Sexta-feira

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Economia patina e cresce aposta de PIB fraco também em 2019

A economia brasileira em 2018 cresceu apenas 1,1%, reforçando o quadro de fraqueza do PIB, marcado pela recuperação lenta do investimento e pela expansão modesta do consumo das famílias. Para completar, a atividade em 2019 queimou a largada, com indicadores apontando um fraco desempenho também em janeiro. Aliado à baixa "herança estatística" deixada por 2018, de 0,4%, isso torna mais difícil um crescimento na casa de 3% neste ano. Uma expansão do PIB mais próxima de 2% desponta como a mais provável. Dados do mercado de trabalho decepcionaram.

O desemprego no trimestre encerrado em janeiro ficou em 12%, acima do previsto. O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostrou a criação de 34 mil vagas formais no primeiro mês do ano, bem abaixo da média de 82 mil estimada pelos analistas. Com uma atividade que custa a engatar e uma inflação baixa, inferior a 4%, começa a crescer entre os economistas a ideia de que pode ser necessário um corte na Selic neste ano. A taxa está em 6,5% ao ano desde o início de 2018.

Uma redução ainda não faz parte da maioria dos cenários e quem a projeta em geral condiciona a ação do BC à aprovação da reforma da Previdência. A economia continua a caminhar a um ritmo fraco, mesmo depois da recessão cavalar do segundo trimestre de 2014 ao quarto de 2016. No ano passado, as incertezas provocadas pela greve dos caminhoneiros e pelas eleições travaram muitos investimentos, numa economia que ainda tem enorme capacidade ociosa.

O clima de indefinição diminuiu após a eleição, mas ainda há dúvidas sobre a reforma da Previdência. O resultado acumulado pelo PIB em quatro trimestres evidencia a dificuldade da atividade em ganhar tração. Nessa medida, o PIB atinge o fundo do poço no segundo trimestre de 2016, com uma queda de 4,5% e se recupera aos poucos, atingindo alta de 1,1% no acumulado em 2017. De lá para cá, o desempenho pouco se alterou - alcançou crescimento de 1,4% nos quatro trimestres até setembro de 2018, mas voltou para o ritmo de 1,1%. Num ranking de 42 países que já divulgaram o dado de 2018, o Brasil ocupa o 40º lugar, segundo a Austin Rating.

A recuperação da economia brasileira é a mais lenta da história das várias recessões pelas quais passou o país, diz Alberto Ramos, diretor do Goldman Sachs. Nos oito trimestres que se seguiram à recessão de 1981/83, quando o PIB recuou 8,5%, a atividade cresceu 11,7%. Dois anos após a contração de 7,7% de 1989/92, o crescimento foi de 8,4%. Já nos oito trimestres após a recessão de 2014/16, marcada por contração de 8,2%, o PIB acumulou expansão de apenas 3,4%. Esse número é a comparação entre o PIB do quarto trimestre de 2016 e o quarto trimestre de 2018, na série com ajuste sazonal. "As recuperações costumam ser em 'V', mas esta tem sido de um 'U' sem inspiração", diz Ramos.

Ao longo do ano passado, o avanço da economia não foi uniforme. Cresceu 0,4% no primeiro trimestre, zero no segundo, 0,5% no terceiro e apenas 0,1% no quarto, na série com ajuste sazonal. "Em linhas gerais, vimos uma economia num ritmo mais fraco no fim do ano", afirma Alessandra Ribeiro, diretora de macroeconomia e política da Tendências Consultoria.

Exemplo disso é que, dentro do setor serviços - que subiu 0,3% no quarto trimestre em relação ao trimestre anterior -, o comércio caiu 0,1%, mostrando que mesmo o consumo teve desaceleração. Ainda no lado da oferta, a indústria caiu 0,3% e agropecuária cresceu só 0,2%. Pelo lado da demanda, a formação bruta de capital fixo (FBCF, medida do que se investe em máquinas, equipamentos, construção e pesquisa) caiu 2,5% no quarto trimestre. O consumo das famílias cresceu 0,4%, e o do governo caiu 0,3% no período. No acumulado do ano, o investimento cresceu 4,1%, o primeiro ano de expansão depois de quatro anos seguidos de queda.

A alta em 2018 da FBCF, que caiu mais de 30% na crise, foi em parte inflada pelas operações de plataformas de petróleo, que passaram a ser registradas como importação de bens de capital. Já o consumo das famílias cresceu 1,9% no ano passado, um ritmo tampouco exuberante. Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, a demanda das famílias foi s principal responsável pela expansão de 2018, compensando a contribuição negativa do setor externo, de 0,5 ponto percentual, pois as exportações cresceram menos que as importações.

Para Alessandra Ribeiro, o consumo das famílias deve continuar a puxar o PIB neste ano, estimado em alta de 2%. Além da massa de renda, que deve avançar 2,7% em termos reais e, a ocupação, que deve subir 1,6%, o crédito deve ajudar. O cenário-base da Tendências é de estabilidade para a Selic até o fim do primeiro trimestre de 2020. Para a consultoria, a atividade não reagiu mais por causa do conjunto de choques - greve dos caminhoneiros, mudança do cenário externo, guerra comercial e incerteza eleitoral- do que por uma política monetária restritiva.

O Itaú Unibanco, que como a Tendências prevê expansão de 2% em 2019, diz que a estimativa deve ganhar viés de baixa se os dados continuarem decepcionando. Segundo o economista Artur Passos, a projeção preliminar da instituição para o primeiro trimestre é de alta de 0,3% do PIB sobre o anterior. Também atrapalha a herança estatística de 0,4% deixada por 2018. Isso significa que, se o PIB encerrar este ano no mesmo nível do fim de 2018, o crescimento será de 0,4%. Faltam elementos que impulsionem a economia a um ritmo acima de 2%, diz José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. Ele estima alta de 1,8% no PIB este ano.

A indústria deve avançar com dificuldades. Se tudo der certo, afirma, cresce 2%, após o fraco 0,6% de 2018. Mas a estimativa embute riscos. Ele aponta a recessão argentina e o cenário mais conturbado no exterior, que deve manter a volatilidade dos juros longos aqui. A desaceleração global pode implicar menos exportações. "Isso afeta as decisões de investimento e produção", afirma Gonçalves, dizendo que, do lado doméstico, a fragilidade política demonstrada pelo governo também entra nessa conta.

O economista espera a aprovação da reforma da Previdência, mas tem dúvidas quanto à capacidade de esse fator se traduzir em aumento de atividade. Ele cita ainda como entraves o mercado de trabalho precário e a falta de recursos dos governos federal e regionais para investimentos. Gonçalves acredita numa queda da Selic até o fim do ano. Para ele, o juro deve ficar em 6% "no máximo".

No cenário do banco chinês Haitong, que vê crescimento de 2,2% neste ano, o primeiro trimestre cresce pouco, em torno de 0,2%. No segundo acelera para 0,6%, chegando ao terceiro e quarto trimestres entre 0,8% e 1%, na série com ajuste sazonal. "Os juros estão baixos, as condições financeiras melhoraram e nosso cenário leva em conta a aprovação da reforma da Previdência, que deve se traduzir em aumento de atividade", afirma o economista-sênior do banco, Flávio Serrano.

O Haitong contempla juros no nível atual até o fim do ano devido a riscos associados à tramitação da Previdência. Para o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, o resultado do PIB do ano passado e do quarto trimestre mostra a necessidade de aprovação da reforma da Previdência "Sem isso teremos necessidade de aprovação da reforma da Previdência. Sem isso, teremos uma nova década perdida", diz ele, lembrando dos anos 1980, em que houve perda de 0,3 ponto porcentual ao ano de PIB per capita, cenário que se repete no período de 2011 a 2018. Para Sachsida, a ausência da reforma previdenciária também afetou o ano anterior, que teve a mesma taxa de expansão. "O problema fiscal está sendo determinante e puxando o PIB para baixo", afirma o secretário.

 

Economia está devagar e BC deveria cortar juro'

Os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados ontem pelo IBGE confirmam que a recuperação da economia brasileira é tênue e, diante de dados também fracos de inflação, o Banco Central já deveria ter começado a reduzir os juros. A avaliação é de Sergio Werlang, professor e assessor da presidência da Fundação Getulio Vargas (FGV).

"A economia está muito devagar e dá pra cortar com tranquilidade", disse, em entrevista ao Valor. Ex-diretor de Política Econômica do BC e um dos introdutores do regime de metas de inflação no Brasil, Werlang vê espaço para flexibilização monetária mesmo que a reforma da Previdência não saia do papel. Isso porque há sinais de que a taxa estrutural de juros, que permite a economia crescer sem pressões inflacionárias, estaria menor hoje. "Não há dúvidas de que a taxa de juros atual não é estimulativa, dadas as condições de curto prazo da economia brasileira."

Para o ex-diretor do BC, a Selic poderia chegar a 5,5% ao ano antes mesmo do fim de 2019. Hoje, a taxa está em 6,5%. Se houver estímulo monetário e se o Congresso aprovar uma reforma previdenciária "robusta" do ponto de vista fiscal, o PIB pode crescer cerca de 2% neste ano, afirma, sinalizando uma taxa maior em 2020. Confira os principais trechos da entrevista:

Valor: Como o sr. avalia os resultados do PIB do quarto trimestre e de 2018?

Sergio Werlang: Em primeiro lugar, a economia pode indicar que a taxa de juros tem espaço para cair mais. Os cálculos da taxa de juro estrutural dependem de médias históricas e do que aconteceu no passado, mas, do fim de 2018 para frente, notamos uma restrição razoável na expansão de gastos governamentais. É possível que no curto prazo a taxa de juros estrutural da economia tenha caído um pouco. Então isso seria indicativo de cortes adicionais da Selic. A segunda observação é que a economia brasileira está em recuperação muito frágil porque tudo depende da estabilização fiscal a médio e longo prazo e, enquanto não tivermos a aprovação de uma boa reforma da Previdência e muitas outras medidas que incluam várias privatizações e reorganização de gastos do governo federal e de Estados e municípios, teremos uma recuperação muito tênue, que não está completa.

Valor: Quais seriam os indícios de que a taxa estrutural de juros caiu?

Werlang: A média de crescimento do segundo e terceiro trimestres do ano passado foi de 0,25% por trimestre, ante o trimestre anterior [após revisão do IBGE]. Agora o PIB cresceu 0,1% no quarto trimestre. Não há dúvidas de que a taxa de juros atual não é estimulativa, dadas as condições de curto prazo da economia. Aparentemente 6,5% ao ano ainda é elevado para o nível de inflação que temos e para a estrutura de demanda que a economia mostra no curto prazo.

Valor: Até que nível a Selic poderia cair e em que ritmo? 

Werlang: Não fiz uma conta específica, mas acho que poderia ir até uns 5,5% ao ano. Não precisa ser de uma hora para outra, mas indicando cortes adicionais da taxa. Inclusive porque a inflação está muito baixa. Em uma média de seis meses, a inflação está abaixo do piso da banda. Esse patamar de 5,5% do juro poderia ser atingido já antes do fim do ano. Acho que dá pra cortar em três vezes - um corte de 0,5 ponto, dois de 0,25 ponto, ou dois cortes de 0,5 ponto. Não precisava esperar muito, não. Acho que a economia está muito devagar e dá pra cortar com tranquilidade.

Valor: O BC já deveria ter deixado mais claro em suas comunicações que pode estar preparando o caminho para um corte?

Werlang: Tenho essa posição há um mês. Já deveria ter cortado. Mas a vantagem do sistema de metas é que dá para mudar de ideia.

Valor: Uma redução na taxa Selic em 2019 não traz o risco de estimular demais a economia e, depois, fazer com que o BC tenha que corrigir a rota?

Werlang: Essa é a beleza do sistema de metas para inflação. Se isso acontecer, vai aparecer nos dados e o BC aumenta a Selic de novo, pronto. Nada diz que você tem que deixar a Selic lá embaixo, não está escrito em pedra.

Valor: Uma mudança brusca não pode ser mal vista pelo mercado, que sempre critica quando o BC toma uma decisão que não estava bem sinalizada?

Werlang: As pessoas que criticam, normalmente criticam porque têm opiniões diferentes. Mas, se o pessoal do BC estiver convencido de que isso é o certo, é o que deve fazer.

Valor: Existe uma percepção no mercado de que, sempre que há mudança na presidência do BC, quem assume o cargo adota uma postura mais conservadora. Qual a expectativa para a gestão de Roberto Campos Neto?

Werlang: Não concordo com essa visão de jeito nenhum. Não vejo por que um novo presidente do Banco Central precisa ser conservador. Inclusive a diretoria é praticamente a mesma. O novo colegiado do Copom tem que ter a atitude mais adequada aos dados que a conjuntura econômica está mostrando. A conjuntura está mostrando que a economia não está se recuperando, de modo que me parece justificável que haja cortes na taxa de juros.

Valor: O ambiente externo é favorável para um corte?

Werlang: É bem razoável. O Fed [Federal Reserve, o banco central americano] já anunciou que será paciente na subida dos juros. O ambiente internacional está bom, estamos com reservas internacionais muito confortáveis, o risco-Brasil está caindo, e aqui dentro tudo indica que vamos ter uma reforma da Previdência bastante robusta do ponto de vista fiscal, o que conta muito positivamente para isso.

Valor: O sr. está otimista com a proposta de reforma de Previdência apresentada?

Werlang: Estou bastante otimista. Claro que os parlamentares vão dar a contribuição deles, mas pela primeira vez temos uma reforma que ataca pontos essenciais. Temos não só que aumentar a idade mínima, mas também tornar isso mais ou menos automático. Quanto mais longa fica a vida do brasileiro, tem que obviamente estender também o tempo de aposentadoria. Também é preciso acabar com os privilégios. Não faz sentido o Brasil ter uma classe privilegiada de aposentados com recursos públicos. Quem quer ter mais aposentadoria que faça suas poupanças privadas.

Valor: Como o sr. vê as chances de aprovação do projeto? A crise política pode atrapalhar a tramitação no Congresso?

Werlang: Não sou a melhor pessoa para dar opinião sobre esse assunto, mas a minha visão é que hoje estamos num ponto favorável. Claro que coisas aqui e ali vão demandar ajustes, mas acho a chance de aprovação bastante boa e, sinceramente, não tem alternativa. Se não passar uma reforma muito robusta, vamos ver a volta da inflação, a pior de todas as políticas de taxação, que afeta justamente aqueles que não têm acesso ao setor financeiro: a camada mais necessitada da população.

Valor: A reforma seria o principal impulso para o crescimento econômico previsto para este ano?

Werlang: Não tenho dúvida nenhuma, vai ser o principal impulso para tudo na economia. Claro, no curto prazo, se o Banco Central começar a diminuir a taxa de juros, ele ajuda a recuperação, mas não será uma recuperação de longo prazo, será apenas momentânea.

Valor: O BC tem espaço para reduzir os juros independentemente da aprovação da Previdência?

Werlang: Já defendi isso antes da última reunião do Copom. Já achava que tinha espaço lá e continuo achando.

Valor: 2019 mal começou e as expectativas de expansão da atividade já estão sendo ajustadas para baixo. O que é possível esperar para o PIB deste ano?

Werlang: Espero um crescimento maior que o do ano passado. Para isso, é fundamental que a reforma da Previdência seja aprovada e acho que o BC vai cortar juros. Tendo em vista isso, podemos crescer fácil na faixa de 2%, mais ou menos o dobro do que foi 2018, sinalizando mais para o fim do ano um crescimento mais elevado para 2020.

Valor: Se tudo correr dentro do esperado, qual pode ser o crescimento no próximo ano?

Werlang: Um número na faixa de 3% daria tranquilo.

Valor: As outras agendas defendidas durante a campanha, como a simplificação tributária e privatizações, parecem ter sido deixadas em segundo plano pelo governo. Essas medidas não seriam tão fundamentais quanto mudar a Previdência para o crescimento?

Werlang: Não são tão fundamentais quanto a reforma da Previdência, que é um divisor de águas. Sem a reforma, não adianta fazer mais nada porque não vai ter sustentabilidade de longo prazo na economia brasileira e a inflação será a resposta. Primeiro temos que garantir essa sustentabilidade. O governo está 100% certo na estratégia de focar todos seus esforços na reforma.

Valor: Qual sua avaliação sobre os dois primeiros meses do governo Bolsonaro?

Werlang: Na área econômica, está bastante bem. Conseguiu colocar em pé uma reforma da Previdência, e já começa com uma base relativamente grande em relação à última lei que se tentou aprovar no governo anterior. A opinião pública já está quase meio a meio em relação à reforma previdenciária, mesmo com as poucas explicações que já foram dadas, segundo uma pesquisa que vi nesta semana. Estamos num período muito favorável para a área econômica e a avaliação é a melhor possível.

 

Alta sob Temer só superou resultados de Dilma e Collor

A taxa de crescimento médio do Produto Interno Bruto (PIB) do governo do ex-presidente Michel Temer foi a terceira mais baixa do período pósredemocratização do país, superando apenas o desempenho dos governos Dilma Rousseff e Fernando Collor, mostram cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) obtidos pelo Valor.

Com o resultado divulgado ontem pelo IBGE, a taxa de crescimento do PIB trimestral médio do governo Temer foi 0,27%, na série com ajuste sazonal. Essa taxa considera o início do mandato em maio de 2016, quando a abertura do impeachment afastou a petista por 180 dias, Temer assumiu e anunciou sua equipe.

O avanço do PIB total do governo Temer foi de 2,8%. O desempenho da economia brasileira sob Temer foi um pouco melhor do que a taxa de crescimento do PIB trimestral médio do governo de Dilma Rousseff (+0,02%) e também de Fernando Collor de Mello (-0,1%). Ambos foram, respectivamente, o penúltimo e último colocados no levantamento do Ibre/FGV. Os dois mandatários foram afastados por processos de impeachment.

O levantamento mostra que o governo de Itamar Franco teve a melhor média trimestral de crescimento, de 1,8%. A economia de seu governo foi ajudada pelo "boom" de consumo provocado pela implementação do Plano Real, em 1994. Depois dele, o melhor crescimento trimestral médio da economia brasileira foi registrado no governo de José Sarney, de 0,9%. O crescimento do PIB trimestral médio do governo Lula, considerando os dois mandatos, foi de 0,6%.

O avanço acumulado em seus dois mandatos, porém, foi o maior de todos os ex-presidentes: 37,4%. Para Luana Miranda, economista da FGV/Ibre e autora dos cálculos, o governo Temer conseguiu avanços que contribuíram para a retomada do crescimento da economia (ainda que em ritmo lento), como a redução da inflação, a queda da taxa básica de juros (Selic) e a aprovação da reforma trabalhista.

Conforme divulgado ontem pelo IBGE, o PIB cresceu 1,1% em 2018, o mesmo ritmo de crescimento do ano anterior (1,1%). Se em 2017 a expansão da economia brasileira foi ajudada por uma safra agrícola recorde, o crescimento do ano passado foi baseado no resultado da indústria e dos serviços. "Pela frente, o principal desafio para o governo Bolsonaro será conseguir reequilibrar as contas públicas e estabilizar a dívida. Também precisamos continuar avançando nas reformas microeconômicas para aumentar a produtividade, que é fundamental para elevar o nosso crescimento potencial", disse Luana.

O PIB de cada presidente pode, claro, ser relativizado. Os mandatários "herdam" um ciclo econômico dos antecessores, herança esta que pode ser positiva ou negativa. O governo Temer, por exemplo, teve início em meio a uma das maiores recessões documentadas no país, gestada no primeiro mandato da presidente Dilma.

 

Estoque de crédito cai 0,9% em janeiro, para R$ 3,2 trilhões, nota BC

O saldo das operações de crédito do sistema financeiro caiu 0,9% no primeiro mês de 2019, para R$ 3,232 trilhões, conforme dados do Banco Central (BC) divulgados nesta quartafeira. Como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) estimado pelo BC, o estoque de operações caiu para 46,8% em janeiro, frente a 47,4% no último mês de 2018. Em janeiro de 2018, era também de 46,8%.

O saldo total do crédito livre recuou 1% em janeiro sobre o mês anterior, para um total de R$ 1,743 trilhão, enquanto o crédito direcionado caiu 0,8%, para 1,488 trilhão. O saldo total de crédito para as famílias aumentou 0,6% em janeiro e 8,4% em 12 meses, chegando a R$ 1,807 trilhão. Para as empresas, houve recuo no mês de 2,7%, somando R$ 1,425 trilhão. Medido em 12 meses, a alta foi de 1%. Ainda em janeiro, o sistema financeiro concedeu 15% menos novos empréstimos e financiamentos perante o mês anterior. O número leva em conta as concessões totais em cada mês.

As concessões para clientes corporativos recuaram 26,9% ante dezembro de 2018, somando R$ 126,8 bilhões. Para as famílias, o sistema financeiro concedeu R$ 178,6 bilhões em novos empréstimos e financiamentos, 4,1% abaixo do que tinha concedido no fim do ano passado. A concessão com recursos livres, em que as taxas são pactuadas livremente entre bancos e clientes, caiu 11%.

Já as operações com recursos direcionados, que são regulamentadas pelo governo ou vinculadas a recursos orçamentários, despencaram 49,6% em janeiro. Na média diária, as concessões caíram 22,9%, sendo 19,3% de recuo nas operações com recursos livres e 54,2% nas operações com recursos direcionados

 

Bolsonaro admite mudar proposta para reduzir idade mínima de mulheres

O presidente Jair Bolsonaro afirmou, nesta quinta-feira, em um encontro com jornalistas em Brasília, que a idade mínima de 62 anos para aposentadoria de mulheres é um ponto passível de mudança no projeto de reforma de Previdência enviado pelo governo à Câmara.

Bolsonaro também admitiu que outra “gordura” de sua proposta é a regra do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Conforme o projeto, idosos pobres só passariam a receber salário mínimo ao completar 70 anos. A partir dos 60, receberiam R$ 400 por mês. Hoje, o benefício do mínimo é pago a partir dos 65 anos. O presidente afirmou também que, de forma alguma, irá ceder ministérios ou cargos para facilitar a aprovação da reforma da Previdência. Ele afirmou ainda que, em conversas recentes com lideranças políticas, tem pedido, “humildemente”, que sejam empreendidos todos os esforços possíveis para aprovação do projeto. Bolsonaro afirmou que irá assumir com empenho a tarefa de convencer o Congresso Nacional a aprovar a reforma. Ele completou dizendo que os parlamentares têm noção da importância do tema.

Bolsonaro também pediu apoio dos meios de comunicação. Segundo ele, será necessário “muito mais que as redes sociais” para aprovar o texto. “Preciso do apoio de vocês, da imprensa”, disse. O encontro com pouco mais de dez jornalistas, colunistas e comentaristas de diferentes veículos ocorreu na manhã de hoje no Palácio do Planalto e durou aproximadamente 90 minutos. A conversa, por determinação da equipe do presidente, não pode ser gravada.

 

FOLHA

Recessão pode ter agravado quadro anterior de atraso industrial

Já soa como notícia velha dizer que a economia brasileira vai mal, que a recuperação após uma das mais severas recessões da história não engatou etc. Diversos indicadores divulgados nos últimos meses indicavam que 2018 havia sido decepcionante. Os dados mais detalhados do PIB (Produto Interno Bruto) conhecidos nesta quinta-feira (28) apenas corroboraram isso.

O problema maior está no que os números nos dizem sobre o futuro. Nenhum dos recortes das contas nacionais —seja pelo lado da demanda, que inclui consumo, investimentos e exportações, seja pelo lado dos setores da economia—  teve desempenho excepcional no último trimestre. Pelo contrário. A economia terminou o ano mais fraca do que havia começado.

Entre os componentes do PIB, talvez um que mereça especial preocupação, pensando nos próximos anos, é a indústria. Após quatro anos consecutivos de queda, o setor teve expansão pífia de 0,6% em 2018, além de ter recuado 0,3% no último trimestre do ano em relação ao período imediatamente anterior.

O patamar de produção do segmento ainda se encontra 12% abaixo do registrado antes do início da recessão no primeiro trimestre de 2014. Nessa mesma base de comparação, a atividade na agropecuária – apesar da estagnação registrada em 2018 – subiu 11,1%.

Como os anos anteriores haviam sido especialmente bons para a agricultura, talvez seja mais justo fazer essa comparação com o setor de serviços. Assim como a indústria, esse segmento também ainda não recuperou o patamar de antes da recessão. Mas, no caso dos serviços, a diferença restante é bem menor, de 2,9%.

Outra forma de enxergar a dificuldade da indústria brasileira a sustentar uma recuperação é achar na série do IBGE o momento do passado em que sua produção era equivalente ao nível atual. A resposta dos números a essa pergunta é: meados de 2009. Ou seja, nenhum progresso em quase uma década.

Imprevistos ocorridos fora da dinâmica interna da economia brasileira ajudam a explicar por que o setor – que parecia estar engatando uma primeira marcha no início de 2018 – sofreu novo golpe. Greve dos caminhoneiros e crise na Argentina seriam os culpados, sob essa ótica.

Sem dúvida esses dois choques tiveram grande impacto negativo. Mas a questão que economistas começam a se perguntar é se a recessão não teria agravado um quadro pregresso de atraso industrial de reversão, agora, ainda mais difícil.

Afinal, problemas estruturais como ambiente de negócios nocivo ao empreendedorismo, carga tributária excessiva e complicada, pouco incentivo à inovação e baixa oferta de mão de obra qualificada não brotaram do nada nos últimos anos. São velhos conhecidos nossos.

O sucesso ou fracasso do atual governo em atacá-los – além de enfrentar outros problemas como as contas insustentáveis da Previdência – dirá se ainda há chance de modernização, e crescimento industrial mais vigoroso no país nos próximos anos.

Vale acrescentar que a indústria é a principal empregadora de mão de obra formal. Portanto, enquanto não houver uma recuperação mais robusta do setor, dificilmente, o emprego com carteira assinada sairá de seu persistente quadro de crise.

