Sexta-feira

Desabastecimento e alta nos preços de insumos são desafio à construção civil, diz Cbic

A indústria da construção projeta crescimento para 2021, mas vê as altas de preços de insumos e a escassez de matéria-prima como maiores riscos, enquanto segmentos de edificações tentam repor estoques e se preparam para lançamentos maiores no próximo ano.

Segundo dados divulgados nesta quinta-feira (17) pela Cbic (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), o PIB do setor em 2021 deve crescer 4%, maior expansão desde os 4,5% registrados em 2013. Para este ano, a previsão é de queda de 2,8%.

Parte do crescimento virá do segmento de edificações, que reduziu estoques neste ano em meio aos efeitos da pandemia. De janeiro a novembro, enquanto os lançamentos de imóveis caíram 10,5%, as vendas subiram 23,7%, gerando uma queda de 13% na oferta final do segmento, segundo dados da Cbic.

"O que está nos preocupando é que os preços subiram e temos obras contratadas para entregar. O real já se valorizou e os preços continuam subindo. Hoje mesmo acabei de receber nova leva de aumento dos preços do cimento", disse o presidente da Cbic, Jose Carlos Martins, em apresentação online.

"O desabastecimento (de insumos) também não acabou. Tem o caso sério do PVC, que não temos expectativa sobre quando vai entrar em ritmo normal", acrescentou.

Em apresentação a jornalistas, a Cbic citou que de janeiro a novembro os preços de tubos e conexões de PVC acumularam alta de 41,1%, enquanto cimento teve aumento de 26,7%. Outros insumos como condutores elétricos tiveram reajuste de 52,4%, enquanto vergalhões subiram 26,6%.

"Estamos otimistas sobre 2021, mas muito preocupados com o desabastecimento e dos custos dos materiais", disse Martins.

A entidade afirmou que apenas em novembro os preços de vergalhões subiram 4,6%, enquanto cimento foi reajustado em 3% e condutores elétricos, em 9,5%.

O executivo citou entre motivos para o otimismo a aprovação do programa habitacional "Casa Verde e Amarela", que substituirá o Minha Casa Minha Vida. Segundo ele, o programa aprovado no Senado na semana passada, é "menos engessado" que seu predecessor.

"A consequência, por exemplo, é que a própria Caixa Econômica tem mais liberdade para regulamentar as coisas e não demora muito para o programa dar resultado", disse Martins.

Ele disse ainda que a partir do segundo semestre do 2021, a indústria da construção sentirá os efeitos das concessões feitas neste ano em áreas como transporte e saneamento.

Questionado sobre notícias de que o governo está se preparando para permitir nova rodada de saques emergenciais do FGTS em 2021, Martins mostrou contrariedade.

"Não é possível que não tenham entendido que pegar uma gota não adianta nada e que isso vai parar em consumo de produto importado da China...Não acreditamos que um governo que está querendo arrumar o Brasil vai cometer este erro de novo."

Em 2019, o governo permitiu saques de 500 reais por conta de FGTS, estimando injeção de 40 bilhões de reais na economia.

 

Stuhlberger: Inflação vai surpreender em 2021 e juro ficará acima do que mercado e BC preveem

“Para mim, a pior coisa do mundo seria jogar pôquer com o Roberto Campos Neto [presidente do Banco Central]”, brincou o CEO e CIO da Verde Asset, Luis Stuhlberger, que participou nesta quinta da “Live do Valor”. Ele, que é um dos gestores mais reconhecidos do país, usou a alusão inusitada ao falar sobre o cenário da inflação e como o BC é corajoso ao se manter tranquilo vendo o que se desenha à frente.

Para Stuhlberger, a inflação vai subir mais do que o mercado imagina em 2021 e, como consequência, o BC terá de elevar os juros com maior velocidade e intensidade do que o projetado hoje pelo consenso.

De acordo com o gestor, os modelos mostram que inflação vai chegar no fim do ano que vem entre 3% e 3,20%. “Só que antes de chegar nesse nível, lá por maio ou junho a inflação anual vai dar um pico de 6%”, disse o CEO da Verde. Ele lembrou ainda que a inflação esse ano foi tranquila naquilo que “não estamos podendo usar”, como alguns serviços e transportes, mas alta em itens como alimentação.

A Verde Asset tem R$ 49 bilhões sob gestão, sendo R$ 24 bilhões apenas na estratégia do fundo Verde. Na Live, o foi direto ao falar sobre operações de abertura de capital (IPO) na bolsa local, que não mostram bom desempenho após a estreia, dada a precificação das companhias, assessoradas pelos bancos de investimentos.

“O sinônimo de palavras como ‘janela de oportunidades’ é ter um monte de otários por aí”, disse em referência à tendência de querer sair nas operações com o máximo valor presente para as companhias que estão realizando o IPO. “Por que os IPOs saem caros nos Brasil? Nos EUA, as ações costuma subir depois de estrear na bolsa, aqui não.” Apesar das críticas, Stuhlberger vê continuidade na alta da renda variável, diante dos juros baixos e da perspectiva de normalização das atividades com a chegada das vacinas.

O gestor chamou a atenção, porém, para uma característica desse movimento que pegou de surpresa os gestores de ações, o “great rotation” (grande rotação, em tradução livre). “ Essa violência dos últimos 40 ou 50 dias, está [concentrada] nos ‘big losers’ estruturais, que são petróleo e ‘large cap banks’, que subiram algo como 50%”.

Conforme o gestor, “o Ibovespa que era para ser o patinho feio do ano voltou para o zero, o que é uma coisa assim impensável na minha opinião”. Leia seguir os principais trechos da entrevista.

Inflação

Hoje o mercado coloca o juro de 2021 em alguma coisa como 2,95% [na média]. Acho que será razoavelmente mais alto que isso. Não é o que o BC diz, nem o que o forward guidance indica ou o que o mercado acredita, mas acho que a inflação vai surpreender. E uma vez que a inflação surpreenda, BCs mudam de ideia. Acho que o Banco Central vai subir os juros numa rapidez e numa intensidade maior que o mercado espera.

Os modelos indicam que vamos terminar o ano perto do 4,52% ou algo assim e também mostram que inflação vai chegar no fim do ano que vem entre 3% e 3,20%. Só que antes, lá por maio ou junho, a inflação anual vai dar um pico de 6%. Porque então o BC e o mercado estão relativamente tranquilos com esse tipo de inflação?

A inflação que importa, que foi o problema por três décadas, é a de serviços. Mas não se espera inflação de serviços [para 2021] e essa é a razão de o BC manter os juros baixos e, junto com o mercado, estar relativamente tranquilo com isso.

Herança fiscal maldita

Falar que o problema fiscal do Brasil é sério é meio que chover no molhado. O Brasil é o país emergente que tem a maior dívida bruta em relação ao PIB. E é o país que está no topo entre os emergentes que fizeram mais estímulos fiscais durante a pandemia, algo entre 10% a 11% do PIB. O estrago foi grande.

A gente foi de um [déficit] primário de R$ 62 bilhões em 2019 para R$ 780 bilhões em 2020, por conta dos pouco mais de R$ 700 bilhões dos gastos com a pandemia e o estrago permanece ainda em 2021. Temos ai uma herança maldita pesadíssima.

No cenário antes da crise, a perspectiva era que a dívida bruta saísse de 75% do PIB para alguma coisa como 62% em 2030. Após a crise, cumprindo o teto, vai ficar acima de 90%. O Brasil tem um conjunto de despesas comparando com países emergentes e desenvolvidos muito fora da curva. O Brasil gasta muito e mal.

O que eu concluiria de Brasil é que o mercado está dando um “goodwill” muito grande ao país. A gente flertou com o abismo fiscal durante três meses, com ideias como furar o teto e aumentar mais ainda os benefícios sociais, e os desenvolvimentistas achando que para o Brasil crescer o governo tinha que gastar mais.

A gente pode flertar [novamente] com o abismo no ano que vem em função de que o comando da Câmara dos Deputados deve mudar, com a saída do Rodrigo Maia e entrada do Arthur Lira [apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro], que vem do Centrão, cuja mentalidade, embora seja reformista em princípio, é bastante mais gastadora do que a presidência da Câmara atual.

Juro real negativo

A gente está tendo neste ano uma Selic média de 2,80% para uma inflação de 4,30%. Então é um juro real negativo, eu diria pela primeira vez na história recente. A gente só tinha juro real negativo na época da hiperinflação. Desde o plano real ou um pouco antes disso tivemos juros reais extremamente positivos.

Isso é uma mudança de paradigma. Por conta disso o déficit nominal de 2021 vai estar razoavelmente um pouquinho acima do de 2019. O que é uma boa notícia, enquanto o juro ficar baixo estamos relativamente bem.

Vacinas

O Brasil é um dos piores países do mundo no combate à covid-19 em todos os sentidos. A nossa primeira fase de contágio nem chegou a zero, então não podemos nem falar que a gente está na segunda onda porque estamos reacelerando a primeira fase do contágio. Qual a nossa grande sorte? É que o mundo inteiro vai ter um excesso de vacinas. Canadá, EUA, Japão e Reino Unido têm mais de duas vacinas por pessoa. E das vacinas boas, as já testadas com 95% de eficácia, como as da Moderna e da Pfizer. Vai sobrar muita vacina.

Câmbio descolado

O real, que hoje está R$ 5,09, no modelo de “fair value” [valor justo] estaria em R$ 4,30, R$ 4,40 neste ano. A gente vê que por 10 anos esse modelo funcionou muio bem. Esse valor justo é montado em cima de algumas variáveis, que é o CDS Brasil de 5 anos [que funciona como medida do risco-país], dólar, índice CRB, que serve como proxy de preços de commodities, e Vix. Então a gente vê que está muito descolado. E eu creio que tem algumas razões para isso.

Na margem a gente teve um ano de 2020 com muito pouco investimento estrangeiro no Brasil. O fluxo para ações e renda fixa estava negativo e se reverteu em novembro e dezembro, mas, mesmo assim, ainda teremos um ano bastante negativo.

Agora, esse valor é inexplicável. O que eu diria sobre isso? Evidentemente quando a gente tem um juro real negativo, como a gente tem neste ano e devemos ter no ano que vem, isso provoca um movimento de não linearidade no câmbio. De qualquer forma ninguém tem uma explicação razoável para isso. Porque se fosse só o fiscal ruim, de uma certa forma o CDS tinha de estar acima de 150 pontos.

“Great Rotation”

É um tema que pegou a comunidade que opera os mercados de calça curta. Nos últimos cinco a seis anos deu uma paulada das big techs. [Com a pandemia] a gente vê que todos os “losers” [perdedores] da covid, tanto os estruturais quanto os momentâneos subiram algo entre 30% a 50%.

O Brasil está entre os losers que acabaram pegando muito forte essa “rotation”. O comportamento desde 2010 dos “covid losers” é bem diferente dos “structural losers”. A gente vê que desde 2010 antes da pandemia aerospacial, hotéis e parques estavam em alta, por isso que temos de separar esses perdedores em dois tipos, os estruturais e os momentâneos. S&P 500 a 4 mil pontos

A treasury de 10 anos veio de 8% a 9% para 0,5% e agora está em 0,9% e o yield do S&P 500 olhando na ótica de hoje não oferece um retorno maravilhoso. O retorno esperado é 4,6% ao ano. Evidentemente o futuro dirá se essas previsões estão certas.

Agora a questão é o custo de oportunidade, no fundo o que vale é o equity risk premium (ERP). Eu diria que os atuais 3,7% de ERP estão ok. Acho que a gente está testando esses limites de expansão de múltiplos agora. Olhando o yield do S&P com 4% de retorno como um limite muito forte a ser batido, isso seria compatível com S&P a 4 mil pontos ou algo assim.

Com juro baixo e estímulos fiscais que vão continuar ainda que menores e estímulos monetários, a gente está a caminho provavelmente de fazer uma bolha no mercado acionário, mas ainda não estamos num território de bolha. Com o S&P 500 negociando a um preço por lucro de 22 vezes — a média histórica é de 17 vezes —, sendo que parte considerável do S&P é tech justifica um múltiplo maior. Pela composição do índice não acho absurdo o S&P bater 4 mil, mas vai chegar uma hora que vai ter uma corrida para ter realização.

Ano atípico

Este ano está sendo um ano muito atípico por conta do fluxo imenso que está indo para bolsas globais e mercados emergentes no mês de dezembro. Eu pergunto se no mês de dezembro, que normalmente tem pouco volatilidade, acabam os IPOs e é um mês mais curto, o que esperar de janeiro?

Se dezembro está sendo assim, e janeiro é um mês em que os books de hedge funds e tesourarias de bancos são abertos e entram novas compras, acho um pouco preocupante de ficar não posicionado por conta do efeito calendário que está aí na frente.

Legado do BC

O BC do Roberto Campos Neto vai deixar um legado de coragem. O juro está 2% e, no dia que chegar a 5% ou 6%, a gente vai achar estupidamente alto. É uma mudança do padrão de expectativas — o Roberto Campos rompeu com uma barreira. Se o Brasil conseguir lidar com juro nominal de 5% ou 6% terá sido uma incrível vitória dessa modelagem do BC, que deu de presenta à nós brasileiros, porque o juro baixo é extremamente positivo para a economia.

 

Ociosidade elevada da economia justifica juros reais negativos, diz BC

O Banco Central (BC) calculou em 3,9% o nível de ociosidade da economia brasileira. O número é elevado e um dos elementos a justificar a manutenção dos juros reais negativos ainda por um tempo. O Banco Central acredita que esse indicador, que sintetiza alguns fatores como desemprego e uso da capacidade produtiva nas fábricas, ainda vai demorar para chegar em zero.

O dado foi apresentado pela primeira vez no corpo do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) e já mostrou melhora em relação aos dois trimestres anteriores, refletindo a retomada do crescimento do país. O ponto mais baixo foi no segundo trimestre, auge da pandemia, quando o indicador, também chamado de “hiato do produto”, ficou negativo em 4,9%. “No cenário-base, o hiato vai fechando ao longo do tempo, chegando a níveis neutros em 2022”, disse o BC.

O economista da LCA e pesquisador do Ibre/FGV, Braulio Borges, avaliou que “a boa notícia é que aparentemente vão divulgar isso regularmente, depois de um lapso de nove anos que perdurou até setembro”, no relatório anterior.

“Agora, eles escolheram exatamente uma única medida, aquela apresentada no RTI anterior. Por mais que apresentem intervalos de confiança para essa estimativa de hiato (um belo avanço, ainda que a IFI já faça isso há quase três anos), o BCB poderia divulgar outras estimativas de hiato, como o BC chileno faz, por exemplo”, completou.

O relatório revisou as estimativas para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste e no próximo ano. Para 2020, a queda na economia será de 4,4%, ante 5% de recuo na estimativa anterior. Para 2021, passou de 3,9% para 3,8% de crescimento.

O ritmo de retomada no próximo ano é maior do que os 3,2% previstos pelo Ministério da Economia e mesmo do que o mercado financeiro, de 3,5%. Mesmo assim, a velocidade é modesta, dado o tombo verificado neste ano.

Nesse contexto, o cenário central de inflação apresentado pela autoridade monetária mostra que o IPCA vai encerrar este ano em 4,3%, um pouco acima do centro da meta. Mas já voltaria para baixo do alvo de 3,75% definido para 2021, ficando em 3,4%, mesmo índice esperado para 2022, período para o qual o BC começa gradualmente a olhar com mais intensidade.

O diretor de política econômica do Banco Central, Fabio Kanczuk, disse que a partir do segundo trimestre do ano que vem o foco da política monetária será totalmente voltada para 2022. O presidente do BC, Roberto Campos Neto, por sua vez, disse que, à medida que o tempo passa, 2022 vai ganhando peso e que, à medida que o “forward guidance” (indicando que o juro não ia subir por um período de tempo) vai sendo retirado, volta-se ao cenário central, como definido no sistema de metas de inflação. “O foco foi ganhar transparência”, disse.

Os representantes do BC, assim como o documento divulgado ontem, enfatizaram a leitura de que a inflação mais alta nesses meses mais recentes é um fenômeno temporário. Admitiram que ela pode até aumentar no acumulado em 12 meses ao longo do próximo ano, mas vai estar comportada e encerrará 2021 na meta.

A “surpresa inflacionária” no trimestre entre setembro e novembro foi positiva em 1,44 ponto porcentual e o IPCA projetado para dezembro é de 1,09%. Para janeiro e fevereiro, porém, as taxas mensais já começam a rodar abaixo da meta, com 0,27% para o primeiro mês e 0,36% para o segundo. Entre os fatores recentes de pressão nos preços estão os itens administrados, como energia elétrica e reajustes de mensalidades escolares.

O BC enxerga risco zero de a meta não ser cumprida neste ano e probabilidade maior (19%) de o IPCA ficar abaixo do piso da meta do que de estourar seu teto - calculada em 8% -- em 2021. Para 2022, as chances também são maiores de ficar abaixo do piso do que de estourar o limite superior.

A autoridade monetária também inovou ao apresentar, com cálculos matemáticos, cenários alternativos para a inflação considerando uma situação de crise decorrente de piora na percepção fiscal, que faria o IPCA estourar o teto da meta em 2021, e de prolongamento da pandemia, que faria esse indicador encostar no piso de 2%.

 Em um boxe, o BC explicitou numericamente que a deterioração na leitura de risco fiscal do mercado levaria o IPCA para 6,4% no ano que vem, acima, portanto, do limite de 5,5%. Em 2022, cairia para 4,2%, mas ainda ficaria acima do centro da meta, de 3,5%. Já no caso de um prolongamento da pandemia e do distanciamento social, a inflação ficaria em 2,4% em 2021 e 2,5% no fim do ano eleitoral, abaixo do centro, mas dentro da meta.

Campos reforçou a mensagem fiscal do relatório e dos últimos meses, defendendo a importância do teto de gastos, e disse que o instrumento precisa ser mantido e que eventuais soluções “criativas” que o driblem representariam “quebra da disciplina fiscal” no âmbito do forward guidance. Ele reconheceu que pode haver soluções com o teto que aumentam dívida e sem o teto, que mantenham ou reduzam o indicador fiscal, mas reforçou o apoio ao teto.

“Achamos que o teto de gasto deve ser mantido e soluções criativas são uma quebra da disciplina fiscal. É o que entendemos que é importante no âmbito do forward guidance”, disse. O impacto da prescrição futura nas taxas de juros do mercado também foi calculado pelo BC.

Segundo a autoridade, o forward guidance (FG) promoveu redução nas taxas de juros de mercado, em especial na de dois anos. O tema foi tratado em um capítulo à parte. “Este boxe aponta a eficácia da adoção do FG, representado pelo comunicado da reunião do Copom de agosto de 2020, na estrutura a termo da taxa de juros.

De acordo com as estimativas realizadas, o efeito do FG foi de 0,12 p.p. (taxa nominal) ou 0,11 p.p. (taxa real), sendo similar a uma surpresa negativa de 25 pb [0,25 p.p.] na taxa Selic”, informou o BC. “Essa estimativa deve ser vista com cuidado, em função da pequena quantidade de observações”, completou.

 

Imunização é crucial para retomada brasileira, diz Santander

A imunização da sociedade contra o coronavírus é "crucial" no processo de recuperação da economia brasileira, uma vez que tende a melhorar a confiança e aumentar a mobilidade, disse Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander Brasil, ao comentar números, antecipados à Reuters, de revisão de cenário.

"Não adianta você, sem uma imunidade de rebanho e sem uma redução substancial dos índices de contágio, retirar regras de restrição à mobilidade. Isso geraria desconfiança, incerteza, insegurança", disse Vescovi. "A questão da vacinação é fundamental nesses dois aspectos da recuperação da economia."

Até o momento, o Santander tem classificado a retomada econômica como "gradual e heterogênea", com os números reforçando perspectiva de "sólido" crescimento no quarto trimestre de 2020. Mesmo com a retirada do auxílio emergencial, programada para 2021, um "efeito mecânico" da reabertura da economia, sobretudo do setor de serviços, deve compensar a queda na massa salarial ampliada.

Com isso, o Santander melhorou as estimativas para o desempenho do PIB em 2020, para queda de 4,1%, ante taxa negativa de 4,8% prevista antes. Para 2021, o prognóstico de crescimento foi reduzido a 2,9% (de 3,4%) e em 2022 a atividade deverá crescer 2,5%, contra 2,6% estimado antes.

A inflação, cuja alta voltou a chamar atenção nos últimos meses, deve fechar 2020 em 4,50% (acima do centro da meta, de 4%), contra projeção anterior de 3,30%. Segundo Vescovi, a revisão se deu por choques em alimentos e na taxa de câmbio, que ainda se desvaloriza 21% ante o dólar em 2020, e pelo forte impacto da decisão da Aneel de revisar a bandeira tarifária em dezembro de 2020.

O Santander elevou ainda a estimativa para o IPCA de 2021, saindo de 2,90% para 3,00%, em meio à "força do choque (inflacionário) e à duração dele". Para o IPCA 2022, o banco manteve estimativa em 3,20%. Em ambos os anos, a inflação ainda ficaria abaixo do centro da meta perseguida pelo BC: de 3,75% para 2021 e 3,50% para 2022.

O Santander revisou ainda as projeções para a trajetória da Selic, após um tom "menos acomodatício" da parte do Banco Central. A instituição privada passou a ver a Selic em 2,50% ao término de 2021, contra estimativa anterior de 2,00%, com duas altas de 0,25 ponto percentual a partir de outubro.

"O forward guidance (orientação futura do BC) deverá ser retirado a partir de março... mas se a gente perder a âncora de credibilidade de política fiscal a situação fica diferente", disse Vescovi.

A economista avaliou que a trajetória da política fiscal ficará mais clara somente após a eleição dos presidentes do Congresso Nacional, em fevereiro.

Em seu cenário-base, a hipótese fundamental é o cumprimento do teto de gastos no médio prazo, apesar de dificuldades para sua execução em 2021. A projeção para o déficit primário consolidado de 2020 foi melhorada, saindo de 879 bilhões de reais para 770 bilhões de reais.

"Qualquer coisa que fuja das regras do TCU para o teto de gastos e que gere criação de novas despesas de caráter continuado tornaria a situação do lado fiscal mais difícil", disse Vescovi, lembrando alerta do Tribunal de Contas da União (TCU) de que os chamados "restos a pagar" estarão sujeitos à regra do teto de gastos no próximo ano.

Do lado do câmbio, o Santander manteve projeção de que a moeda norte-americana fechará 2021 em 4,60 reais e 2022 em 4,15 reais, projeção abaixo do consenso de mercado. O dólar à vista estava em 5,0778 reais nesta quinta-feira.

"Levamos em conta cenário de retomada da economia global, volta do multilateralismo com Joe Biden (presidente eleito dos EUA), de que o Brexit vai passar e de que a guerra comercial não apenas não vai escalar, como vai perder alguns decibéis", disse a economista, citando que essa combinação de fatores ajudaria na volta do fluxo estrangeiro ao Brasil.

Esse quadro, combinado com uma redução de riscos fiscais via comprometimento com o processo de consolidação fiscal e respeito ao teto constitucional de gastos, poderá reduzir os prêmios de ativos brasileiros em geral, levando o real a se fortalecer de forma "mais pronunciada", avaliou o Santander.

"Mas se tivermos uma 'derrapagem' fiscal, poderemos ter uma depreciação bem acentuada do real. Temos um problema fiscal grave e, para não termos abortada essa recuperação que se inicia, precisamos ter sinais claros da classe política de sustentação ao cenário fiscal por meio de manutenção do teto e recuperação das reformas", concluiu Vescovi.

 

BC revisa para baixo projeção de crescimento do PIB em 2021 para 3,8%

Ainda com incertezas sobre a evolução da pandemia do novo coronavírus no próximo ano, o BC (Banco Central) revisou, nesta quinta-feira (17), a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2021.

Para a autoridade monetária, a atividade deve se elevar em 3,8%, 0,1 ponto percentual abaixo do estimado em setembro.

O BC também ajustou a estimativa para a retração da atividade em 2020 e vê queda de 4,4%, ante 5% do relatório de inflação anterior.

"Em parte, essa revisão [da projeção de 2021] reflete a antecipação da recuperação econômica esperada, ao menos para alguns setores e componentes da demanda, para o ano de 2020. Por outro lado, o menor crescimento trimestral também é consequência da recuperação mais lenta do mercado de trabalho e dos índices de mobilidade”, diz o BC no documento.

Sobre a retomada, o diretor de Política Econômica, Fábio Kanczuk afirmou que teve formato em V (com queda acentuada e retorno na mesma velocidade). "Esperávamos que fosse mais parecida com o símbolo da Nike, um swoosh [retorno mais lento], mas a volta foi mais rápida", disse.

A autoridade monetária reafirmou que a perspectiva leva em conta a continuidade do processo de reformas em tramitação no Congresso e "ajustes necessários na economia brasileira", que o BC considera "condição essencial para permitir a recuperação sustentável da economia".

Para a inflação, a projeção central do BC é de 4,3% para 2020, 3,4% para 2021, 3,4% para 2022 e 3,3% para 2023. A estimativa leva em conta a taxa de câmbio constante R$ 5,25 e a taxa básica de juros (Selic) a 2% em 2020, 3% em 2021, 4,5% em 2022 e 6% em 2023.

O BC reconheceu que o choque de preços recente, especialmente em alimentos e combustíveis, foi mais forte que o previsto no relatório anterior, inclusive em setores mais deprimidos, como vestuário.

"A surpresa inflacionária no período foi concentrada, principalmente, em alimentação no domicílio, refletindo choque que se mostrou mais forte, persistente e abrangente do que se antevia em setembro. Houve também altas mais fortes que as antecipadas para bens industriais, em particular artigos de residência e de vestuário, e para preços administrados, com destaque para gasolina", destacou.

Além disso, o documento ressaltou a alta nas commodities. "Ao longo do período, preços internacionais de commodities foram maiores que os considerados no cenário e o real, em média, se mostrou mais depreciado."

Na apresentação do relatório, o diretor afirmou que a inflação em dezembro deve se manter elevada, mas reiterou que o choque é temporário.

Em um boxe, estudos que o BC divulga junto com o relatório com temas diferentes a cada edição, foi analisada a inflação em cenários alternativos. Em uma das simulações, o BC considerou piora no quadro fiscal.

Nesse caso, os preços subiriam 6,4% em 2021, diferença de 3 pontos percentuais em relação ao cenário de referência.

Por outro lado, também foi analisada a situação de prolongamento da pandemia, em que as pessoas ficariam mais tempo em isolamento social, que tem efeito de baixa na inflação.

Com isso, o próximo ano fecharia com inflação em 2,4%, diferença de 1 ponto percentual para o cenário central do BC.

"Divulgamos os cenários alternativos com o intuito de aumentar a transparência sobre como discutimos esses choques internamente", ressaltou o diretor.

O BC também divulgou pela primeira vez o juro neutro (aquele que não estimula nem reduz a atividade), de 3%.

Outro estudo trouxe o efeito do auxílio emergencial na inflação.

"Analisamos a cesta de alimentos das faixas de renda mais pobres e mais ricas. Os preços da carne, por exemplo, de primeira, consumida pelos mais ricos, e de segunda, pelos de menor renda, normalmente andam juntos, mas se distanciaram nesse período. Concluímos que o benefício fez sim diferença nesse caso", explicou Kanczuk.

Um dos boxes analisou o motivo de as exportações brasileiras terem caído menos que em outros países. Segundo o diretor, o comércio exterior no país se baseia em soja e carne.

"São commodities de alimentos que permaneceram em alta na pandemia. Além disso, temos a China como maior compradora, que sofreu menos que outros na crise. Essa parece ter sido a particularidade do Brasil", destacou.

O BC também classificou em dois tipos a poupança formada durante a pandemia, precaucional e circunstancial.

"A circunstancial desaparece assim que o problema do vírus é sanado, a precaucional depende mais de incertezas econômicas, pessoas adiando o consumo com medo de variáveis financeiras. O estudo conclui que o retorno dessa poupança à economia pode demorar mais do que o previsto", salientou Kanczuk.

No crédito, a autoridade monetária aumentou a previsão de expansão de 11,5% para 15,6% em 2020. Para o próximo ano, a estimativa é de crescimento de 7,8%.

"As projeções de crescimento do estoque total de crédito para 2021 consideram cenário de normalização das condições de oferta e demanda de crédito, com a retomada do financiamento das grandes empresas no mercado de capitais doméstico e consequentemente arrefecimento na expansão do crédito bancário", disse no texto.

"As empresas de menor porte continuarão demandando crédito no SFN [Sistema Financeiro Nacional], que será atendido principalmente com recursos livres, dado o término dos programas emergenciais", completou.

Sobre a vacinação da população, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, disse que os mercados globais pararam de olhar para a prorrogação de estímulos fiscais e estão precificando a imunização.

"Uma solução definitiva é certamente mais eficiente do que uma temporária. Acho que o governo brasileiro está seguindo nessa direção, foi assinada hoje a MP [medida provisória] que libera R$ 20 bilhões para a compra das vacinas", argumentou.

Recentemente, ele disse que um programa de vacinação seria mais barato para o país que a prorrogação do auxílio emergencial.

Campos Neto ressaltou que atrasos na vacinação poderiam impactar negativamente o crescimento econômico.

"Isso implicaria em mobilidade menor e teria impacto nas variáveis chave. Mas hoje não há indicação de que isso vá acontecer, o governo tem um plano [de vacinação]. Precisamos esperar para ver o resultado e a reação da população", pontuou.

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