Segunda-feira

ESTADÃO

Construtoras recorrem a novas formas de negócios

O setor de incorporação vem buscando novas formas de estimular vendas de imóveis diante da queda da comercialização decorrente da piora do cenário pela pandemia de covid-19. Aumento das possibilidades virtuais para conhecimento dos produtos pelos clientes e fechamento online do negócio, retomada das campanhas de descontos e facilidades de pagamento, e até mesmo lançamentos pela internet fazem parte das alternativas das quais as incorporadoras lançam mão neste ambiente de crise.

No dia 23, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e Associação Brasileira das Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) lançaram a campanha “Vem Morar”, com benefício mínimo de R$ 3 mil das empresas aos clientes, sob forma de desconto no valor do imóvel ou, por exemplo, de pagamento pelas empresas de parcelas do condomínio. Com duração de 60 dias, a iniciativa inclui incorporadoras que informarem interesse à Caixa Econômica Federal. Conforme o pacote anunciado pela Caixa em 9 de abril, os clientes terão seis meses de carência para pagar a primeira prestação.

A MRV Engenharia, maior incorporadora do país, é uma das que já aderiram ao “Vem Morar”. Em seu site, a companhia informa que oferece descontos de até R$ 15 mil nos imóveis concluídos e semiprontos. Em janeiro, a MRV fez piloto de lançamento digital. A empresa, que lançou 19 empreendimentos nesse formato no primeiro trimestre, não informa os números de abril. Com a mudança do cenário, em março, a apresentação virtual de projetos foi acelerada.

A Direcional Engenharia, que assim como a MRV tem no Minha Casa, Minha Vida seu principal negócio, possui campanha online com possibilidade de quem fechar a compra de unidade até 31 de maio pagar a primeira parcela à incorporadora em agosto. A empresa vai aderir à campanha “Vem Morar”. Para unidades voltadas às rendas média e alta, a Direcional oferece descontos até o fim de maio.

No dia 18, a incorporadora fez seu primeiro lançamento virtual, um projeto da faixa 1,5 do programa. A Cyrela, com atuação principal no segmento de médio e alto padrão, aposta, além do tour virtual no apartamento decorado, na possibilidade de “live” para e resolução de dúvidas do contrato e discussões com o cliente. Outra incorporadora com produtos direcionados para as rendas média e alta, a Mitre Realty já tinha adotado o sistema de contrato virtual.

Com a crise, reforçou as ferramentas digitais para estimular vendas 100% online e a finalização de processos de comercialização iniciados antes do isolamento social. Há expectativa que, a partir de 11 de maio, as incorporadoras sejam autorizadas a agendar visitas de clientes aos estandes, na cidade de São Paulo, o que tende a contribuir para a concretização dos negócios.

A TPA Empreendimentos, que atua principalmente na incorporação de imóveis compactos, tem campanha de venda de unidades no Centro da capital paulista com entrada a partir de R$ 1 mil e possibilidade de pagamento do valor restante do sinal em 30 dias. Com unidades a partir de R$ 249 mil, a iniciativa vai até 31 de maio. Até domingo, a Lopes realiza seu 1º Salão Online de Imóveis, abrangendo 80 empreendimentos do Estado de São Paulo, com “preços e condições de pagamento super atrativos”, segundo a maior rede de imobiliárias do país.

A Lopes informou que, em função do fechamento dos estandes de vendas e do isolamento social, buscou novas formas de “se conectar com os clientes”. Os interessados podem realizar tour virtual, visita virtual, negociação online e assinatura digital.

A Abyara São Paulo, empresa da rede de imobiliárias Brasil Brokers, está realizando o Abyinvest, um feirão online com foco em investidores “preocupados em preservar patrimônio”, e o Abyara Casa Fácil, restrito a unidades do programa habitacional e integrado à campanha “Vem Morar”.

A Brasil Brokers tem em curso também iniciativas de venda de estoques de incorporadoras, com desconto, no Rio de Janeiro, em Niterói (RJ) e no interior de São Paulo. A imobiliária Apê11, que cobra R$ 15 mil fixos na venda de imóveis independentemente do perfil da unidade, sentiu forte queda dos atendimentos, no início da quarentena, mas opera, atualmente, com 90% de sua capacidade normal.

