Sexta-feira

JORNAL AGORA RN

Metade das empresas potiguares não obteve crédito durante pandemia

Josélia Belarmino da Silva, 41 anos, tem um pequeno negócio de entrega em domicílio de itens alimentícios, perfumaria e produtos de higiene que durante 10 anos funcionou no Parque dos Coqueiros, na Zona Norte de Natal. Com a pandemia do coronavírus, ela foi obrigada a se mudar para o Jardim Botânico, em São Gonçalo do Amarante, depois que a clientela sumiu. Sem dinheiro para fazer estoque, nesta quinta-feira 20 ela apelou pela segunda vez a um banco para conseguir um empréstimo emergencial de R$ 10 mil a serem pagos em 36 parcelas.

Depois de ver seu pedido negado duas vezes pela Caixa Econômica, sem que nenhum motivo fosse apresentado pela instituição, ontem ela novamente bateu a cara na porta, desta vez num banco privado, o Itaú, que alegou já ter preenchido a disponibilidade de crédito. Josélia é um dos milhares de micro pessoas jurídicas do Rio Grande do Norte órfãos de um programa oficial de apoio financeiro contra a pandemia da Covid-19.

Segundo a mais recente sondagem da Federação da Indústria do RN, essa camada desassistida representa 53% das empresas do estado que teve seus pedidos de auxílio negados pelos bancos sem qualquer explicação. Desses, 41% não teriam apresentado a documentação correta. O mais incrível dessa história, segundo Pedro Albuquerque, assessor técnico de pesquisa e economia da Fiern, é que entre abril, começo da pandemia, e agosto, quando o número de casos começou a desacelerar, o volume de crédito emergencial às micro e pequenas empresas, que representam 95% dos negócios no estado, permanecia no mesmíssimo patamar. Ou seja, raso.

“No momento em que eu mais precisei de ajuda eu não tive, a verdade é essa”, desabafa Josélia, que conta com a ajuda do marido para fazer as entregas nos pequenos mercadinhos e residências de bairro. Um outro dado difícil de engolir em tempos de tragédia sanitária, fornecido pelo assessor técnico da Fiern, é que dos 51% dos CNPJs que conseguiram acessar o auxílio do governo federal, 41% obtiveram o dinheiro não pelos bancos públicos e sim pelos particulares.

Lucas Potiguar, dono de uma fábrica de laticínios com 10 empregados, por exemplo, apresentou toda a documentação pedida pela agencia do Banco do Nordeste de Macaíba ainda no começo da pandemia e até agora nada. “Consegui que o governo ajudasse a pagar até 80% dos salários do pessoal, mas dinheiro para capital e giro e manter a produção, que é bom, nenhum tostão”, diz ele. Agora que a ajuda para a folha de pagamento terminou, o empresário afirma que seu maior problema é falta de recursos para demitir os empregados.

“No meu caso, o BNB, que é um banco de fomento e existe justamente para ajudar as empresas, não fez absolutamente nada”, dispara. Depois de trabalhar nas sondagens em abril e outra agora em agosto, comparar as informações recolhidas no auge e na desaceleração da pandemia para a Fiern, Pedro Albuquerque fala da sua incredulidade.

“Com a chegada da Covid-19 ao Brasil eram claros os reflexos na economia já em abril, razão pela qual foi feita a primeira sondagem. Mas o que nem nós poderíamos prever é que, quatro meses depois, a concessão de recursos para as empresas estive praticamente inalterada”, surpreende-se. E conclui: “Se ocasiões excepcionais demandam medidas excepcionais, como diz o velho ditado, essas medidas nós não vimos”.

OS NÚMEROS DA PESQUISA

A mesma pesquisa realizada pelo sistema Fiern, divulgada esta semana, mostrou que 54% das empresas potiguares não pararam as atividades durante a pandemia. A sondagem ouviu 141 indústrias instaladas em 28 municípios, no período de 4 a 12 de agosto, e foi a segunda edição no ano, com mais de 30 setores industriais consultados.

A pesquisa, por exemplo, apresenta dados sobre paralisação de atividades, dificuldades em obter suprimentos, desligamento de pessoal e adoção de protocolos de biossegurança. Na comparação com a primeira sondagem realizada entre os dias 14 e 15 de abril, logo no início da pandemia, a pesquisa de agosto mostrou que o percentual de empresas que não paralisaram as atividades cresceu de 47% para 54%. Ou seja, mais empresas continuaram a operar, sugerindo que, de alguma maneira, as empresas do RN encontraram maneiras de lidar com a crise da pandemia para manter as atividades.

Mas a sondagem aponta que 70% tiveram problemas com suprimento de fornecedores. E, em relação ao faturamento no período, 37% apresentaram queda de mais de 50% (destaque para Confecções, Marmoraria, Têxtil). Na primeira pesquisa, feita em abril com 139 indústrias, 78% relataram dificuldade com suprimentos. A comparação das duas sondagens revela o que pode ter sido o grande problema das empresas, nessa crise da pandemia.

 Entre os ajustes necessários à manutenção das atividades, houve o desligamento de funcionários além de medidas previstas pelas Medidas Provisórias 936 e 927. Do total, de empresas ouvidas, 40% fizeram renegociação de contrato de trabalho e 50% informaram que não demitiram, enquanto 15% demitiram mais de 50% do quadro (Indústria de Móveis, Alimentos, Química e Gráfica, especialmente em Natal).

Na contramão disso, 7% registraram aumento na contratação. O incremento foi verificado na indústria da Construção Civil, Coleta e Transporte de resíduos e de Produtos de limpeza. Para a gerente da unidade de economia e pesquisa da Fiern, Sandra Lúcia Cavalcanti, isso não diminuiu as dificuldades das empresas, que já amargavam uma situação difícil desde 2014. “Quando elas começaram efetivamente a empreender uma reação, no segundo semestre do ano passado, apareceu a pandemia para atrapalhar tudo”, finaliza.

 

VALOR

Risco fiscal cresce, mas PIB deve cair menos em 2020

Enquanto pressões por aumento do gasto público ganham força no Brasil, alimentando a discussão sobre a sustentabilidade da dívida e turvando expectativas para a economia a partir de 2021, dados de atividade no segundo trimestre deste ano mostram desempenho menos negativo que o previsto e levam mais um grupo de economistas a trazer suas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 para mais perto de -5%. Ontem, a Capital Economics revisou sua estimativa de -7% para -5%, e o Credit Suisse mudou de -6,5% para -5,2%, um dia após a MB Associados alterar sua projeção de -6,4% para -5,3%.

No fim da semana passada, Goldman Sachs e Barclays já haviam ajustado suas contas para -5%, enquanto a MCM Consultores e a Oxford Economics passaram a prever -5,4%. “Temos argumentado que a atividade econômica poderia surpreender no lado positivo dado o alto nível de estímulos fiscais e monetários e a flexibilização das medidas de distanciamento social. Produção industrial, vendas no varejo e receitas de serviços apresentaram números melhores do que o esperado em junho.

Dados de alta frequência sugerem continuidade da recuperação em julho e agosto”, escrevem os economistas Leonardo Fonseca e Lucas Vilela, do Credit Suisse. Segundo eles, a discussão agora é se a eventual retirada de transferências de renda “empurrará” a atividade para território negativo nos próximos trimestres.

No momento, o que se observa é o “crescimento acentuado” em segmentos que se beneficiam do auxílio, inclusive para a compra de bens que podem ser mais caros, entre materiais de construção, eletrodomésticos e móveis, o que levanta a possibilidade de aumento da inadimplência mais à frente, alerta Sergio Vale, economista-chefe da MB.

Mas a maior preocupação dos economistas parece dizer respeito mesmo ao cenário fiscal. O Citi Brasil fez, ontem, sua primeira revisão para cima no PIB brasileiro de 2020, mas ainda para -6%, ante projeção anterior de -6,5%. Do lado negativo, os economistas Leonardo Porto e Paulo Lopes destacam a nova expectativa para a relação dívida bruta/PIB: 97,5% ao fim de 2020, vindo de 75,8% em 2019.

Quanto mais tempo durar o distanciamento social, maior será a pressão para estender medidas de estímulo fiscal, afirmam eles. Assim, o controle da pandemia seria condição necessária para um plano de austeridade.

Discussões sobre expansão das despesas governamentais estão ganhando espaço tanto dentro como fora do governo, observam Porto e Lopes. Os principais riscos fiscais de longo prazo - que seriam o afrouxamento das regras e a prorrogação do estado de calamidade pública - “estão se tornando mais prováveis do que nunca.”

Embora o presidente Jair Bolsonaro e líderes do Congresso tenham reforçado o compromisso com a sustentabilidade fiscal, Porto e Lopes enumeram quatro fatores que apontariam em sentido contrário e merecem atenção: o nível de ociosidade na economia será enorme até o fim do ano; a popularidade de Bolsonaro parece ter aumentado com os estímulos; marcadas para novembro, as eleições municipais podem mudar a visão dos parlamentares sobre o gasto público e, por fim, integrantes da equipe econômica saíram recentemente do governo, por verem pouco espaço para reformas.

Nessa conjuntura, estimam os economistas do Citi, o déficit primário deve ser de 13,6% do PIB em 2020. “Para o próximo ano, ainda assumimos que a política fiscal será restringida pelo teto de gastos”, dizem Porto e Lopes, ponderando que há riscos crescentes de que a regra seja flexibilizada em algum momento.

O cenário-base da Capital Economics também inclui aderência à austeridade fiscal em 2021, o que ajudaria a preservar juros baixos e confiança. “Mas isso viria a custo de uma demanda mais baixa”, escreve William Jackson, economista-chefe para mercados emergentes. É por isso que, após queda “relativamente modesta” do PIB neste ano, Jackson espera crescimento de apenas 3% em 2021 e 2% em 2022 - antes, a projeção era de 2,5% em ambos os anos.

 

Risco fiscal detona novo dia de tensão nos mercados

As incertezas relacionadas com o futuro das contas públicas no Brasil voltaram a chacoalhar os mercados locais. Logo pela manhã, o dólar disparou e o Ibovespa sofreu dura queda em um movimento claro de aversão ao risco após o Senado derrubar o veto presidencial ao reajuste salarial de servidores públicos. Uma possível reversão da medida, que poderia custar cerca de R$ 120 bilhões aos cofres públicos, caberia apenas à Câmara dos Deputados — em uma sessão que se estendeu depois do fechamento.

Com isso, a tensão estava instaurada entre os investidores. Em uma evidência do nervosismo, o Banco Central teve de intervir duas vezes com venda de moedas no mercado à vista para conter a busca por segurança. Esta foi a primeira vez que a autoridade monetária entrou no mercado à vista desde 30 de junho. Até então, vinha reagindo ao estresse do mercado com pequenos leilões de swap cambial.

O que garantiu algum respiro para os ativos, entretanto, foi a atuação do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que se comprometeu em trabalhar pela manutenção do veto. Até o fim do pregão, os deputados ainda não tinham iniciado a votação, mas um certo clima de otimismo cauteloso começava a aparecer nos ativos. No mercado de moedas, o dólar comercial foi devolvendo a alta ao longo da tarde e terminou perto das mínimas do dia depois de tocar a marca de R$ 5,6730 (mais 2,61%) no fim da manhã.

No encerramento do pregão, a moeda americana era negociada em alta de 0,43%, a R$ 5,5522. Além da atuação de Maia e do Banco Central no câmbio, houve também alguma ajuda do exterior, onde o clima negativo para a tomada de risco foi diminuindo ao longo do dia. Assim, o Ibovespa fechou em alta de 0,61%, aos 101.468 pontos. Entre as mínimas e as máximas, o índice foi dos 99.131 pontos (-1,71%) aos 101.749 (0,89%), dando dimensão da volatilidade do dia.

O giro financeiro total foi de R$ 22 bilhões, um pouco acima da média dos pregões deste ano, que é de R$ 20,6 bilhões. A votação na Câmara sobre o veto ao reajuste dos servidores públicos teve início apenas depois do fechamento dos mercados. Com 316 votos a favor e 165 contra, os deputados mantiveram o veto. Independentemente do placar, o clima deve continuar tenso nas próximas semanas, à espera da discussão do Orçamento e, em paralelo, da tentativa de unificar as PECs dos gatilhos do teto de gastos.

“A situação é bem desconfortável, não há motivos para o mercado apostar que tudo dará certo”, alerta o economista Silvio Campos Neto, da Tendências. Para o analista, só com um Orçamento comprometido com o teto em 2021 e a percepção de viabilidade de medidas para isso que o mercado, finalmente, conseguirá ter mais alívio. “Por ora nós mantemos o cenário de sobrevivência do teto, mas os riscos à alguma flexibilização existem”, acrescenta.

A discussão sobre uma prorrogação dos estímulos fiscais e a percepção de gastos públicos adicionais elevam a preocupação quanto à sustentabilidade das contas públicas, em um momento de paralisação da agenda de reformas. É o que afirma Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs. “Vejo as questões recentes com preocupação. O Congresso não tem inclinação fiscalista, muito pelo contrário, e as reformas deveriam avançar um pouco mais rápido.”

Ramos nota que o Brasil está atrasado nesse processo e diz que seria importante uma sinalização ao mercado quanto ao andamento da agenda de reformas estruturais, passados os efeitos mais adversos gerados pela pandemia. “Vejo com preocupação o não andamento das reformas e o risco ao teto de gastos. Essa é uma responsabilidade compartilhada entre Executivo e Legislativo. É preciso reduzir o prêmio fiscal de médio e de longo prazo”, afirma.

Nesta quinta, no mercado de juros, as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) de longo prazo — mais sensíveis a questões estruturais — tiveram forte alta no começo do dia que foi sendo devolvida ao longo da sessão. A taxa do DI para janeiro de 2027, por exemplo, saiu de 6,92% para 6,79%, depois de tocar 7,20% na máxima do pregão.

Para os analistas do ASA Investments, é fundamental que se retome a agenda de contenção do gasto obrigatório, garantindo a manutenção do teto de gastos e a sustentabilidade fiscal. Caso contrário, o país tende a viver “sob pena de repetirmos os erros que geraram a crise passada, acarretando o aperto das condições financeiras, o que impedirá a recuperação da economia e redução do desemprego”.

 

Caixa eleva comprometimento de renda em crédito imobiliário com IPCA

A Caixa Econômica Federal anunciou nesta quinta-feira (20) a elevação do comprometimento de renda permitido em operações de crédito imobiliário de 20% para 22%. A medida vale para operações atreladas ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), no Sistema de Amortização Constante (SAC). O anúncio foi feito pelo presidente da instituição financeira, Pedro Guimarães, em 'live' promovida pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

O presidente da CBIC, José Carlos Martins, elogiou a medida, afirmando que ela era uma demanda antiga do setor. Securitização Guimarães também disse que fará a securitização de R$ 500 milhões em crédito atrelado ao IPCA. O presidente da instituição financeira, no entanto, não deu maiores detalhes sobre prazos da operação.

 

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