Quinta-feira

CLIPPING (20.02.2020)

VALOR

 ‘Ao separar fatos concretos de ruídos, há avanços importantes’

Ao separar fatos de ruídos, motivados por declarações infelizes de membros do governo, Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e sócio fundador da Mauá Capital, disse que gosta do que está vendo. Sob a espuma dos ruídos há avanços concretos acontecendo na economia, argumenta ele. “Tivemos uma reforma da Previdência muito melhor que se esperava; tivemos uma performance fiscal extraordinária dentro do que era o Orçamento para o ano passado - de R$ 139 bilhões, no fim o déficit foi de R$ 60 bilhões. Houve uma série de outros avanços. Mais de 9 mil itens tiveram uma redução importante de tarifa de importação. Tivemos a Lei de Liberdade Econômica; e tivemos um volume de vendas muito importante de ativos do setor público”, sintetizou, em entrevista ao Valor.

Apesar de os dados da atividade econômica de 2019 serem frustrantes, Figueiredo mantém os prognósticos da Mauá para este ano, de crescimento de 2,4%. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: Os dados da atividade econômica são uma decepção e as declarações infelizes atrapalham mais o ambiente. Está tudo muito ruim ou isso já é passado?

Luiz Fernando Figueiredo: Acho que tem duas coisas: uma que é o que de fato está acontecendo; e a outra coisa que é a quantidade de ruídos. Não temos o Congresso e não tem nada andando, então você fica mais com os ruídos do que com coisas que estão avançando.

Valor: Mas o Congresso já voltou a funcionar.

Figueiredo: É, vai começar agora. Na prática, nós tivemos o ano de 2019 que começou com um otimismo enorme e depois caiu em um negativismo impressionante. Mas as coisas foram evoluindo de maneira que aquele pessimismo acabou se curvando a uma agenda que estava avançando. Tivemos uma reforma da Previdência muito melhor do que se esperava; tivemos uma performance fiscal extraordinária dentro do que era o Orçamento para o ano passado - de R$ 139 bilhões, no fim o déficit foi de R$ 60 bilhões. Houve uma série de outros avanços. Mais de 9 mil itens tiveram uma redução importante de tarifa de importação. Nós tivemos a Lei de Liberdade Econômica; e tivemos um volume de vendas muito importante de ativos do setor público.

Valor: O sr. se refere às privatizações que renderam R$ 100 bilhões?

Figueiredo: É isso. E para este ano a meta do governo é de obter R$ 150 bilhões com as privatizações. Então, 2019 foi um ano em que se avançou muito, mas também foi muito difícil de ler o que está de fato acontecendo, até porque existe uma negatividade enorme com relação ao governo. O fato é que as coisas evoluíram.

Valor: E quais são as perspectivas para este ano?

Figueiredo: As perspectivas são de um crescimento melhor. Acho que vamos crescer perto de 2,4% no ano. A inflação está muito baixa. Na Mauá trabalhamos com uma inflação mais próxima de 3% do que de 3,5%. Já estamos convivendo e vamos continuar durante um tempo longo com o juro bastante baixo, de 4,25% ao ano. Depois vamos falar um pouco sobre política monetária, mas o fato é que o país nunca viveu um período tão longo com o juro tão baixo e com a perspectiva de continuar baixo.

Valor: Mas juro baixo não é suficiente para garantir o crescimento.

Figueiredo: Mas é uma mudança muito relevante. Eu vejo três dimensões do impacto da taxa de juros. A primeira é sobre o custo da dívida pública. Neste ano deve ter uma economia de R$ 100 bilhões a R$ 120 bilhões com o pagamento de juros. Número dois: a dimensão do lado das empresas. Nenhum projeto se viabilizava se a empresa tivesse que tomar dinheiro localmente. Com a queda dos juros básicos e na ponta, muito negócio passou a ser viável.

Valor: As taxas caíram mas ainda estão altas para o tomador final, não?

Figueiredo: Isso é um processo. O Banco Central tem uma agenda bem agressiva, muito boa, para melhorar as condições de competitividade do sistema financeiro, e isso vai melhorar muito o mercado de crédito. Já melhorou, mas tem muito mais para melhorar.

Valor: E qual é a terceira dimensão?

