Terça-feira

FOLHA

Sem nova lei, gigantes do saneamento veem investimentos restritos

Sem um marco regulatório para o saneamento, gigantes do setor veem limites para a realização de investimentos adicionais nos próximos anos. Novos aportes estão condicionados ao aumento da competição.

A MP (medida provisória) sobre o tema, defendida pela iniciativa privada, não avançou no Congresso e caducou nesta segunda-feira (3).

Agora, o segmento defende a aprovação de um projeto de lei que preserve o texto do relator da MP, senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

Hoje, cerca de 6% dos municípios são atendidos por empresas privadas.

Os aportes necessários para a universalização dos serviços são de R$ 497 bilhões, segundo estudo da consultoria KPMG encomendado pela Abcon (associação das empresas privadas de saneamento).

O investimento privado, que hoje gira em torno dos R$ 2 bilhões ao ano, poderia chegar a R$ 12 bilhões, diz a entidade.

“Esperamos que o texto não seja desfigurado. É preciso manter a viabilidade de projetos privados”, diz Teresa Vernaglia, presidente da BRK Ambiental, que atende 180 municípios.

A companhia investe, em média, R$ 1 bilhão ao ano. A aprovação de um texto nos moldes do apresentado por Jereissati dobraria esse aporte.

O senador tucano apresentou como projeto de lei o mesmo texto da MP do saneamento, que acaba com os contratos de programa (sem licitação) com as estatais e prevê a concorrência com empresas privadas para prestação do serviço.

A Aegea, que está em 49 cidades, diz que a lei poderia acelerar o crescimento da empresa e de seus investimentos.

“Já cumprimos algo fixo em torno de R$ 600 milhões, previstos nos nossos contratos, e crescemos a 20% ao ano. Com o novo marco, e uma demanda de mercado, podemos triplicar a taxa”, afirma o presidente da empresa, Hamilton Amadeo.

“Se não for aprovado o texto, não haverá esse montante adicional”, diz o executivo.

A Iguá, que tem hoje 18 operações, prevê mobilizar ao menos R$ 1,5 bilhão nos próximos cinco anos, cerca de R$ 400 milhões em 2019.

“Esse valor será bem maior se houver uma lei [que permita a competição]. Preparamos a empresa para fazer investimentos. Temos reduzido o endividamento e queremos explorar ativos como eventuais privatizações”, diz Gustavo Guimarães, presidente da companhia.

“Sem nova lei, as oportunidades de atuação são pouquíssimas, os aportes serão concentrados em ganho de eficiência. Se o PL sair do papel, dobraremos o investimento”, afirma Carlos Eduardo Castro, diretor comercial da Águas do Brasil, que opera em 13 cidades.

Para tentar aprovar um novo marco regulatório, o governo quer apoiar um projeto de lei do Senado que abre o setor para a iniciativa privada, mas dando uma sobrevida às companhias estaduais de água e esgoto.

Apesar de apoiar a proposta de Jereissati, o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), negocia uma emenda para que as estatais possam continuar operando por até mais 48 meses, quando haveria a substituição dos contratos.

O prazo é um pedido de governadores que se posicionam contra o texto da MP 868 que caducou. A resistência deles travou a tramitação da proposta.

Na Câmara, outro projeto de lei sobre o tema foi apresentado na semana passada pelo deputado Fernando Monteiro (PP-PE), aliado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O texto desagrada ao governo por permitir que novos contratos com estatais sejam firmados e que os atuais sejam renovados.

Tasso é contra essa versão. “Não resolve o problema. E não mudar nada é continuar com a maior vergonha que existe nesse país.”

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que, em 2018, 66% dos domicílios do país tinham acesso a rede geral ou fossa ligada à rede para escoamento de esgoto.

No Sudeste, a taxa é de 88,6% —acima do Norte (21,8%) e Nordeste (44,6%).

 

Construtoras temem falta de dinheiro para Minha Casa Minha Vida com liberação de saques do FGTS

A proposta do ministro da Economia, Paulo Guedes, de autorizar a liberação de saques do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ligou o sinal de alerta entre empresários do mercado imobiliário. A preocupação é com a possibilidade de faltar dinheiro para tocar empreendimentos do Minha Casa Minha Vida (MCMV), uma vez que os financiamentos para a compra e a construção de moradias do programa usam recursos do fundo.

