Quinta-feira

VALOR

Piora da pandemia traz risco de recessão

Mesmo com a perspectiva de que o auxílio emergencial seja reeditado em 2021, a discussão sobre a sobrevivência ou não do teto de gastos foi superada e, se não houver uma piora adicional do quadro fiscal, o maior risco para a recuperação da atividade econômica seria um descontrole mais grave da pandemia.

A avaliação é de Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander, que enxerga uma nova leva do “coronavoucher” em 2021. “A pandemia trouxe uma convivência possível entre o plano político e a questão fiscal”, disse, em entrevista ao Valor.

No relatório “Proposições Macro para 2021”, antecipado ao Valor, a equipe econômica do banco afirma que as transferências fiscais devem ser parcialmente retomadas este ano, num montante total de R$ 25 bilhões. Esse valor seria pago ao longo de quatro meses, para 30 milhões de beneficiários não incluídos no Bolsa Família, com recursos que viriam da abertura de créditos extraordinários.

“Seria um novo auxílio temporário, de três até seis meses, com um público-alvo mais focalizado do que na primeira edição, e com uma renda menor, mais perto da do Bolsa Família”, aponta a ex-secretária do Tesouro.

Segundo a economista, o aumento com os gastos sociais deve ser compensado por alguma medida que ajude a conter o aumento das despesas obrigatórias, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial.

Já a janela para a aprovação de reformas mais estruturais é curta e deve ficar encavalada com a eleição de 2022. Mas se a brecha for bem aproveitada pelo Executivo, temas positivos podem avançar no Congresso ainda este ano, como a adição de mais pontos que reduzam despesas obrigatórias na PEC Emergencial, a criação da Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS), que consta da proposta de reforma tributária do governo, e a continuidade da melhoria de mais marcos regulatórios. “São questões positivas, mas não definidoras da questão fiscal”, pondera ela.

Em relação à atividade, Ana Paula afirma que a estimativa do banco de alta de 2,9% para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano deve ser mantida, número que contabiliza leve retração no primeiro trimestre, estabilidade no segundo trimestre e recuperação mais expressiva somente a partir da segunda metade do ano.

A economista-chefe do Santander alerta, no entanto, que o cenário está totalmente ligado ao processo de retomada da circulação de pessoas e reabertura da economia e, consequentemente, ao cronograma de imunização. Assim, uma possível intensificação da pandemia, a partir de mutações mais transmissíveis do novo coronavírus, poderia levar a uma recessão técnica no primeiro semestre.

Passada a fase mais aguda da crise, a economista alerta para agendas que deverão ser enfrentadas para retomar o PIB potencial, a começar pela redução da desigualdade, que deveria vir por meio de uma reforma tributária. Atrasos educacionais intensificados pela pandemia também devem deixar de legado um país menos produtivo. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Valor: Com a deterioração do cenário econômico, o Santander deve rever para baixo a estimativa para o crescimento do PIB este ano?

Ana Paula Vescovi: Não estamos com uma cabeça de mudar muito o cenário de atividade, que prevê crescimento de 2,9% para 2021. Vemos a atividade num passo bastante lento em 2021, mas com uma diferença: há uma queda suave no primeiro trimestre e uma recuperação um pouco mais aparente só no segundo semestre. Todo o nosso cenário está baseado na percepção sobre o processo de recuperação da mobilidade, que está bastante atrelado ao processo de vacinação, tanto no mundo, porque reabre a atividade global e reativa a economia, quanto no Brasil.

Valor: No cenário de vocês, até o fim de 2021, cerca de metade da população brasileira estará imunizada. Isso seria suficiente para o país voltar a crescer mais próximo do ritmo potencial?

Ana Paula: Estamos acreditando que a imunidade de rebanho, da forma como os imunologistas definem, será alcançada mais para o início de 2022. Mas à medida que o número de pessoas imunizadas, seja pela imunidade natural ou pela vacina, fique em uma escala maior, isso vai reduzir muito a mortalidade e a hospitalização. Na nossa visão, isso vai acontecer mais para o segundo semestre, o que é importante, porque permitirá que regras de contenção de mobilidade sejam relaxadas e que as pessoas tenham mais confiança na sua própria circulação. A partir daí, a gente vai começar a perceber o efeito de uma campanha de vacinação que vai começar gradual e vai ganhar tração.

Valor: Como avalia a dinâmica do crescimento em 2021?

Ana Paula: Não é nem de longe um crescimento perto do potencial. É apenas uma recuperação de parte do que sofremos de queda no ano passado. Temos um carregamento estatístico dado pelo processo de recuperação ao longo de 2020 que praticamente nos traz este número [crescimento de 2,9% projetado para 2021]. É uma economia crescendo de lado. A gente vê uma queda no primeiro trimestre, até porque a mobilidade se reduziu no período, e recuperação mais clara na segunda metade do ano.

Valor: Há risco de que a economia entre em recessão técnica novamente no primeiro semestre?

Ana Paula: A gente vê essa possibilidade somente se tiver algo excepcional dentro do cenário de pandemia. É um risco de cauda. Como, por exemplo, termos essa variante do vírus, que já está presente em Manaus e que imunologistas alegam que começou a aparecer em outras regiões do país, saindo do controle. Que tenhamos uma nova onda muito grave em termos de contágio, aumentando hospitalizações e mortes, muito em função de uma nova cepa de vírus.

Valor: O Santander trabalha com outros cenários alternativos para 2021, diante do alto nível de incertezas?

Ana Paula: Nós construímos essa ideia do cenário-base e do cenário alternativo em 2020 porque havia uma dubiedade grande vindo da política fiscal. Mas saímos agora do cenário dual. No ano passado, a grande discussão foi se haveria reformulação dos programas sociais no Brasil e até que ponto isso seria ameaça ao teto de gastos. Não sabíamos se isso seria adotado ou não e por isso fizemos dois cenários: um benigno, em que o teto era respeitado, e um em que a gente perdendo a âncora fiscal, teríamos uma deterioração tal de condições financeiras que nos levariam a um cenário alternativo. Essa discussão foi superada. A pandemia trouxe uma convivência possível entre o plano político e a questão fiscal. O teto de gastos permite a criação de exceções, que são os créditos extraordinários, para fazer frente a situações excepcionais tal como pandemia.

Valor: Essa convivência que a sra. cita permite a volta do auxílio emergencial este ano?

Ana Paula: Pode vir uma nova edição de um auxílio emergencial dentro de um crédito extraordinário. Não seria mais um programa permanente, como um “Renda Brasil”. Seria um novo auxílio temporário, de três até seis meses, com um públicoalvo mais focalizado do que na primeira edição, e com uma renda menor, mais perto da do Bolsa Família. Mas isso será de algum modo compensado com uma PEC Emergencial. Essa compensação vai ser descasada no tempo, e pode ser descasada em valor, mas deve haver algum esforço do meio político de apresentar alguma medida que ajude na contenção da despesa obrigatória permanente. Mas nada que seja para 2021; perdemos o “timing” para fazer algo com impacto neste ano.

Valor: No relatório, o Santander fala de reformas compensarem gastos extraordinários este ano, para dar sinalização mais positiva ao mercado. Como a sra. vê a influência das novas presidências de Câmara e Senado nessa pauta?

Ana Paula: Vejo o ano de 2021 como muito curto. A minha sensação é que 2020 ainda não acabou, pela extensão da crise pandêmica. E 2022 vai chegar muito mais cedo, porque as disputas eleitorais tendo em vista as eleições presidenciais vão ser antecipadas, dado essa fricção toda, principalmente na eleição da Câmara. Traduzindo isso para a janela de reformas, ela será muito curta. Por isso precisamos de uma pauta muito focada e pragmática do Ministério da Economia e da Presidência chegando agora ao Congresso, para que a gente tenha um bom uso do espaço aberto com a eleição dos candidatos preferidos do governo. Temos essa janela, mas precisamos saber usá-la.

Valor: Quais projetos devem avançar no Congresso?

Ana Paula: Vemos como itens muito positivos que podem vir nesta pauta a proposta de reformulação do relatório ainda não apresentado formalmente da PEC Emergencial, para adicionar mais impactos em termos de contenção de despesas obrigatórias; um esforço do governo em aprovar a lei do CBS [Contribuição sobre Bens e Serviços]; a continuidade da aprovação de marcos regulatórios setoriais, com textos que permitam abertura e aumento de competitividade em áreas como gás e cabotagem; a aprovação da autonomia do Banco Central, a simplificação da lei cambial... São questões positivas, mas não definidoras da questão fiscal, e de termos como vislumbrar uma trajetória sustentada da dívida pública.

Valor: Por que o risco fiscal não sai totalmente do cenário?

Ana Paula: Qualquer medida que se aprove agora não tem efeito em 2021. E vemos pouco espaço para aprovarmos medidas com impacto mais contundente, como uma desvinculação, ainda que temporária, em dois ou três anos, de benefícios previdenciários assistenciais, ou uma reestruturação dos programas de assistência social, ou uma reforma tributária mais ampla, que não vai versar sobre despesas, mas que contribuiria para reestruturar a questão dos incentivos fiscais no Brasil, dos gastos tributários. Vamos precisar fazer uma reforma administrativa que trabalhe em várias frentes em termos de reconstrução do Estado brasileiro. A gente não vê condições de criar consensos tão difíceis neste momento e até provavelmente a construção de um novo governo em 2023.

Valor: Quando a trajetória de alta da relação dívida/PIB será estabilizada?

Ana Paula: Depois de alcançar um pico muito próximo de 100% do PIB, a dívida bruta deve, em 2027, começar um processo de convergência muito gradual, especialmente muito em função dos efeitos defasados da reforma da Previdência. Agora o que nos preocupa mais é que, ainda que a gente tenha um quadro externo de baixíssima vulnerabilidade, é muito difícil acreditar que o Brasil consiga manter por mais seis ou sete anos a geração de déficits primários. A lição dos ciclos econômicos é que eles nos trazem choques recorrentes.

Valor: O risco é o Brasil chegar em uma eventual próxima crise com ainda menos espaço fiscal?

Ana Paula: Sim. Se for preciso dar outro salto na dívida bruta, a gente não consegue impedir que as condições financeiras se deteriorem de forma muito severa. A gente não vai ver melhorias substanciais a ponto de podermos colher já em 2021 toda a melhora de condições financeiras internacionais porque isso passa pela retirada de riscos.

Valor: Essa situação está tendo reflexos na taxa de câmbio?

Ana Paula: Olhando para os fundamentos, a taxa de câmbio sofreria uma apreciação [o real se valorizaria em relação ao dólar] importante em 2021, ajudando a conter esse choque inflacionário e permitindo um ambiente mais favorável para os investidores. Mas vamos ter apreciação cambial muito menos intensa do que poderia acontecer em função da manutenção dos riscos idiossincráticos [pandemia e questão fiscal]. A gente não crê que as condições possam piorar, mas também não vemos que os riscos possam ser afastados.

Valor: O dólar ainda alto aumenta as preocupações para a dinâmica inflacionária?

Ana Paula: Fomos surpreendidos em 2020 com um repasse da depreciação cambial nos preços domésticos, ainda que com o hiato do produto muito aberto e uma grande ociosidade na economia. Isso é um sinal de que em alguns segmentos, especialmente nos industriais, não há mais espaço para compressão de margens. E isso se agrava na medida em que a gente vai ter um ciclo de alta de juros, encarecendo os serviços financeiros das empresas e das famílias.

Valor: Quais as projeções para a inflação em 2021 e 2022?

Ana Paula: Além de começar o repasse de margens pelas empresas industriais, vamos ter recuperação dos preços de commodities e uma pressão nos serviços por causa da alimentação fora de casa. Ainda estamos fechando os números, mas o IPCA deverá ficar dentro das metas de 2021 e 2022. Os núcleos de inflação ainda deverão ficar comportados, na casa de 3%.

Valor: Quando deve começar o ciclo da alta da Selic?

Ana Paula: A normalização deve começar no primeiro semestre e vai ser parcial. Pode ser que esse ciclo de alta se interrompa ainda em 2021. Antecipamos a perspectiva do segundo para o primeiro semestre, até pela comunicação da última ata. Ainda não está decidido no nosso cenário se a primeira alta será em março ou maio. Isso deve ser colocado na próxima revisão.

Valor: O que podemos esperar para o consumo das famílias?

Ana Paula: Vemos ainda mais espaço para endividamento das famílias porque, com essa queda de quase 7% da massa salarial ampliada (que inclui o auxílio emergencial), o crédito acaba sendo um canal natural de acontecer, lembrando que parte do consumo das famílias são questões essenciais.

Valor: A chamada poupança precaucional formada durante a pandemia vai ajudar na retomada?

Ana Paula: Mais do que a tese da poupança precaucional, acreditamos na recuperação da mobilidade inclusive para explicar esse consumo que não cai tanto, até cresce um pouco, ao redor de 2% [em 2021]. É a normalização da cesta de consumo. Ou seja, as famílias voltam a consumir mais serviços à medida que a mobilidade se restabelece. Esse é um componente importante da recuperação do consumo.

Valor: Como será o legado da crise para a produtividade e capacidade produtiva?

Ana Paula: A pandemia foi uma crise diferente porque ela não destruiu a capacidade produtiva de forma relevante. Nós fomos bem-sucedidos na sustentação da capacidade por meio de uma série de programas. Vai existir um processo de fechamento de firmas, que ainda não observamos, mas não vemos uma grande destruição de capacidade produtiva. Agora, temos uma perda educacional preocupante. Menos pessoas vão se formar e vai ter um problema de formação, então a produtividade vai ser afetada. Outro fator vai ser a tecnologia, que foi incorporada mais rapidamente na pandemia e traz mais produtividade. Mas, por outro lado, isso pode dificultar a recuperação da força de trabalho, então talvez o desemprego estrutural no Brasil aumente.

Valor: O investimento estrangeiro pode ajudar na retomada?

Ana Paula: O ambiente de negócios e o macroeconômico ainda não estão dando conta de trazer de forma relevante poupança externa e mais investidores estrangeiros e de colocar de forma mais contundente os investimentos, especialmente os em infraestrutura, para andar.

Valor: O combate à desigualdade poderia ajudar a superar a crise?

Ana Paula: A gente precisa dar um sinal mais claro enquanto sociedade de como vai resolver esse problema da desigualdade. Acreditamos que recuperar o PIB potencial brasileiro passa por medidas que também resolvam essa questão da desigualdade, e por isso nós insistimos muito nessa questão da reforma tributária, assim como na reestruturação da assistência social.

 

 “2021 vai ser um ano mais difícil que 2020 politicamente”, diz Garman

A presença de aliados do presidente Jair Bolsonaro no comando da Câmara e do Senado facilita a negociação da agenda de ajuste fiscal entre a equipe econômica e os parlamentares. Ainda assim, serão desafios neste início de ano a decisão sobre a reativação ou não do auxílio emergencial, o avanço de uma reforma fiscal e o impacto da crise sanitária e econômica na popularidade do presidente da República.

Essas são as projeções do diretor-executivo para as Américas da Eurasia, Christopher Garman. Em entrevista concedida ontem ao Valor, Garman detalhou como o desdobramento da pandemia no país nas próximas semanas será determinante para definir os movimentos da área econômica em relação a um novo auxílio, que viria com a contrapartida de uma reforma fiscal.

Em uma perspectiva otimista, o analista crê que o Congresso aprova até maio três PECs que constituem essa reforma. Garman antevê avanços na agenda de reformas neste primeiro semestre. Ainda assim, pondera que 2021 vai ser um ano mais difícil do que 2020 politicamente.

O analista projeta que Bolsonaro vai enfraquecer e que, quanto mais fraco estiver, maior vai ser a fatura do Centrão para apoiá-lo. Para o diretor da Eurasia, a queda de popularidade do presidente ainda não reflete o fim do auxílio emergencial. "Vai cair mais.” A seguir, os principais trechos da entrevista:

Valor: Qual o impacto para a agenda econômica de haver aliados do presidente no comando da Câmara e do Senado?

Christopher Garman: O resultado das eleições da Câmara e do Senado reforçam o quadro que devemos ter avanço na agenda de reformas no primeiro semestre. Houve um exagero na percepção do risco ao longo do mês de janeiro. O quadro era de deterioração da situação sanitária em Manaus (AM), críticas à vacina, ruídos de impeachment e a possibilidade de reintrodução de um auxílio de uma forma descoordenada. Era uma mistura de percepção de risco de crise política, descontrole fiscal e mau manejo da pandemia.

Valor: A eleição de Lira e Pacheco ajusta essa percepção de risco?

Garman: A vitória diminui a temperatura e alinha expectativas de que não devemos ter um descontrole fiscal relevante neste ano. Também significa que há lideranças na Câmara e no Senado que vão trabalhar de forma mais coordenada com o Planalto e com a equipe econômica no curto prazo. Ainda assim, 2021 vai ser um ano mais difícil do que 2020 politicamente.

Valor: O que muda de Maia para Lira na relação da Câmara com o Ministério da Economia?

Garman: Maia conhece a fundo os problemas econômicos, tem relações com renomados economistas no setor privado e tinha interlocução com integrantes da equipe econômica. Lira é amigável à agenda econômica, mas não tem o compromisso programático de Maia com ela. Então, empurrar essa agenda vai depender da coordenação do Planalto.

Valor: O que se altera em relação ao futuro das reformas?

Garman: Na Câmara fica para trás uma reforma tributária ampla como a PEC 45. Era um projeto de Rodrigo Maia e do grupo dele. A equipe econômica tinha resistências e a preocupação de perder receita. O mais factível agora é uma mudança tributária restrita ao PIS/Cofins. Com Lira, avançam a reforma administrativa e uma reforma fiscal.

Valor: É possível que vingue a ideia do ministro Paulo Guedes de recriar a CPMF?

Garman: Muito difícil. Não seria aprovada nem para financiar um auxílio extra-teto.

Valor: Em quanto tempo imagina que se concretizem as reformas?

Garman: A administrativa é politicamente mais fácil do que a fiscal, porque lida só com entrantes no serviço público. Lira falou em aprovar a administrativa até março, mas achamos difícil. Seria mais para maio ou junho, na Câmara, com promulgação no final do ano. A reforma fiscal pode ser um pouco mais rápida, para abril ou maio, se sair do Senado em março. Isso em um cenário otimista. Não é a nossa aposta.

Valor: Qual é a aposta?

Garman: Ainda não cravamos Estamos avaliando.

Valor: O senhor mencionou as chances de se fazer uma reforma fiscal. O que ela deve abarcar?

Garman: Vai ter uma retomada de negociações envolvendo a PEC 186, de Emergência Fiscal, a PEC 188, do Pacto Federativo e a PEC 187, do Fundos. Apostamos que vai adiante a questão da antecipação dos gatilhos, redução do gasto tributário e algo da PEC dos Fundos.

Valor: Quais as condições para que se avance com a reforma fiscal?

Garman: As chances de uma reforma fiscal vão estar interligadas com a deterioração do quadro sanitário. Criar ou não um novo auxílio que não caiba no teto vai depender do quadro epidemiológico e se temos uma deterioração da pandemia que pode levar Estados e municípios a decretarem medidas de restrição mais severas no mês de fevereiro. Esse é grande ponto a que a classe política vai reagir. Se quem recebia o auxílio tiver que voltar a ficar em casa, a pressão política e social cresce muito para que haja um auxílio.

Valor: Como seria esse auxílio extra-teto e que implicações ele teria em termos fiscais?

Garman: Se houver necessidade de um auxílio extra-teto, esse valor tende a ser menor e mais restrito no tempo do que o do ano passado e, provavelmente, a medida virá acompanhada de uma reforma fiscal que controle gasto futuro. Crescem as chances da PEC Emergencial ser aprovada se houver necessidade de um auxílio extra-teto. Os dois tendem a vir juntos. Não dá para aprovar uma PEC Emergencial antes de uma decisão sobre o auxílio. E essa decisão depende da severidade da pandemia. Saberemos isso nas próximas semanas, no mês de fevereiro. Se o lockdown vier, a equipe econômica vai ter que ceder algo acima do teto.

Valor: Com o quadro de hoje, haveria um novo auxílio?

Garman: A questão é: se houver auxílio será de forma ordenada e restrita ou não? A equipe econômica deve conseguir trabalhar com o Congresso para restringir o número de beneficiados, restringir para dois, três meses no máximo e ancorar expectativas com reforma fiscal. Você troca um gasto temporário nesse ano por aperfeiçoamento das regras fiscais, antecipação dos gatilhos, metas de reduzir custos tributários. O Congresso está aberto a essa negociação. Assim, mesmo se vier um auxílio, não vai ser aquela sangria toda.

Valor: Bolsonaro e Guedes dizem que um novo auxílio é inviável.

Garman: Nosso cenário base é que não haverá um auxílio emergencial extra-teto, mas damos uma probabilidade de 40% de ter um auxílio extra-teto. Esses 40% são em um cenário de deterioração da pandemia. Se isso acontecer, a pressão em Brasília vai ser grande para ter um auxílio que dificilmente cabe debaixo do teto. Mas os números ainda não deixam claro que essa deterioração vá acontecer, então acreditamos em um benefício abaixo do teto.

Valor: Qual o gasto máximo aceitável com um novo benefício dentro do teto?

Garman: É difícil. Você vai ter que tirar de algum lugar. Tirar do abono salarial, por exemplo. Qualquer ajuda extra fica mais restrita, a R$ 10 bilhões ou R$ 20 bilhões.

Valor: O que se espera da relação dos presidentes da Câmara e do Senado com o Palácio do Planalto?

Garman: A relação vai estar refém do grau de fragilidade do presidente. Possíveis novas quedas na taxa de aprovação do presidente estarão relacionadas à retirada do auxílio. Isso não foi totalmente incorporado nas pesquisas de janeiro. As pesquisas de janeiro mostraram uma queda que era fruto das críticas pela demora na distribuição das vacinas, as cenas chocantes de Manaus, que realçam o mau manejo da covid-19 pelo presidente. Bolsonaro pagou um preço elevado em janeiro por isso, mas ainda não pagou o preço cheio pela queda da renda e aumento da pobreza com o fim do auxílio.

Valor: Como deve se comportar o índice de popularidade do presidente da República neste ano?

Garman: A aprovação de Bolsonaro nos próximos meses deve cair um pouco mais e aí os partidos do Centrão vão cobrar um preço mais elevado pelo apoio. O governo vai pagar a primeira parte da fatura em uma reforma ministerial modesta, mas isso vai ser uma negociação contínua. Quanto mais fraco o presidente está, mais alto o custo de transação para manter esse apoio. Eu acho que o presidente vai se enfraquecer mais ao longo desse ano. A aprovação popular dele vai cair um pouco mais. Por isso, vejo o primeiro semestre como mais produtivo para reformas.

Valor: Que fatores devem pressionar a popularidade de Bolsonaro?

Garman: No curto prazo, o atraso na vacinação. Claramente o governo está preocupado e passou a agir, mas o presidente tem uma reputação ruim no manejo da covid. Mas a maior pressão mesmo serão as repercussões econômicas e sociais do fim do auxílio. Vamos sentir em fevereiro e março aumento de pobreza e queda da renda.

Valor: O impacto na popularidade do presidente virá mesmo que seja recriado um auxílio?

Garman: Sim, porque é difícil que você tenham um canhão como o que se viu no segundo semestre do ano passado, em que 43% dos domicílios recebiam os R$ 300 por mês. O governo vai restringir o número de quem recebe e o valor. Na medida que a renda cai e a pobreza aumenta, a sensação de mal estar cresce e isso prejudica o presidente. Daí teremos que ver a taxa de ocupação da economia. Se estabilizar, o presidente pode voltar a subir em aprovação no final do ano e no início de 2022.

Valor: Qual patamar de popularidade colocaria o impeachment no radar?

Garman: A popularidade do presidente teve agora uma queda importante, para cerca de 30% de “ótimo e bom”, o que equivale a 40% de aprovação. Mas presidentes que têm essa taxa de aprovação geralmente ganham a reeleição. Os patamares consistentes com impeachment - como foi o caso de Dilma Rousseff e de Fernando Collor de Mello - são: um ano antes do afastamento, “ótimo e bom” abaixo de 20% e, três meses antes, abaixo de 15%. Então, para entrar na zona de impeachment tem que ter um “ótimo e bom” na casa de 15%. Estamos longe disso.

Valor: A mudança no comando do Congresso indica que Bolsonaro agora conta com apoio da maioria no Legislativo?

Garman: Não. A base de apoio do presidente ainda é minoritária. Vários votos de Lira e de Pacheco vieram de partidos que estão fora da coalização do presidente. Não podemos confundir voto para Lira ou Pacheco ou com uma coalização prógoverno nem com uma coalizão pró-reforma. Ainda assim, é uma base política para poder impedir no curto prazo o ruído do impeachment.

Valor: Como a Eurasia vê o cenário econômico da América Latina para este ano?

Garman: Vai ser um ano difícil. A América Latina já tinha índices altos de desencanto com a classe política, uma frustração da nova classe média com os serviços públicos, governos com taxas de aprovação popular mais baixos. O que a covid-19 vai fazer é reforçar essa angústia. No ano de 2020 a população deu um voto de confiança para os governantes, mas a conta política da covid-19 vai ser paga e sentida em 2021 porque você não tem como manter esses estímulos fiscais e esse voto de confiança tende a se dissipar. Vemos um ano político desafiador em 2021.

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