Quarta-feira

VALOR

Indústria da construção tem em março mais rápida e abrupta retração da série histórica

A retração da indústria da construção no mês de março foi a mais rápida e abrupta da série histórica, sendo o período fortemente afetado pela pandemia do novo coronavírus, segundo aponta Sondagem da Construção, divulgada nesta terça-feira, 5, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). A pesquisa mostra quedas acentuadas em todos os indicadores: utilização da capacidade operacional, condições financeiras, confiança, expectativas para os próximos seis meses e intenção de investimento.

O índice de evolução do nível de atividade ficou em 28,8 pontos em março, o que demonstra queda intensa e disseminada. O indicador varia de 0 a 100, com linha divisória de 50 pontos, que separa crescimento e queda do nível de atividade. Valores abaixo de 50 pontos são considerados retração. "É o valor mais baixo da série histórica. Indica recuo de intensidade e disseminação jamais registrados na série mensal", explica do economista da CNI Marcelo Azevedo, em nota divulgada pela entidade.

Segundo o levantamento, o índice de nível de atividade efetivo do setor em relação ao usual recuou para 25,5 pontos. Esse indicador mostra quão aquecida está a atividade da indústria da construção. O índice alcançado é o segundo menor da série, só superando os 25,3 pontos de fevereiro de 2016.

O índice de Utilização da Capacidade Operacional também refletiu a interrupção das atividades produtivas na indústria da construção em decorrência da covid-19. Esse indicador recuou 8 pontos porcentuais na comparação mensal, ficando em 52% em março. É o menor porcentual da série histórica, que tem início em janeiro de 2012.

Apesar da baixa atividade no setor, a queda no emprego não foi tão intensa. O indicador de evolução do número de empregados registrou 39 pontos, 11 pontos abaixo da linha divisória dos 50 pontos.

Segundo a CNI, entre os motivos para uma retração menor que a da atividade estão a rapidez e a surpresa da queda da atividade e a possibilidade de os empresários adotarem medidas temporárias para preservação de empregos, como redução proporcional de salário e jornada, o que foram alternativas à dispensa permanente.

"Mas não sabemos como vai ficar nos próximos meses, devido a forte contração da atividade e das expectativas", afirma o diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI, Carlos Abijaodi.

Para os próximos seis meses, a pesquisa aponta uma preocupação do empresário da indústria da construção com o futuro imediato. Os índices de expectativas do nível de atividade e de novos empreendimentos e serviços recuaram 27,4 e 26,6 pontos, respectivamente, em abril na comparação com março. Os indicadores de expectativas de compras de insumos e matérias-primas e do número de empregados recuaram, 24,9 e 22,8 pontos, respectivamente, no mesmo período.

Esses números representam o menor patamar atingido por todos os indicadores de expectativas desde o início das séries históricas.

O Índice de Confiança do Empresário da Construção (ICEI-Construção) registrou 34,8 pontos em abril, uma queda de 24,5 pontos no mês, o maior recuo mensal da série. Essa falta de confiança, segundo avalia a CNI, traduz o cenário atual de forte contração na atividade e elevada incerteza em razão da pandemia de covid-19. A falta de confiança dos empresários, alerta a entidade, vai contribuir para a paralisação dos investimentos, o que pode agravar a crise econômica.

A queda do faturamento e do nível de atividade se refletiu na piora da situação financeira das empresas da construção. Segundo a pesquisa, o índice de satisfação com a situação financeira registrou 38,6 pontos, redução de 6,2 pontos frente ao quarto trimestre de 2019. O indicador de satisfação com a margem de lucro operacional registrou 34,1 pontos após queda de 5,8 pontos em relação ao quarto trimestre de 2019. O acesso ao crédito também se tornou mais difícil no primeiro trimestre de 2020. O índice de facilidade de acesso ao crédito recuou 5,4 pontos, de 37,6 pontos para 32,2 pontos.

A Sondagem da Construção foi feita entre os dias 1.º e 14 de abril, com 411 empresas.

 

PIB pode encolher até 11%, prevê UFRJ

A crise econômica provocada pela covid-19 pode custar até 19% dos empregos na indústria brasileira de transformação em 2020. A perda de até 14,7 milhões de postos de trabalho formais e informais no país - incluindo 2,08 milhões especificamente na indústria de transformação - é parte de um dos cenários que compõem um estudo mais amplo. No trabalho, economistas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) estimaram o impacto da pandemia sobre a economia nacional com base em informações de 123 produtos e serviços, distribuídos por 67 atividades econômicas.

O corte de quase 15 milhões de vagas seria consequência de uma retração (inédita) de 11% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano. O cenário é o mais pessimista dos três desenhados pelo Grupo de Indústria e Competitividade (GIC), do Instituto de Economia. As projeções mais otimistas apontam para uma variação negativa do PIB de 3,1% em 2020, com uma redução de 4,7 milhões de empregos.

Coordenadora do estudo, Esther Dweck sustenta que, mesmo com a desvalorização do real frente ao dólar, as exportações brasileiras tendem a contribuir pouco para a recuperação econômica do país no curto e médio prazos. Os investimentos das famílias e das empresas também teriam efeitos limitados, argumenta a economista. No caso das famílias, pesa negativamente o endividamento delas. As empresas, por sua vez, sofrem os efeitos das incertezas geradas pelo novo coronavírus. E, por isso, tendem a represar investimentos. “O governo pode atuar por meio da transferência de renda e do investimento público”, diz Esther.

Nos três cenários desenhados pelo GIC (pessimista, de referência e otimista), apenas a administração pública apresenta expansão no número de ocupações (funcionários), entre os 12 setores produtivos examinados. Os melhores resultados da administração pública, quando comparada a outros setores, estão relacionados justamente à necessidade de investimentos para ampliar a oferta de infraestrutura e serviços de saúde durante a pandemia.

Essa necessidade de investimentos se choca com o quadro atual de perda de receita tributária projetado pelo Grupo de Indústria e Competitividade. No cenário intermediário (de referência), a estimativa é de que a arrecadação com tributos indiretos (IPI, ICMS e ISS, entre outros) sofra uma perda da ordem de R$ 85,8 bilhões ao longo do ano.

Desse total quase metade seria de recursos do ICMS, imposto estadual que é repartido (25%) com os municípios. “Se não forem compensados [pela União], Estados e municípios vão ter de cortar serviços”, afirma Fabio Freitas, professor do Instituto de Economia. A indústria de transformação responde por aproximadamente 70% da perda total prevista para a arrecadação tributária em todos os três cenários.

O impacto da diminuição na demanda provocado pela pandemia vai afetar mais fortemente - em termos de desemprego - os setores de comércio e de outras atividades de serviços, segundo indicam as simulações. Para a atividade comercial, a perda de vagas de trabalho poderia alcançar 3,67 milhões de vagas, no cenário mais pessimista. E 1,52 milhão de acordo com a simulação mais otimista.

O ramo de outras atividades de serviços, que engloba serviços domésticos e alimentação fora de casa, perderia - no mínimo - 1,59 milhão de postos de trabalho. A queda potencial da massa salarial, porém, é inferior à diminuição no volume de brasileiros ocupados. A diferença pode ser explicada pelo fato de os setores mais afetados pela pandemia possuírem salário médio inferior aos dos menos atingidos pela desaceleração econômica. A velocidade da recuperação econômica no país vai depender em grande parte de ações governamentais, destaca Fabio Freitas. “As políticas fiscais e monetárias serão essenciais para manter empresas e o sistema financeiro saudáveis”, argumenta.

As simulações realizadas para o estudo “Impactos macroeconômicos e setoriais da covid-19 no Brasil” foram feitas a partir de dados da Matriz de Insumo-Produto (MIP) de 2017, a cargo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram levados em consideração no trabalho impactos diretos e indiretos sobre as 67 atividades da MIP agregadas em 12 setores.

 

Mínima histórica da Selic levanta dúvida sobre limite da política monetária

A política do Banco Central em estimular a atividade via redução agressiva da taxa básica de juros tem sido colocada em debate. Embora a discussão passe longe de um consenso, um grupo de analistas acredita que a política monetária tradicional pode estar se aproximando de seu limite, o chamado “effective lower bound”, principalmente diante dos riscos estruturais que têm se acumulado no horizonte.

O “lower bound” seria a taxa de juros a partir da qual o BC não consegue mais estimular a economia com quedas adicionais de juros, explica a economista-chefe da ARX Investimentos, Solange Srour. Esse valor depende de vários fatores, como as condições fiscais do país, a aceitabilidade da moeda local como reserva de valor, as condições das contas externas e a estabilidade institucional.