Um entrave desse tipo seria um golpe duro para o setor, na avaliação do presidente da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz França. "O Minha Casa Minha Vida tem sido o motor do mercado nos últimos anos", destacou. Segundo pesquisa da Abrainc, o programa respondeu por 78% dos lançamentos e 67% das vendas no País nos últimos 12 meses. "Se prejudicar a habitação popular, o setor da construção civil vai ter uma grande retração na geração de empregos e de impostos", acrescentou França.

O vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon-SP), Ronaldo Cury, alertou que o anúncio preliminar de Guedes, sem o detalhamento sobre o volume de recursos que poderá sair do FGTS, criou uma insegurança muito grande para os empresários, que precisam comprar hoje os terrenos que vão se transformar em obras nos meses seguintes. "Existe dúvida se vai faltar dinheiro. Então esse anúncio aumentou a insegurança do setor e gerou dúvidas para os investimentos em novos negócios", disse. "Tomara que o ministro Paulo Guedes volte a atrás", completou.

Opinião semelhante foi compartilhada por Rafael Menin, copresidente da MRV, maior operadora do Minha Casa Minha Vida. "Uma ação do governo federal que possa diminuir a liquidez do fundo não seria boa para o setor", disse. "Confiamos na capacidade técnica dos membros do governo e esperamos que não tomem nenhuma medida estabanada que afete a continuidade do programa". Menin afirmou que os lançamentos e as vendas da MRV têm rodado normalmente neste trimestre e que a companhia mantém a meta de ampliar os negócios neste ano. No entanto, admitiu preocupação com a saúde do programa no médio prazo.

Segundo apuração do Estadão/Broadcast, o governo estuda liberar os recursos das contas inativas do FGTS, medida que tem potencial para injetar R$ 22 bilhões na economia. Na visão do governo, a iniciativa dará ânimo à economia sem prejudicar a sustentabilidade do fundo e o uso de seus recursos como fonte de financiamento para a construção civil. O valor que poderá ser liberado representa menos de 5% do estoque de recursos do fundo, que totaliza R$ 525 bilhões.

Para os empresários, entretanto, essa comparação está incorreta. Segundo nota técnica do Sinduscon-SP, apenas R$ 112 bilhões do fluxo de caixa do FGTS estão disponíveis para investimentos, como moradia e infraestrutura. O MCMV fica com cerca de metade desse montante (R$ 55 bilhões) e R$ 32 bilhões respondem por reserva legal. Dessa forma, novos saques poderiam levar a uma redução do orçamento para investimentos a partir do próximo ano.

Último a saber

Outro ponto que frustrou os empresários foi o fato de que a proposta de mudança no FGTS não havia sido mencionada nas reuniões das últimas semanas entre membros do governo e representantes de associações do setor. "Estamos em contato constante, mas o assunto ainda não tinha vindo à tona. Ficamos perplexos", mencionou França, da Abrainc, referindo-se ao anúncio do ministro da Economia.

Há duas semanas, o setor também foi pego de surpresa com declarações de membros do governo sobre a intenção de alterar as regras do MCMV, o que também não havia sido discutido com as construtoras que atuam no segmento.

 

VALOR

Banco Central prepara mudanças no cheque especial

O Banco Central está aprofundando estudos para mudar a estrutura de preços do cheque especial, permitindo que os bancos cobrem tarifas nessas operações para em troca oferecer juros mais baixos. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, conta em entrevista ao Valor que o ponto de partida dos estudos é um diagnóstico, apresentado no Relatório de Economia Bancária, que mostra que clientes de baixa renda usam mais o cheque especial e os bancos extraem mais lucros dessas operações que seus pares no exterior.

Um dos problemas é a proibição da cobrança de tarifas nas operações no Brasil, que em outros países funciona como mecanismo de equalização. "Precisa de algum tipo de regulação em que fique claro para todo mundo que essa nova estrutura é para corrigir uma deficiência e que, na média, o custo para as pessoas vai cair", diz Campos.

Na conversa que segue, Campos sustenta que a forma correta de estimular a economia é pela credibilidade da política monetária. "Eu vou lá e reduzo os juros, porque eu quero dar um impulso à economia. Provavelmente, o que vai ocorrer nesse cenário? A curva de juros vai inclinar, os juros futuros vão subir", afirma.

Mas ele vê sinais positivos no mercado, avaliando que aumentou a confiança na aprovação da reforma da Previdência, o que leva à queda da inflação implícita nos títulos públicos e a uma melhora na curva de juros. A seguir, os principais trechos da entrevista, realizada ontem no escritório do BC em São Paulo.

Valor: Nós estamos voltando para uma recessão?

Roberto Campos Neto: A gente teve na verdade o primeiro PIB negativo depois de oito trimestres. Obviamente é uma grande preocupação para o Banco Central entender o que está por trás dos números de crescimento. Eu diria que há dois ou três pontos importantes. O primeiro é que a gente sofreu vários choques. Eu sei que é difícil para as pessoas quantificarem o choque, ou entenderem o que é um choque, principalmente quando há um atrás do outro e essa sequência adia o investimento.

Valor: Quais foram os choques?

Campos: A gente veio do ano passado com o tema de normalização de juros nos EUA. Foi um tema que gerou uma saída de dinheiro de emergentes muito grande. No Brasil, o governo fez uma intervenção no câmbio, mas foi entendido naquele momento que era o remédio suficiente, se mostrou uma boa política. Quando veio recuperando, nós tivemos a greve dos caminhoneiros, um tema que parou o país. E, olhando ex-post, acho que ele foi pior não só como o "conduit" de crescimento mais baixo, mas também como credibilidade.

Valor: Por quê?

Campos: Porque a indústria não conseguia distribuir os produtos, as pessoas olhavam e não podiam sair de casa, não tinha gasolina no posto. Houve um efeito credibilidade grande, que tem uma consequência no consumo e no investimento. Quando as pessoas estavam se recuperando do efeito da greve dos caminhoneiros, houve o tema das eleições. A polarização foi bastante extrema, como a gente pôde ver, e essa polarização também teve efeito de adiar o investimento. Depois nós tivemos um governo novo - e houve Brumadinho [o colapso da barragem da Vale na cidade mineira, em janeiro]. E acho que houve um efeito também das pessoas entenderem um governo novo, com uma ansiedade de que algumas coisas seriam aprovadas rápido e coisas desse tipo. Houve todos esses choques sucessivos, que têm uma importância. Eles vão se dissipando, a gente colocou mais peso neles na primeira comunicação do que na comunicação mais recente. E há um tema que a gente tinha olhado no passado e acho que cresceu em importância. É difícil de quantificar, e a gente está olhando muito aqui.

Valor: Qual?

Campos: É a complementaridade entre o setor público e o setor privado. A gente está tentando fazer um trabalho para quantificar isso. Quando você conversa com os diversos setores, entende que muitos setores ao longo desses últimos anos passaram a fazer negócios com o governo de um modo ou de outro. A complementaridade entre o público e o privado subiu muito. O problema é que ela veio ou com planejamento do governo, ou com funding do governo, e a hora em que o fiscal bateu no muro, o governo teve que dar uma freada fiscal. Essa complementaridade fez com que a indústria privada também ficasse um pouco, vamos dizer assim, sem alternativas de curto prazo. Tem essa complementaridade que em alguns setores em que ela é mais clara, como a construção civil, que ainda não recuperou, em que a complementaridade foi ao extremo. Vários outros setores tiveram esse ponto

Valor: Vocês estão tentando quantificar isso?

Campos: É, a gente está tentando quantificar e ver mais ou menos qual é o impacto. O diretor Carlos [Viana, de Política Econômica] está trabalhando nisso, mas o importante para a gente é mostrar que há esse efeito e que esse efeito se mostra mais importante do que a gente achava no passado.

Valor: Como isso afeta a atividade?

Campos: Eu sempre uso o exemplo do avião. Imagine que uma turbina é o mundo privado e a outra é o mundo público. Eu vou desligar a turbina do mundo público, mas, com credibilidade, vou ligar a turbina privada e vai ter uma transferência de energia de uma para a outra, ou de potência, e o avião vai continuar na mesma velocidade. A transferência de uma para a outra se dá na confiança, na credibilidade. A gente olha os índices de confiança, que até caíram recentemente, mas eles estavam relativamente altos. Isso dava a certeza de que, bom, o público vai desligar, mas com o novo governo, com credibilidade, com uma agenda positiva, essa energia, essa potência, vai se transferir. Isso não ocorreu na forma esperada.

Valor: Então o multiplicador fiscal é maior do que se imaginava?

Campos: Eu não chamaria de multiplicador [fiscal], eu diria a dependência do mundo privado no mundo público maior do que a gente imaginava. Eu não gostaria de falar de multiplicar fiscal porque fiscal tem outras implicações. Mas eu diria que essa complementaridade, olhando hoje, é bastante alta. Se o fiscal bateu no freio no federal, no estadual e no municipal ele bateu muito mais no freio. Se tem alguma indústria, alguma área produtiva, que estava fazendo negócios ou com Estados ou com municípios, também teve um impacto é muito grande. Teve essa trombada fiscal, essa parada no motor público muito rápido, acho que isso também explica parte...

Valor: Se o fiscal não anda, não é papel do juro suprir isso e dar mais estímulo para o setor privado andar?

Campos: Eu vou chegar nos juros, mas o papel dos juros hoje - na verdade, não é dos juros, é da credibilidade. O que a gente precisa ter é credibilidade. Saindo um pouco do tema do crescimento, indo para o tema do papel do BC, o principal papel do BC é ter credibilidade, manter os preços constantes, manter a inflação sob controle, com credibilidade, e ancorar a inflação num período mais longo.

Valor: Por que a credibilidade é tão importante?

Campos: Com a credibilidade eu consigo ancorar o curto prazo, o médio prazo e o longo prazo. E um outro tema muito importante da credibilidade é que, na verdade, quando a gente faz política monetária, quando a gente quer usar o instrumento de juros para gerar, para impulsionar o crescimento ou frear, a gente pensa nos seguintes termos. O importante é ter condições de liquidez. O que significa isso? Se eu quero fazer o país crescer, eu preciso injetar liquidez no sistema. Se eu acho que o país tem que frear, eu tenho que retirar liquidez. É importante entender que esse processo de gerar liquidez ou retirar liquidez não é apenas a Selic. A Selic é um instrumento, mas o conduit da Selic para que esse processo aconteça é a credibilidade. Eu posso estar num momento em que o mercado não tem mais credibilidade na minha política e a gente teve esse exemplo num país vizinho, na Argentina, há pouco tempo. E aí eu digo: olha, mesmo o mercado entendendo que provavelmente eu não vou bater a meta, eu vou lá e reduzo os juros, porque eu quero dar um impulso à economia. Provavelmente, o que vai ocorrer nesse cenário? A curva de juros vai inclinar, os juros futuros vão subir, a inflação implícita vai subir, o mercado vai entender que é uma solução de curto prazo, porque eu vou ter que subir os juros na frente. Nesse sentido eu injetei liquidez no sistema ou não? Não, eu não injetei. Apesar de ter feito uma mudança na Selic, eu não consegui atingir o meu objetivo, porque ele é atingido com credibilidade. A coisa mais importante é a credibilidade do BC.

Valor: Mas hoje o BC tem credibilidade.

Campos: Tem uma credibilidade alta. É importante ter credibilidade, mas a gente também tem que lembrar que as nossas revisões de crescimento para baixo não vieram acompanhadas de revisão de inflação para baixo. Nós não anunciamos número entre as reuniões, mas provavelmente vamos revisar o número de crescimento para baixo. O mercado está ao redor de 1%, já tem algumas casas falando num número próximo a 1%. Mas, se você olhar a inflação, [no caso de] grande parte das casas e a nossa própria revisão, ela está perto do que estava antes. A gente teve na verdade um movimento de revisão de crescimento para baixo que não veio acompanhado [de queda das projeções de inflação].

Valor: O crescimento tem sido muito baixo e os núcleos de inflação são benignos. O juro não está alto? A taxa estrutural (que permite a economia crescer sem pressionar a inflação) não seria menor ainda?

Campos: No caso do debate de juro estrutural, a gente no BC não anuncia. Todo mundo tem um estudo. É uma variável superdifícil de medir, de comparar. Os núcleos estão num nível que a gente chamou na última ata de confortável e depois mudou para apropriado. Ele deu um "tiquezinho" para cima, no último mês, e agora manteve mais ou menos em linha. Se a gente pega o índice de difusão, ele está acima do momento mais deflacionário, mas ainda em níveis confortáveis abaixo da meta. Quando a gente olha para os números da inflação, a gente vê mais ou menos uma continuidade do que a gente vinha vendo. Em termos do que o que levaria a uma interpretação diferente, a gente tem narrado os três fatores. A capacidade ociosa, a parte externa e a parte que a gente chama a parte estrutural, local, da agenda de reformas. Acho que o importante para a gente é que nós não podemos trocar o crescimento de curto prazo por inflação futura. Para nós é importante a credibilidade. O canal de credibilidade é ter a inflação ancorada, ter expectativa futura bem controlada. Nesse sentido, eu volto a dizer que é importante acompanhar a linguagem que a gente tem adotado na ata. Não é verdade, não é um bom ângulo a afirmativa de que o BC não está preocupado com o crescimento - é o contrário. O BC está preocupado com o crescimento, e a melhor forma de contribuir para o crescimento é ter credibilidade. Nós vivemos um episódio recente em que baixamos os juros quando o mercado não acreditava que deveria baixar, quando a sociedade não entendia que esse era o principal problema. A gente teve, mesmo com juros para baixo, um aperto de condições financeiras, a gente teve uma sequência de vários meses em que a inflação era para cima e o crescimento era para baixo. Nós vivemos isso há algum tempo. Perder credibilidade é muito mais fácil do que ganhar.

Valor: A confiança na economia caiu e as projeções do PIB também. Se o corte de juros demorar, não pode comprometer o crescimento do ano que vem?

Campos: Não adianta a gente falar de crescimento sem falar de expectativas de inflação. A expectativa de inflação tem melhorado recentemente? Hoje [ontem], o Focus caiu para 4,03%, caiu um pouquinho. Mas, se você pegar a revisão do crescimento com a revisão de inflação, verá que a revisão de crescimento foi para baixo, e a revisão de inflação, nem tanto. Temos uma inflação mais longa que está perto da meta ainda. Respondendo se é cedo ou tarde, não podemos fazer um movimento precipitado que tenha uma perda de credibilidade. Nós estamos sempre enumerando os três fatores: parte externa, parte das reformas, e parte da capacidade ociosa. A capacidade ociosa tem se revelado pior do que a gente esperava? Sim. Muito provavelmente nós vamos fazer uma revisão para baixo também. Nossas revisões são sempre no Relatório de Inflação. Mas acho que o mercado está caminhando para um número mais baixo. Nosso último número era 2% no último relatório.

Valor: A reforma da Previdência é a mãe de todas as reformas. Ela não pode ser um choque positivo?

Campos: O BC não faz previsões sobre isso, mas olhando os parâmetros de mercado, os preços, o mercado recentemente ficou um pouco mais confiante nas reformas. A gente pega as inflações implícitas e caíram, as taxas de juros estão mais planas lá na frente. Acho que o mercado ficou um pouco mais otimista. Nós trabalhamos com um cenário na linguagem oficial, que a gente não muda, que a reforma vai ser aprovada. É difícil falar de timing e quantidade, mas a gente acha que a reforma vai ser aprovada. Acho que esse vai ser um elemento importante. Também temos o cuidado de dizer que falamos em reformas, e não só uma reforma. O importante para o Banco Central é como essas variáveis nos impactam no canal da inflação, pelo canal da credibilidade. Olhando as variáveis de mercado, parece que teve um ganho nesse sentido nos últimos tempos, ou porque a sociedade entendeu que está mais perto de um acordo ou porque entendeu que a parte política melhorou.

Valor: Por que o sr. perguntou num painel de ex-presidentes do BC no seminário de metas de inflação se a reforma da Previdência poderia ser contracionista se a última ata do Copom diz que é expansionista? O sr. está em dúvida?

Campos: Não tenho dúvida. Na verdade, foi uma pergunta feita num âmbito acadêmico. Tem um trabalho que foi apresentado naquele seminário do professor [da Universidade Bocconi, Francesco] Giavazzi que mostra exatamente que os planos fiscais com redução de gasto têm uma capacidade expansionista, enquanto que os planos fiscais que tem aumento de impostos têm capacidade contracionista. Nosso cenário é que [a reforma da Previdência] é expansionista. Temos mencionado na ata. São dois pesos em uma balança. O elemento credibilidade e o elemento fiscal que ele causa de ter menos dinheiro nas mãos dos aposentados. Nos acreditamos que o elemento credibilidade é maior que o fiscal.

Valor: E o que o BC poderá fazer para baixar os juros do cheque especial?

Campos: Uma grande parte dos usuários do cheque especial ganha abaixo de dois salários mínimos e, para eles, representa um grande comprometimento de renda, ao pagar 310% de juros. Em termos de produto financeiro, temos 1% da carteira, que é cheque especial, responsável por 10% do resultado dos bancos. Em outros países, o cheque especial dá prejuízo ou uma rentabilidade bem menor, de 2,5%, digamos. Tem um juro maior, mas também uma inadimplência maior, porque é a categoria emergencial.

Valor: Por que isso ocorre?

Campos: O cheque especial acaba sendo um produto de subsídio cruzado. Em grande parte desses outros países, o cheque especial é um produto de maior risco, com juros maiores, que tem um retorno menor. Mas também tem um pedaço do retorno que vai para a cadeia toda que são tarifas. No Brasil, não temos a tarifa nos produtos de uso emergencial. Não ter tarifa significa que o produto acaba sendo regressivo. Nos outros países, a estrutura de tarifa equaliza isso. Uma das coisas que estamos discutindo é que não adianta falar que vou colocar tarifa e baixar os juros, mas no final o custo ser maior. Se eu quiser fazer realmente com as tarifas um plano linear ou progressivo, em que as pessoas de baixo pagam menos ou proporcionalmente, eu tenho que mostrar de forma clara e com credibilidade que o cheque especial mais a nova tarifa terá um custo menor do que temos hoje. Precisa de algum tipo de regulação em que fique claro para todo mundo que essa nova estrutura é para corrigir uma deficiência e que, na média, o custo para as pessoas vai cair. Outro ponto importante é a educação financeira.

Valor: O que o sr. acha da proposta do Arminio Fraga de o BC ter entre os seus objetivos a suavização do ciclo econômico?

Campos: Sou contra. Acho que a intenção do Arminio é que, dado que o BC já faz de uma forma indireta, porque não colocar na lei para ganhar um grau de confiança a mais. Eu acho que é o contrário. Colocar uma coisa na linguagem de lei que é vaga, porque suavizar ciclos é uma coisa vaga, poderia levar a uma interpretação diferente do que seria o lógico. Então, dado que é uma coisa que você já faz, e que colocar isso te gera uma vulnerabilidade, um custo, sem nenhum benefício, acho que não deveria. Na hora que vai ser discutido no Legislativo, as pessoas podem ter uma interpretação diferente do que é suavizar ciclos. A forma de o BC estimular o crescimento sustentado de longo prazo é a estabilidade da moeda e a solidez do sistema financeiro.

 

Dólar fecha no menor patamar em 7 semanas com ajuda do exterior

Dados mais fracos da economia dos Estados Unidos, aliados a declarações de um dirigente do Federal Reserve sinalizando corte de juros fizeram o dólar recuar frente a uma ampla gama de moedas nesta segunda-feira. Internamente, o movimento se repetiu e a moeda brasileira encerrou o dia no menor patamar em quase dois meses, monitorando os eventos políticos. No fechamento do pregão, a moeda americana baixou 0,95%, aos R$ 3,8873, o menor valor desde 15 de abril, quando encerrou a R$ 3,8686.

As demais divisas emergentes tiveram comportamento majoritariamente parecido: o rand sul-africano se apreciou 0,85% e o peso chileno, 0,90%. Na outra ponta, o peso mexicano e o argentino foram praticamente as únicas a ceder contra o dólar neste pregão, recuando 1,18% e 0,38%, respectivamente.

Esta tarde, o presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, afirmou que um corte na taxa de juros pode acontecer "em breve" para ajudar a inflação a voltar à meta no país. O dirigente, que tem direito a voto este ano e é conhecido por sua postura "dovish", favorável a uma política monetária mais frouxa, afirmou a perspectiva é que os EUA cresçam mais lentamente e com maior risco devido às disputas comerciais vigentes.

As declarações de Bullard foram na mesma direção de indicadores divulgados mais cedo da indústria dos EUA. O ISM da indústria recuou de 52,1 para 52,1 em maio, ante consenso de 52,3. Já o PMI da Markit cedeu a 50,5 na mesma comparação, menor patamar desde setembro de 2009. Perto do encerramento, o índice DXY do dólar recuava 0,55%, 97,21 pontos.

"Os comentários de Bullard vão na direção contrária de todo movimento por mais aperto monetário nos EUA, que faziam o país atrair capitais", diz Fernando Bergallo, diretor da FB Capital. "Se confirmado, o movimento traria um alento muito grande para as economias emergentes".

 Próximo do fim da sessão, houve um movimento brusco de recuperação, mas este foi apenas pontual e, segundo profissionais de mercado, resultado de uma grande operação de remessa de dinheiro ao exterior. Após um mês difícil, em que chegou a superar os R$ 4,10 por dólar, o real tem se beneficiado da melhora de percepção em relação ao cenário político.

Para José Faria Junior, diretor da WIA Investimentos, essa melhora pode ter se refletido na posição comprada em dólar dos investidores estrangeiros, que encerrou a semana passada em US$ 27,7 bilhões, o menor patamar pouco mais de um ano. "Mesmo se levarmos em conta a rolagem dos contratos de fim de mês, houve uma queda forte. Se a tendência se manter, é um bom sinal para o real", diz. Um dos principais focos do investidor, a reforma da Previdência deve ter novo capítulo esta semana, com a divulgação do parecer do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), relator da reforma da Previdência na comissão especial.

O tucano defendeu novamente a permanência dos Estados e municípios no texto. O tema preocupa porque, sem essa vinculação, "o país pode ficar com mais de 2.000 soluções para o problema previdenciário, uma vez que cada estado e município teriam que fazer a sua própria reforma da previdência", nota a Guide Investimentos, em relatório.

Além da Previdência, investidores seguem atentos à votação das Medidas Provisórias (MPs) que ainda pendem no Congresso, caso da 871, de combate a fraudes no INSS, e a 872, que prorroga o prazo de recebimento de gratificações pelos servidores requisitados pela Advocacia-Geral da União (AGU). O encaminhamento das MPs têm sido uma forma de medir o clima entre Planalto e parlamentares e somente há pouco, pouco após o encerramento do pregão, o o Senado atingiu quórum suficiente para votar a 871.

 

ESTADÃO

Pedidos de recuperação judicial sobem 27,4% em maio, diz Boa Vista

O número de pedidos de recuperação judicial feitos em maio subiu 27,4% em relação a abril, de acordo com a Boa Vista. Subiram também os pedidos de falência no mesmo período comparativo, em 29,8%. No entanto, uma tendência de queda nos números pode ser observada no acumulado dos últimos 12 meses, quando os pedidos de recuperação judicial caíram 24,5% e os de falência, 15,2%.

 

BANCO DE TALENTOS

ÁREA DO ASSOCIADO

O Sinduscon/RN pensa como você, e por isso trabalha:

NOSSA MISSÃO

Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental

POLÍTICA DA QUALIDADE

O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.

CONTATO

55 84 3206 5362

contato@sindusconrn.com.br

SOCIAL

LOCALIZAÇÃO

Rua Raimundo Chaves, 2182 - Sala 101 Empresarial Candelária - Candelária - Natal/RN

SINDUSCON/RN (C) 2012 - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS