Quinta-feira

Repique inflacionário e risco fiscal devem levar à alta da Selic no fim de 2021, diz Itaú

Os fundamentos para a inflação seguem benignos e o juro básico vai permanecer em 2% ainda por bom tempo, mas a recente pressão de preços no atacado, ao lado do aumento do risco fiscal, deve levar o Banco Central a elevar a Selic no fim de 2021.

A avaliação é da equipe econômica do Itaú Unibanco, que vê o juro em 3% ao final do próximo ano. “Antes do repique e do aumento do risco fiscal, a gente considerava que o juro poderia subir só em 2022”, disse o economista-chefe da instituição, Mario Mesquita, durante apresentação das projeções econômicas do Itaú no “Macro em Pauta”.

Por causa da aceleração de alimentos no curto prazo, o banco também elevou ligeiramente a estimativa para a alta do IPCA em 2020, a 2%, mas a expectativa para o próximo ano segue em 2,8%. A projeção anterior para este ano era de 1,7%, segundo relatório divulgado na semana passada.

Para a economista Julia Passabom, também presente no evento, o índice de agosto, que subiu 0,24%, mostrou composição favorável, com as partes de bens industriais e serviços comportadas e aumento mais forte no setor de alimentos. Com alta de 1,15% no mês, os preços de alimentação no domicílio já refletem as cotações mais elevadas de insumos ao produtor, observou.

Nesse segmento, o repasse do aumento de preços no atacado deve continuar acontecendo, acelerando a inflação mensal ao consumidor daqui até ao fim do ano, avalia ela. Para produtos industriais, a transmissão da depreciação cambial é mais fraca, tendência que não é de hoje, mas o potencial de pressão vindo deste setor é um movimento que está no radar, disse Julia.

“Temos um repasse menor em termos históricos e grau de ociosidade relevante na economia, mas chamamos atenção para esse repasse, que pode acontecer mais rápido à frente.” Segundo Mesquita, um ponto de preocupação é que o grau de repasse cambial depende de como os agentes econômicos percebem o enfraquecimento do real. Se a alta do dólar é avaliada como transitória, o “pass through” é menos intenso. Se considerada mais permanente, os repasses ocorrem com maior celeridade. “E está se formando um consenso, compartilhado por gente do governo, de que o dólar a R$ 5 é o ‘novo normal’. Isso aumenta a chance de termos repasse”, destacou.

No cenário do Itaú, a taxa de câmbio terminará 2020 em R$ 5,25, e 2021 em R$ 4,50. Segundo Mesquita, a valorização ao longo do próximo ano ocorrerá porque os juros vão ficar estáveis no mundo e subir no Brasil. Mesquita explicou, ainda, que a perspectiva de que a Selic vai aumentar no fim de 2021 não reflete preocupação inflacionária com o ano que vem. “O ajuste seria mais com vistas à inflação de 2022 e 2023.”

O quadro fiscal, no entanto, seguirá delicado no próximo ano. Mesmo considerando que os gatilhos de contenção de despesas previstos no teto de gastos serão acionados, o resultado primário do setor público consolidado será negativo em 2,5% do PIB em 2021 nas estimativas do Itaú, após rombo de 11,7% do produto em 2020. E a dívida bruta deve ficar acima de 90% do PIB ao menos até 2025. Segundo o economista Guilherme Martins, o “Renda Brasil” deve sair até o fim deste ano para substituir o auxílio emergencial em 2021, e é razoável supor que o novo programa de renda básica vai gerar gastos ao ano da ordem de R$ 90 bilhões a R$ 100 bilhões, bem acima do Bolsa Família.

“Para equilibrar isso, será necessário acionar os gatilhos do teto. Mesmo assim, não vemos a dívida caindo”, ponderou. Do lado positivo, os dados de atividade apontam que a recuperação ganhou tração no terceiro trimestre, ainda que em ritmo desigual entre setores e regiões, avalia o Itaú.

 Na visão de Mesquita, a evolução recente da pandemia no país é consistente com a continuidade da reabertura gradual da economia. Não só a média diária de óbitos começou a cair há cerca de dez dias, após longo período estabilizada em cerca de mil, como também o processo de “interiorização” da covid-19 parece ter chegado ao seu limite, apontou Mesquita, para quem os dados de atividade têm vindo em linha com a projeção do banco, de queda do PIB de 4,5% em 2020. Para 2021, o Itaú segue projetando expansão de 3,5% da economia brasileira, em grande parte impulsionada pela herança estatística positiva deixada pelo segundo semestre deste ano.

 

Preço de alimentos deve continuar em alta e pode afetar política de juros, diz Itaú

A inflação de alimentos deve continuar a subir nos próximos dois meses e, embora não coloque em risco as metas de inflação para 2021 e 2022, pode contribuir para que o Banco Central volte a subir os juros no final do próximo ano.

A avaliação é do Itaú Unibanco, que estima uma inflação de alimentos ao consumidor próxima de 14% nos 12 meses encerrados em outubro e novembro, fechando a ano em 10%.

Nesta quarta (9), o IBGE informou que o IPCA registrou a maior inflação para agosto desde 2016, puxado pelo preço de alimentos e combustíveis.

O economista-chefe do Itaú Unibando, Mario Mesquita, afirma que o Brasil vive um momento em que o comportamento do índice de inflação e a percepção que a sociedade tem dele divergem.

Segundo ele, o indicador é uma média de uma cesta de bens muito ampla, que tenta se aproximar do consumidor médio brasileiro, mas diferentes grupos da sociedade vão sentir a inflação de forma distinta.

Mesquita diz que a percepção que as pessoas têm da inflação é muito sensível aos itens de compra mais frequentes, como alimentos, energia e combustível. Ou seja, justamente os itens que estão puxando o índice para cima neste momento.

Ele cita o exemplo do Japão. Apesar de o país asiático conviver com deflação (queda no índice de preços), a visão da população era de uma inflação em torno de 2% a 3% quando esses itens apresentavam comportamento de alta.

“Temos uma inflação que incomoda do ponto de vista de noticiário, mas ainda é bem comportada. É uma pressão de preço de alimentos que a gente acha que não vai continuar em 2021”, afirma Mesquita.

“Não é que não existam riscos à frente. O cenário inflacionário está mais complicado do que há alguns meses. Antes desse repique inflacionário, a gente considerava que a taxa Selic [a taxa básica de juros] poderia subir só em 2022. Com essa dupla ameça do lado fiscal e desse repique, a gente deve ver o começo do ajuste na política monetária no final do próximo ano.”

Ele afirma que a expectativa do banco é que os juros fiquem nos atuais 2% ao ano por mais um ano e comecem a subir com vistas à inflação de 2022 e 2023. A projeção de inflação da instituição é de 2% neste ano e 2,8% no próximo.

A economista do Itaú Julia Passabom Araújo afirma que o IPCA acumulou alta de 0,10% no primeiro semestre e que a alta de preços no ano ficará concentrada nos seis meses seguintes. A expectativa é que as taxas mensais continuem em torno de 0,20% até o final de 2020.

“A gente tem uma pressão de curto prazo que vem da inflação de insumos, como grãos. O repasse está acontecendo no atacado. Isso sinaliza que tem uma pressão adiante. A gente está tendo esse repasse para o consumidor e isso deve gerar alguma pressão de curto prazo também nas leituras mensais de inflação a seguir”, afirma a economista.

Segundo Mesquita, a percepção que se formou no mercado de que a taxa de câmbio acima de R$ 5 é o novo normal também contribui para o repasse cambial aos preços.

“O repasse cambial, entre vários outros fatores, é sensível ao quão permanente é o patamar de câmbio. Se é percebido como algo transitório, o repasse é menor. Se é visto como permanente, é mais intenso. Acho que está se formando um consenso de que o real não vai voltar para os patamares anteriores por muito tempo, que R$ 5 é o novo normal. Isso aumenta a chance de a gente ter repasse.”

 

'Não há atalhos para manter baixa a inflação', diz ex-presidente do BC

O atual presidente do Conselho de Administração do banco de investimentos Credit Suisse conhece como poucos o trabalho de manter a inflação sobre controle.

Ex-presidente do Banco Central durante o governo Michel Temer, Ilan Goldfajn diz que a receita para manter os preços baixos é uma só: trabalho permanente, sem atalhos.

A inflação de alimentos gerou uma onda de preocupação. Essa alta é um problema pontual, ou o Banco Central deve se preocupar?

Manter a inflação baixa é um trabalho permanente, baseado na credibilidade do Banco Central e na sustentabilidade do regime fiscal. Não há atalhos, congelamentos, medidas administrativas etc., que funcionem para manter a inflação baixa. Estamos atravessando um período de elevado aumento de custos e das commodities. No passado conseguimos evitar o repasse dos custos aos preços. Mas o comportamento passado não é garantia de baixo repasse no futuro.

A inflação pode avançar mais rapidamente agora?

A inflação chegou no seu piso e agora, provavelmente, vai voltar a subir. A gente olha os índices de atacado, o IGP-M, índices ao produtor, e tudo indica que essa inflação que chegou quase abaixo de 2% vai voltar a subir.

Mas em que velocidade e para qual patamar ela vai subir?

O mercado fala que ela vai voltar a ficar entre 3% e 4% no ano que vem, mas eu acho que é possível que seja até um pouco mais rápido do que o que o mercado pensa. O repasse do custo não vem há muitos anos, as margens vão se comprimindo. Chega um momento em que a margem precisa descomprimir um pouco.

Mesmo em um ambiente recessivo?

A recessão faz com que a inflação seja muito devagar, mas ela ocorre de qualquer maneira.

O quão preocupante é isso no curto prazo?

No curto prazo não é preocupante porque estamos com uma inflação abaixo da meta. Ao longo do tempo vamos chegar cada vez mais rápido na meta, e aí, provavelmente, vai ficar parada um tempo, não deve baixar tão rápido.

Alguns analistas dizem que o juro básico no país atingiu seu piso e esse cenário pode ser revertido a depender do desdobramento da crise. O senhor concorda?

Os juros baixos de hoje foram conquistados com credibilidade, com a âncora do teto de gastos (regra que limita o crescimento das despesas públicas), pela baixa inflação. Tudo isso gera juros baixos. Mas eles não estão garantidos. É preciso ter em conta que a estabilidade fiscal — e institucional — é necessária para manter os juros baixos. Precisamos continuar fazendo o dever de casa. Aqui vai de certa forma um alerta: juros baixos precisam da estabilidade fiscal e da manutenção da credibilidade.

O senhor foi sempre um defensor do teto de gastos, regra que está em cheque. Como equilibrar programas como o Renda Brasil com responsabilidade fiscal ?

Sempre fui muito ciente da necessidade de mudarmos nossa dinâmica da dívida porque é ela que permite que a gente tenha um juro mais baixo, que permite florescer o mercado de capitais, ter mais investimento privado, permite ter um crescimento mais eficiente e sustentável ao longo do tempo.

 É claro que, com a pandemia, houve um gasto muito maior do que se planejava. Nosso problema é que começamos a pandemia com uma dívida que já era muito alta, de 75% do PIB, e hoje caminhamos para uma dívida mais elevada. Precisamos ver como equacionar essa questão.

A sociedade tem de ter espaço para fazer a sua escolha. Aprove a reforma administrativa, a emergencial. Troque gastos, escolha prioridades. Mas, para isso, é preciso manter o teto de gastos enquanto se faz essa troca.

O que acha do embate entre defensores do ajuste fiscal e os que querem mais gastos?

Os gastos sociais para reduzir a pobreza, para incluir mais pessoas, para gerar uma proteção social que a gente precisa, são essenciais. O que está acontecendo é que essas demandas sociais por investimento estão caminhando no sentido de uma demanda por mais gastos de forma geral.

E a nossa sociedade não tem conseguido fazer as escolhas explícitas. Nas últimas três ou quatro décadas, fomos aumentando os gastos sem priorização, sem escolha. Para dizer a verdade, sem perceber que muitos dos gastos acabam saindo pelo ralo.

Pode dar um exemplo?

Pegue o auxílio emergencial, que foi extremamente relevante neste momento. Você teve muito gasto emergencial que foi dado para quem não precisava.

O senhor se refere às fraudes?

Gente que não deveria ter recebido porque você não teve controle. Estou dando um exemplo. Temos de voltar a falar sobre eficiência do gasto, sobre as escolhas que a gente faz. Neste momento, temos que olhar e dizer: nós criamos um teto de gastos lá atrás, que foi feito para tornar explícito que vamos ter de fazer escolhas, e nós estamos nos recusando a fazê-las. Quando você se recusa, sabe o que acontece? Você bate no teto, e as escolhas são feitas por você.

A atuação dos bancos centrais no combate à crise gerada pelo cornoavírus foi correta?

Os Bancos Centrais agiram relativamente rápido, deram muita liquidez, deixaram muito dinheiro circular. Mas o problema é que a questão não era liquidez, mas sim uma recessão que gera inadimplência, gente que não poderia se sustentar. A chave da questão no final foi que faltou dinheiro aos mais vulneráveis, e você precisou de auxílios emergenciais dos governos.

Depois, precisou-se de dinheiro para se chegar às pessoas jurídicas mais vulneráveis, que são as pequenas e médias empresas. Isso demorou para chegar, mas agora, mais para o final, começou a chegar.

Na questão tributária, o senhor critica o tributo sobre transações digitais. Por quê?

Está claro que para fazer o que o governo está querendo fazer, que é reduzir alguns impostos sobre a folha de pagamento, estamos falando é de uma nova CPMF. Não sou a favor porque eu vejo a CPMF como um imposto velho, que vai contra a modernidade. Se a cada pagamento instantâneo você tiver de pagar uma CPMF, você na verdade está indo contra (a transação digital).

O senhor defende o imposto sobre lucros e dividendos?

O governo tem uma ideia de reduzir o imposto corporativo e subir o imposto sobre dividendos, de modo a equilibrar, mas parece que não é tão simples assim. Acho que isso precisa ser estudado. Mas os especialistas dizem que é muito mais complexo.

Apesar dos avanços nessa questão tecnológica, há uma população desbancarizada, que em tempos de pandemia se tornou mais evidente. Como resolver? A nota de R$ 200 ajuda?

Vejo um avanço muito grande na quantidade de contas digitais, de aplicativos. Você consegue bancarizar muita gente pelo aplicativo. Ao mesmo tempo, sabemos que isso não atingiu todo o mundo. Temos uma quantidade de invisíveis, de gente que está na informalidade, que novamente na pandemia ficou evidente.

O auxílio emergencial precisou ser dado em dinheiro. E parece que começou a faltar dinheiro vivo. Aí essa nota acabou tendo que ser impressa para dar conta dessa nova demanda daqueles desbancarizados que estão recebendo o auxílio. 

É bom ter uma nota de R$ 200?

Não é. Ela vai atender essa demanda de todo o mundo que está precisando hoje, mas vai gerar o que a gente não gostaria que ela gerasse: muita gente vai poder usar de maneira fácil essas notas altas para atividades ilegais, e o mundo está caminhando para mais digitalização. Tivemos que dar um passo atrás, neste momento, para continuar avançando na digitalização à frente.

Há uma má reputação brasileira na área ambiental que pode afugentar investimento externo. Como avalia esse risco?

A gente sente cada vez mais o investidor no mundo, e também no Brasil, com uma consciência ambiental, social, de gestão. Eles estão preocupados com o que estamos investindo, e isso influencia na decisão de investimento.

Quem ajuda a alocar investimentos, a gerir patrimônios, tem que estar nesse mundo. Para mim, pessoalmente, a questão ambiental é um objetivo nobre. Os investidores olham e mais recentemente tivemos alguns ruídos que levaram essa questão a entrar na ordem do dia.

 

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