“Na minha opinião, já estamos bem próximos desse ‘lower bound’ e não devemos testar esse limite sob o risco de aumentar o prêmio de risco do país. Não há hoje uma estabilidade da dívida/PIB, a taxa de câmbio se encontra em uma dinâmica bem negativa e a curva de juros permanece muito inclinada por fatores domésticos”, explica. Para ela, testar o “lower bound” pode ser contraproducente. “Vejo uma perda de potência da política monetária no momento de máxima incerteza quanto à continuidade da agenda de reformas pós pandemia”, conclui Solange.

Grande parte do mercado espera que o Comitê de Política Monetária (Copom) anuncie um novo corte da Selic hoje, levando a taxa do nível atual de 3,75% para 3,25%. No entanto, em pesquisa conduzida pelo Valor, quase metade dos analistas acredita que a taxa deveria ficar em 3% ou acima disso em 2020, enquanto os demais esperam que o colegiado teste patamares ainda menores antes do fim do ano.

Na avaliação do gestor de fundos multimercados da XP Asset Management, Bruno Marques, juros nominais em zero ou em níveis negativos não podem ser aplicados no Brasil. “Somos emergentes, com dívida bem alta e uma trajetória fiscal preocupante. Precisamos de um nível de juro acima dos países desenvolvidos.” “Se tivermos o mesmo nível de juros que os Estados Unidos, vamos ter dificuldade para rolar a nossa dívida porque as pessoas vão preferir ter dinheiro em dólar, e não em real”, afirma Marques.

Assim, para ele, o Brasil tem de ter um prêmio de crédito a mais do que os EUA, o que seria bem definido pelo CDS de 1 ano. Usando essa métrica, o gestor diz que o “lower bound” para a Selic estaria entre 1% e 1,5%. Ele, contudo, aponta que o financiamento da dívida também deve ser considerado. “Não podemos usar a política monetária a ferro e fogo. Quem vai dizer qual o limite máximo para a queda de juros é o credor.”

Assim, Marques defende que o BC continue a implementar cortes no juro básico, mas de forma ordenada. Para ele, “a estratégia ótima é dar prosseguimento à redução nos juros e deixar o mercado sinalizar se existe algum problema e, quando chegarmos perto desse nível, paramos o afrouxamento”.

O gestor da XP Asset aponta, então, que a Selic pode ir para algo entre 2% e 2,5%, mas alerta que esses níveis têm de levar em consideração o comportamento do mercado. Já a economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, acredita em um nível um pouco maior, ao considerar a taxa de juro real. Ela lembra que o cenário para mercados avançados e emergentes é “bastante distinto” e diz acreditar que a taxa real no campo ligeiramente negativo pode ser considerada o “effective lower bound” no Brasil.

Devido à firme queda das expectativas de inflação e do cenário de contração econômica que se avizinha, boa parte dos analistas afirma que há espaço para testar os limites da política monetária com corte agressivos de juros. A condição, entretanto, é que medidas fiscais emergenciais fiquem circunscritas ao período de pandemia, tendo em vista que um descontrole das contas públicas poderia prejudicar as perspectivas do país.

 Para o superintendente de pesquisa econômica do Itaú Unibanco, Fernando Gonçalves, o risco do aumento de gastos públicos é a elevação do juro de equilíbrio da economia, o que limita o espaço para afrouxamento monetário. Isso porque a queda da Selic para algo muito mais baixo que a taxa neutra pode tirar atratividade de títulos públicos e desencadear uma saída de capitais do país. “Esse é o momento em que o Banco Central deveria adotar maior cautela. Deve cortar juro, mas de forma cautelosa. Um movimento muito abrupto e acelerado não parece ser adequado”, diz.

Acreditamos que, na ausência da materialização de riscos adversos, o Copom deverá testar esse ‘lower bound’ ao longo de 2020, de maneira gradual, a passos de reduções de 0,50 ponto percentual da Selic ou até 0,75 ponto”, explica a economista-chefe da GAP Asset, Anna Reis, que vê esse limite em uma Selic de 2%. Diante do risco de um corte mais pronunciado de juros, o dólar comercial enfrentou mais um dia de forte alta.

