Segunda-feira

VALOR

Com a covid-19, vendas de imóveis desabam em abril

A proibição do funcionamento de estandes de vendas, em alguns mercados, e a redução da circulação de pessoas por causa da disseminação do coronavírus se refletiram na diminuição dos lançamentos imobiliários, na segunda quinzena de março, em relação ao que estava previsto, conforme apontam as prévias operacionais já divulgadas.

Nas vendas, porém, o impacto começou a ser sentido, de forma relevante, a partir deste mês. Há expectativa de poucos lançamentos, no segundo trimestre, a maior parte no segmento de baixa renda, no qual a compra se refere, geralmente, ao primeiro imóvel e significa a substituição do aluguel pela prestação. Em conjunto, Cyrela, Direcional Engenharia, Even Construtora e Incorporadora, EZTec, Helbor, MRV Engenharia, RNI Negócios Imobiliários e Tenda lançaram R$ 3,21 bilhões, de janeiro a março, o que representa queda de 10% em relação ao Valor Geral de Vendas (VGV) de R$ 3,57 bilhões apresentados no mesmo período do ano passado.

Se desconsiderados os dois lançamentos do empreendimento Fasano, realizados pela Even no primeiro trimestre de 2019, que distorcem a base de comparação, teria havido crescimento de 8% do VGV lançado pelas oito incorporadoras. As vendas líquidas aumentaram 18,9%, para R$ 4,32 bilhões.

Com atuação na baixa renda, MRV, Tenda e Direcional informaram, nas respectivas prévias, terem postergado parte dos lançamentos de projetos devido à mudança do cenário decorrente da pandemia de covid-19. EZTec, cuja principal atuação é no segmento de média e alta renda, optou por retirar de seus lançamentos do primeiro trimestre um projeto de R$ 51,2 milhões, o qual poderá ser reapresentado ao mercado futuramente.

No primeiro trimestre, a companhia fundada por Ernesto Zarzur apresentou R$ 564 milhões ao mercado, o correspondente a 25% do ponto médio da meta que tinha para 2020. Diante da piora do ambiente de negócios, a EZTec cancelou sua projeção de VGV para o ano. “O sonho de compra de um apartamento está em ‘stand-by’ neste momento”, diz Emilio Fugazza, diretor de relações com investidores.

Segundo o executivo, as vendas “até têm acontecido”, mas muito abaixo dos números de antes do início da crise. No segmento de baixa renda, a MRV tem feito lançamentos virtuais, e Direcional fez sua primeira apresentação de projetos, nesse modelo, no fim de semana. A EZTec ainda não decidiu se seguirá esse caminho. “Estamos avaliando a possibilidade de fazer o fomento pela internet acontecer, com motivação de corretores e clientes”, diz Fugazza.

Na avaliação do executivo, após o fim da quarentena do Estado de São Paulo, previsto para 10 de maio, haverá retomada paulatina do setor. Levantamento do Secovi-SP aponta que o mercado de imóveis primários (unidades novas) foi mais impactado pela crise atual do que o secundário (usados) na comparação com procura, agendamento de visitas, propostas e fechamento de negócios.

Pesquisa realizada pelo Secovi-SP, há quatro semanas, no mercado paulista de imóveis novos e usados, aponta que o maior reflexo da crise se deu na primeira delas, quando começou a vigorar a quarentena decretada pelo governo de São Paulo. Na primeira semana, 92% das empresas participantes disseram que houve queda do número de clientes que procuraram imóveis.

Na segunda, o percentual foi de 64%; na terceira, de 58%, e, na quarta, de 50%. A fatia de empresas que informou redução do número de propostas recebidas foi de 96%, na primeira semana; de 74%, na segunda; de 54%, na terceira, e de 46%, na quarta. “Pessoas que, lá atrás, estavam na jornada de aquisição do imóvel resolveram voltar”, diz o vice-presidente de intermediação imobiliária e marketing do Secovi-SP, Claudio Hermolin.

Em relação a vendas efetivas, 95% das participantes disseram, na primeira semana, ter registrado queda. Na segunda semana, o percentual foi de 85% e, na terceira, 70%. Na quarta semana, 50% das empresas informaram redução de vendas, enquanto 27% perceberam aumento da comercialização ante a anterior. O levantamento apontou também crescimento da parcela de empresas realizando negócios pelo meio digital.

 

Dólar a R$ 5,20 é solução, diz Reinaldo Le Grazie

O ex-diretor de política monetária do Banco Central Reinaldo Le Grazie afirma que a forte desvalorização cambial, que levou o dólar ao patamar de R$ 5,20, “faz parte da solução, não do problema”. Ele elogia a atuação parcimoniosa do BC e desaconselha o lançamento de um programa de venda de dólares. “O real operou como era de se esperar”, afirma Le Grazie, em entrevista ao Valor. Ele, que hoje é sócio da Panamby Capital, lembra que, antes da crise do coronavírus, o déficit em conta corrente do país estava alto, em 2,91% do Produto Interno Bruto (PIB). “O dólar a R$ 5,20 é bom para as contas externas, para as exportações.”

A crise do coronavírus é um “processo absolutamente desinflacionário e recessivo”, avalia, por isso a sua aposta é que o Banco Central vá acabar fazendo mais reduções da taxa Selic, dos atuais 3,75% ao ano para percentuais entre 2,5% ao ano e 3% ao ano. Le Grazie considera que, mesmo no ambiente de grande incerteza, cortes de juros seriam eficazes para estimular a economia. “É inquestionável que dá alívio financeiro”, diz.

O efeito da baixa de juros pode ser “pouco, mas no momento tudo ajuda”. Para o ex-diretor do BC, é possível que os juros reais fiquem em torno de zero, mas ele não vê hoje o Brasil operando com juros nominais zero. “O mercado precisa aprender a trabalhar com isso”, afirma. “É uma questão de estabilidade do mercado financeiro.” A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: É o momento de o Banco Central fazer uma operação twist com os poderes que está pleiteando do Congresso?

Reinaldo Le Grazie: O que o Banco Central tem dito é que vai usar para momentos de crise. Os outros bancos centrais do mundo usaram como impulso econômico. Os preços de dívida longa estão entre 8% e 9% ao ano. É alto, mas não é um preço estressado. O Banco Central deve entrar? Minha opinião é que não. Somos um país emergente, temos uma série de outras fragilidades. Então, se o mercado se ajustar, para o Banco Central é melhor. Mas é bom para o Banco Central ter a ferramenta pronta para usar.

Valor: Uma eventual operação twist substituiria uma ação clássica de política monetária?

Le Grazie: Entendo que não, apesar de ter efeitos similares. Na política monetária ‘stricto sensu’, estamos falando de taxas de juros de curto prazo, a Selic, que mexe na curva inteira. Na operação twist, você está fazendo ‘yield curve control’, indo na ponta do papel para reduzir a taxa de juros longa. O Banco Central não tinha esse instrumento, e o Tesouro fazia às vezes, quando era o caso, para reduzir a inclinação da curva. Acho que o Banco Central vai continuar fazendo a mesma coisa, mas em momentos de estresse. Se ele fizer, não acho que muda a postura da política monetária, seja ela qual for.

Valor: Com os poderes para comprar títulos privados, o Banco Central estará apenas resgatando cotistas dos fundos de investimento ou estimulando o crédito e o emprego?

Le Grazie: Quando o Banco Central compra títulos privados, efetivamente atua no mercado de crédito, abre caminho para mais crédito na economia. O caminho pode ser um pouco tortuoso, passa pelos bancos, empoça, vai para fundos, dá saída para investidor. Mas, na prática, estamos falando de liquidez. Isso funciona, você dá liquidez numa ponta e sai na outra. Dá mais liquidez para o mercado secundário, faz o mercado primário renascer também, promove um ambiente para a negociação. É muito positivo quando há um regulador de mercado, no sentido de formador de mercado.

Valor: Como o Banco Central pode garantir que essa liquidez não fique empoçada nos bancos?

Le Grazie: Garantir, o Banco Central não consegue, pois não pode obrigar nenhum participante do mercado a fazer nada que não queira. Nenhum participante de mercado vai dar crédito quando não quer ou para quem não quer. Aquela liquidez abundante que havia em 2019, maior do que 2018, quando os mercados estavam hiperlíquidos e muito alavancados, foi toda drenada. Hoje os grandes bancos também querem ter um colchão de liquidez mais confortável. Não sabemos como serão os próximos meses no crédito nas carteiras dos bancos. Pessoas físicas, pequenas e médias empresas, grandes empresas também estão querendo um colchão de caixa maior. Todos os participantes do mercado querem um colchão de liquidez maior. Quando o Banco Central injeta liquidez, todo mundo vai pegando um pouquinho, todos querem ficar mais seguros. E com certeza vai irrigando o mercado. Pode não chegar a todos, mas que irriga de uma maneira generalizada, sim, e é esse o papel do Banco Central. O Banco Central não tem como tomar conta se a liquidez chegou lá para um participante específico no final da cadeia. Não tem muito como fazer isso. Até porque o desenho, o ecossistema de crédito, não foi desenhado para momentos como esse. Há vários participantes de mercado que não são sequer regulados pelo Banco Central. Agora os não regulados pedem para ser usados como canal para distribuir liquidez para os seus clientes. Mas eles não são nem regulados. Como o Banco Central vai operar com um não regulado para irrigar liquidez? São os desafios.

Valor: A política monetária não teria um papel maior a desempenhar, quando outros bancos centrais cortaram os juros a zero?

Le Grazie: Acho que o Banco Central optou por um outro caminho. O Brasil escolheu garantir o funcionamento de mercado, deu liquidez, melhorou o seu arcabouço, está se preparando para entrar no mercado de crédito oferecendo alívio. Na política monetária, tomou a decisão de fazer isso de uma maneira muito gradual. Foi uma grande discussão. O Banco Central soltou uma nota no mesmo dia em que o Fed cortou os juros em 50 bps, à noite, dizendo que ia agir tempestivamente, conforme a necessidade. No mesmo dia em que o Fed fez a redução, o Banco Central do Brasil praticamente disse que iria baixar os juros. Depois baixou 50 bps, que era a mesma toada que vinha fazendo. A toada do Banco Central na política monetária tem sido gradual. Agora, como é um processo absolutamente desinflacionário e recessivo, o Banco Central vai acabar fazendo mais reduções da Selic. Mas vai fazer ao longo do tempo, diferentemente de outros bancos centrais que fizeram em reuniões extraordinárias. É uma questão de estratégia, foi a estratégia definida. Se é a melhor ou não, difícil saber nesse momento.

Valor: Podemos chegar aos juros nominais zero?

Le Grazie: Parece muito longe. Estamos falando de uma inflação para o ano de 2,5%. Depende de muita coisa, o preço de alimento está subindo, mas vamos falar de inflação de 2,5%. Podemos falar de taxa de juro real em torno de zero. Taxa nominal zero, não. Acho que tem uma questão absolutamente relevante: o Brasil nunca trabalhou com taxa de juros nominal nesse patamar. Tem uma série de produtos financeiros no mercado, e o mercado precisa aprender a trabalhar com isso. É uma questão de estabilidade do mercado financeiro. Não é hora de fazer esse teste.

Valor: No momento atual, a política monetária tem eficácia para estimular a economia?

Le Grazie: Na margem, sempre tem. A crise começou como um choque de oferta, que se transforma em uma falta de demanda. Então quando você baixa a taxa de juros, estimula a demanda. Estimula pouco? Sim, porque estamos num cenário muito diferente. É inquestionável que, quando você reduz a taxa básica, a taxa final tem uma tendência de queda. Se os empresários estão pagando para [uma captação com avaliação de crédito] AAA uma taxa equivalente a CDI + 4 % ou 5%, a taxa de juro real vai cair proporcional ao CDI. É inquestionável que dá alívio financeiro na Selic. Ajuda no mercado interno, a confiança, a demanda. É pouco, mas no momento tudo ajuda.

Valor: Mas tem o risco de um corte de juros ser contraproducente porque levaria a uma maior inclinação da curva de juros e alimentaria a depreciação cambial?

Le Grazie: Essas questões são todas de estabilidade financeira. Se você não pode baixar taxa de juros porque a moeda se desvaloriza muito, é uma pena. Por que acontece isso? São disfunções no mercado. O real tinha que se desvalorizar porque estava com as contas externas no lugar errado. Agora o câmbio já está num patamar em que as contas vão se ajustar. As curvas de juros estão inclinadas, isso vai aumentar a vulnerabilidade financeira? Faz parte da vida. Acho que a Selic tem que seguir o seu caminho. Agora, o Banco Central quando pesou todos esses pontos, a estabilidade financeira, o repasse cambial, a inclinação da curva, chegou à conclusão de que poderia ser contraproducente a queda de juros. Decidiu operar com mais cautela na política monetária. Não vou dizer que está certo ou errado. Ele resolveu ser mais comedido e ser mais agressivo nas outras medidas.

Valor: Por que o real está entre as moedas que mais estão sofrendo nessa crise?

Le Grazie: Depende da janela de tempo que olhar. Se olhar 2020, está junto com México. Do começo de março para cá, o real está melhor do que as outras. Se pegar 2016 ou 2017, poderá provar pelas curvas que o real está mais ou menos valorizado ou desvalorizado do que os seus pares. Não acho que o real apanhou mais do que as outras moedas. Isso depende da comparação que você faz. O real tem que desvalorizar porque tem contas externas ruins, está trabalhando em um nível de taxa de juros que nunca operou, o diferencial de taxa de juros é muito baixo. O Brasil tem fragilidades que outros países têm, outros não. Tudo isso leva a moeda a desvalorizar bastante. Não vejo nada de anormal em o câmbio ter desvalorizado o tanto que desvalorizou. O real operou como era de se esperar. Faz parte da solução, não do problema. O dólar a R$ 5,20 é bom para as contas externas, para a exportação, vai nos ajudar, não vai atrapalhar. Não acho que esse preço está errado. Acho que está mais errada a taxa de juros longa.

Valor: Tem muita gente argumentando que o BC deveria atuar mais pesado no câmbio, com um programa de venda, já que tem tanta reserva, um seguro para usar.

Le Grazie: Esses são os liberais do mercado, não é? Se o Banco Central tivesse anunciado um programa, teria atrapalhado o ajuste de preços relativos. É a válvula de escape. Acho que foi muito bem. Vendeu US$ 25 bilhões, deu liquidez para o mercado, mostrou que estava presente, mostrou que lidera o processo. Acho que não tem que fazer programa de venda de dólares. Se fizer programa de venda, eu vou ficar desconfortável, vou achar que estamos caminhando para o lado errado. O mercado está encontrando o seu preço, já está nesses preços há vários dias, considerando todo o tamanho da turbulência. Isso é um grande ativo.

Valor: Em que medida as incertezas sobre o ajuste fiscal e o andamento das reformas estão afetando a curva de juros e o dólar?

Le Grazie: O gasto fiscal atual parece absolutamente dentro das circunstâncias. Estamos gastando 5,5% do PIB com o combate à crise. Comparado internacionalmente, é adequado, cada um dos pacotes desenhados no Brasil é razoável. Do ponto de vista fiscal, a área econômica está atuando bem, colocou esses 5,5% do PIB dentro de um pacote emergencial, especial, único. Não vai entrar para o orçamento de 2021. Quais são os riscos do fiscal? Se os participantes do mercado tivessem certeza de que não vai virar orçamento corrente, com certeza as curvas de juros estariam melhores. Existe uma insegurança se o fiscal, que hoje corretamente está sendo acionado, virar corrente. Existe essa dúvida porque o Brasil gosta de transformar ajustes temporários em permanentes.

Valor: E sobre as reformas?

Le Grazie: As reformas já estavam com uma agenda muito comprometida antes da crise. Já viramos o ano com a reforma administrativa, tributária, nenhuma andando bem. A articulação do governo era ruim e eu confesso que não via muita expectativa nas reformas. Acho que elas agora ficaram com uma dificuldade ainda maior de aprovação. O governo nunca se convenceu muito da necessidade, da urgência dessas reformas. Entramos em uma governabilidade questionável, e vamos sair da crise, não sei quando vai acabar, com uma governabilidade ainda mais deficiente. O risco de o fiscal emergencial virar fiscal corrente mais a agenda de reformas que está absolutamente comprometida, esses dois estão fazendo a curva ficar mais empinada. Então chegamos naquele ponto: então é isso que faz a curva ficar inclinada, não é bem falta de crédito, política monetária ou o real. Essas duas questões são absolutamente relevantes, o fiscal e reformas.

Valor: O mercado acionário foi um dos que mais caíram, com ausência de investidores estrangeiros. O que a gente pode esperar?

Le Grazie: O investidor estrangeiro olhava para Brasil, para a America Latina, e não via brilho. Não cresce, tem problemas históricos e uma agenda arcaica. Os investidores não estavam prestando muita atenção no Brasil, e a crise acelerou a saída. Por outro lado, temos as pessoas físicas que estavam em bolsa crescendo, aumentando sua carteira de ações. O mercado todo esperava que fosse haver um grande efeito manada de saída, foi o contrário. Nesse sentido, o mercado é mais maduro. O Brasil tem várias fragilidades que justificam a bolsa brasileira estar entre as piores. Mas, com um amadurecimento do investidor doméstico, cria uma certa sustentação para o futuro. Não sei a que nível de preços, mas acho que dá uma sustentação.

 

FOLHA

BNDES vê lentidão na concessão de crédito e estuda seguro garantia

O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Gustavo Montezano, reconheceu neste domingo (19) que créditos liberados pelo governo para enfrentar a crise gerada pelo coronavírus estão represados e disse estudar um instrumento de seguro para acelerar financiamentos.

Um mês após o lançamento de um programa de refinanciamento de R$ 30 bilhões em dívidas com o banco estatal, os pedidos avançaram muito mais em operações diretas do que em indiretas, que são intermediadas por instituições financeiras privadas.

De acordo com Montezano, dos R$ 19 bilhões esperados em refinanciamento em operações diretas, há hoje R$ 9 bilhões já em processamento no BNDES. Em relação às operações indiretas, a expectativa é atingir R$ 11 bilhões, mas houve avanço em apenas R$ 1,5 bilhão.

A dificuldade de acesso aos recursos liberados pelo governo para enfrentar a crise é reclamação constante no setor produtivo brasileiro. Além do dinheiro do BNDES, o governo liberou desde fevereiro mais de R$ 200 bilhões em recursos que os bancos são obrigados a reter, os chamados empréstimos compulsórios.

"Isso é normal porque o sistema bancário hoje todo está com aversão a risco, tem uma insegurança, uma imprevisibilidade maior", avaliou Montezano, em seminário virtual promovido pelo Itaú BBA, afirmando que o processo precisa "dar uma acelerada".

Para acelerar esse processo, disse, o banco vem desenvolvendo um instrumento de seguro de crédito, segundo ele um instrumento ainda pouco usado no Brasil mas comum em outros países.

O presidente do BNDES não quis adiantar como funcionaria o seguro, alegando que o modelo ainda está em desenvolvimento. A Folha apurou que a ideia é ampliar e flexibilizar o FGI (Fundo Garantidor de Investimentos), instrumento do banco já usado na concessão de empréstimos, que pode receber recursos do Tesouro.

Entre as medidas de flexibilização, está em estudo elevar o limite de garantia dos atuais 80% para até 95% do valor do financiamento. Para cada R$ 1 investido no fundo, o BNDES estima alavancar outros R$ 5 em financiamentos para pequenas e médias empresas, o que poderia beneficiar os setores de turismo, comércio e serviços.

"Quando a gente compara com outros bancos ao redor do mundo, as medidas [emergenciais] são bem parecidas, mas tem um produto que a gente não opera e que lá fora é bem disseminado, que é o produto garantia", disse, afirmando que com esse seguro o dinheiro "pode chegar na ponta com mais facilidade".

Além de abrir a possibilidade de renegociações de dívidas, o BNDES já retornou R$ 20 bilhões ao governo federal em recursos do PIS/Pasep, que serão usados para antecipar o resgate de FGTS, e abriu uma linha de crédito para financiar a folha de pagamento de pequenas e médias empresas.

Agora, diz Montezano, o foco são as grandes empresas que estão sofrendo com a crise, principalmente nos setores aéreo, elétrico, automotivo e o comércio varejista não ligado a alimentos. Para esses, as soluções vão envolver parceria com bancos privados e fundos de investimentos.

Além de empréstimos, as negociações contemplam um pacote de instrumentos financeiros, que incluem debêntures conversíveis e a possibilidade de participação acionária. Montezano defendeu que a participação de bancos privados, além de ampliar os recursos disponíveis, ajuda a estruturar melhor as soluções.

"A gente concluiu que atuar por meio de sindicatos de bancos públicos e privados é muito importante para ter a maior quantidade possível de perspectivas, de visões e opiniões sobre os setores", disse. "São decisões tão importantes que a gente entende que é melhor ter discussão maior com a sociedade."

Ele afirmou que espera que as primeiras operações sejam concluídas em maio, mas não deu detalhes sobre quais são as empresas envolvidas. Primeiro grande impactado pela crise, o setor aéreo está em negociações mais avançadas e pede R$ 8 bilhões.

Segundo Montezano, outros setores podem ser incluídos nos esforços para socorrer empresas de grande porte. Ele citou, por exemplo, os planos de saúde, que podem sentir quando for destravada a demanda por procedimentos médicos que está represada enquanto duram as medidas de isolamento.

O presidente do BNDES descartou a oferta de dinheiro a juros subsidiados para grandes empresas. "Quando se fala em grande empresa, não é necessário subsídio de juros, porque o juro está muito baixo. Não é necessário esforço fiscal do governo para apoiar grandes empresas."

Segundo ele, para se preparar para a retomada da economia após a pandemia, o banco não fará mais devoluções antecipadas de recursos emprestados pelo Tesouro nos anos petistas, como foi prática em gestões anteriores à sua. "A instrução do ministro [da Economia, Paulo Guedes] foi segurar o caixa do BNDES", disse.

 

ESTADÃO

Mercados internacionais operam de forma dividida ante incertezas do novo coronavírus

Os mercados internacionais reagem de maneira incerta nesta segunda-feira, 20, apesar do otimismo com perspectivas de reabertura da economia e redução da curva de contágio do novo coronavírus. Alguns países, como o Reino Unido, temem uma segunda onde de infecções, e pedem cautela no processo. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que ainda se recupera da contaminação por covid-19, alertou a sua equipe que qualquer modificação das medidas de contenção deveria considerar essa possibilidade.

Ásia e Oceania

As bolsas asiáticas fecharam sem sinal único, impactadas principalmente pela potencial reabertura de economias e um anúncio de corte na taxa de referência dos juros para empréstimo pelo Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês). É uma nova medida para estimular a economia do país.

A Bolsa de Xangai, na China, teve alta de 0,50%. Por outro lado, Tóquio (Japão) registrou queda de 1,15%. O índice Hang Seng, da Bolsa de Hong Kong, recuou 0,21%. O mercado de ações da Coreia do Sul fechou em leve baixa de 0,84% e o de Taiwan com queda de 0,10%. A Bolsa da Austrália também redução de 2,45%.

Estados Unidos

Nos Estados Unidos, a perspectiva de reabertura da economia impactou o positivamente as bolsas norte-americanas na última semana. No domingo, o presidente dos EUA, Donald Trump, previu que deve haver cerca de 60 mil mortes por causa da pandemia no país - os mortos já ultrapassaram a marca de 40 mil em solo americano. O governador de Nova York, Andrew Cuomo, disse que a pandemia já passou do pico e começa a desacelerar, complementando que é preciso reduzir a taxa de infecção ainda mais para ser possível uma reabertura segura da economia. Além disso, ações do setor de energia devem ser pressionadas no pré-mercado, em nova jornada negativa para o petróleo, ao menos por enquanto. Às 4h43 (de Brasília), o Dow Jones futuro caía 0,77%, o Nasdaq recuava 0,53% e o S&P 500, 0,75%.

Europa

A maioria das bolsas europeias abriu com ganhos, mas Madri (Espanha) e Lisboa (Portugal) já recuavam e Londres (Inglaterra) passou para o sinal negativo. Notícias sobre a disseminação do novo coronavírus continuam a concentrar atenções, mas também há otimismo com as novidades sobre planos para a reabertura da economia. Às 7h07 (de Brasília), a Bolsa de Londres caía 0,34%, Frankfurt (Alemanha) subia 0,03% e Paris (França) tinha baixa de 0,30%. Milão avançava 0,01%, Madri recuava 1,10% e Lisboa registrava baixa de 0,57%.

O euro se fortaleceu após a divulgação do superávit ajustado da balança comercial de 25,8 bilhões de euros na zona do euro em fevereiro. As exportações tiveram aumento mensal de 1,8%, enquanto as importações recuaram 2,3%

Petróleo

Os contratos de petróleo recuam ao longo do dia, com o WTI especialmente penalizado, no quadro atual de forte queda na demanda por causa da pandemia do novo coronavírus e após cortes na oferta considerados insuficientes para reequilibrar esse mercado.

Em relatório, Ipek Ozkardeskaya, analista sênior do Swissquote Bank, destaca que uma grande questão no momento é se comprar petróleo já poderia ser uma boa ideia. Ela comenta que se os preços se aproximassem de US$ 15 o barril haveria investidores ansiosos para comprar à espera de uma correção para cima, "mas os riscos de baixa prevalecem, com o lado da venda parecendo mais forte do que muitos acreditavam". Para a especialista, ainda é incerto o quanto pode ainda o preço recuar e Ozkardeskaya diz que o contrato poderia até caminhar para a faixa de US$ 10 o barril.

Às 5h58 (de Brasília), o petróleo WTI para junho recuava 7,71%, a U$ 23,10 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para o mesmo mês caía 3,88%, a U$ 26,99 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).

 

‘Até com reabertura, recuperação é muito lenta’

Após a queda de 6,8% no PIB no primeiro trimestre deste ano, ante o mesmo período de 2019, a China deve demorar para se recuperar – assim como ocorrerá com a maioria das economias após a pandemia da covid-19 –, segundo o americano Arthur Kroeber, fundador da consultoria Gavekal Dragonomics, especializada em China.

Uma evidência disso é que hoje, seis semanas após começar a reabrir a economia, a China tem apenas 40% dos pequenos negócios operando. “A China está rodando entre 80% e 90% do nível de sua atividade normal. Voltar a 100% pode levar meses. A mensagem é que, até se você começar a reabrir a economia, a recuperação é muito lenta”, afirma ele. A seguir, trechos da entrevista.:

O PIB da China veio em linha com o que o sr. esperava?

Sim. A questão agora é quão rápido vai melhorar. As perguntas principais são se a China conseguirá fazer o setor de pequenos e médios negócios voltar e quão pesada será a queda das exportações. As exportações chinesas para Europa e EUA podem cair entre 20% e 40%. Hoje, a China está rodando entre 80% e 90% do nível de sua atividade normal. Isso não parece tão ruim, mas há dados que sugerem que apenas 40% dos negócios pequenos voltaram. A China parou quase todas as atividades há três meses. Depois de seis semanas, começou a reabrir algumas coisas e, outras seis semanas depois, ainda está rodando abaixo do nível normal. Voltar a 100% pode levar vários meses. A mensagem básica é que, até se você começar a reabrir a economia, a recuperação é muito lenta.

Que mudanças devem ocorrer no comércio e nas organizações internacionais após a crise?

Há um argumento que diz que a crise prova que a globalização é um problema, que é preciso fazer mais coisas em casa. O outro argumento, como o qual concordo, é que você precisa ter cooperação global e que instituições internacionais ajudam a gerenciar uma pandemia. Nessa linha, é preciso de cadeias de fornecimento que não sejam fragmentadas, pois, se cada país tiver sua própria rede, alguns países terão muito, outros pouco e conseguir as coisas em alguns lugares vai ser difícil e caro. Deve haver um grande debate sobre isso daqui em diante.

O anúncio de que os EUA não vão mais colaborar com o financiamento da OMS já não indica que estamos caminhando para uma menor colaboração?

O que vejo nos EUA é um governo controlado por um nacionalismo econômico aliado a um lobby de segurança nacional. Mas, contra isso, você tem uma comunidade empresarial forte que investe na globalização. Haverá uma discussão entre esses grupos, mas não se pode prever o que acontecerá.

Podemos prever como será a relação entre EUA e China depois disso tudo?

Isso sim, porque está piorando e vai ficar ainda pior. Há uma briga para controlar a narrativa. Os EUA estão ocupados em levantar narrativas de que a culpa da epidemia é da China ou da OMC, e isso é apenas um discurso para desviar a atenção da incompetência de resposta dos EUA. Na China, o governo tem uma narrativa de que fez tudo pelos cidadãos e que é maravilhosa, o que subestima os erros que cometeu antes de dar uma resposta ao vírus. Acho que a visão linha dura dos EUA é de aproveitar essa oportunidade para reforçar a ideia de que a China não é confiável. E, na China, eles estão pensando: ‘tudo bem, isso enfatiza que não temos de focar em cooperar com os EUA’. Se você olhar a campanha presidencial, Trump quer fazer com que Joe Biden pareça mais fraco quando o assunto é China. O papel que a China terá na campanha é o de uma força negativa. Por isso, a relação entre os países vai piorar. Isso é preocupante, porque, se você quer mais coordenação global, EUA e China têm de liderar esse caminho.

Isso muda se Trump perder a eleição?

Se Biden ganhar, não deve haver ênfase em guerra comercial e tarifas, mas não sei se ele será capaz de reverter a situação. A relação pode parar de piorar, mas a melhora será modesta.

Analistas acham que a China pode se tornar um líder global depois da crise, dado que respondeu melhor ao vírus. Concorda?

Não. Na crise financeira de 2008, muita gente previu um declínio dos EUA e que, em dez anos, a China seria a líder global. Dez anos depois, os EUA continuaram sendo uma economia maior e, de longe, mais poderosos que a China. A China teve ganhos, mas foram moderados. Agora deve ocorrer algo parecido. Inicialmente, a China parece estar indo muito bem, conseguiu controlar as coisas, enquanto os EUA parecem estar no caos. O sistema americano é dinâmico e resiliente. Depois de um período confuso, ele descobre como colocar as coisas de volta aos trilhos, enquanto a China é fundamentalmente mais rígida. Mas, claro, a China deve ganhar um pouco mais de prestígio e credibilidade depois de mostrar que seu sistema é eficiente. É um ganho para a China, mas não muda a relação de poder entre os dois países.

 

 

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