 

PIB per capita não vai crescer sem reforma, diz ministério

Após a divulgação de que o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu 1,1% em 2018, o Ministério da Economia divulgou, nesta quinta-feira (28), um estudo no qual afirma que o ritmo de recuperação da atividade após a recessão “tem se revelado muito lento”.

A nota técnica, elaborada pela Secretaria de Política Econômica da pasta, conclui que o PIB per capita do país entrará em trajetória de queda se a reforma da Previdência não for aprovada.

Do total do valor adicionado à economia do país em 2018, coube a cada brasileiro uma fatia média de R$ 32,7 mil.

De acordo com o estudo, sem os ajustes nas regras a aposentadoria, esse valor cairia ano a ano, ficando em R$ 30,8 mil em 2023. Em caso de aprovação da reforma, haveria elevação constante, alcançando R$ 36,6 mil em 2023.

A secretaria justifica que a aprovação da proposta gera impacto já no curto prazo porque uma melhora nas expectativas para a dívida pública brasileira reduz as taxas de juros e impacta no crescimento econômico.

“Para que o PIB per capita volte a crescer de maneira sustentável, é necessário que as reformas estruturais ocorram. A nova Previdência é condição necessária para o equilíbrio fiscal de longo prazo da economia”, afirma o documento.

A secretaria ressalta que o PIB brasileiro no fim de 2018 ainda está 4,7% abaixo do nível observado em 2014, antes da recessão econômica.

“Não há dúvida de que o Brasil se encontra em uma das piores décadas da sua história em termos de crescimento econômico”, diz.

 

Brasil cria 34,3 mil empregos formais em janeiro

O mercado de trabalho brasileiro criou 34.313 empregos com carteira assinada em janeiro, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados nesta quinta-feira, 28, pelo Ministério da Economia.

O saldo de janeiro decorre de 1,325 milhão de admissões e 1,290 milhão de demissões. Em janeiro de 2018, a abertura líquida de vagas havia chegado a 77.822, na série sem ajustes, mais que o dobro do desempenho do mês passado.

O resultado de janeiro ficou muito abaixo da projeção mais modesta de abertura de vagas. As estimativas dos analistas do mercado financeiro, consultados pelo Projeções Broadcast, iam de geração de 59.192 a 107.360 vagas, com mediana de 89.048 postos de trabalho.

Em dezembro de 2018, havia ocorrido o fechamento líquido de 334.462 vagas com carteira assinada, como é comum para o último mês do ano.

Setores

O resultado do mês foi puxado pelo setor de serviços, que gerou 43,449 postos formais, seguido pela indústria de transformação, que abriu 34.929 vagas de trabalho.

Também tiveram saldo positivo no mês a construção civil (14.274 postos), a agropecuária (8.328 postos) e a extração mineral (84 postos).

Já o comércio fechou 65.978 vagas em janeiro, enquanto a administração pública encerrou 686 vagas no mês passado. Os serviços industriais de utilidade pública também fecharam 88 vagas no começo do ano.

Resultado mostra criação de 3.352 vagas de emprego com contrato intermitente

Os dados do Caged também mostram a criação líquida de 3.352 empregos com contrato intermitente em janeiro.

De acordo com os dados do Ministério do Economia, o emprego intermitente registrou criação total de 7.768 postos ao mesmo tempo em que houve fechamento de 4.416 vagas.

Houve ainda a abertura de outras 135 vagas pelo sistema de jornada parcial. As duas novas modalidades foram criadas pela Reforma Trabalhista.

O Caged informou ainda que houve 17.754 desligamentos por acordo no mês de janeiro.

Resultado foi o 2º melhor para o mês nos últimos seis anos

O secretário de Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo, avaliou que janeiro teve o segundo melhor resultado para o mês na criação de empregos nos últimos seis anos.

“Ainda sofremos um pouco com o realinhamento das expectativas e com a retomada de investimentos. Mas a tendência de geração de empregos deve continuar”, avaliou.

O coordenador geral de estatísticas da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Mário Magalhães, argumentou que o saldo de geração de empregos no mês passado está em linha com o observado no começo de 2013 e 2014 – os dois últimos anos antes da recessão.

Magalhães apontou o fechamento líquido de 65.978 vagas pelo comércio em janeiro representou metade da queda do ritmo de abertura de vagas no mês passado, mas ponderou que a quantidade de trabalhadores temporários que continuaram empregados no setor aumentou neste ano.

“Isso tem a ver com o maior número de contratações temporárias em novembro e dezembro do ano passado. O resultado do comércio parece negativo, mas houve 108 mil contratações pelo setor no fim de 2018, ante 74 mil no fim de 2017. Com o ajuste de janeiro, cerca de 26 mil trabalhadores continuaram trabalhando no comércio no começo do ano passado, saltando para 42 mil no começo deste ano”, detalhou.

Ritmo do mercado

Bruno Dalcolmo também avaliou que o ritmo de evolução do mercado de trabalho está atrelado ao ritmo de crescimento da economia. Segundo ele, a aprovação da reforma da Previdência é fundamental para estimular a criação de emprego e renda no País.

“O ritmo do mercado de trabalho não tem como fugir do ritmo da economia, e o ritmo da economia depende da reforma da Previdência. Sem a reforma da Previdência, todos os indicadores macroeconômicos sofrerão”, alertou. “O que importa é o saneamento das contas públicas, e o principal instrumento para fazê-lo é a reforma”, completou.

De acordo com dados divulgados nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 1,1% em 2018. “Diversos especialistas afirmam que a reforma da Previdência pode levar o Brasil a um crescimento de 2,5% a 3% do PIB”, considerou.

“Dado o contingente de desempregados, processo de reincorporação desses trabalhadores é progressivo. Mas se o PIB continuar crescendo apenas 1%, mercado de trabalho seguirá andando de lado”, completou.

Já o coordenador geral de estatísticas da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, Mário Magalhães, destacou que dos 12 setores da indústria de transformação detalhados no Caged, 11 apresentaram crescimento no emprego em janeiro. A exceção foi a indústria de produtos alimentícios, com destaque para o fechamento de vagas na produção de açúcar e álcool.

Segundo ele o fato da construção civil ter registrado um saldo positivo de 14.275 vagas em janeiro também foi uma boa notícia. “Há maior criação de vagas na construção de edifícios e na montagem de instalações industriais e de estruturas metálicas, que significam investimentos”, apontou.

 

'Se reformas caminharem, dá para ser mais otimista em 2019', diz Silvia Matos

Na visão da economista Silvia Matos, o desempenho da economia brasileira no ano passado, de crescimento de 1,1% do Produto Interno Bruto (PIB), divulgado nesta quinta-feira, 28, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra uma melhora no cenário interno, apesar de muito abaixo do que era esperado no início de 2018.

Para a pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), a aprovação da reforma da Previdência é crucial para a sinalização do compromisso do governo de Jair Bolsonaro com as contas públicas, mas ela não basta para que o País entre em ciclo de crescimento mais acelerado. Também é preciso resolver a eficiência e a qualidade dos gastos públicos. A seguir, trechos da entrevista.

Em 2018, o Brasil cresceu o mesmo que havia crescido no ano anterior. Esse desempenho deve ser comemorado?

Devemos considerar que o País está em baixo crescimento. O resultado de 2018 foi melhor do que o do ano anterior, porque a composição foi diferente. Se o PIB de 2017 cresceu embalado pela agropecuária e por uma indústria muito dependente das exportações, em 2018 o consumo das famílias já teve um desempenho maior e houve um avanço do investimento em máquinas e equipamentos, mesmo desconsiderando os investimentos em plataformas de petróleo, que comprometem a comparação. O resultado é muito aquém do esperado, após a perda de PIB durante a recessão, mas é um pouco melhor.

Com o resultado do PIB de 2018 já é possível fazer um retrato do desempenho do governo Michel Temer na economia. Ele é positivo ou negativo?

Vimos alguns avanços, o governo montou uma equipe econômica muito boa e conseguiu aprovar a PEC dos gastos, mas havia uma promessa de ajuste fiscal estrutural, que não se cumpriu. A fragilidade política do presidente e sua baixa popularidade aumentaram a dificuldade de aprovação das reformas. Quando ficou claro que o governo não conseguiria aprovar a reforma da Previdência, houve uma grande frustração, que limitou a capacidade de recuperação da economia. Eu critico a visão muito otimista que se criou sobre a capacidade de resolução dos problemas do País. Criou-se uma expectativa muito grande, que acabou atrapalhando na retomada do crescimento — e ainda estamos pagando essa conta de 2018, de ajuste incompleto.

A reforma da Previdência ganhou protagonismo ao se discutir os passos que o País precisa dar para acelerar a recuperação. Esse protagonismo é justificado?

A reforma da Previdência é muito importante, mas não resolve todos os problemas do País. Ela ataca um problema inicial, de insolvência das contas públicas, mas é preciso melhorar também a eficiência do gasto público. O governo precisa ser mais eficiente e alocar recursos de forma mais racional do que tem feito até agora. Essa é uma agenda muito longa e de difícil execução, mas necessária. Sem isso, o cenário interno será bem negativo e é bom lembrar que ele sempre pode piorar.

Os investimentos devem ter um desempenho maior este ano?

Acredito que este ano vai ser melhor para os investimentos do que o ano passado. Estamos projetando um avanço mais próximo de 5%, o que ainda inclui as plataformas de petróleo, mas um número melhor do que o de 2018 e que deve crescer mais no segundo semestre. Só que o recurso internacional para investimentos ainda não está vindo. No começo do ano, o investidor ainda vai esperar para tomar decisões que demandam mais certezas, ele ainda precisa acreditar que o governo Bolsonaro irá conseguir implementar as reformas. 

Quais são as perspectivas de crescimento do País para este ano?

Se as coisas caminharem bem, em termos de avanços nas reformas fiscais e tributárias e nas privatizações, é possível ser mais otimista e pensar em um crescimento do PIB de 2,1% para 2019. Não dá para dizer que seria um resultado ruim, mas o Brasil ainda tem muitos desafios para chegar a um crescimento na casa dos 3%. No ano como um todo, o agronegócio não deve ter um desempenho muito melhor do que em 2018, a indústria de transformação ainda sofre com a crise na Argentina.

O consumo das famílias cresceu 1,9% em 2018. Ele deve ter um desempenho melhor este ano?

Por um lado, o consumo das famílias cresceu no ano passado, mas o mercado de trabalho ainda está muito fraco e o consumo não dá para crescer muito mais. Os juros reais também ainda estão muito altos, mas não tem milagre, depende de investimento e produtividade. Resolvendo a insolvência fiscal, pode ter um novo ciclo para a economia. Para este ano, estamos prevendo 2,5% de crescimento do consumo das famílias, um resultado acima do PIB, mas que depende do crescimento dos outros setores. A necessidade cada vez menor de mão de obra também pesa no mercado de trabalho e na capacidade de aumento do consumo das famílias. Além disso, o País não pode mais arcar com um boom de crédito, como no passado, sem fazer mudanças estruturais.

Este ano deve ser mais difícil para o Brasil, do ponto de vista internacional?

Sim. O que estamos vendo é um cenário em que o mundo está desacelerando e tendo de enfrentar novos desafios, com um crescimento mais baixo. Há uma discussão ainda forte sobre os rumos da guerra comercial entre China e Estados Unidos que não é favorável aos emergentes. O Brasil, portanto, precisa acelerar seu crescimento em um contexto internacional desfavorável, de desaceleração do crescimento internacional. Com alguma frequência, o País perde janelas favoráveis para o crescimento e precisa compensar essa demora em momentos mais complicados para crescer.

 

O GLOBO

MIRIAM LEITÃO

Muito além da crise fiscal

O pior do PIB não é o número magérrimo, mas sim a constatação de que nem somos ainda do tamanho que já fomos. Não nos levantamos do tombo ocorrido no governo Dilma após os sucessivos erros de política econômica. A economia não consegue pegar ritmo, o máximo alcançado até agora foi sair da recessão há dois anos. Neste ponto, continuamos parados. Em termos de PIB per capita, o país está 8% abaixo do que já foi. Essa destruição de valor, de atividade, de emprego está relacionada diretamente com a crise fiscal. Mas não apenas isso. Há muito mais a ser feito se o país quiser realmente crescer.

Pelo segundo ano consecutivo, a economia brasileira ficou em 1,1%. O crescimento de 2018 repetiu o resultado de 2017, frustrando expectativas do começo do ano de uma recuperação em torno de 3%. Mesmo no quarto trimestre, o resultado foi fraco, com alta de apenas 0,1%, e isso coloca em dúvida as projeções de 2,5% para este ano. Certamente nas próximas semanas os economistas vão rever esta previsão para baixo.

A crise brasileira vai muito além do problema fiscal. O país precisa aumentar a produtividade e a competitividade. A construção civil caiu pelo quarto ano consecutivo. No mercado se informa que a aprovação da lei do distrato imobiliário poderá destravar o setor este ano. Mas há muito mais por trás dessa paralisia de várias áreas. As taxas de juros cobradas das empresas e das famílias permanecem elevadas — subiram novamente em janeiro — mesmo com a redução da Selic, da Agenda BC+ do Banco Central, e do recuo da inadimplência.

A tragédia de Brumadinho colocou em xeque o setor de mineração, um dos grandes exportadores do Brasil, e o corte da nota de crédito da Vale, que perdeu o grau de investimento, mostra que uma das nossas principais empresa passará por um ano de dificuldades. A Petrobras felizmente voltou ao azul, depois da gestão acertada dos ex-presidentes Pedro Parente e Ivan Monteiro, mas ainda está com investimentos acanhados. A preocupação da empresa continua sendo redução do endividamento. A meta do novo presidente da empresa, Roberto Castello Branco, é sanear as contas da companhia e vender ativos.

A economia mundial tem trazido complicadores. Ainda sente os efeitos da disputa entre EUA e China, há o risco Brexit, a desaceleração na Argentina, e há pouca expectativa de que o Brasil seja empurrado pelas exportações.

Os investimentos caíram 2,5% no quarto trimestre na comparação com o terceiro tri e isso reduz as expectativas de crescimento futuro. Em relação ao mesmo período do ano anterior, houve desaceleração de 7% para 3%. O início de um novo governo e a agenda liberal do ministro Paulo Guedes ainda não foram suficientes para aumentar a confiança na economia a ponto de estimular os investimentos. É preciso provar que o governo consegue entregar um pouco do que promete na economia. A Previdência é apenas a primeira das tarefas.

O mercado de trabalho continua muito ruim. Há mais gente empregada, mas o número de desempregados continua igual: 12,7 milhões. O economista Bruno Ottoni, do Ibre/FGV, que acompanha o mercado de trabalho, não enxerga grandes avanços em 2019, mesmo se for aprovada a reforma da Previdência. Pelas suas estimativas, o país chegará em dezembro com o mesmo número de desempregados de um ano antes.

— Para o desemprego cair, o PIB tem que crescer com mais força. E isso ainda não aconteceu. Há também questões pontuais. A MP que regulou a reforma trabalhista do governo Temer caducou, e não se vê ninguém no governo Bolsonaro falando no assunto. Há a ideia de criação da carteira verde amarela. São mudanças que promovem insegurança jurídica e deixam os empresários em compasso de espera, porque eles não sabem o que vai prevalecer — explicou.

O PIB do quarto trimestre deve servir de alerta para o governo e para o Congresso. A economia continua anêmica, sem capacidade de reação. O país não voltará a crescer por inércia. É preciso enfrentar os gargalos e acelerar a agenda de reformas. Os milhões de desempregados têm pressa. O discurso de mudança da situação econômica tem que deixar de ser apenas uma promessa de palanque. O mesmo eleitor que consagra é o que se afasta daquele que não entrega o que prometeu.

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