Figueiredo: A terceira dimensão do impacto dos juros tem a ver com os investidores. O Brasil sempre foi um país de rentista. Esse é um investimento que acaba não tendo nenhum impacto na economia. Compra-se mais título público e pronto. Com o juro mais baixo, essa renda despencou e isso está provocando uma migração super saudável para ativos com mais rentabilidade, que são ativos que têm mais risco. Que vai de ações a fundos imobiliários, ativos mais associados à economia real. Até dois meses atrás, 88% da indústria de fundos, de R$ 5,4 trilhões, estava na renda fixa. Para ter uma ideia, nos Estados Unidos, essa mesma indústria tem mais de 50% em ativos de renda variável.

Valor: Se as condições objetivas hoje são tão melhores do que eram, o que acontece com o investimento que não cresce?

Figueiredo: A minha visão sobre isso é que a crise tão longa e aguda que nós tivemos durante dez, 15 anos acabou gerando um volume de ociosidade na economia muito grande. Se eu sou uma empresa que tem 30%, 40% de ociosidade nas minhas máquinas, quando eu tenho aumento de demanda e começo a produzir mais, não preciso investir até que essa ociosidade diminua. Então, essa ociosidade faz com que a economia consiga crescer sem ter investimento, neste primeiro momento, mas, à medida que esse hiato vai se reduzindo e a demanda adicional que as empresas estão tendo se mostre firme, o investimento vem. Então, não é de se esperar que o investimento cresça demais quando há muita ociosidade.

Valor: Mas não tem toda a parte de infraestrutura?

Figueiredo: Esse é um outro ponto: todo o capítulo de infraestrutura que, enfim, o governo está trabalhando, demora dois anos para acontecer. Então, só dá para esperar investimentos pra valer, em infraestrutura, mais para o fim de 2020 e início de 2021.

Valor: O sr. falou ‘nos últimos dez, 15 anos’, mas a recessão começou em 2014. Então é um tempo menor, não?

Figueiredo: Não é bem a isso que me refiro. A questão é que o Brasil foi se tornando um país socialista. No Brasil tudo é difícil: você precisa provar que está morto, você tem que provar que está vivo, você tem que provar que você tem saúde, você tem que provar que você foi a tal lugar ou que você não foi... E isso tudo gera um custo; não é um custo fácil de perceber, mas é enorme! O custo, por exemplo, de pagar tributos no Brasil é absurdo. Então, a gente fica achando que o Brasil é um país capitalista; na verdade, nós temos que dar um banho de capitalismo num país que hoje é socialista! Ser um empresário, um empreendedor, no Brasil é muito difícil! O país tem um cacoete socialista, em que a geração de riqueza não tem valor, é como se fosse feio. Então é contra isso que você tem que trabalhar.

Valor: Como?

Figueiredo: Tem um volume grande de reformas macro: reforma administrativa, reforma tributária, a própria PEC Emergencial, a do Pacto Federativo, e a que trata da liberação dos fundos públicos, o projeto de autonomia do Banco Central. Essa é uma agenda para este ano, muito importante, que vai ser atacada. E tem toda uma agenda micro também muito relevante, pra reduzir todos os penduricalhos, essa fricção para se fazer qualquer coisa no Brasil.

Valor: A velocidade dos avanços citados porém, tem sido muito baixa, não?

Figueiredo: Para mim o ponto é: nós estamos com uma agenda que está avançando, gradualmente o país está crescendo mais, o desemprego está caindo. Não é uma velocidade muito rápida, porque você tem um volume enorme de medidas estruturais que têm que ser implementadas - tanto as reformas macro quanto as micro. É uma melhora gradual. Neste ano a gente cresce um pouco mais de 2%; se a coisa avançar bem, em 2021 a gente passa a crescer um pouco mais de 3%. Mas, pelo menos, nós estamos falando de um diagnóstico certo e atitudes que são estruturais. Às vezes o governo acaba falando coisas que não deveria. Mas o fato é que a agenda, que é o que fica, está acontecendo e o ambiente está melhorando.

Valor: O sr. acha que o ambiente está melhorando?

Figueiredo: Não tenho a menor dúvida disso. Acabaram de sair pesquisas com relação ao governo. Por que a popularidade do governo aumentou? Porque a sensação das pessoas é de que as coisas estão melhorando. Por que os ativos brasileiros aumentaram de valor? Porque as coisas estão melhores. Quando você olha a atividade econômica, houve uma certa frustração, mas você está falando de crescer dois e pouco neste ano! É pouco, sem dúvida, mas, olhando para o que nós tivemos nos últimos anos, é muito melhor - e, principalmente, por você estar num mundo que está desacelerando.

Valor: No confronto entre fatos e ruídos, o sr. sugere que não se dê atenção aos ruídos?

Figueiredo: É que, no fim, eu acho que é normal, quer dizer, ruídos vão acontecer sempre. O que a gente tem que olhar é o quanto eles têm impacto de verdade e o quanto eles são só ruídos, entendeu?

Valor: Mas esses ruídos também externam posições absolutamente equivocadas. O negócio do meio ambiente, por exemplo.

Figueiredo: É verdade. Acho, sinceramente, que isso não vai mudar. Mas, quando eu olho para o que está de fato acontecendo no Brasil, gosto do que estou vendo, entendeu? O ruim é quando o ruído se transforma em uma política pública.

Valor: O sr. acredita que o Congresso vai continuar dando sustentação a uma agenda de reformas ou vai ser mais muita conversa e pouca votação?

Figueiredo: Acho que hoje estamos em uma situação muito mais saudável do que no passado, quando o governo passava o rolo compressor no Congresso. Hoje, você tem um Congresso que chegou à conclusão de que para ele uma agenda de reformas é muito importante. Então, hoje temos uma convergência de agendas: o governo e o Congresso querem fazer reformas. O que é muito bom. Por exemplo, a questão da reforma tributária. O governo vai colocar alguns pontos que ele acha que são importantes na reforma, mas é uma proposta que está vindo do Congresso. Isso é super saudável! Acho que estamos vivendo um ambiente diferente, muitas pessoas estranham, mas é um ambiente de mais equilíbrio.

Valor: O sr. disse que falaria sobre a política monetária. O que seria?

Figueiredo: A minha nota do Banco Central é altíssima, tá? O trabalho que eles estão fazendo é espetacular nas diversas frentes, toda essa coisa de ampliar a competitividade do sistema financeiro, melhorar o mercado de capitais. Dito isso, hoje existe uma dúvida com relação à política monetária porque o modelo, que é o modelo que o próprio Banco Central usa, mostra um espaço para mais afrouxamento monetário em torno de 100 pontos. Só que o Banco Central tomou a decisão de parar. Isso suscitou uma dúvida no mercado, que é sobre qual é a função reação do Banco Central agora. O BC explicitou algumas dúvidas que ele tem. Uma delas é se a oferta não está crescendo na proporção que deveria. O BC tem as razões dele, mas hoje ficou bem mais difícil de ler qual a função reação do BC.

 

Dólar bate R$ 4,37 com atividade fraca e Guedes; Bolsa sobe

O dólar mantém o viés de alta leve nesta quarta-feira, ainda influenciado pelos sinais de atividade fraca e também por especulações sobre uma possível saída do ministro Paulo Guedes do governo. Por volta das 16h50, a moeda americana avançava 0,18%, aos R$ 4,3645, após bater R$ 4,3775.

No exterior, após uma abertura em queda contra o emergentes, o dólar também se fortaleceu com mais um indicador positivo da economia americana. O índice de preços ao produtor (PPI) avançou 0,5% em janeiro na margem, acima do consenso de +0,1%. "Guedes é a âncora desse governo na ótica do investidor e isto pode estar contribuindo um pouco para o movimento do dólar", diz Cleber Alessie Machado, operador da Commcor, sobre as especulações ao redor do ministro da Economia. Ontem, o assunto da saída de Guedes foi levantado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro após o cancelamento de um evento com empresários em Brasília, sem que houvesse especulação a respeito.

Machado também atribui o comportamento do real esta manhã à declarações dadas ontem pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que voltou elencar as razões da desvalorização recente do câmbio e ressaltar que ela não é acompanhada da piora da percepção de risco sobre o país. "Quando o BC bate muito nessa tecla de juros baixo e real fraco, ajuda a dar segurança ao comprado em dólar", diz.

