Quarta-feira

VALOR

Bancos defendem ampliação da linha de crédito

Primeira linha de crédito a empresas lançada na crise, o financiamento à folha de pagamento começou a avançar em maio em decorrência de uma nova regra que permitiu concessões a companhias com débitos na seguridade social, mas teve sua vigência apenas até o fim de junho.

Os bancos defendem a ampliação do programa que está em discussão no Congresso, no entanto têm receios quanto a mudanças propostas que elevariam o risco das operações. “Apoiamos a ampliação da linha, porém temos algumas preocupações com regras que podem estragar o que estava funcionando bem”, disse Leandro Vilain, diretorexecutivo da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).

Implementado pela Medida Provisória 944 em abril, o Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Pese) previa sanar um problema das empresas que tiveram queda da receita decorrente da quarentena e precisavam arcar com salários. Inicialmente, o governo previu a liberação de até R$ 40 bilhões para um universo de 1,4 milhão de empresas e 12,2 milhões de empregados.

A Febraban, por sua vez, apontou para um total de 267,2 mil empresas elegíveis, considerando clientes bancários que tinham contratado o serviço de folha de pagamento - no qual a instituição financeira deposita o salário direto na conta do funcionário - e faturavam entre R$ 360 mil e R$ 10 milhões ao ano. Dessas, 52% tomaram os recursos entre abril e junho, em um total de R$ 4,5 bilhões.

Logo de partida, foi necessário um ajuste das regras: a exigência de a empresa não ter dívidas com a seguridade social afetou 20% dos clientes elegíveis na média dos bancos, que não conseguiam ter acesso aos recursos liberados. “Tivemos 30 dias em que os clientes não podiam contratar. No nosso caso, era metade deles, a maioria pequenas empresas”, disse Carlos Vanzo, diretor comercial do banco de varejo do Itaú Unibanco, que liberou R$ 1,6 bilhão, a maior fatia do total desembolsado na linha.

A limitação só foi derrubada um mês depois do lançamento do programa, com a Emenda Constitucional 106, promulgada em 7 de maio. A partir daí, as concessões começaram a crescer. Como o programa terminou oficialmente em 30 de junho, os bancos pararam de liberar os recursos enquanto se discute no Congresso uma potencial ampliação, com o financiamento de folha por mais três meses e para empresas com faturamento de até R$ 50 milhões ao ano, pontos apoiados pelos setor.

No entanto, há algumas preocupações. Da forma como está, o texto permite que empresas que não tenham contratado o serviço de folha de pagamento possam ter acesso ao financiamento para pagar salários. Dessa forma, se um empregador faz uma TED ou DOC para o funcionário, ele apresentaria o recibo para provar que os recursos do financiamento foram realmente usados com o propósito desejado.

“Alterações operacionais como essa expõem o banco a mais risco”, diz André Daré, diretor de produtos para empresas do Itaú Unibanco. Outro ponto de receio das instituições financeiras é a autorização para o recurso do financiamento ser usado para pagamento de dívidas trabalhistas.

Os bancos alegam que teriam dificuldades de checar se isso foi realmente cumprido. “Se fugirmos do que é a proposta inicial, o pagamento de salários, melhor seria direcionar o foco em outras linhas que estão sendo lançadas, cujo propósito é mais amplo”, disse Cassio Schmitt, diretor de produtos de crédito do Santander.

 

Incertezas complicam todos os cenários para os juros

A pandemia tornou ainda mais complexo o quebra-cabeça da política monetária para os bancos centrais. Nos países com economias estáveis, as taxas de juros mergulharam para perto ou abaixo de zero e devem se manter assim até que a ameaça do coronavírus seja afastada. Em países emergentes como o Brasil, a direção dos juros também foi a mesma. O juro real (medido pela inflação e taxa swap um ano à frente) caiu a em -0,8%.

No ano, a média da Selic real é de 0,17%, ante, por exemplo, 4,09% de 2017. O Boletim Focus indica que mais de dois terços dos consultados não acreditam que a inflação possa sequer chegar perto da meta de 4%, o que implicitamente reconhece espaço para novas reduções, além da “residual” já anunciada pelo Copom.

A mediana do Focus aponta inflação deste ano em 1,69% e de 3,09% em 2021 em 3, em uma economia que encolherá 6,5% este ano e crescerá 3,5% no ano que vem. Entre um ano e outro, a Selic sairá de 2% para 3%.

A diferença com as economias estáveis é relevante. Sob o baque da pandemia, os EUA produzirão no máximo uma inflação em torno de 1% e a zona do euro, menos que isso. Diante da mais forte recessão da história brasileira, a inflação está perto daquela que é a meta dos BCs de países desenvolvidos.

O espaço para o Brasil avançar com a redução dos juros é em tese maior, já que o juro nominal é de 2,25%, caso a inflação permaneça baixa. É possível que isso ocorra, mas o BC, conservador como os outros, reluta em aprofundar o corte de juros, o que intriga parte dos investidores. O cenário base é de 3,2% para a inflação, mas não é a projeção do banco, que considera cenários alternativos para guiar seus passos.

No relatório de inflação, o BC traçou dois desses cenários para averiguar aonde vai o nível de preços diante de um choque de demanda e outro, de oferta. O primeiro considera o Indicador de Incerteza Econômica da FGV que, após o desastre da covid19, retornaria a seu nível do fim de 2019 em 2021 (base) e a hipótese de que o indicador só voltaria a ele em fim de 2022. O efeito da menor confiança seria um ritmo de recuperação bem mais lento do que o previsto. O IPCA, ao fim de 2021, recuaria apenas 0,2 ponto percentual diante dos 3,2% tomados como base.

O BC simulou um choque de oferta na forma corriqueira da recuperação dos preços do petróleo, que elevaria o índice de preços dos monitorados e a inflação em geral. O cenário base considera variação mínima no preço atual de US$ 40 o barril até 2022. Já no alternativo, ele começa a subir a partir do último trimestre do ano e chega a US$ 60 no fim de 2021 - um pouco abaixo da média do fim de 2019.

 Não são cenários triviais, porque, com a pandemia, as cotações do petróleo Brent variaram brutalmente nos últimos três meses. Foram de US$ 51,90 o barril em 2 de março a US$ 19,33 o barril em 21 de abril e vêm se elevando gradualmente a partir daí. Chegou a US$ 43,33 ontem, dia em que a Petrobras aumentou os preços da gasolina em 5%, no oitavo reajuste para cima desde maio.

Se o cenário alternativo se confirmasse, os preços administrados passariam de 3,8% do cenário base (igual ao do Focus neste ponto) no fim de 2021 para 6,4% e o IPCA aumentaria 0,9 ponto percentual, para 4,1%, ultrapassando a meta para o ano, de 3,75%. O exercício para por aí, mas é possível presumir por ele que o balanço de riscos não é assimétrico.

Para baixo, a inflação indica que já caiu o que poderia cair com a pandemia e uma perspectiva de crescimento morno não mudaria substancialmente o índice. Mas para que o IPCA se desloque para cima, basta, por exemplo, que a economia global se recupere como o previsto.

O BC também não parece confortável com o legado da pandemia. Uma quebradeira significativa de empresas destrói capacidade produtiva, e sugere, se ocorrer, que o hiato do produto não é tão grande quanto parece, com a oferta emergindo bem mais avariada que a demanda, que foi amparada pelos auxílios emergenciais. Tudo isto é muito discutível, ainda mais sob uma pandemia.

Os ensaios de reabertura da economia no país não estão resultando em vendas fortes no varejo ou no setor de serviços, o que supõe consumo contido e amedrontado. Parece haver um limite de baixa da inflação que está perto de ser atingido. Mas uma segunda onda pode mudar todos estes cenários. Cauteloso nos juros, o BC agiu para sustentar a economia em queda abissal. Sua propensão, porém, como sugere a ata e o que já fez, é de cortar juro toda vez que se sentir seguro para isso.

 

Otimismo de Campos pode ser fim de ciclo

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não está apenas otimista com o futuro da economia: ele considera que a atividade já está surpreendendo do lado mais positivo. Também parece confiante de que o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) melhor que o esperado vai ajudar a reancorar, pelo menos parcialmente, as expectativas de inflação. Isso aumenta as chances de que o pequeno corte de juros em agosto, se de fato houver, seja o último desse ciclo de distensão que respondeu à crise do coronavírus.

Em entrevista à Record TV na noite de segunda-feira, Campos fez uma atualização do cenário econômico. Ou seja, foi além de apenas renovar a mensagem de política monetária. Como se sabe, a mensagem do BC para os juros é apenas uma função reação, sinalizando como pretende agir de acordo com a evolução dos dados.

 Quando atualiza a sua leitura dos dados, portanto, Campos dá uma pista um pouco mais concreta da direção dos juros. “Nós soltamos o último número de crescimento no Relatório de Inflação, que foi 6,4% de queda no PIB, mas enfatizamos que nós agora entendemos que a assimetria é para o outro lado, é mais para o lado que seja provável que seja melhor”, disse Campos.

 “E os dados mais recentes corroboram essa visão.” Na comunicação oficial, o BC tem dito que seu cenário central é uma queda do PIB de 6,4% e uma inflação de 3,2%. Mas tem enfatizado que vê riscos mais pronunciados - assimétricos - de que a recessão seja um pouco menos severa.

Campos, na entrevista à Record TV, deu boas indicações de que o cenário alternativo do Banco Central está se confirmando. Nele, não há muito espaço para cortes adicionais de juros, a não ser um eventual ajuste residual. Isso porque, segundo disse o diretor de política econômica do BC, Fabio Kanczuk, na sexta-feira, a inflação esperada pelo BC (média das projeções no cenário central e alternativos) está próxima da meta.

O presidente do BC descreveu a volta da economia como tendo um formato em “V”. Kanczuk disse, há alguns dias, que o cenário básico do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC tem o formato de “swoosh”, ou o símbolo da Nike. Ou seja, uma retomada inicial mais forte, com uma convergência mais lenta ao longo do tempo ao nível anterior à pandemia. “Obviamente a base é baixa, porque a queda foi grande, mas a gente já começa a ver que essa primeira fase de recuperação tem sido o que os economistas chamam de ‘V’, tem sido uma recuperação mais forte”, disse Campos.

“Na ponta, a gente consegue ver uma recuperação, e até uma recuperação num formato mais acelerado que nós mesmos imaginávamos antes. Se essa aceleração, esse formato, vai continuar, depende de vários outros ingredientes. Mas nós entendemos que hoje a assimetria está em as expectativas atuais serem surpreendidas para melhor, não para pior.” Aqui, Campos toca em um ponto importante: a economia está indo mais forte do que o esperado no curto prazo, mas não se sabe como será mais adiante.

 Kanczuk disse na sexta que, mais para o fim do ano, será importante observar como a economia vai andar com as próprias pernas, sem o apoio dos programas de crédito e de transferência emergencial de renda. Campos também demonstrou pouca preocupação com a queda nas projeções de inflação do mercado financeiro, que se distanciam da meta. Sua aposta parece ser de que, depois de melhorar as suas projeções para o PIB, os analistas econômicos vão aumentar as suas projeções de inflação.

 “Acho que, da mesma forma que o crescimento vinha com uma previsão muito negativa, parece que atingiu o fundo do poço e deve começar a voltar, eu acredito que o mesmo fenômeno vai acontecer com a inflação”, disse ele. “Eu acho que, quando houver uma percepção de que o pior do crescimento já passou e que deve voltar a acelerar, as projeções [de inflação] podem ser que subam um pouco.”

O conforto de Campos com a volta da economia e a esperança de que as expectativas de inflação vão se reancorar um pouco reduzem muito as chances de os juros caírem abaixo de 2% num horizonte mais imediato, se de fato chegarem a esse percentual. Mas, provavelmente, o BC estará de olho nos dados da economia mais para o fim do ano, quando acabam os efeitos dos programas de transferência de renda, para ver se será preciso mais estímulos.

Pelo que disse recentemente Kanczuk, dois fatores adicionais serão importantes nesse momento. Um deles é como terá caminhado o lado da oferta na economia durante a pandemia, não apenas o lado da demanda. O segundo ponto é que, mais para o fim do ano, começa a entrar no radar a meta de inflação de 2022 (3,5%), ainda que com um peso menor nas decisões sobre juros.

 

FOLHA

Demanda por crédito sobe 12% em maio, diz Serasa

A demanda das empresas por crédito cresceu 12,3% em maio na comparação com abril, segundo o indicador da Serasa Experian. É quase o dobro do valor registrado em março (6,8%).

"A única linha de crédito para as empresas que cresceu em abril e maio na comparação com 2019 é de capital de giro. Essa procura é por crédito emergencial. Não está relacionada a uma expectativa de crescimento de vendas", diz Luiz Rabi, economista da Serasa.

A estimativa, segundo ele, é que o perfil da demanda por crédito comece a mudar nos próximos meses.

"A partir de junho, julho a gente já deve ter uma procura por crédito que já começa a estar mais ligada a essa retomada da economia do que uma busca por desespero e necessidade de equilibrar as contas", diz Rabi.

Na análise da Serasa por porte das empresas, as pequenas e médias foram as que demandaram mais crédito, com alta de 12,8%. As médias médias registraram alta de 1,8% e grandes, 1,3%.

Entre as regiões, o Centro-Oeste foi a que registrou o maior crescimento (20,6%) na demanda das empresas por crédito. "O agronegócio não depende muito dessa crise, é exportador. Depende mais da China, e lá a pandemia foi controlada bem rapidamente. Acaba sendo beneficiado por isso", diz o economista.

 

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