sair da crise, já que há dinheiro e muita demanda reprimida."

Para Monica, existe também uma grande oportunidade no comércio internacional, aberta pelo reposicionamento da política americana do presidente Donald Trump na área. "Há uma brecha para a reorganização de acordos com países que tinham nos EUA como seu principal parceiro comercial", diz Monica. "Se o Brasil tivesse interesse ou conseguisse fazer um acordo comercial com o Canadá, entraria num outro patamar para negociar com o mundo." Na segunda-feira, o presidente americano assinou um tratado comercial com o México, pressionando o Canadá a desistir do Nafta.

Segundo ela, as outras vias de melhora da economia precisam de reformas que passem pelo Congresso ou licitações demoradas que levam mais tempo para serem realizadas. "Comércio internacional é o jeito mais rápido para ter efeito na retomada da economia", afirma. "Mas o Brasil, em vez de ter essa estrutura maluca de MIDC [Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior], Camex [Câmara de Comércio Exterior], Itamaraty e outras, precisaria ter algo mais parecido com os EUA e o México, uma agência separada e ágil, que trabalhe diretamente com a Presidência da República."

Monica, que voltou aos Estados Unidos logo após as eleições de 2014 e acompanhou de perto as eleições de Donald Trump, diz que não dá para ficar otimista com o cenário eleitoral, sobretudo com relação a Bolsonaro, líder nas pesquisas de intenção de voto quando Lula não aparece como candidato. "Assisti a todas as primárias e aos debates dos Republicanos e uma pessoa totalmente despreparada conseguiu se sobressair e se eleger", ela afirma. "Fico pensando o que não pode acontecer no Brasil."

O mesmo temor se repete no discurso dos outros economistas, por causa do que consideram despreparo mostrado pelo candidato com todos os assuntos ligados ao governo. Além disso, quem está à esquerda, teme o discurso ultraliberal de Paulo Guedes. Os mais ao centro destacam a possibilidade de Bolsonaro ter incorporado a faceta pró-reformas só no discurso eleitoreiro. "O Bolsonaro não vai deixar de ser o nacionalista intervencionista do dia para a noite", afirma Elena Landau, ex-diretora do BNDES no governo FHC. "Mas acredito que não haja mais espaço para estelionato eleitoral."

Muitos dos economistas que não declararam qual será seu candidato dizem esperar a proximidade das eleições para decidir porque optarão pelo voto útil. "Penso em votar no candidato que, nas vésperas, tenha a maior chance de derrotar a insensatez econômica, de um lado, e o autoritarismo, de outro", diz Celso Toledo, consultor da LCA. "Seria ótimo se, ao mesmo tempo, fosse possível votar contra a corrupção, mas temo que, com essa restrição, o conjunto de opções possa ser vazio."

De acordo com Ferreira, Bolsonaro é o candidato mais despreparado com chances de vencer em muitos anos desde a redemocratização. "Tenho dois nortes: voto em quem tiver mais chances de derrotar o Bolsonaro e o PT", afirma. "Se os dois forem ao segundo turno, já tenho uma viagem marcada." A rejeição ao PT - líder absoluto nas pesquisas, quando Lula é colocado na pesquisa - por uma parte dos economistas se dá por vários motivos. O principal, dizem eles, é a insistência, por parte da equipe econômica, na política que levou aos descontroles do governo Dilma.

Para o partido, o equilíbrio fiscal se dará pela volta do crescimento e não pelo corte dos gastos. "É preciso recuperar a confiança empresarial e fazer os pedidos aumentarem", escreveu Marcelo Miterhof, economista do BNDES (sem falar pelo banco, é claro), que vota no PT, no formulário com as perguntas enviadas pelo Valor. "Para isso, o governo precisa elevar os investimentos públicos e garantir boas condições de crédito, o que numa conjuntura de grande capacidade ociosa terá rápido efeito."

Apesar de ressaltar a necessidade de controle das contas públicas, Leda afirma que há um "overshooting" nas discussões da reforma da Previdência. "Há o problema evidente do envelhecimento da população, mas a reforma proposta pelo governo ilegítimo destruiu a importância do sistema previdenciário, além de ter mexido com interesses de toda a população", ela afirma.

"Trabalhei no mercado financeiro e sei do grande interesse do sistema privado pelo filé mignon que é a Previdência." Marcio Pochmann, o principal economista à frente da campanha petista, já disse que a reforma da Previdência não é emergencial. Segundo Leda, há ainda uma "mística infernal" na relação dívida/PIB. Uma vez que o Japão tem dívida de 230% e em muitos outros países a dívida supera em 100% do PIB, o Brasil não estaria à beira do precipício. "Isso é terrorismo econômico com endereço certo."

Além de aumentar receitas públicas via crescimento, na proposta do PT, o déficit fiscal seria combatido por meio da taxação de fortunas, heranças, dividendos e mesmo do spread bancário. Economistas não ligados ao partido defendem medidas nessa linha. "Não se deve abandonar a ideia de tributar as rendas mais altas ou a pejotização [profissionais liberais, trabalhando sem contrato de trabalho]", diz Nóbrega.

"Mas tem aí umas ideias de quem não faz conta: 82% do spread não vêm de custos bancários e tributar o spread vai resultar em mais aumento dos juros." Juan Jensen, professor do Insper e membro independente do conselho de administração do BNDES, também questiona a tributação de fortunas. "Quem tem muito dinheiro geralmente tem estrutura para se esquivar da melhor maneira possível dos impostos", diz ele. "Será tributada então a classe média, pessoas que têm guardados R$ 400 mil, R$ 1 milhão? Poderá ser uma forma de desestimular a poupança."

Muitos dos entrevistados falam que em todos os partidos há um discurso eleitoreiro, que atende a plateia e é diferente da prática. "Há consenso em certas propostas genéricas de plataformas eleitorais e dissenso nas formas de apresentação polarizada", diz Fernando Nogueira da Costa, professor da Unicamp e ex-vice-presidente da Caixa no governo Lula. "Já no segundo turno, há compatibilizações de alianças e, na hora de implantar programas de governo, filtros técnicos e aprovação do Congresso Nacional."

Em outras palavras, do mesmo modo que será praticamente impossível privatizar todas as estatais ou haver a capitalização completa da Previdência, dificilmente o déficit fiscal será eliminado em um ou dois anos ou o spread bancário será tributado. As promessas de campanha, criadas com o fígado para satisfazer a militância, seriam barradas nas instâncias técnicas e políticas. "O melhor candidato é o que junta um bom plano de governo com instrumentos, viabilidade e capacidade de execução", diz Roberto Troster, execonomista-chefe da Febraban.

Surge aqui a discussão da qualidade do Congresso e das alianças para a governabilidade. Que, todos os economistas dizem, em nada mudará. "Por mais que o eleitor esteja cansado dos políticos tradicionais, haverá pouca renovação e mudança", diz Armando Castelar Pinheiro, coordenador do FGV-Ibre e professor da UFRJ. "As indicações são as de que o próximo governo continue praticando o mesmo presidencialismo de coalizão."

Segundo Elena Landau, é um sistema eleitoral de barreiras na entrada, que perpetua os vício da política. Ainda com relação ao discurso versus a realidade, de acordo com diversos entrevistados, Fernando Haddad é mais pragmático do que o programa apresentado por seu partido e conhece a paralisia causada pelo endividamento do Estado.

"O Haddad tem um diagnóstico diferente dos demais economistas do PT", afirma Jensen. "Foi um dos principais críticos à política econômica do governo Dilma e tem boa formação econômica. Resta saber se um eventual governo será direcionado pelo que ele acredita ou o que o partido impõe."

Para Nogueira da Costa, eleitor do PT e defensor de que nos primeiros cem dias de governo sejam adotadas medidas consensuais e não de dissenso, Haddad e Manuela D'Ávila, sua possível vice, são representantes de uma nova geração do partido, que tem transitado dos trabalhadores organizados para os intelectuais. "O Haddad tem base técnica e um espírito conciliatório que o permite falar tanto com neoliberais quanto com desenvolvimentistas", diz ele.

"Não tanto quanto o Lula, é claro, mas ele também tem esse espírito." Na verdade, todos os economistas veem seu candidato como o melhor portador do espírito de conciliação, tão essencial à governabilidade país. Do mesmo modo que nenhum deles encara seu escolhido como corrupto. "O Lula e o PT têm mais capacidade de construir consenso necessário para superar dificuldades e promover o crescimento e a inclusão", diz Barbosa.

"A polarização é fruto do golpe de 2016 e é preciso de um partido e uma liderança acostumados a negociar e a construir uma base de sustentação no Congresso de forma diferente, transparente e sem troca de favores." Os eleitores de Alckmin, que sem exceção se dizem arrependidos de terem votado em Aécio Neves nas últimas eleições e reclamam da resposta do PSDB para as denúncias de corrupção, têm argumentos parecidos.

"Enquanto há candidatos gritando e xingando, o Alckmin é ponderado, aberto ao diálogo e o que precisamos nesse momento", afirma Pessôa. Segundo Elena, o fato de ele ter sido governador por 20 anos o habilita como bom negociador, e a articulação com Centrão será inevitável para qualquer um que assuma a Presidência. "Vivemos um momento de radicalização e o Alckmin é bom de baixar a bola, acomodar as coisas e conversar com todo mundo", diz Mendonça de Barros.

"Seu plano de governo também é correto, mas seu maior problema é não falar a linguagem simples, que chegue ao coração da maioria da população." O caminho vislumbrado por todos é o de uma coalizão. De preferência, até mesmo antes das eleições. "Nasci no Brasil, me criei na Argentina e voltei ao Brasil na adolescência, em 1976, com a família fugindo de uma ditadura feroz: aprendi a valorizar o diálogo, mesmo num governo autoritário, entre os representantes do governo e da oposição", diz Fábio Giambiagi, economistachefe do BNDES.

"De um lado, havia políticos do calibre de Célio Borja, Jarbas Passarinho ou Nelson Marchezan, e do outro, craques como Tancredo Neves, Ulysses Guimarães ou Paulo Brossard." Com o tempo, ele diz, assistiu ao que chama de "argentinização da política brasileira", com o cenário tomado pelo radicalismo beirando o ódio. "Hoje estou convencido de que o Brasil precisa substituir a ênfase no dissenso pela cultura do diálogo", afirma.

 

STF autoriza terceirização irrestrita antes da reforma trabalhista

O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou a terceirização irrestrita, de atividade meio e fim das empresas, antes da reforma trabalhista, a Lei nº 13.467, de 2017, que autoriza a prática. O julgamento foi apertado. Dos onze ministros que integram a Corte, sete votaram a favor da terceirização e quatro contra. A decisão vai em sentido contrário ao da jurisprudência do Tribunal Superior do Trabalho (TST).

O assunto foi julgado em duas ações, uma delas questiona justamente o conjunto de decisões trabalhistas com base na Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST), que permitia apenas a terceirização de atividades meio, como vigilância e limpeza. No STF, os relatores das duas ações, ministros Luís Roberto Barroso e Luiz Fux, foram os primeiros a votar a favor da terceirização irrestrita.

Os relatores foram acompanhados pelos ministros Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e, hoje, Celso de Mello e Cármen Lúcia. Votaram contra os ministros Edson Fachin, Rosa Weber, Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Mello. A tese aprovada em repercussão geral afirma que: “É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho entre pessoas jurídicas distintas independentemente do objeto social das empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da empresa contratante”.

Modulação Por ser uma mudança de jurisprudência, advogados de entidades de trabalhadores pediram a modulação (limite temporal) dos efeitos da decisão. Os ministros discutiram se seria mais adequado solicitar a modulação em recurso (embargos de declaração) como é praxe no tribunal ou já decidir, mas optaram pelos embargos.

O ministro Barroso afirmou que seu voto já afirma que a decisão não afeta decisões transitadas em julgado (em que não cabe mais recurso). Porém, não restringe a proposição de ação rescisória nos casos em que ainda houver prazo (dois anos, de acordo com artigo 975 do Código de Processo Civil). A ação rescisória rediscute processo que transitou em julgado. Apesar dos debates e do esclarecimento, o julgamento não foi modulado.

 

Banco Central da Argentina eleva taxa básica de juros para 60%

O Banco Central da República Argentina (BCRA) elevou a taxa de sete dias das Lelics - que recentemente adotou como juro básico da economia - em 15 pontos porcentuais, para 60%, em reunião extraordinária. Segundo a autoridade, a decisão é “uma reposta à conjuntura cambial atual e ante o risco de que isso implique um maior impacto sobre a inflação doméstica”.

A autoridade se comprometeu ainda em não diminuir os juros pelo menos até dezembro. A reação dos mercados, no entanto, não foi como o esperado. O dólar, que subia cerca de 3% ante o peso argentina pouco antes da decisão, chegou a saltar mais de 12% e por volta das 11h07 (horário de Brasília) avançava 7,68%, a 36,49 pesos, rondando as máximas históricas. O BC argentino também elevou o compulsório bancário para os depósitos em peso em 5 pontos. Segundo a autoridade, aumentar o controle de liquidez segue sendo fundamental para reforçar o compromisso anti-inflacionário.

Anteontem (29), o presidente da Argentina, Mauricio Macri, já havia solicitado ao Fundo Monetário Internacional (FMI) a liberação antecipada de recursos da linha stand-by de US$ 50 bilhões aprovada para o país.

 

Crise argentina mostra volatilidade de economia dolarizada

A situação da Argentina mostra a “volatilidade de uma economia inflacionária e dolarizada”, diz o argentino Fernando Montero, economista-chefe da corretora Tullett Prebon. “Lá a âncora sempre foi o dólar, e esse dólar não tem âncora: as contas externas são muito ruins, as reservas são emprestadas e o fiscal e político precisam da economia que, agora, não entregará”, escreve ele, em breve nota. O desempenho da atividade econômica não é suficiente para melhorar o quadro fiscal nem para aliviar o político.

Segundo Montero, uma vez feitas as contas, percebeu-se que o país precisa crescer para cumprir as metas fiscais, de antecipação de recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) para lidar com o câmbio e de um “milagre” para controlar a inflação. Na nota, ele diz que, “lá atrás, o mercado confiou muito no governo”, o que valorizou o câmbio, “e o governo confiou muito no mercado”, optando por um ajuste muito lento. Ao comparar a situação da Argentina com a do Brasil, Montero observa que a vulnerabilidade da economia brasileira, “enorme, é fiscal”.

O ponto é que as condições macroeconômicas em torno desse quadro delicado das contas públicas poderiam ajudar, “à diferença do caso argentino”, diz o economista da Tullett Prebon. Ele tem observado que a inflação por aqui está ancorada, os preços relativos estão ajustados e as contas externas são fortes. “A volatilidade aqui é estarmos a um mês de uma eleição que pode dar qualquer coisa”, resume Montero.

 

SPX prevê ambiente conturbado com Bolsonaro e Haddad no 2º turno

A gestora SPX já tem a maior parte de sua alocação em ativos no exterior e vislumbra um cenário bem conturbado para o Brasil na travessia eleitoral. Segundo o diretor Beny Parnes, as chances para o pleito, por ora, colocam os candidatos Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, como substituto de Lula, no segundo turno, segundo sondagem e métricas avaliadas pela casa.

Esse é um cenário para o qual o mercado não está dando muita atenção e pode trazer grande turbulência. “Vai ser uma confusão tremenda porque os mercados não vão acreditar. Mesmo que [Haddad] seja um anjo, até que ele se prove anjo. É muito difícil ele mudar a trajetória do que está prometendo, não tem capital político para isso”, disse ao participar de simpósio de gestores do Santander.

Se houver enfrentamento com o judiciário para soltar o ex-presidente Lula, Parnes vislumbra consequências gravíssimas, com a sociedade entrando numa espécie de convulsão psico-social, contestando a autoridade. A desvalorização do real, acima de uma cesta de moedas, pode afetar a inflação e forçar o Banco Central a voltar a subir a Selic já neste ano. Uma fuga de capitais maciça poderia levar o dólar para a casa do R$ 5,30, com a conta corrente indo para 3% positivo do PIB, citou Parnes apenas como um exercício.

“O melhor da inflação já passou, [o IPCA] começa a ficar acima da meta, com maior probabilidade de subir juros até o fim do ano”, disse. “Agora vai ser dia a dia, o horizonte temporal de tomada de decisão está se encurtando porque o prazo esta se encurtando a cada pesquisa eleitoral. Há um grau de incerteza enorme.”

 

Crédito imobiliário com recursos da poupança soma R$ 4,93 bi em julho

Os financiamentos imobiliários com recursos da poupança somaram R$ 4,93 bilhões em julho, segundo dados da Abecip, associação das instituições que atuam no setor. O número encolheu 10,3% em relação a junho, mas cresceu 16,2% na comparação com julho do ano passado.

Nos sete primeiros meses do ano, o volume alcançou R$ 30,21 bilhões, com alta de 21,9% em relação ao intervalo de janeiro a julho de 2017, conforme antecipou o Valor na segunda-feira (27).

Em julho, foram financiados 19,6 mil imóveis nas modalidades de aquisição e construção — número estável em relação a junho, mas 19,1% superior na comparação anual. O Bradesco lidera o volume de financiamentos com recursos da poupança neste ano, com R$ 8,07 bilhões até julho. A Caixa está em segundo lugar, com R$ 6,28 bilhões.

 

Goldman Sachs: Crise argentina destaca risco do ajuste fiscal gradual

A forte depreciação do peso argentino influencia a cotação do real por três motivos principais, na avaliação do economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos. Segundo ele, o caso do país vizinho mostra como a estratégia de ajuste fiscal gradual tem um risco muito significativo e esse tem sido o ritmo de ajustes no Brasil. “Fica como lição os riscos desse processo”, afirma.

Além disso, a Argentina é, hoje, um parceiro comercial relativamente importante e essa turbulência deve levar a um aprofundamento da recessão econômica e desvalorização do peso, o que vai limitar o potencial de exportação das mercadorias brasileiras. Por fim, isso contribui também para deteriorar o sentimento em relação aos mercados emergentes.

Ramos lembra que o dólar acima do patamar de R$ 4, nesta quinta-feira (30), reflete a incerteza política, especialmente no que diz respeito à capacidade do próximo governo em implementar a agenda de reformas. Além disso, o ambiente externo endureceu para emergentes. Por isso, Ramos não vê razão para o Banco Central reagir elevando a taxa Selic nos próximos meses.

“Não vejo razão para entrar em pânico. O BC deve entender como saudável que o câmbio reflita essa incerteza”, explica. Em sua visão, a alta dos juros de curto prazo, observada recentemente, reflete a exigência de um maior prêmio pelos riscos vistos à frente.

 

Há espaço para ganhos se Brasil fizer coisa certa, diz Adam Capital

Se o Brasil fizer a coisa certa, há muito espaço para os ativos se valorizarem, comentou Marcio Appel, sócio-fundador da Adam Capital ao participar de simpósio de gestores promovido pelo Santander. Enquanto zerou a posição direcional que manteve na Bolsa americana nos últimos dois ou três anos, no mercado brasileiro sua inclinação é de compra. “Pode ser que a Bolsa sofra se um candidato pior vencer a eleição, mas a combinação com o câmbio [depreciado] parece boa”, disse.

Para o gestor, que mantém posição comprada no dólar, para que o BC seja forçado a um choque de juros é necessário ainda muita desvalorização do real. “Pode ser que isso apareça, mas se ganhar alguém mais ou menos reformista, com a inflação baixa, o BC deve demorar para subir juros. Acho que é mais para baixo do que para cima.”

Em um momento em que a população mostra novas formas de se organizar, como se provou no apoio à greve dos caminhoneiros via redes sociais, ele disse que não dá para subestimar, contudo, o risco de promessas populistas ganharem a simpatia dos eleitores.

 

Eurasia: Bolsonaro e Haddad têm 60% de chance de ir ao 2º turno

O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) tem 60% de chance de ir para o segundo turno, segundo avaliação de Silvio Cascione, analista sênior da consultoria Eurasia. Já Fernando Haddad (PT) deve ser beneficiado pela transferência de votos do ex-presidente Lula e também tem cerca de 60% de chance de avançar.

Para o especialista, o tempo maior de televisão de Geraldo Alckmin (PSDB) não deve ser suficiente para garanti-lo na segunda fase da disputa. “O voto útil costuma acontecer em cenários fragmentados, mas beneficiaria Marina Silva (Rede), não Alckmin. Mesmo sem tempo de TV, ela participará dos debates e pode chegar ao final do primeiro turno de maneira competitiva se Alckmin não decolar”, comentou Cascione em evento com gestores promovido pelo Santander.

Segundo ele, a TV deve ter uma influência menor este ano, em função do protagonismo das redes sociais. Além disso, o tempo de televisão tende a beneficiar mais candidatos desconhecidos do grande público, o que não é o caso do tucano. Para a definição de um eventual segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, o analista diz que é difícil prever quem sairia vitorioso. “Hoje o Bolsonaro larga em vantagem, pois estaria competindo contra o PT. O tema corrupção é uma linha vermelha, provavelmente o único que definiria a eleição”.

A Eurasia classifica Bolsonaro e Marina como “semi-reformistas”, enquanto Haddad e Ciro Gomes (PDT) teriam uma agenda de políticas econômicas “mais arriscadas”. A consultoria aponta que, quem for que vencer a eleição terá de enfrentar a questão fiscal, inclusive com algum nível de reforma da Previdência. A questão é que a negociação com o Congresso continuará complicada. “Com Bolsonaro ou Marina haveria uma grande possibilidade de as negociações com o Congresso se prolongarem. Com Haddad ou Ciro, o ajuste seria com sangue, suor e lágrimas. E impostos também”, afirmou Cascione.

 

FOLHA DE SÃO PAULO

Temer ignora gravidade da crise, dizem economistas sobre aumento para juiz

Economistas criticam duramente a decisão do presidente Michel Temer de manter o reajuste dos servidores federais em 2019 e também o do Judiciário, este último em acordo fechado com o STF (Supremo Tribunal Federal).

Nesta quarta-feira (30), Temer fechou um acordo com o STF (Supremo Tribunal Federal) concedendo o reajuste de 16,38% para o Judiciário federal em troca do fim do auxílio-moradia. Posição foi contrária a equipe econômica queria adiar o reajuste dos servidores federais para 2020 para garantir a maior parte dessa economia (R$ 6,9 bilhões, em 2019).

Os reajustes —de 4,75% a 6,65%— foram negociados em 2015, mantidos por Temer quando assumiu a Presidência e programados para os anos seguintes. São beneficiadas 23 carreiras.

Cálculos de técnicos da Câmara dos Deputados indicam que o acordo acarretará mais R$ 930 milhões somente com despesas decorrentes do aumento salarial para juízes.

A conta pode chegar a R$ 1,1 bilhão considerando servidores do Executivo com rendimentos atrelados ao teto do Supremo. Com o reajuste, esse patamar passará de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil.

O Judiciário convenceu o presidente de que o aumento salarial poderia ser compensado pelo fim do auxílio-moradia de R$ 4.377 para os juízes.

Apesar disso, os técnicos da Câmara preveem que será preciso fazer cortes nos investimentos, fundamentais para a retomada econômica.

"Brasília ainda não entendeu o tamanho da crise fiscal em que se encontra o país. Ajustes salariais a essa altura mostram que os grupos de pressão continuam tendo muita força para impor demandas ao Executivo", diz Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

Para Ana Carla Abrão, sócia da consultoria Oliver Wyman, as medidas mostram que o Brasil precisa enfrentar as distorções de um modelo de máquina pública que serve a todos, menos aos cidadãos.

"Hoje se concedem reajustes salariais, benefícios e privilégios à custa de investimento. Amanhã será à custa de remédios, escolas, merenda escolar. Batemos num muro."

Sob perspectiva técnica, o professor de direito constitucional da FGV-SP Roberto Dias considera o acordo sobre o auxílio-moradia uma solução equivocada. "Ou o auxílio-moradia é inconstitucional, ou não é. Me estranha ser como uma moeda de troca para alta salarial", diz ele.

"Os dois ministros parecem se responsabilizar por um julgamento que ainda nem aconteceu. Há 11 ministros", afirma.

Nas contas de Fernando Montero, economista-chefe da consultoria Tullett Prebon, nos primeiros três anos do teto de gastos (2017 a 2019), o governo federal terá aumentado seus proventos (ativos e inativos) R$ 38,1 bilhões, descontada a inflação.

Para José Roberto Afonso, pesquisador Ibre/FGV, a Lei de Responsabilidade Fiscal restringe contratação e aumentos salariais em ano eleitoral. "Logo, não é problema de opinião, mas de falta de controle."

 

Açudes não se recuperam e comprometem retomada econômica no Nordeste

O Nordeste, região que enfrenta sete anos consecutivos de estiagem, tem três regimes de chuvas em condições normais.

Na região mais ao norte, que inclui Ceará e partes de Rio Grande do Norte, Piauí, Maranhão, o período mais chuvoso é entre fevereiro e maio.

Mais ao sul, o que inclui Bahia e norte de Minas, as chuvas se concentram entre novembro e fevereiro.

Já na faixa costeira, que vai do sul da Bahia ao Rio Grande do Norte, as chuvas ocorrem entre abril e julho. Neste período e região, choveu.

O resultado, porém, é que, mesmo com um volume maior de precipitações do que em anos anteriores, a maioria dos reservatórios do semiárido ainda tem restrições de uso --cenário que mantém estagnada a atividade econômica dos municípios atingidos.

Dos açudes no semiárido monitorados pela ANA (Agência Nacional de Águas), apenas 10% atingiram uma cota de água suficiente para garantir os seus usos múltiplos --da irrigação ao abastecimento humano-- nos próximos 18 meses.

Os demais 90% dos açudes monitorados têm algum tipo de restrição para captação de água --62% deles estão no chamado estado hidrológico vermelho, situação considerada de escassez hídrica que impacta não só a atividade econômica mas também a pequena agricultura e até o abastecimento das cidades.

O Castanhão, maior açude para usos múltiplos da América Latina, localizado no sertão do Ceará, resume bem a situação da segurança hídrica da região.

Em fevereiro deste ano, o açude atingiu o nível mais baixo de sua história --com 6,7 bilhões de metros cúbicos de volume útil, chegou a 2,04% de sua capacidade e atingiu o volume morto.

Com as chuvas que caíram entre fevereiro e abril, o açude ganhou volume. Foi a 8,8% em abril. Mas, desde então, vem perdendo volume dia após dia. Na terça-feira (28), estava em 6,8% de sua capacidade.

"Estamos perdendo entre três e quatro centímetros de lâmina d'água por dia com abastecimento e com a evaporação", diz Fernando Pimentel, administrador do Complexo Castanhão.

Ao todo foram cerca de 400 milímetros de chuva na região no primeiro semestre deste ano, o dobro do registrado no mesmo período de 2017.

"Foi pouco. A chuva veio em um volume pequeno e muito irregular", diz Pimentel.

A situação não é diferente em outras regiões do semiárido.

Na Paraíba, o açude Epitácio Pessoa, conhecido como Boqueirão, chegou a 34,3% de sua capacidade em julho após o ciclo de chuvas e a chegada das águas da transposição do rio São Francisco, em abril de 2017.

O volume de água fez com que o racionamento para consumo humano fosse suspenso em Campina Grande.

Contudo, ainda há restrições do uso da água para indústrias e para irrigação.

Segundo a ANA, a água está liberada apenas para agricultura de subsistência em áreas plantadas de até meio hectare.

No sistema Curema-Mãe D'Água, no sertão da Paraíba, o nível da água chegou a 18,8% no açude Curema e 9,7% no açude Mãe D'Água.

O volume, contudo, foi insuficiente para a retomada dos perímetros agrícolas da região.

"Foi um respiro. Os barreiros e pequenos açudes voltaram a encher. Mas ainda está longe de termos água para produzir", afirma o agricultor Francisco Honorato Filho, 63, presidente do sindicato dos trabalhadores rurais de Sousa (440 km de João Pessoa).

A cidade é o polo de fruticultura Alto Piranhas, que engloba mais de dez municípios da região e ganhou fama por produzir uma das águas de coco de melhor qualidade do país.

Desde 2012, o acesso à irrigação foi sendo paulatinamente suspenso na região.

Dono de um lote no perímetro irrigado, Honorato chegou a ter mais de 2.000 coqueiros plantados em suas terras, mas viu todas as árvores morrerem nos últimos seis anos por falta de água. "Foi um prejuízo absurdo", diz.

Já no rio São Francisco, o nível do reservatório de Sobradinho --que há um ano era de 9,3%-- chegou a 29,1%. Com isso, o uso da água para os perímetros irrigados foi flexibilizado.

A irrigação que estava suspensa um dia por semana --todas as quartas-feiras-- passou a ser interrompida apenas uma vez a cada 15 dias desde julho deste ano.

Ainda assim, os produtores dos perímetros de fruticultura da região de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) reclamam de prejuízos.

"Temos uma perda de cerca de 15% da safra. É uma situação que gera um desestímulo a novos plantio e faz com que a região não cresça", afirma José Gualberto de Freitas, presidente da Valexport, entidade que congrega produtores e exportadores de frutas da região.

Também houve flexibilização no uso da água para fins industriais e de mineração: as empresas que captam água do São Francisco por mais de 13 horas por dia, que vinham reduzindo o volume de água usada em 14%, atualmente são obrigadas a reduzir apenas 7%.

Se as chuvas caíram de forma esparsa no semiárido, houve chuva acima da média em algumas regiões do litoral nordestino, sobretudo nas regiões sul e do recôncavo baiano.

O resultado é que os reservatórios que abastecem as maiores regiões metropolitanas, que há um ano estavam à beira do colapso, voltaram a encher.

Na região metropolitana de Salvador, o reservatório Joanes II, que em maio de 2017 atingiu 8% de sua capacidade, em julho deste ano chegou a 94%, afastando a possibilidade de racionamento na capital baiana.

O mesmo aconteceu com reservatórios que abastecem a região metropolitana do Recife, como os açudes de Botafogo, Goitá e Duas Unas.

 

 

 

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