Para analistas do Citi, tanto fala do presidente do BC quanto a do diretor de política econômica, Fabio Kanczuk, reforçam a ideia de que a autoridade monetária pretendem agir apenas em momentos onde encontra disfuncionalidade no mercado ou comportamento destoante do real em relação aos pares. “De forma geral, não é óbvio que o BC vai entrar novamente no nível de R$ 4,38 e isto diminui o efeito da última intervenção sobre o comportamento do câmbio em relação a episódios anteriores”, avaliam analistas do banco.

Vale lembrar que o contexto local também joga pela apreciação do dólar, uma vez que a economia brasileira continua a apresentar sinais de retomada ainda vacilantes. Ontem, mais duas instituições revisaram para baixo a perspectiva para o PIB de 2020 do país. Citando reflexos do coronavírus na China, o BNP baixou de 2,0% para 1,5% a sua projeção para o ano. Já o MUFG agora prevê uma expansão de 2,2%, contra 2,8% anteriormente.

Bolsa segue exterior e sobe O Ibovespa encontrou espaço para recuperação, seguindo seus pares globais e subindo gradualmente ao longo da sessão. Às 16h51, o índice avançava 1,23%, aos 116.386 pontos. No melhor momento do dia, ele foi aos 116.505 pontos. O ímpeto para essa subida tem importante suporte do cenário externo, que traz um um certo alívio em torno da epidemia do coronavírus, depois que a China reportou uma queda significativa no número de novos casos da doença.

O relatório mais recente reportou 1.749 novos casos do Covid-19, indicando redução do ritmo de contágio. O total de casos da doença chegou 74.185 na China e 75.201 no mundo. O Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação da China disse também que o governo conectará as fábricas às companhias de tecnologia para identificar pontos fracos nas cadeias de suprimentos do país.

A medida ajudou a aliviar as tensões dos investidores, que seguem atentos à retomada das operações nas fábricas chinesas em meio a sinais conflitantes sobre a atividade do país. Além disso, o andamento da agenda de reformas econômicas no país voltou ao foco do mercado, já que a reforma administrativa pode ser enviada ao Congresso ainda hoje, antes do previsto. O andamento deste tipo de medida é o que vem sustentando em grande parte o otimismo com a economia e com o mercado de ações no Brasil, em um momento em que diversas instituições financeiras já revisam para baixo as projeções do PIB.

Com tantas dúvidas acerca do real crescimento da atividade, qualquer reforma encaminhada já é capaz de injetar algum ânimo no mercado. No Ibovespa, além de destaques como WEG ON (6,00%), IRB Brasil ON (4,44%) — juntas, as ações mais negociadas de todo o mercado à vista — e Marfrig ON (3,27%), entre reflexos positivos e expectativas causados pela temporada de balanços, outros papéis relevantes também dão suporte ao índice. Entre eles estão B3 ON (1,53%), Banco do Brasil ON (1,21%), Bradesco (1,62% a ON e 2,40% a PN), Itaú Unibanco PN (1,90%), Petrobras (1,13% a ON e 1,01% a PN) e as units do Santander (1,51%).

As ações do IRB chama especial atenção dos investidores nesta sessão após a empresa divulgar seu resultado trimestral e sanar boa parte das dúvidas do mercado após a polêmica com a gestora Squadra, que questionou práticas da companhia em carta aos investidores há algumas semanas. O IRB registrou lucro líquido atribuído aos acionistas de R$ 1,763 bilhão no ano passado, com alta de 44,7% frente ao R$ 1,218 bilhão de 2018. O volume total de prêmio emitido pela companhia foi de R$ 8,515 bilhões em 2019, com crescimento de 22,3% comparado a um ano antes. A ação do IRB também está entre as mais alugadas do mercado, o que pode reforçar movimentos “short squeeze”, segundo operadores.

O movimento é liderado por investidores que vão às compras para cobrir posições vendidas no papel após a forte desvalorização vista com as acusações da Squadra. Agora, diante das explicações prestadas, a situação força uma reversão das apostas de baixa do papel. Dados compilados pela corretora Necton mostram que até ontem, 10,7% do total de ações em circulação (“free float”) do IRB estavam alugadas. Isso coloca a empresa no grupo das 10 companhias com maior quantidade de papéis alugados em relação ao “free float” na média dos últimos 12 meses, um movimento que ganhou força neste mês.

Já a Cia Hering ON (-2,65%) lidera as perdas do dia após o banco UBS cortar o preçoalvo do papel de R$ 28 para R$ 25,50, incorporando o resultado fraco de vendas no quarto trimestre e estimando que as margens bruta e de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) se contraiam no período. A recomendação de "venda" foi mantida.

Juros têm alta

O comportamento da taxa de câmbio, com o dólar voltando a se aproximar das máximas históricas ante o real, voltou a influenciar a curva a termo de juros futuros nesta quarta-feira, com as taxas voltando a apresentar recomposição de prêmio. O movimento, contudo, continuou limitado diante da possibilidade de medidas adicionais de estímulo monetário caso a atividade econômica se mostre mais fraca na esteira do impacto do novo coronavírus na recuperação da economia global.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2021 passava de 4,22% no ajuste anterior para 4,225%; a do DI para janeiro de 2022 ia de 4,71% para 4,72%; a do contrato para janeiro de 2023 avançava de 5,27% para 5,28%; e a do DI para janeiro de 2025 subia de 6,00% para 6,03%.

No mesmo horário, o dólar à vista era negociado a R$ 4,3735 (+0,38%). Mesmo com o câmbio em um contexto mais depreciado, a persistência de um quadro de baixo dinamismo da atividade econômica e de inflação recorrentemente abaixo da meta pode levar o Banco Central a promover uma rodada adicional de flexibilização monetária. É o que avaliam os economistas da LCA Consultores.

“Parecem vir crescendo as chances de que, após interromper por alguns meses o ciclo de corte de juros, o BC volte a reduzir a Selic na segunda metade do ano.” Com as revisões sequenciais para baixo das projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano e diante da expectativa de uma inflação ainda contida, “os DIs seguem, de fato, muito resilientes à piora do dólar, justamente pela percepção de atividade fraca globalmente e pela possibilidade de o BC pelo menos manter a taxa mais baixa por mais tempo”, diz Luis Laudisio, trader de renda fixa da Renascença DTVM.

Já o economista-chefe para Brasil do BNP Paribas, Gustavo Arruda, alterou nesta semana o cenário do banco francês para a Selic e passou a indicar um juro básico de 3,5% no fim deste ano. “É a única política econômica que pode ser feita. O lado fiscal ainda está se estruturando e os bancos públicos vão continuar com a diminuição de balanço. Sobra, então, para o Banco Central. Não existe nenhuma medida adicional de apoio à economia que não seja a política monetária”, afirma Arruda.

Para ele, foi “super saudável” o BC parar de cortar a taxa básica de juros em 4,25% em fevereiro para avaliar os cenários. “Mas, agora, temos um novo item para olhar, que é o ambiente externo e os impactos por aqui. Eu estava até confortável com a Selic inalterada em 4,25%, mas o impacto forte do coronavírus no crescimento chinês nos fez ver que o BC vai ter de ir um pouco mais adiante com os estímulos monetários”, afirma Arruda.

 

FOLHA

Coronavírus impõe riscos a frágil recuperação em economia global, diz Fundo Monetário

A epidemia de coronavírus já interrompeu o crescimento econômico na China e uma maior disseminação para outros países pode inviabilizar uma recuperação projetada "altamente frágil" para a economia global em 2020, alertou o FMI (Fundo Monetário Internacional) nesta quarta-feira (19).

Em uma nota para os ministros das Finanças e banqueiros centrais do G20, o credor global mapeou muitos riscos que a economia global enfrenta, incluindo a doença e um aumento renovado das tensões comerciais entre EUA e China, além de desastres relacionados ao clima.

A diretora-gerente do FMI, Kristalina Georgieva, disse que o surto é um lembrete de como os imprevistos podem ameaçar uma recuperação frágil e instou os formuladores de política econômica do G20 a trabalharem para reduzir outras incertezas ligadas ao comércio, mudanças climáticas e desigualdade.

"A incerteza está se tornando o novo normal", escreveu Georgieva em um blog publicado no site do FMI. "Embora algumas incertezas –como doenças– estejam fora do nosso controle, não devemos criar novas incertezas onde possamos evitá-las."

Ministros das Finanças e banqueiros centrais das 20 principais economias mais industrializadas se reunirão em Riyadh, na Arábia Saudita, nesta semana, ainda incertos sobre o impacto do coronavírus, conhecido como COVID-19.

Apesar do surto, o FMI afirmou que está mantendo sua previsão de janeiro para um crescimento de 3,3% na economia global este ano, acima dos 2,9% de 2019. O dado representa um corte de 0,1 ponto percentual em relação à previsão de outubro.

O organismo disse que a recuperação seria superficial e poderia ser prejudicada pelo aumento das tensões comerciais ou por uma disseminação adicional da doença, que já havia interrompido a produção na China e poderia afetar outros países por meio do turismo, vínculos na cadeia de suprimentos e preços das commodities.

A China disse que ainda pode cumprir sua meta de crescimento econômico para 2020, apesar da epidemia. Georgieva disse que o FMI espera apenas uma pequena redução no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) da China, a menos que um surto prolongado agrave a desaceleração.

Mesmo nos melhores casos, a taxa projetada de crescimento global é modesta, disse Georgieva, instando os formuladores de política econômica do G20 a agir para reduzir as tensões comerciais, mitigar as mudanças climáticas e combater as desigualdades persistentes.

Ataques cibernéticos, uma escalada das tensões geopolíticas no Oriente Médio ou um colapso nas negociações comerciais entre China e Estados Unidos podem impedir a recuperação global de curto prazo, disse o FMI. Desastres relacionados ao clima, protecionismo e agitação social e política desencadeada pela desigualdade persistente representam mais riscos econômicos.

Em seu blog, Georgieva disse que a Fase 1 de um acordo comercial entre EUA e China eliminou algumas consequências negativas das tensões comerciais, reduzindo a influência negativa no PIB global em 0,2% em 2020, ou cerca de um quarto do impacto total.

Mas a Fase 1 deixou muitas tarifas em vigor e continha acordos comerciais gerenciados que poderiam distorcer o comércio e o investimento e custar à economia global muitos bilhões de dólares, disse ela.

A chefe do FMI também citou novas estimativas do fundo de que um desastre natural típico relacionado ao clima reduziu o crescimento em uma média de 0,4 ponto percentual no país afetado no ano em que ocorreu.

Para responder, os formuladores de política econômica devem se concentrar na diversificação de fontes de energia e no investimento em infraestrutura resiliente.

Georgieva disse que também é fundamental abordar persistentemente as desigualdades de renda e riqueza que, segundo ela, podem fomentar a desconfiança no governo e contribuir para agitação social.

Os ministros poderiam agir nesta semana, concentrando-se em elevar os padrões de vida e criar empregos com melhores salários por meio de investimentos em educação, pesquisa e digitalização de alta qualidade, disse ela.

 

Itaú Unibanco vê juro baixo por mais tempo, 1º tri fraco e volta do dólar a R$ 4,15

O economista-chefe do Itaú-Unibanco, Mário Mesquita, estima que a taxa básica de juros só deve voltar a subir no final de 2021, quando passaria dos atuais 4,25% para 4,5% ao ano. A estimativa é bem inferior à mediana do mercado, que projeta juros subindo ao longo de 2021 e terminando o próximo ano em 6%.

Pelos cálculos da instituição, a economia brasileira ainda está cerca de 4% abaixo do seu potencial e deve crescer 2,2% neste ano, projeção que não mudou, o que deixaria espaço para uma recuperação ainda sem pressões inflacionárias até praticamente o final de 2021. Para o próximo ano, é estimado crescimento de 3%.

Mesquita não descarta também que o Banco Central possa voltar a cortar os juros no caso de um crescimento inferior a esse patamar, que poderia colocar a inflação abaixo dos 3,3% e 3,5% projetados para 2020 e 2021, respectivamente.

Em relação ao câmbio, a equipe do Itaú projeta taxa de R$ 4,15 no final deste e do próximo ano, com um fluxo maior de dólares para o Brasil na medida em que haja uma aceleração do crescimento.

“A gente vê ainda uma economia que está em recuperação gradual, que está com ociosidade relevante, e continua vendo uma aceleração do crescimento da faixa de 1% [em 2019] para cerca de 2% em 2020. Houve um período de grande otimismo com o PIB. As pessoas questionavam se não ia ser 3%. Depois começaram a falar em 1%. A gente continua onde estava”, afirmou o economista durante evento de apresentação do seu cenário econômico.

Ele afirmou que o risco externo mais importante para o crescimento neste ano são os efeitos da epidemia do coronavírus e das medidas adotadas na China para contê-lo. Do lado doméstico, citou a importância de manter a agenda de reformas e o ritmo de expansão do crédito para o consumo e o investimento.

“O BC sinalizou estabilização da taxa de juros em 4,25%. Deve ficar aí por um bom tempo. Caso a economia siga em compasso mais lento, a inflação siga para baixo, poderia abrir espaço para queda de juros. O coronavírus, se de fato resultar em uma desaceleração mais intensa da economia global, vai ter feito, em última instância, desinflacionário.”

 A economista do Itaú Laura Pitta, que acompanha os dados econômicos do país asiático, afirma que o registro no número de casos do vírus tem diminuído, mas que há um reflexo maior na economia, devido à paralisação de uma série de atividades. “Os números de novos casos estão em uma tendência positiva nas últimas duas semanas, mas há dificuldade para normalizar a atividade pós-choque”, disse.

O Itaú estima crescimento do PIB de 0,3% no primeiro trimestre de 2020. Mesquita afirmou que não é possível descartar um resultado negativo, embora os dados divulgados até o momento não apontem para esse cenário. Para chegar a 2,2% de crescimento, a expansão média nos trimestres seguintes teria de ficar em 0,7%.

Questionado sobre as declarações polêmicas do ministro Paulo Guedes (Economia), que levaram inclusive o presidente Jair Bolsonaro a afirmar que ele não pediu para sair do governo, Mesquita afirmou que o ministro tem grande responsabilidade no desenho da agenda de reformas e que qualquer coisa que ameace o progresso dessa agenda vai gerar reação negativa nos mercados e terá impacto na confiança.

Mesquita afirmou não ter visto dados que reflitam uma piora na visão dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil. Ao falar sobre critérios ambientais, sociais de governança para alocação de capitais, no entanto, disse que o mundo tem uma opinião dominante em relação à questão do meio ambiente. Para ele, um país que escolher ter uma opinião diferente poderá verificar uma reação negativa ao seu posicionamento.

 

ESTADÃO

Mercado questiona governo por causa de indefinições na agenda econômica

Depois de mostrar confiança na trajetória de ajuste das contas públicas, os investidores voltaram a bater na porta da equipe econômica para pedir esclarecimentos sobre os rumos da política fiscal, trazendo dúvidas que já estavam fora do radar. A busca por informações cresceu nas últimas semanas diante dos sobressaltos na articulação do governo com o Congresso.

Os solavancos entre o presidente Jair Bolsonaro e os parlamentares já neste início dos trabalhos do Congresso tornaram incerto o cenário das reformas nos próximos meses. Temas que pareciam estar na direção correta, na avaliação do mercado, como o controle do teto de gastos e a gestão orçamentária, voltaram a receber atenção. Há temor de retrocesso no ajuste fiscal.

Investidores estrangeiros já avisaram o ministro da Economia, Paulo Guedes, que têm interesse em colocar dinheiro no Brasil, mas cobram avanços sólidos nos marcos legais. Um ponto de incógnita é a reforma tributária. Ninguém quer trazer recursos para o Brasil “no escuro”, sem saber ao certo como ficarão as regras sobre impostos.

Relatos obtidos pela reportagem sobre as conversas entre investidores e integrantes da equipe econômica mostram que há a percepção de que o governo tem patinado na articulação política, o que vem causando vácuos em negociações que podem custar caro mais para frente.

Além do atraso nas reformas, o sinal mais recente de alerta, segundo uma fonte do time de Guedes, foi a apresentação, na terça-feira, do parecer à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que prorroga a vigência do Fundeb, o fundo que banca o desenvolvimento da educação básica. O texto prevê a ampliação de gastos em R$ 79,7 bilhões nos próximos anos. Tudo fora do teto de gastos. Só em 2021 chegaria a R$ 8,3 bilhões.

A articulação política do governo passou ao largo da negociação no Congresso para a PEC do Fundeb, o que deixou a equipe econômica irritada, tendo de dar explicações sobre o impacto da medida. A pergunta mais frequente é como o governo vai conter as pressões por mudanças na agenda do Congresso – onde estão três PECs fiscais – se não consegue nem sequer participar das negociações de um tema pontual, como o Fundeb.

Um integrante da equipe admitiu que a desconfiança voltou e que o mercado está “superatento”, o que inclui também detalhes sobre as mudanças na meta fiscal deste ano, o acordo do Orçamento impositivo e a capitalização na Emgepron (estatal da Marinha).

Presidente do Insper, o economista Marcos Lisboa avalia que, para piorar o cenário, começaram a sair medidas para “bypassar” o teto de gastos. “Como as despesas obrigatórias estão consumindo todos os recursos e as reformas foram modestas até agora, só teve a Previdência relevante, o governo está tendo problemas”, diz.

Segundo ele, é nesse quadro que aparecem “ideias criativas”. “Está todo mundo querendo furar o barco”, ressalta o economista.

 

Juro baixo vai ativar o PIB e o mercado de capitais, diz André Esteves

André Esteves, sócio do banco BTG Pactual, disse nesta quarta-feira, 19, que a política monetária (juros) está perto do seu máximo e que isso ativará uma retomada mais consistente do Produto Interno Bruto (PIB) e do mercado de capitais. "Se estivesse no BC, talvez nem tivesse reduzido os juros na última reunião", disse. Segundo Esteves, há uma realocação de poupança que também requer observação do Banco Central, e também uma acomodação no patamar de câmbio que o BC respeita.

"Não acredito que o BC cortará a Selic (taxa básica de juros) na próxima reunião. O Brasil vive uma aceleração medíocre, mas aceitável, dadas as suas condições", disse o executivo, durante o evento CEO Conference Brasil 2020, organizado pelo BTG. Para Esteves, o Brasil não tem condições de crescer 4% a 5% ao ano, por falta de produtividade.

Para o banqueiro, a depreciação cambial pela qual passa o Brasil no momento está relacionada, em parte, ao fato de o real ter deixado de ser uma moeda de carrego (que se beneficia dos juros mais altos), na esteira da redução da Selic ao seu piso histórico.

Porém, o dólar, de acordo com Esteves, está mais forte não só na comparação com o real, mas em relação a moedas de muitas outras economias fortes do mundo. Isso porque os Estados Unidos trabalham pautados por uma perspectiva de longo prazo.

"Essa perspectiva deixa o dólar forte ante o real e perante a todas as moedas", afirmou. "O fator local é que os agentes financeiros estão se adaptando ao novo patamar de juros. Como o real sempre foi moeda de carrego, e não de financiamento, mudamos de status, e o que está acontecendo é uma realocação pouco perceptível de investimento estrangeiro", disse.

De qualquer forma, mesmo diante das justificativas expostas, Esteves admite que o atual nível do câmbio tem surpreendido "a todos nós". "A percepção intrínseca da moeda indica que o real está muito barato", disse.

Relação entre os três poderes

De acordo com Esteves, a relação entre os chefes dos três poderes é melhor do que sugerem as notícias. Portanto, segundo ele, a democracia brasileira não está em vertigem, como sugere o documentário brasileiro indicado ao Oscar da cineasta Petra Costa. “A despeito das infelicidades de declarações, vivemos o melhor momento da relação entre os três poderes no Brasil. A relação está mais madura.”

Esteves afirmou que essa é uma fotografia do momento, mesmo  porque dentro de um ano deverá haver mudança no comando da Justiça, da Câmara dos Deputados e do Senado. À frente, portanto, é provável que o País volte a ver um novo ajuste entre essas novas lideranças e o Poder Executivo. Para Esteves, gostando ou não do resultado das urnas, a alternância no poder é saudável.

“A alternância de poder dá sinal de saúde à democracia. À frente, poderemos ter um presidente de centro. Certamente, teremos. Assim, como poderemos ter um presidente de esquerda e o mundo não vai acabar”, disse Esteves. “[O presidente Jair] Bolsonaro tem seu jeito e seu modo de governar e declarações muitas vezes polêmicas. Mas a democracia está em ótima forma”, disse.

 

 

 

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