As visitas aos imóveis foram substituídas por interações virtuais, como vídeos feitos pelos proprietários. O patamar de visitações, que chegou a ter queda de 75%, no período de 22 a 28 de março, está 40% inferior ao normal. A startup atua na cidade de São Paulo. Incorporadoras ouvidas pelo Valor informam que, após o início da crise, os bancos mantiveram os mesmos critérios de análise dos repasses dos recebíveis dos clientes.

O repasse dos recebíveis dos clientes aos bancos ocorre na planta, no caso de unidades enquadradas no Minha Casa, Minha Vida, e, após a entrega das chaves, em se tratando de imóveis destinados à média e à alta renda. Segundo a MRV, o repasse para a Caixa prossegue normalmente. De acordo com o superintendente financeiro da Trisul, José Sayeg, a companhia repassou 150 unidades em abril, número que o executivo considera “ótimo”, mas que poderia ser ainda maior se os bancos não estivessem funcionando em sistema de “home office”.

“No começo da pandemia, os bancos estavam mais lentos por causa do contingente reduzido de pessoas, mas os repasses não deixaram de ocorrer”, diz Sayeg. O diretor financeiro e de relações com investidores da EZTec, Emilio Fugazza, também afirma que essas operações estão “ótimas”, com os bancos “se esforçando bastante”.

Fugazza ressalta, porém, que falta as instituições financeiras diminuírem as taxas cobradas do financiamento imobiliário, acompanhando a redução da Selic para o menor patamar histórico. “Não podemos deixar de pensar que o comprador espera que esta queda se reflita também no financiamento imobiliário”, diz o executivo da EZTec. A empresa está testando alternativas para estimular vendas, mas ainda não divulga suas estratégias.

 

Modelo de microapartamento e prédio comercial é dúvida para pós-pandemia

A perspectiva de uma nova rotina para o trabalho com a ampliação do home office mesmo após a flexibilização das quarentenas já chamou a atenção do setor imobiliário: pode levar a uma revisão no modelo de apartamentos residenciais e na estratégia de investimentos em prédios comerciais.

A avaliação é que o segmento comercial tende a ser o mais afetado inicialmente. "Ele estava começando a respirar com a recuperação da economia. Agora, com esse desarranjo, e ainda com o home office, ele deve sofrer ainda mais", afirma a coordenadora de projetos da construção do Ibre/FGV, Ana Maria Castelo.

O período de pós-quarentena também pode prejudicar a abertura de novos negócios, como salões de beleza, mercados ou lojas. Além da instabilidade e da imprevisibilidade da extensão da crise, as visitas a imóveis vazios estão suspensas e podem demorar um pouco para voltar a engrenar.

"Como você vai fazer locação agora? O cliente não vai abrir um negócio no meio de uma crise e sem visitar o imóvel", diz a diretora-geral de atendimento da Lopes, Mirella Raquel Parpinelle.

A revisão dos tamanho dos apartamentos residenciais pode demorar um pouco mais e vai depender do processo de recuperação da economia. Em capitais como São Paulo, onde imóveis com 40 m², 30 m², 20 m² e até 14 m² estão por toda a cidade, é fato que faltou espaço para o home office de muita gente. No entanto, a mudança na metragem depende de alterações na estrutura de custo dos imóveis e da renda de quem compra.

"Devemos viver um desarranjo grande no mercado de trabalho. A questão é como será essa retomada", diz Ana.

"As pessoas optaram por apartamentos pequenos porque era o que cabia no bolso. No pós-Covid, o mundo vai estar ainda mais encolhido, como a renda e o emprego. Quem mora em um apartamento pequeno e quiser mudar para um maior para fazer home office vai ter renda para isso? Pode ser que um ou outro consiga fazer isso, mas, em um primeiro momento, esse cenário é muito complicado."

Ela lembra que a legislação que regula o setor imóveis em São Paulo acabou estimulando esses tipos de construção especialmente próximos aos eixos de transporte.

Com as limitações de altura dos edifícios e percentual de aproveitamento dos terrenos, a escolha das empresas foi reduzir o tamanho dos apartamentos. As quitinetes –ou studios– e os imóveis de metragem pequena, de até 45 m², são considerados investimentos atraentes aos fundos, pois têm rotatividade alta.

Para conseguir morar em boas localizações, próximos às estações de metrô e corredores de transporte, as famílias aceitaram pagar mais por metragens menores.

O dono do Grupo Kallas, Emílio Kallas, diz que uma nova calibragem da legislação poderia reduzir o preço dos imóveis, pois permitiria ao mercado equilibrar melhor a conta dos empreendimentos.

"Se você puder construir seis vezes o terreno, todo o custo fica imediatamente menor. É uma conta de mercado." A Prefeitura de São Paulo vinha discutindo alterações nas regras, mas isso foi interrompido com a pandemia.

Para o arquiteto Silvio Kozuchowicz, da SKR Incorporadora, houve uma "apologia excessiva à miniaturização dos imóveis". Ele considera que essa mudança tirou dos imóveis qualidade, fazendo com que perdessem a integração de espaços, e essa lógica tem espaço para ser revista.

Sondagem divulgada pela Abrainc (Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias) na última semana aponta reduções acima de 40% nas vendas das empresas do segmento de médio e alto padrão. Nos lançamentos do segmento econômico, 75% das empresas estimam redução de até 20%.

 

VALOR

Crédito imobiliário com recurso da poupança sobe 19,3% em março

O crédito imobiliário com recursos da poupança movimentou R$ 6,73 bilhões em março, com alta de 19,3% em relação ao mesmo mês do ano passado e avanço de 5,6% frente ao mês imediatamente anterior, segundo a Abecip, associação das instituições que oferecem essa modalidade de crédito. No acumulado de 12 meses (abril de 2019 a março de 2020), os empréstimos para aquisição e construção de imóveis somaram R$ 83,35 bilhões, com alta de 34,9% em relação ao apurado nos 12 meses anteriores.

“Até março, portanto, pode ser considerado pouco expressivo o impacto da crise do novo corona vírus sobre o crédito habitacional”, diz a Abecip. Foram financiados 25,7 mil imóveis em março, o que representa alta de 7,5% na comparação anual e de 0,5% na comparação mensal. A Caixa se manteve na liderança do setor, com R$ 2,810 bilhões financiados nas modalidades construção e aquisição em fevereiro. O Bradesco ficou em segundo lugar, com R$ 1,397 bilhão, e o Itaú Unibanco apareceu em terceiro, com R$ 1,302 bilhão.

 

Julio Senna, da FGV, vê Selic em 3,25% com novo corte e defende cautela ao BC

Diante do aperto nas condições financeiras e do aumento dos riscos fiscais no país, o Banco Central deve continuar a adotar uma postura mais cautelosa na condução da política monetária tradicional. É o que defende José Julio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários da Fundação Getulio Vargas (FGV) e ex-diretor do Banco Central, entrevistado da “Live do Valor” nesta quinta-feira.

 “O foco dos bancos centrais não deve estar nas ações sobre o instrumento clássico, que é o juro básico. Essa não tem de ser a prioridade, mas também não quer dizer que o BC não tenha que usar isso. Sinaliza comando e mostra que tem gente cuidando das coisas. Além disso, na prática, reduzir os juros de curto prazo beneficia muita gente”, diz. Para ele, contudo, o espaço para reduzir os juros no Brasil é menor do que em outros países e, por isso, o BC deve ser cauteloso em sua postura.

Senna espera um corte de 0,50 ponto percentual na Selic na próxima semana, para 3,25%, e aponta que o tom mais conservador se faz necessário diante do aumento no risco fiscal. “Podemos estar criando nossa própria crise porque existe a chance de medidas transitórias se tornarem permanentes”, afirma.

Ele aponta que a alta recente dos juros futuros, especialmente os de prazo mais longo, está relacionada aos riscos fiscais e nota que o BC não teria como agir fortemente nesse caso. “A crise é desinflacionária e é por isso que o BC vai reduzir a Selic, mas nossas condições fiscais são preocupantes. Qual será o espaço político para o governo reduzir estímulos se o desemprego for para 17%, 18%?”, questiona Senna.

“Os juros de mercado em alta não são propriamente um problema puro de preocupação com a inflação, mas sim de risco. Claro que, se o fiscal ficar ruim em um nível permanente, as expectativas de inflação serão influenciadas, mas o BC não consegue agir sobre prêmios de risco fiscal, de crédito, de alongamento.”

Risco de empoçamento

Na avaliação de Senna, em uma crise que trouxe uma piora muito grande das condições financeiras, o Banco Central do Brasil saiu na frente e tomou medidas importantes. “O BC fez coisas muito úteis procurando deixar os bancos líquidos, montou programas de empréstimos muito bons. A direção está corretíssima.” Senna, contudo, diz que o risco de empoçamento da liquidez é “indiscutível”.

 Ele afirma que esse problema tende a ser amenizado em países com situação fiscal mais branda. “Aqui, o risco fiscal é maior e, assim, algum empoçamento é inevitável”. Ele diz, ainda, que acha arriscado o BC comprar títulos privados no momento, ao apontar que há riscos para o Tesouro. “Minha preferência é que, aqui, sejam papéis públicos”, diz Senna, alertando, ainda, que a dívida bruta do Brasil terá que subir para financiar as operações de compra de títulos.

Segundo o economista, embora outros países tenham adotado medidas de gasto público elevadas para conter os efeitos da pandemia, a recuperação no Brasil deve se dar "inevitavelmente" pelo setor privado. “Se não temos espaço fiscal agora, imagine mais adiante, com a recuperação lenta da economia. Nossa impossibilidade fiscal é grande. O processo de recuperação não poderá ser liderado pelo gasto público.”

Para Senna, a retomada do crescimento será “lamentavemente” muito lenta. Ele descarta a possibilidade de recuperação em “V”, ao apontar que as pessoas estão preocupadas com a situação. “Mesmo depois da retirada das restrições oficiais, as pessoas vão voltar a se expor aos poucos. A introdução das medidas de isolamento foi abrupta, mas a retirada será gradual. Além disso, a relação entre empregados e empregadores se modifica de forma significativa. Não sabemos com que velocidade o mercado de trabalho experimentará essa recuperação.

O ex-diretor do BC avalia que há um risco “elevado” das consequências derivadas do novo coronavírus se transformarem numa crise financeira. “A dimensão verdadeira do tamanho da crise e do impacto na atividade e no emprego é muito grande”, afirma, ressaltando a chance de haver a falência de um grande número de empresas.

Senna, porém, diz não ter uma preocupação específica com o sistema bancário, ao apontar que os bancos estão “firmes e bastante sólidos”, o que é resultado das medidas tomadas após a crise financeira de 2008.

Reservas

Questionado sobre o comportamento do mercado de câmbio, diante da forte depreciação recente da moeda brasileira em relação ao dólar, Senna afirma que não vê sentido em um programa para vender reservas e conter a valorização da divisa americana. “O acúmulo de reservas é um recurso para momentos de crise. Essa crise chegou e felizmente nós acumulamos reservas no passado.

Hoje podemos enfrentar essa situação”, afirma Senna. Ele lembra que o fluxo cambial está negativo há dois anos e nota que a saída de recursos do Brasil se dá por diferentes motivos, como a insegurança com o futuro político e com o andamento das reformas estruturais, além da política monetária mais folgada.

“O BC não quer que o câmbio se deprecie muito rapidamente, mas o dólar custar mais caro faz parte do jogo. O BC não quer interferir no nível. Ele tem de ser cauteloso com a venda de reservas e usá-las somente para suavizar os movimentos”, diz Senna.

 

Moody’s vê alta de 3 a 5 vezes na taxa de calote de empresas emergentes

A taxa de defaults de empresas não financeiras de grau especulativo nos países emergentes vai multiplicar várias vezes de tamanho com a crise provocada pelos esforços de contenção da pandemia de covid-19, afirma a Moody's. A agência de classificação de risco estima que o indicador para 12 meses pode sair de 2,2% visto no fim de 2019 para uma faixa entre 7,8% a 11,2% em março. Trata-se de um crescimento entre 3,5 vezes e 5 vezes.

A taxa pode se elevar ainda mais no ano que vem. “Dentro das nossas projeções, o índice vai subir mais e em março de 2021 pode alcançar entre 8,3% a 13,7%”, aponta a agência. Se a taxa alcançar o maior patamar previsto, de 13,7%, terá igualado os 13,6% vistos durante a crise de 2008. Apesar disso, ainda não deve superar o pico histórico para os emergentes de 18,2% atingido em maio de 2002, durante a crise da dívida na Argentina.

Segundo a Moody's, as projeções para este e o próximo ano se baseiam nas expectativas de ocorrência de uma recessão global em 2020 e de uma abertura dos spreads no mercado “high yield”, ou seja, de títulos de crédito corporativo com retornos elevados e grande risco. O cenário vai se consolidar na medida em que “as disrupções econômicas induzidas pelo vírus e as turbulências nos mercados financeiros se intensifiquem”.

A disseminação global do coronavírus tem levado a fechamento de negócios e restrições à interação social em muitos países. “O colapso nas demandas doméstica agregada e de exportações tem enfraquecido a lucratividade e liquidez de corporações nos mercados emergentes.”

A Moody's enxerga ainda vulnerabilidades significativas nos perfis de governos com ratings mais baixos. “Muitos dos países emergentes com baixa classificação estão mal preparados para lidar com uma grande emergência pública de saúde e têm capacidades limitadas tanto fiscal quanto monetária para estimular a economia”, diz a agência. Na equação de desafios, a Moody's acrescenta ainda os baixos preços do petróleo, que têm sofrido pressão com a forte queda da demanda internacional. “Os preços deprimidos de petróleo, provavelmente, vão persistir ao longo de 2020 , atingindo os países exportadores da commodity.”

Os rebaixamentos de companhias de mercados emergentes ultrapassaram as elevações de ratings em 2019 e no primeiro trimestre de 2020. “A tendência é especialmente elevado para companhias emissoras de títulos high yield.”

No primeiro trimestre de 2020, o número de rebaixamentos de ratings corporativos nos mercados emergentes dobrou comparado ao mesmo período do ano passado. “Quase metade dos downgrades deste ano ocorreu após 11 de março, quando a Organização Mundial de Saúde declarou a pandemia.”

 

BC deve repetir corte da Selic em meio a ruídos políticos

Diante de um cenário que está sendo construído dia após dia, uma certeza parece permear as análises no mercado: o Banco Central precisa buscar maneiras de estimular a economia em um momento que uma dura contração se avizinha. O ponto crucial na política monetária, entretanto, é a magnitude do corte de juros em um ambiente tão instável.

Depois de cogitarem um afrouxamento mais agressivo, os analistas de mercado adotaram um pouco mais de cautela devido à crise política e convergiram as expectativas para uma queda de 0,50 ponto percentual da Selic na próxima decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do BC.

De acordo com pesquisa conduzida pelo Valor com 63 instituições financeiras e consultorias, 46 esperam redução da Selic do nível atual de 3,75% para 3,25% na quarta-feira que vem, o que seria um corte de mesma magnitude da última decisão do colegiado, em março. A leitura é respaldada pela forte queda das expectativas de inflação e pela ampla contração da atividade, que indicam a necessidade de afrouxamento monetário, em um momento que bancos centrais de todo o mundo têm derrubado juros.

Até poucos dias atrás, havia grande expectativa de que o afrouxamento seria ainda mais agressivo. No entanto, a crise política gerada pela demissão de Sergio Moro do governo reforçou a cautela entre os analistas. Agora, entre os 63 profissionais de mercado consultados, 15 veem corte de 0,75 ponto na decisão de maio.

 O ASA Bank, por exemplo, tinha em seu cenário uma redução de 1 ponto percentual, mas revisou a estimativa para a metade devido à nova onda de instabilidade. “Com a piora das condições financeiras e o aumento do risco-país, acreditamos que a sinalização do BC de que poderia aumentar o ritmo do corte já não é mais adequada. Por isso, achamos que o movimento de março será repetido”, afirma o diretor de pesquisa econômica do banco e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall.

Nos dias que precederam a crise política, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, vinha enfatizando a queda das expectativas de inflação e a contração da atividade, enquanto o mercado estava dando sinais de acomodação após todo o estresse de março. O discurso foi considerado, então, como um sinal do espaço para corte de juros, mas o nervosismo em Brasília voltou a estremecer os ativos locais e trouxe dúvidas sobre a magnitude da ação do BC.

Na pesquisa, há duas casas (Wells Fargo e Órama) que veem ajuste de apenas 0,25 ponto desta vez. “O risco político está elevado no Brasil há algum tempo e o espectro está mais complexo desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro em 2018”, diz Brendan McKenna, estrategista do Wells Fargo.

 Ele aponta que a resposta do governo aos impactos do coronavírus e as recentes mudanças no gabinete abalaram os mercados, o que deve se refletir na condução da política monetária. Entre as grandes preocupações decorrentes da turbulência política está um redirecionamento da política fiscal do governo, com aumento de gastos permanentes.

 “Com o risco de a agenda de reformas perder força e o risco de que alguns gastos propostos para o combate ao coronavírus se tornem permanentes, o Banco Central talvez tenha que desacelerar a queda ou mesmo aumentar a taxa de juros antes do previsto devido a um aumento no juro neutro”, alerta Luis Bento, analista da Rio Bravo.

 Para o fim do ano, as expectativas estão bastante divididas. Um pouco mais da metade dos participantes (35) veem juros abaixo de 3% ainda este ano, enquanto os demais (28) colocam a taxa Selic acima desse nível. O grande ponto de discussão, mesmo para quem ainda vê cortes mais agressivos da Selic, é a âncora fiscal. “Riscos fiscais são limitadores do patamar final que a taxa Selic pode alcançar. Grande parte do risco fiscal aconteceu na antevéspera da última reunião após a decisão da Câmara sobre o BPC [Benefício de Prestação Continuada]. Logo, não vislumbramos como algo que se torne impeditivo na reunião corrente”, afirma Tomás Goulart, economista-chefe da Novus Capital, que vê Selic de 3% em maio e de 2,5% no fim do ano.

Os analistas do Bradesco reconhecem que o risco fiscal aumenta se as medidas de estímulo não ficarem circunscritas a 2020. Mas destacam que há uma âncora fiscal importante à frente, que tem sido respeitada. “A manutenção do teto dos gastos é uma mensagem importante de comprometimento com o ajuste fiscal, inclusive com mais reformas”, acrescentam os especialistas, que veem Selic a 3% em maio e 2,25% no fim do ano.

 

Desigualdade deve prolongar retomada do PIB após pandemia

Passada a fase mais aguda de paralisia da atividade por causa do novo coronavírus, o Brasil pode mostrar uma recuperação econômica mais lenta do que outros países e ainda sujeita a solavancos, afirma Armando Castelar, coordenador de macroeconomia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV).

No cenário mais pessimista, em que a reintrodução de medidas de isolamento social se faça necessária, a queda do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro pode ficar na ordem de 8% em 2020 e a possibilidade de outro recuo em 2021, na casa de 3%, não está descartado. “Fala-se muito em recuperação em ‘V’ para o mundo, mas o meu receio é que acabemos tendo um movimento em ‘U’ ou ‘W’”, afirma.

No cenário de retomada lenta ou de altos e baixos, a queda acumulada de renda da população durante o período de crise poderia superar os dois dígitos, opina Castelar. A projeção oficial do Ibre/FGV, por ora, aponta para baixa de 3,4% do PIB neste ano. Pesa contra o cenário doméstico as características históricas de desigualdade social, que apontam para um prolongamento da epidemia agora que a doença avança mais rapidamente nas regiões mais carentes.

“A dinâmica da pandemia no Brasil é diferente porque há uma questão social envolvida. Chegando nas comunidades, é como se tivéssemos duas curvas de infecção. Uma [das áreas mais ricas] começa a se acalmar e a outra sobe”, afirma. A crise sem precedentes forçada pela disseminação da covid-19 afeta todo o planeta, da Ásia à Europa, com impactos brutais nas taxas de desemprego, na atividade industrial e no setor de serviços, e no endividamento público, explica Castelar.

As projeções mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) sugerem queda de 3% no PIB mundial em 2020 e alta de 5,8% no ano que vem. A recuperação, no entanto, será desigual. Com exceção da Ásia, motor do crescimento global nos últimos anos, a estimativa é que o restante das nações só consiga voltar ao nível pré-crise em 2022.

Isso também se aplica ao Brasil. O cenário do FMI prevê queda de 5,3% do PIB em 2020, alta de 2,9% em 2021 e, para recuperar o terreno perdido na crise, crescimento de 2,6% em 2022. A previsão para 2022, ressalta Castelar, tem grande chance de não se concretizar. “Esse número de 2,5% é o valor padrão que os economistas utilizam para calcular o PIB de anos seguintes, é como se fosse o potencial de crescimento”, alerta.

Segundo o economista, as sequelas deixadas pela crise não serão facilmente sanadas. “Se as projeções do FMI se confirmarem, retomamos o nível de atividade em 2022, só que estaremos 5% mais pobres”, estima. No caso brasileiro, o choque é mais crítico porque a economia vinha de uma recuperação frágil e a dívida pública já era elevada perante a média dos países emergentes. “É uma crise que vai repercutir no médio prazo, não é um ‘V’ como a crise financeira internacional de 2008 e 2009”, diz.

A retração do PIB será profunda mesmo nos países em que a quarentena não foi a solução adotada para conter o vírus. Na Suécia, a estimativa é recuo de 6,8% da atividade em 2020, e uma recuperação de 5,2% no ano que vem. Em igual comparação, o Japão deve contrair 5,2% e depois crescer 3%. Segundo Castelar, é sinal inequívoco de que o isolamento social tem sido voluntário nesses locais.

O impacto da pandemia também será sentido no mercado de trabalho e deve levar a taxa de desemprego no Brasil para 17,8% em 2020, diz o Ibre/FGV. Na quinta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a desocupação no país foi de 12,2% no 1° trimestre.

Os trabalhadores informais perderam 1,9 milhão de postos de trabalho no período, do total de 2,3 milhões de vagas fechadas. Movimento semelhante ocorrerá nas economias avançadas. Os Estados Unidos devem sair de uma taxa de desemprego de 3,7% em 2019 e terminar este ano em 10,4%, segundo o FMI. Em 2021, o índice seguirá alto para os padrões americanos, caindo a 9,1%.

 

Crise do coronavírus pode tirar até R$ 500 bi do consumo

A crise do coronavírus, que já compromete a renda e o poder de compra das famílias, pode tirar até R$ 500 bilhões dos bolsos dos brasileiros neste ano. A retração vai levar à redução da demanda e da produção em diversos setores, minando a força da recuperação no pós-pandemia.

Áreas como turismo e transporte já sentem a contração na demanda, mas, com base na queda de consumo observada em outras crises, a tendência é que a retração se espalhe por outros segmentos, até no setor de alimentos.

O consumo das famílias é o principal motor da economia brasileira —equivale a cerca de dois terços do PIB (Produto Interno Bruto).

Segundo cálculos do Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), a suspensão de atividades provocará uma contração de até 8% no consumo das famílias brasileiras e uma queda de até 15% na massa salarial dos trabalhadores. Os números consideram o cenário mais pessimista traçado pela instituição, de uma queda de 7% do PIB brasileiro.

No cenário otimista, que projeta uma retração de 3,4% da economia, o consumo teria um recuo de 4% e os salários de 5,9%, sempre considerando as medidas já anunciadas pelo governo para amenizar a queda na renda dos trabalhadores, que ainda assim ficaria em mais de R$ 200 bilhões.

Se o pior cenário se confirmar, o consumo das famílias registrará o pior resultado da série histórica do IBGE, com início em 1995. Na melhor hipótese considerada pelo Ibre, o indicador praticamente repete o desempenho de 2016, quando recuou 3,8%, diante da queda de 3,3% do PIB —mas essa projeção se torna cada dia menos factível. A queda na massa de salários é recorde nos dois cenários traçados.

O consumo, nos últimos três anos, cresceu a uma taxa média de 2%, praticamente o dobro do desempenho geral da economia. Ou seja, representou um motor importante para evitar a estagnação.

As medidas anunciadas pelo governo para minimizar a perda na renda de trabalhadores formais e informais vai repor apenas parte da redução dos salários. A MP (Medida Provisória) 936 permite que as empresas suspendam contratos de trabalho de seus funcionários e reduzam jornada e salários. Trabalhadores que tenham o contrato suspenso ou reduções de jornada e salário terão um benefício do governo que pode chegar a 100% do que receberiam de seguro-desemprego em caso de demissão (que hoje varia entre R$ 1.045 e R$ 1.813,03).

Esse benefício será acumulado, na maioria dos casos, com o pagamento de uma ajuda compensatória mensal pelo empregador. Mesmo assim, o valor final pago deverá ficar abaixo do rendimento médio dos trabalhadores como carteira, de R$ 2.340.

Para o trabalhador informal, foi criado o programa de auxílio com valores de R$ 600 e R$ 1.200 mensais. Nas duas hipóteses, o valor do auxílio conhecido como “coronavoucher” está abaixo da renda média do trabalhador sem carteira, que é de R$ 1.427.

Mais de 4 milhões de pessoas já estão recebendo compensações, segundo o Ministério da Economia. Há ainda 1 milhão de trabalhadores demitidos desde o início de março e que receberão o valor normal do seguro-desemprego.

O governo também anunciou o reforço do Bolsa Família e o saque extraordinário do FGTS. Sem essas medidas, a contração seria ainda maior.

Sob a ótica da produção, o setor mais afetado pela crise deve ser o de serviços (incluindo comércio), com uma contração de 16% na pior hipótese traçada pelo Ibre, ante queda de 12% na indústria.

Dados da empresa de pagamentos Stone mostram que as vendas dos serviços de turismo e eventos, por exemplo, tiveram queda superior a 90%, segundo dados que comparam os períodos de 5 de janeiro a 21 de março e de 22 de março a 17 de abril. Também houve queda nas vendas de softwares, peças para veículos, flores e material de construção.

Levantamento da Nielsen que inclui hipermercados, supermercados e redes de mercados de vizinhança, Cash&Carry (as chamadas redes de atacarejo) e farmácias mostram que o consumo de alimentos nesses estabelecimentos cresceu, mas isso não significa necessariamente ganhos para todas as empresas envolvidas nessas cadeias.

O aumento foi de 12% em relação ao mesmo período do ano passado, sendo que cerca da metade do crescimento se deu a partir da acumulação de estoques para despesa na segunda quinzena de março, fator que pode estar distorcendo o resultado.

“Nesse período acumulado, a gente vê um movimento de ganho de consumo, acima do que se costuma vender, bastante puxado pelo início do isolamento, na semana de 22 de março. Foi uma semana de crescimento muito expressivo, um patamar de vendas que chegou a ficar em linha com a venda da Black Friday do ano passado. Algo atípico para um mês de março”, afirma Fernanda Vilhena, gerente de atendimento ao Varejo da Nielsen Brasil.

Vilhena diz que os números mostram apenas as vendas feitas a pessoas físicas ou pequenos varejistas, aqueles que vão a esses estabelecimentos. Não inclui parte relevante da venda de alimentos, que é feita, por exemplo, para redes de restaurantes, que restringiram suas atividades por causa da quarentena.

Dados da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares) de 2017-2018 mostram que um terço dos gastos do brasileiro com comida eram alimentação fora do domicílio. Dois terços foram feitos com alimentação na residência, mas essa relação deverá se alterar em 2020 por conta da quarentena.

Além disso, muitos varejistas tiveram aumento de custos, por causa da alta de preços e das medidas necessárias para ampliar medidas de higiene de forma a proteger clientes e funcionários.

“Embora o resultado das vendas seja muito positivo, os custos aumentaram muito, com limpeza de lojas, revisão da parte logística, alguns adaptaram para separar quem está no caixa do consumidor. Os produtos também estão mais caros e não dá para repassar para o consumidor. As vendas estão acontecendo, mas na hora de colocar tudo na balança, nem sempre o resultado é positivo”, afirma a gerente de atendimento ao Varejo da Nielsen Brasil.

 

ESTADÃO

Mercado de fundos imobiliários retoma captações, mas só para investidor qualificado

Após o baque sobre o mercado financeiro, os gestores de fundos de investimentos imobiliários (FIIs) começaram a retomar os processos de captação de recursos, paralisados pela pandemia do coronavírus. A gestora RBR lançará nas próximas semanas uma oferta subsequente (follow on, no jargão do mercado) para captar entre R$ 100 milhões e R$ 200 milhões para seu FII de crédito imobiliário – que financia construtoras e recebe os apartamentos como garantias. A oferta será do tipo restrita, isto é, voltada apenas a investidores qualificados.

Tem mais. Neste mês, a Mogno Capital lançou uma oferta, também restrita, para levantar aproximadamente R$ 70 milhões para seu fundo de fundos imobiliários. A expectativa é de que o mercado de FIIs ganhe força a partir de maio, mas sem a mesma euforia que o marcouantes da crise, quando houve atração massiva de pessoas físicas para fundos em operações que movimentavam centenas de milhões de reais.

Mas para poucos. Diante do cenário turbulento, as próximas transações serão voltadas a investidores qualificados, como family offices, fundos de pensão e outros investidores institucionais.

 

 

 

 

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