Na contramão dos ganhos da bolsa brasileira e de outras divisas emergentes, a moeda americana subiu 1,31% contra o real, aos R$ 5,5933, após tocar R$ 5,6043 na máxima do dia. Além da questão da política monetária, o movimento se apoiou na busca por proteção devido à instabilidade política e à forte queda na produção industrial de março.

 

Fitch altera perspectiva de nota do Brasil para ‘negativa’

A Fitch Ratings revisou a perspectiva da nota de emissor de longo prazo em moeda estrangeira do Brasil de “estável” para “negativa” e reafirmou o rating em “BB-”. Segundo a agência de classificação de risco, a decisão “reflete a deterioração dos cenários econômico e fiscal brasileiro e de riscos de piora para ambas as dimensões, diante da renovada incerteza política, incluindo tensões entre o Executivo e o Congresso, além das incertezas sobre a duração e intensidade da pandemia de covid-19”.

Os fatores, acrescenta a agência, “podem inibir a capacidade do governo para um ajuste fiscal e implementação de reformas econômicas após a pandemia e em meio a uma resposta política emergencial considerável”. A Fitch ressalta ainda que o Brasil entra nesse período de estresse com um balanço fiscal relativamente fraco e baixo crescimento econômico.

A pandemia, e a recessão que virá com os efeitos do combate à disseminação do vírus, vão aumentar o endividamento público, corroer a flexibilidade fiscal e elevar a vulnerabilidade a choques. Por outro lado, diz a Fitch, os ratings do Brasil têm suporte na ampla e diversificada economia, uma renda per capita mais alta do que a dos pares e a capacidade de absorver choques externos, sustentada pela taxa de câmbio flutuante, desequilíbrios externos apenas moderados, reservas internacionais robustas e um mercado doméstico de dívida pública profundo.

O PIB brasileiro deve contrair 4% em 2020, com riscos pendendo para baixo, estima a agência. Uma retração média de 0,6% nos últimos cinco anos reflete uma recuperação lenta após uma longa e profunda recessão em 2015 e 2016, pondera a Fitch. Além do cenário externo mais deteriorado, com a desaceleração significativa da China, que é um parceiro comercial chave para o Brasil, a recessão global, a queda de preços de commodities e o aperto nas condições financeiras internacionais, as medidas de combate ao coronavírus vão levar a uma contração aguda na atividade econômica doméstica e elevar a taxa de desemprego.

Para 2021, a Fitch espera um crescimento do PIB de 3%, na medida em que o país se recupere da pandemia e ofereça respostas ao conjunto de medidas fiscais, quasi-fiscais e monetárias adaptadas pelas autoridades para prevenir um colapso econômico mais profundo. A Fitch acredita que diante das incertezas da duração da pandemia, medidas fiscais adicionais, incluindo a extensão dos diferimentos de impostos e novos gastos, não podem ser descartados.

Apesar de as autoridades estarem comprometidas com a obediência da regra do teto de gastos, uma importante âncora fiscal em 2021, a agência vê desafios com as novas iniciativas de gastos para estimular a economia em um cenário pós-crise ou ainda uma extensão das medidas já implementadas, “especialmente no contexto de flexibilidade limitada para cortar despesas discricionárias”.

O ambiente político tem sido marcado por uma relação volátil entre o Executivo e o Congresso, pontua a Fitch, “que foi contaminado nas semanas recentes com a renúncia do ministro da Justiça, Sergio Moro, que acusou o presidente Jair Bolsonaro de interferência política na Polícia Federal”.

Segundo a agência, “apesar de a administração e o Congresso terem trabalhado em conjunto para aprovar a importante reforma da Previdência em 2019 e as recentes medidas emergenciais para dar suporte à economia, as fricções periódicas têm reduzido a previsibilidade dos resultados econômicos e políticos e nubla as perspectivas das reformas após a pandemia”. A Fitch nota que “a agenda de reformas tem sido despriorizada à luz da pandemia e sua retomada permanece incerta devido às eleições municipais em outubro”.

 

ESTADÃO

Ilan explica por que a cautela é necessária

Numa das maiores crises econômicas da era moderna, o Brasil enfrenta dilemas de política econômica cujas respostas podem ter consequências por décadas. Na área fiscal, há o risco de destruir a penosa e incompleta (antes da crise) tarefa de conquistar a solvência pública estrutural, um trabalho iniciado na década de 90. Se a enorme montanha de gastos para combater a crise da Covid-19 for temporária, isso não ocorrerá. Caso contrário, torna-se um grande perigo.

Na área monetária, como nota Ilan Goldfajn, ex-presidente do Banco Central, hoje presidente do conselho do Credit Suisse no Brasil, circulam ideias que, igualmente, poriam em risco avanços e trunfos que levaram décadas para serem conquistados.

Dois temas que despontam no noticiário econômico se entrelaçam para constituir um caminho extremamente arriscado: emissão monetária para custear o gasto fiscal com a crise e um “choque” de juros para levar a Selic, a taxa básica, para muito abaixo do seu equilíbrio (para próximo de zero) o mais rápido possível.

Neste segundo caso, a ideia é usar todo o combustível monetário convencional disponível de uma vez só para ajudar empresas e famílias a rolar as suas dívidas (o estímulo monetário mesmo funcionaria para a retomada que ocorreria mais adiante, pela defasagem de política monetária e quando o isolamento já permitir).

Já que a inflação está indo para baixo do piso da meta este ano, e aparentemente permanece ancorada próxima às metas nos anos subsequentes, apesar da desvalorização explosiva, desta vez não seria o caso de reduzir os juros aos poucos, como os bancos centrais costumam fazer em momentos de muita incerteza.

De quebra, Selic zero, ou perto disso, seria uma poderosa ajuda fiscal, já que a taxa remunera boa parte da dívida pública.

No limite, como explicam os especialistas, “emissão de moeda” com a Selic a zero seria redundante, pois o governo poderia financiar gastos de forma tradicional e também a custo zero, emitindo dívida de curtíssimo prazo.

Em relação à ideia de levar a Selic para muito abaixo do equilíbrio de médio prazo (perto de zero) em alta velocidade, o economista alerta que “a gente não pode tomar conquistas dos últimos trinta anos como um dado inelutável da realidade”.

E que conquistas são essas?

Ilan nota que o Brasil se destaca no cenário emergente como uma país absolutamente não dolarizado, no qual a grande maioria das pessoas, empresas e instituições concebe e realiza a sua poupança em reais, e no qual, nos últimos anos, o repasse da desvalorização cambial para os preços tem sido extremamente baixo.

Megadesvalorização

Os defensores da ideia de que a Selic pode ser drasticamente reduzida para níveis próximos a zero, em alta velocidade, argumentam que a inflação tem boas chances de ficar bem abaixo da meta este ano, e não há até agora nenhum sinal de repasse cambial relevante da megadesvalorização.

Para Ilan, é importante levar em consideração o balanço de riscos.

Com a crise do coronavírus, o Brasil está incorrendo em gastos emergenciais que podem levar a relação dívida/PIB de menos de 80% pré-crise para 90% ou até 100% depois. A cena política e institucional do País está num dos momentos mais conflagrados das últimas décadas e não está claro como esse fardo fiscal será financiado nem ao menos se é garantido que gastos transitórios não se transformem em despesa permanente. A possibilidade de uma nova rodada de reformas nos próximos anos, para retomar a construção da solvência fiscal estrutural, parece cada vez mais difícil.

Tudo isso significa mais risco sendo jogado na equação, sem que necessariamente seja captado imediatamente por termômetros como o CDS, muito especificamente construído em cima de papéis externos do País.

Como explica Ilan, num contexto em que não existem controles de capital e repressão financeira, a decisão de levar a Selic a zero tem que ser balanceada com as opções que o investidor tem fora do Brasil.

Isso inclui não só o estrangeiro, mas também o brasileiro que poupa em reais. Quando o juro doméstico for zero, assim como já é zero nos Estados Unidos, investirá aqui quem esperar que o real, que está cada vez mais barato, volte finalmente a se valorizar para compensar todo o risco maior de investir no Brasil.

O problema é que, dados os riscos que estão se materializando, e dado que o real não é uma moeda de reserva internacional e, nem ao menos, uma moeda conversível, não se deve descartar 100% a possibilidade de que, de forma provavelmente súbita, a disparada do dólar passe a se percebida pelos agentes como um sinal de que está ocorrendo fuga da moeda local por falta de credibilidade e dúvidas sobre o futuro. E aí a percepção de que o “overshooting” da desvalorização cambial vai ser “devolvido”, de que tudo que sobe tem que descer, pode se perder.

Não é preciso ir muito longe na geografia ou na história para testemunhar situações como essa. É isso o que ocorre ainda hoje na vizinha Argentina, é isso que ocorreu no Brasil em 2002 e 2003, quando, apesar de grande hiato do produto, a inflação disparou com a disparada do dólar.

Uma ressalva é importante. Ilan não considera provável esse cenário. O problema é que, para ele, parece que aqueles que desconsideram o balanço de risco pensam que esse cenário é impossível. E isto ele não é, tornando-se tão menos provável quanto mais o risco de que ocorra seja levado em conta pela política fiscal e  monetária.

Para o economista, a atual conjuntura em que o dólar dispara e a inflação e os juros não acompanham é o resultado de um esforço de décadas de construção de uma moeda confiável no Brasil. Juros altíssimos foram pagos a poupadores em real desde a década de 90 justamente para que a economia brasileira não se dolarizasse e empresas e cidadãos do País mirassem poupar na moeda nacional.

O Brasil graduou-se numa primeira etapa desse processo de evolução institucional, e agora, diferentemente de alguns emergentes, consegue ter juro e inflação baixos em meio a uma catástrofe econômica global. Mas isso não quer dizer que o País já esteja na mesma condição dos emissores de moedas reserva, como Estados Unidos, zona do euro, Suíça ou Japão. O edifício brasileiro ainda tem fragilidades e é justamente em função de decisões erradas em meio a um furacão como o atual que ele correria o risco de desabar.

Reservas internacionais

Um argumento final dos que consideram que os riscos enxergados por Ilan são exagerados é que o governo brasileiro é credor em dólares, a soma das reservas menos a posição líquida em swaps cambiais.

Assim, se o câmbio disparar, basta deixar que isto ocorra até o ponto em que o governo poderia recomprar toda a dívida pública com as reservas internacionais.

Ilan acha ilusória a ideia de que reservas adquiridas com aumento de endividamento público tenham esse poder todo, embora considere que sejam um ótimo instrumento para mitigar o risco.

Em caso de perda de confiança na moeda, vários processos perversos e disfuncionais podem ocorrer ao mesmo tempo. A inflação, ou as expectativas inflacionárias a médio e longo prazo sobem, o que corrói a desvalorização real e força a alta dos juros, piorando a situação fiscal. Nessa hora, o câmbio se desvaloriza mais, num círculo vicioso com a inflação. E os juros sobem mais para compensar o risco, mas a alta dos juros também piora o risco, via elevação do custo da dívida pública. O BC intervém para evitar uma desvalorização explosiva e disfuncional (e Ilan acha isto necessário em determinadas situações), mas ao custo de reduzir o seguro da posição líquida em dólares do governo.

Sobre este último ponto, aliás, o economista nota que não deve ser à toa que mesmo o “primeiro aluno da classe” entre os emergentes da América Latina, o Chile, extremamente ajustado, e com o fundo soberano de fato constituído com poupança pública, tenha lançado um programa de intervenção cambial de até metade das suas reservas em 2019, na crise das manifestações.

Não teria o Chile, também credor em dólares e muito mais arrumado que o Brasil, muito mais razão para deixar o câmbio flutuar sem qualquer intervenção? Os experientes e respeitados policymakers do país acharam que não.

A proporção dolarizada dos portfólios brasileiros é muito pequena,  um bom sinal de uma economia com uma moeda razoavelmente confiável. Por outro lado, nem é preciso uma debandada geral. Se uma forte desconfiança em relação ao real levar famílias e empresas brasileiras a almejar 5%, 10% a mais de sua poupança atrelada ao dólar, já é provavelmente o necessário para esgotar ou consumir grande parte das reservas, supondo a manutenção de uma conta de capitais abertas – e que o BC não deixará o câmbio explodir descontroladamente.

Para Ilan, nada disso precisa acontecer, nem deve acontecer. O único risco, segundo o economista, é avançar cegamente, confiante de que conquistas institucionais das últimas décadas se transformaram em características genéticas da economia brasileira.

Quanto aos próximos passos da Selic em si, ele não quer entrar no debate agora. Mas fica claro que limites podem ser testados, com a devida cautela e prudência.

 

'Não precisaríamos acrescentar tensão política à crise de saúde e econômica', diz presidente do Itaú

O presidente do Itaú Unibanco, Candido Bracher, afirmou nesta terça-feira, 5, que o País não precisaria acrescentar tensão política à crise de saúde e econômica que o País enfrenta por causa da pandemia de covid-19. "A gestão do Estado é fundamental numa crise como essa", disse em teleconferência com jornalistas para comentar o balanço do primeiro trimestre.

O banco informou na noite de segunda-feira, 4, um lucro líquido recorrente de R$ 3,9 bilhões no primeiro trimestre, cifra 43,1% inferior ao resultado do mesmo período do ano passado, quando os ganhos somaram quase R$ 6,9 bilhões. Quando se levam em conta os dados do quarto trimestre de 2019, a queda foi ainda maior, de 46,4%.

Ele lembrou que a dívida pública do Brasil deve sair do patamar de 75% do PIB e poderá atingir 90% ao término da fase mais aguda dos problemas macroeconômicos trazidos pela covid-19. Segundo Bracher, o salto na dívida pública está exclusivamente relacionado à crise, devendo atingir níveis nunca vistos, e, portanto, o País deverá ter confiança para reverter os patamares escalonados.

"A crise atingiu o Brasil em um momento em que a taxa de juros foi a mais baixa história. Não foi obra da sorte, mas consequência das reformas que foram capazes de trazer confiança ao mercado na gestão fiscal do Brasil", observou. "Agora precisaremos da mesma confiança para reverter a dívida pública", disse, acrescentando que, nesse sentido, vê com preocupação com a tensão política.

"É importante que haja harmonia entre os poderes durante a crise", afirmou. "Torço muito pelo alinhamento entre os poderes e para um caminho seguro no pós-crise."

Proteção contra calotes

Bracher afirmou que o banco fará as provisões necessárias para manter seu balanço forte em meio à crise gerada pela pandemia. "A principal responsabilidade do banco é se manter sólido, líquido e com balanço forte. Faremos provisões necessárias para manter força no balanço", disse.

O Itaú reforçou em cerca de R$ 4,5 bilhões seu colchão para perdas por conta da deterioração esperada no cenário econômico diante da covid-19. O maior conservadorismo do banco, porém, pesou no resultado, que caiu mais de 43% ante um ano, para R$ 3,9 bilhões, e rentabilidade do período.

Segundo Bracher, não é possível afirmar ainda se esse foi o trimestre mais afetado por conta da crise e o banco não fornece projções para lucro. "Nós não fornecemos justamente para não abordar esse aspecto. Assim, temos mãos livres fazer provisões necessárias à medida crise evolua. Não podemos antecipar se foi maior impacto ou não", explicou.

Ele afirmou que os setores mais afetados pela crise até agora são os de óleo e gás, lazer e turismo e aéreo. O setor imobiliário, porém, é o de maior representatividade, com participação de 3,7% na carteira de crédito de pessoa jurídica da instituição.

De acordo com Bracher, a fatia do segmento de óleo e gás é de 1,3%; de lazer e turismo, de 0,9%; e das companhias aéreas, de 0,2%.

A carteira de crédito do Itaú cresceu 18,9% no primeiro trimestre na comparação com o mesmo período de 2019, totalizando R$ 769,2 bilhões. Em relação aos três meses anteriores, a alta foi de 8,9%. "A carteira de crédito cresceu bem refletindo a aceleração da concessão de crédito em especial a grandes empresas", explicou Bracher.

 

BANCO DE TALENTOS

ÁREA DO ASSOCIADO

O Sinduscon/RN pensa como você, e por isso trabalha:

NOSSA MISSÃO

Representar e promover o desenvolvimento da construção civil do Rio Grande do Norte com sustentabilidade e responsabilidade sócio-ambiental

POLÍTICA DA QUALIDADE

O SINDUSCON/RN tem o compromisso com a satisfação do cliente - a comunidade da construção civil do Rio Grande do Norte - representada por seus associados - priorizando a transparência na sua relação com a sociedade, atendimento aos requisitos, a responsabilidade socioeconômica, a preservação do meio ambiente e a melhoria contínua.

CONTATO

55 84 3206 5362

contato@sindusconrn.com.br

SOCIAL

LOCALIZAÇÃO

Rua Raimundo Chaves, 2182 - Sala 101 Empresarial Candelária - Candelária - Natal/RN

SINDUSCON/RN (C) 2012 - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS