Terça-feira

VALOR

Aposta de retomada lenta da economia do país ganha força

A expectativa de uma recuperação mais lenta da economia, após a forte queda da atividade neste ano, tem ganhado força entre analistas, por causa do legado negativo que a crise do coronavírus deve deixar ao país. Há, contudo, quem aposte em retomada mais acelerada já que, no aspecto macroeconômico, o Brasil estava em condições melhores do que em crises anteriores. Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional (FMI) projetam uma recuperação modesta do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no próximo ano, após estimarem um tombo, de 5% e de 5,3%, respectivamente em 2020.

Para 2021, enquanto o primeiro vê uma alta de apenas 1,5%, o Fundo estima crescimento de 2,9%. Tais previsões são compartilhadas por vários economistas locais. Mas na ponta mais positiva, analistas veem um cenário em que o PIB pode crescer entre 4% e 5% no ano que vem. Seja como for, é consenso que a crise vai legar ao país mais desempregados, famílias com uma perda relevante de renda e um quadro fiscal pior do se esperava há bem pouco tempo.

Perda de produtividade e de potencial de crescimento também estão na conta. “Não acredito em recuperação em V”, diz Gustavo Ribeiro, economista-chefe do ASA Bank, que prevê queda de 5% no PIB em 2020, seguida de alta de 2,5% em 2021. A avaliação do FMI, de que esta será uma recessão profunda que deixará cicatrizes, se encaixa no contexto brasileiro, diz ele. “O Fundo projeta uma recuperação no mundo e no Brasil sem retomar o nível de produto anterior à crise.”

No caso brasileiro, uma volta ao do nível do PIB de 2014, anterior à última recessão, foi adiada deste ano para algo em torno de 2023, observa. O aumento do desemprego vai deter uma retomada mais acelerada, diz Ribeiro. “Esse é um dos principais pontos pelos quais não apostamos numa volta mais forte.”

A taxa de desocupação deve disparar cerca de três pontos percentuais, para 14,5%, ainda neste primeiro semestre e passaria a cair em 2021, mas o país conviverá com taxas de dois dígitos por um bom tempo, prevê. “Sem as medidas de proteção ao emprego anunciadas pelo governo, certamente o cenário seria pior. Mas elas não devem ser suficientes para impedir o avanço da desocupação”, afirma.

Ribeiro cita outros entraves ao crescimento mais rápido, como a falta de espaço para a expansão do crédito às famílias e a diminuição do caixa das empresas. “A saúde financeira do setor privado não vai voltar rapidamente ao nível pré-crise”, diz. Ele ainda ressalta que o Brasil, como o mundo, sairá da crise mais endividado e com uma demanda maior por gastos, na área de saúde e assistência social.

A saída gradual do isolamento e a forte queda do comércio internacional são os fatores que devem levar um crescimento do PIB em torno de 2,5% em 2021 após queda de 5% em 2020, afirma Marcelo Gazzano, economista da A.C. Pastore & Associados. “Esta é uma recessão sincronizada, que afeta os parceiros comerciais do país ao mesmo tempo”, diz, apontando também a piora do canal financeiro, com a queda dos preços das commodities. Isso é suficiente para colocar por terra uma recuperação em V, diz.

O cenário ainda mais desafiador para as exportações indica que não só o setor externo não será propulsor de uma recuperação, como tende a aprofundar a recessão deste ano. Gazzano ainda não tem uma estimativa para o desemprego, mas diz que é certo que haverá destruição de vagas, a despeito das medidas tomadas. Ele considera as ações do governo e do Banco Central abrangentes, mas o resultado delas é uma incógnita.

“O que está se tentando fazer é tentar manter o PIB potencial. Mas não há base de comparação histórica para saber se as medidas vão ter sucesso”, diz. Um dos principais legados da crise, na visão do economista da A.C. Pastore é que só o teto de gastos e reformas como a administrativa não vão garantir que a relação dívida bruta/PIB caia até o fim da regra, em 2027. “Terá que se fazer cortes de gastos ainda maiores ou aumentar a carga tributária. A crise vai deixar uma conta alta que todos teremos que pagar.”

Na ponta positiva, o Itaú estima uma queda menor do PIB em 2020, de 2,5%, e um crescimento de 4,7% em 2021. Para o banco, juros e inflação baixos e condições financeiras menos apertadas vão permitir que a economia se normalize mais rapidamente que na recessão de 2015/2016. O ajuste nas contas públicas anterior à crise do coronavírus também vai ajudar, apesar do nível mais elevado da dívida.

O Banco Inter tem estimativas nessa linha, de queda de 1,7% em 2020 (que deve ser revista para algo em torno de 2,5%) e crescimento de 4% em 2021. Para a economista-chefe da instituição, Rafaela Vitória, as projeções de queda de 5% no PIB são exageradas. “O FMI está superestimando o efeito da pandemia no Brasil, que não tem tido a mesma intensidade da Europa ou dos Estados Unidos”, diz.

Ela avalia que a proteção ao emprego vai permitir uma retomada mais rápida já a partir do segundo semestre deste ano. No segundo trimestre, prevê, o PIB pode recuar 10% em relação ao primeiro. Mas a retomada deve se iniciar no terceiro trimestre, quando a atividade deve chegar a um nível compatível com o mesmo período do ano passado. Nas contas da economista, o desemprego pode chegar a 14%, mas deve voltar para perto de 12,5% no fim do ano.

Ela aponta que elementos novos, como a reforma trabalhista, podem mitigar o aumento da desocupação. “É difícil comparar com crises passadas, mas podemos ter surpresa positiva nessa frente.” Outro fator que deve impulsionar o PIB em 2021, diz, é o crescimento da China no ano que vem, estimado em 9,2% pelo FMI, que prevê alta de 2,9% no PIB brasileiro. “Se houver essa retomada lá, a expansão no Brasil será mais forte.”

Rafaela, assim como os demais economistas, pondera que as estimativas são muito preliminares pelo ineditismo da crise e que o maior risco é o descontrole da pandemia no país. “É o grande risco. Se tivermos uma segunda onda de contaminação e o isolamento social tiver se ser estendido, o processo de queda da e recuperação da atividade seria bem mais estendido”, afirma.

 

No longo prazo, isolamento afeta menos o PIB

Na semana passada, foi apresentado o primeiro estudo de economistas brasileiros que utiliza um novo modelo macroeconômico para analisar, de forma integrada, a economia e a epidemia do novo coronavírus. O objetivo do trabalho é dimensionar os efeitos do isolamento social sobre a infecção das pessoas e sobre o nível de atividade. A conclusão a que os economistas Matheus Rabelo de Souza e Johann Soares, autores do trabalho, chegaram é que, no Brasil, uma contenção social ótima evitaria a morte de 50 mil pessoas, mas provocaria uma recessão 3,5 vezes pior do que se não houvesse contenção alguma.

O estudo foi divulgado no momento em que divergências sobre a estratégia de enfrentamento da pandemia terminaram com a demissão de Luiz Henrique Mandetta do cargo de ministro da Saúde, defensor do isolamento social. Apesar de o efeito do isolamento sobre a atividade econômica ser mais severo no curto prazo, o modelo utilizado pelos economistas indica que, no longo prazo, a contração do Produto Interno Bruto (PIB) seria menor, pois o número de horas trabalhadas cairia menos, 14,13%. A queda do número de horas trabalhadas sem contenção social seria maior, no longo prazo, estimada em 16,45%.

“A ideia é que, fazendo a contenção social, menos gente morrerá e, assim, haverá mais trabalhadores no longo prazo compondo o lado da oferta”, explicou Matheus Rabelo. No trabalho, os autores fizeram uma suposição de que 15% das pessoas infectadas pelo novo coronavírus serão casos graves e que a taxa de mortalidade seria de 0,3%. No pico da infecção no cenário sem contenção social, o estudo estima que 5,4% da população estará com o vírus, com um total de 337 mil mortes.

No cenário com contenção social ótima, o número de infectado será menor, correspondendo a 3,7% da população e 287 mil óbitos, uma redução de 50 mil mortes. No cenário sem contenção social, os economistas estimam que o sistema de saúde brasileiro vai precisar de 1,7 milhão de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

Com contenção social ótima, o número necessário de leitos em UTI cairá para 1,2 milhão, ou seja, 500 mil leitos a menos. Os autores observam que, em ambos os cenários, a situação será dramática, pois, segundo eles, o Brasil dispunha de apenas 50 mil leitos em UTI em janeiro deste ano.

O trabalho de Rabelo e Soares, intitulado “A macroeconomia das epidemias: resultados para o Brasil”, foi apresentado na quarta-feira passada, em um grupo de estudo de macroeconomia do mestrado e doutorado na Escola Brasileira de Economia e Finanças (EPGE), da Fundação Getulio Vargas (FGV), do Rio de Janeiro. Rabelo é mestre em economia e Soares cursa o mestrado na EPGE.

Os autores propõem uma maneira macroeconômica de pensar a crise do novo coronavírus, utilizando a abordagem dos economistas Martin Eichenbaum, Sergio Rebelo e Mathias Trabandt (Working Paper, 2020), com parâmetros calibrados para a economia brasileira. Segundo Rabelo, a abordagem é uma combinação de um modelo macroeconômico tradicional com um modelo epidemiológico conhecido como SIR, na sigla em inglês, (Suscetíveis, Infectados, Recuperados, em português).

Eles passaram a considerar que a contaminação não ocorre apenas de forma aleatória, mas em atividades relacionadas ao consumo e ao ambiente de trabalho. Desta forma, a propagação da infecção atua tanto como um choque de demanda quanto como um choque de oferta. Dado que as pessoas podem se infectar ao fazer compras, elas reduzem o consumo para se proteger. Por outro lado, os indivíduos podem se infectar no ambiente de trabalho e, para evitar isso, eles reduzem as horas trabalhadas.

Os autores concluíram que a política de contenção social ótima é gradual e acompanha de perto a curva de infecção. No primeiro momento, quando não há muita gente infectada, o custo social de fazer contenção é muito maior que o benefício, analisam. “A contenção social ótima busca o equilíbrio entre perda econômica e perda de vidas”, explicou Rabelo”.

 

Socorro de BNDES e bancos pode se estender a setores têxtil e de bares e restaurantes, dizem fontes

Companhias dos setores têxtil e de bares e restaurantes poderão ser incluídas no socorro que vem sendo costurado por BNDES e grandes bancos para os segmentos mais atingidos pela crise do coronavírus. De acordo com fonte que participa das discussões, ainda não está concluída a lista dos setores que receberão ajuda, mas os debates incluem esses dois segmentos. Além deles, já é certo que haverá medidas para resgatar empresas aéreas, varejistas não alimentícias, elétricas e indústria automotiva.

No fim de semana, o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, afirmou que o escopo poderá ser ampliado, chegando a uns “nove ou dez” setores no total. O norte das propostas que vêm sendo discutidas até agora é que se adotem “soluções de mercado” e que as medidas sejam específicas para a realidade de cada setor.

A ajuda aos setores elétrico e de aviação é a que está mais avançada. Em paralelo, BNDES e bancos avançam nas tratativas de um modelo para estimular o crédito a empresas (de qualquer setor) com faturamento de R$ 10 milhões a R$ 300 milhões, diz outra fonte. Conforme o Valor já noticiou, o desenho prevê o uso do Fundo Garantidor de Investimentos (FGI) do banco de fomento.

A proposta é que o FGI passe a cobrir 80% da inadimplência de uma carteira que tenha inadimplência de até 20%. O restante fica com o banco que concedeu o empréstimo. Hoje, o fundo garante 80% de carteiras com taxa de calotes de até 7%. Além de ampliar a cobertura do fundo, as discussões também passam por facilitar o acesso a garantias, hoje considerado burocrático pelos bancos.

O objetivo é que, após atrasos de 90 dias nos pagamentos, as instituições financeiras já possam solicitar a garantia. No modelo atual, isso só acontece depois da execução da operação e de uma série de trâmites, o que inviabiliza o uso do dinheiro na prática, diz essa fonte. Está em discussão no governo a possibilidade de o Tesouro fazer um novo aporte no FGI, que hoje tem patrimônio líquido de R$ 1,2 bilhão. “O fundo seria parecido ao funcionamento de um seguro, mas provido pelos bancos e pelo BNDES”, afirma outro interlocutor que participa das discussões.

O próprio presidente do BNDES disse na live de ontem que estudava um “seguro de crédito” para a operação, em referência ao mecanismo. “Mas tem detalhes que precisam ser definidos: a proporção de perdas de inadimplência seria dividida entre o banco e o BNDES ou o BNDES assumiria sozinho uma primeira parte das perdas?”

Uma questão ainda em aberto é que, para ter acesso ao FGI, o tomador do crédito precisa ter certidão negativa de débitos (CND) com a União. Porém, os bancos defendem que haja uma solução temporária que suspenda essa exigência durante a crise para não deixar de fora essa parcela de empresas.

 Já houve essa discussão no caso da linha de crédito à folha de pagamentos de pequenas empresas (com faturamento de R$ 360 mil a R$ 10 milhões). A modalidade entrou em vigor sem uma resposta para isso e, conforme o Valor noticiou, os bancos desenvolveram um sistema em parceria com a Receita Federal para identificar quem tinha a CND. As empresas que não têm não podem tomar a linha.

 

Caixa e Sebrae oferecem R$ 7,5 bi em linhas de crédito para micro e pequenas empresas

A Caixa e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) anunciaram nesta segunda-feira parceria para facilitar o acesso de microempreendedores individuais (MEI), micro e pequenas empresas ao crédito durante a pandemia de coronavírus. A expectativa é injetar R$ 7,5 bilhões em linhas de crédito facilitado ao setor, segundo o presidente da Caixa, Pedro Guimarães.

A parceria utiliza linhas disponibilizadas pela Caixa e garantias complementares serão concedidas pelo Sebrae por meio do Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe).

Em nota enviada à imprensa, o vice-presidente de Varejo do banco, Celso Leonardo Barbosa, diz que os empresários contarão com uma plataforma de crédito assistido, com prazo de carência de até 12 meses para começar a pagar “e prazos flexíveis para pagamento”.

As garantias do Sebrae são fruto de uma negociação com o Ministério da Economia, que, em medida provisória (MP) publicada no início deste mês, deixou a entidade de fora do corte temporário de 50% nas contribuições do Sistema S, uma das medidas colocadas em prática para fazer frente aos efeitos econômicos da pandemia. Poupado do corte, o Sebrae usou os recursos para reforçar o Fampe.

 Redução de 40% nas taxas de juros Guimarães disse que a linha de crédito em parceria com o Sebrae permitirá a redução de cerca de 40% nas taxas de juros em relação às praticadas hoje e aumentará a oferta de crédito. “Os R$ 7,5 bilhões representam 1% do total da carteira da Caixa, mas são importantes dentro de um segmento que tem baixa oferta de crédito”, disse.

Para o microempreendedor individual, o valor máximo a ser contratado por CNJP será de R$ 12,5 mil. O prazo de carência será de nove meses, o prazo para pagamento de 24 meses e as taxas de juros, de 1,59% ao mês.

Para as microempresas, o valor máximo de crédito será de R$ 75 mil, a carência será de 12 meses, o prazo para pagamento de 30 meses e a taxa de juros, de 1,39% ao mês. No caso das empresas de pequeno porte, o valor máximo chegará a R$ 125 mil, a carência será de 12 meses, o prazo para pagamento de 36 meses e a taxa de juros de 1,19% ao mês.

Por ora, afirmou Guimarães, a linha estará disponível apenas para clientes adimplentes. “Quem estiver negativado, nesse primeiro momento, não estará nessa linha, mas há outras linhas de renegociação na Caixa”, disse. Sem subsídio Questionado se a liberação de R$ 7,5 bilhões para micro e pequenas empresas ficou abaixo do esperado, o presidente da Caixa disse que as operações só serão realizadas se for para o banco “ganhar dinheiro”.

Havia expectativa de que a injeção chegasse a R$ 12 bilhões. “As operações só serão realizadas se for para a Caixa ganhar dinheiro. Não fazemos operação de subsídio com ninguém. Neste governo, nesta gestão, não há a mais leve possibilidade de a Caixa realizar qualquer operação que não seja sustentável no longo prazo”, disse.

Ele completou dizendo que a liberação pode ser maior, mas que hoje a expectativa da Caixa, a partir de análises internas, é de R$ 7,5 bilhões. “É um dia depois do outro. Se houver um volume de demanda onde as pessoas tenham uma resposta melhor do que nós estamos esperando, pode chegar a R$ 12 bilhões.” Em entrevista ao Valor no fim de março, o presidente do Sebrae, Carlos Melles, já havia citado a cifra de R$ 12 bilhões.

Questionado agora sobre a liberação, Melles disse que nem um volume maior de recursos seria suficiente para suprir a necessidade de crédito dos negócios menores. “Não é suficiente, nem os primeiros modelos nossos, de R$ 24 bilhões, são suficientes em relação à demanda e representação da micro e pequena empresa no Brasil”, disse.

Melles citou que há outras iniciativas em debate, como projeto de lei, em discussão na Câmara, que quer destinar recursos do Tesouro para linhas de crédito e tratativas com outros bancos, inclusive o BNDES. O presidente do Sebrae disse ainda que, num primeiro momento, o Fampe está colocando mais de R$ 500 milhões nas operações. “Nosso desafio é aumentar o volume de recursos para dar conforto nessa alavancagem”, disse.

A expectativa é de que a destinação de R$ 1 bilhão do fundo permita a liberação dos R$ 12 bilhões em empréstimos. Sem milagre também No anúncio da linha de crédito para micro e pequenas empresas em parceria com a Caixa, Melles disse que não se deve esperar “milagre dessa operação”, citando a redução de juros de cerca de 40%. “Nós também podemos melhorar muito o ambiente se tivermos mais garantias nesse processo. Aí as taxas poderão aí chegar a até 0,8% ao mês, o que é muito mais favorável”, afirmou.

Na entrevista ao Valor no fim do mês passado, Melles havia citado taxas de cerca de 0,6% ao mês como um patamar “confortável”. A linha anunciada hoje, no entanto, tem juros que variam de 1,19% ao mês a 1,59% ao mês.

 

ESTADÃO

Selic deve ter novo corte, sinaliza presidente do BC

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sinalizou ontem um novo corte na taxa básica de juros, a Selic, e disse que a oferta de crédito pelos bancos começou a fluir no Brasil. Mas, segundo ele, as taxas dos empréstimos ficarão mais caras para as empresas por causa do medo da extensão do isolamento social e do seu impacto na inadimplência.

Em live do Estadão Live Talks sobre as medidas para o enfrentamento da crise da covid-19, Campos Neto mostrou que está aliviado com a melhora do crédito e avisou que o BC consegue enxergar agora com mais clareza o cenário que antes estava muito nebuloso. Ele disse que o BC está monitorando os volumes e preços do crédito e avisou que, se necessário, tomará novas medidas para melhorar a oferta – se ainda “houver medo dos bancos para emprestar”.

O presidente do BC evitou, no entanto, fazer um prognóstico de quando a situação vai se normalizar para o crédito das empresas e pessoas físicas, mas destacou que os bancos públicos têm maior capacidade de agir mais diretamente, como faz a Caixa agora na crise. “Nós entendemos que o Brasil fez mais cedo e em mais quantidade (liberação de liquidez) e isso deve começar a fluir. Isso não significa que o preço do crédito será como antes. Haverá um prêmio de risco”, disse.

Segundo ele, a dificuldade de o crédito chegar na ponta não é um fenômeno só brasileiro, mas também relatado por vários colegas de BCs de outros países. Campos Neto previu que a possibilidade de o BC entrar no mercado comprando crédito diretamente das empresas, como previsto em proposta que tramita na Câmara, também dará um “poder de fogo incrível” para que esse movimento aconteça. O BC poderá comprar papéis de empresas e, dessa forma, direcionar recursos para as empresas que mais precisam, afirmou.

Controle de capitais

O presidente do BC rechaçou a possibilidade de o governo brasileiro adotar medidas de controle de capitais (de regulação do fluxo da entrada e saída de recursos) para segurar a alta do dólar.

Nas últimas semanas, a moeda derreteu não só no Brasil, mas também em muitos países emergentes. Vários governos começaram a falar em controle de capitais para evitar mais corrosão de moeda, dado que esses países querem continuar cortando os juros. No Brasil, os investidores estavam preocupados com esse risco e a fala de Campos Neto durante o Estadão Live Talks acabou tranquilizando o mercado financeiro. O dólar fechou ontem, véspera de feriado, em R$ 5,307 em alta de 1,35%.

“Não passa pela cabeça do BC estabelecer política de controle de capitais”, afirmou ele. Para Campos Neto, a alta do dólar no Brasil piora fundamentos econômicos do País, mas o movimento está em linha com o de países emergentes nesse momento.

Depois da fala de Campos Neto, a aposta entre analistas é a de que o BC vai reduzir os juros básicos, atualmente em 3,75% ao ano, em 0,50 ponto porcentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), no início de maio. Na live, o presidente do BC disse que está “muito distante” no Brasil a situação em que a política de juros não faz mais efeito na economia. Essa era uma das preocupações dos investidores, que cobravam nas últimas semanas um corte da Selic diante do cenário de recessão da economia.

“Ele está mais aliviado com o fato de as medidas de liquidez e crédito começarem a surtir efeito. Isso dá tranquilidade para pensar a política monetária mais tradicional, ainda mais que a volatilidade dos mercados está mais baixa”, disse Fábio Akira, economista-chefe da BlueLine Asset, que acompanhou a live, que teve a participação de colunistas do Estado, como a economista Zeina Latif. Para Akira, o destaque foi que a taxa Selic (a redução) voltou a ter prioridade na ação do BC.

 

Mercado financeiro prevê queda do PIB em 2020 próxima de 3% e novo corte nos juros básicos

Os analistas do mercado financeiro baixaram, pela décima semana seguida, a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e revisaram para baixo sua estimativa para a inflação, que ficou abaixo do piso do sistema de metas, de 2,5%.

Também passaram a prever um novo corte no juro básico em meados de junho. Para os analistas, a Selic deve chegar ao fim de 2020 em 3% ao ano. Atualmente, a taxa está em 3,75% ao ano.

As projeções fazem parte do boletim de mercado, conhecido como relatório "Focus", divulgado nesta segunda-feira, 20, pelo Banco Central (BC). Os dados foram levantados na semana passada em pesquisa com mais de 100 instituições financeiras.

Para o PIB de 2020, a nova previsão dos economistas consultados é de queda de 2,96%. No relatório anterior, que foi produzido com base em consultas feitas na semana retrasada, a expectativa dos analistas era de queda de 1,96%.

Apesar da nova queda, a previsão do mercado para a contração do PIB brasileiro em 2020 ainda está abaixo da divulgada pelo Banco Mundial, que estima um tombo de 5%, e do Fundo Monetário Internacional (-5,3%).

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia.

A nova redução da expectativa para o nível de atividade foi feita em meio à pandemia do coronavírus, que tem derrubado a economia mundial e colocado o mundo no caminho de uma recessão.

Nas últimas semanas, tanto o Ministério da Economia quanto o Banco Central também revisaram suas estimativas e passaram a prever estabilidade (sem alta, mas também sem contração) do PIB neste ano.

Para o próximo ano, a previsão do mercado financeiro para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) subiu de 2,70% para 3,10%.

Inflação abaixo do piso da meta

Segundo o relatório divulgado pelo BC, os analistas do mercado financeiro reduziram a estimativa de inflação para 2020 de 2,52% para 2,23%. Foi a sexta redução seguida do indicador.

A expectativa de inflação do mercado para este ano segue abaixo da meta central, de 4% e, com a nova revisão, passou a ficar abaixo também do piso do sistema de metas - de 2,5% neste ano.

Pela regra vigente, o IPCA pode oscilar entre 2,5% e 5,5% sem que a meta seja formalmente descumprida. Quando isso acontece, o BC tem de escrever uma carta pública explicando as razões para o ocorrido.

A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic).

Para 2021, o mercado financeiro baixou de 3,50% para 3,40% sua previsão de inflação.

No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.

Novo corte da Selic

O mercado financeiro já previa uma queda da taxa Selic, atualmente em 3,75% ao ano, para 3,25% ao ano no começo em maio. Na semana passada, os analistas passaram a estimar, também, um novo corte em meados junho, para 3% ao ano (novo piso histórico, se confirmado) - patamar no qual fecharia 2020.

Para o fim de 2021, a expectativa do mercado permaneceu em 4,50% ao ano ao ano. Isso quer dizer que os analistas seguem estimando alta dos juros no ano que vem.

 

 

 

 

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