Quarta-feira

Casa Verde Amarela, ex-Minha Casa Minha Vida, tem obras suspensas por disparada nos custos

O aumento nos custos dos materiais de construção está fazendo com que as empresas suspendam o lançamento de novos projetos dentro do Casa Verde e Amarela (novo nome do Minha Casa Minha Vida). Como o programa tem um teto para o preço dos imóveis, as construtoras não conseguem repassar o aumento nos custos e então preferem desistir do projeto a colocar em risco a sua lucratividade.

O segmento mais afetado é o grupo 1 (chamado antigamente de faixa 1,5), destinado a famílias mais pobres, com renda mensal de até R$ 2 mil. Esse é justamente o público que mais tem dificuldade de conseguir a moradia sem subsídios no financiamento.

“Hoje, fazer um produto no grupo 1 é quase inviável. A gente não tem conseguido viabilizar mais”, relata o presidente da Direcional Engenharia, Ricardo Ribeiro, em entrevista ao Estadão/Broadcast. “Tem vários projetos que não fazem mais sentido. O incremento dos custos inviabilizou muitos deles”.

Para contornar o problema, a Direcional está redesenhando os empreendimentos do grupo 1 para se enquadrarem no grupo 2, que atende famílias cuja renda mensal vai de R$ 2 mil a R$ 4 mil e, consequentemente, permite um valor de imóveis mais alto.

“Com esses ajustes, mantemos a mesma previsão de lançamentos para o ano”, afirma Ribeiro. “Mas as pessoas com renda mais baixa acabam ficando de fora do mercado imobiliário, o que não é o ideal num País com déficit de habitação muito grande”, pondera.

A Plano & Plano vive situação semelhante e também já iniciou a migração dos empreendimentos do grupo 1 para as faixas superiores. Como consequência, espera alguma redução na velocidade de vendas, uma vez que as unidades de menor valor giram mais rápido.

“Está praticamente inviável produzir imóveis para famílias com renda de até três salários mínimos. É muito preocupante”, ressalta o sócio e presidente do conselho de administração da Plano & Plano, Rodrigo Luna. “A nova conjuntura de preços está colocando os imóveis em um patamar de precificação muito alto, o que acaba inviabilizando muitos projetos”, complementa.

Em 12 meses, encerrados em fevereiro, o Índice Nacional de Custos da Construção (INCC) subiu 10,2%. Parte desse aumento provém da desvalorização do real frente ao dólar, o que encarece insumos importados, como metais e resinas usados na produção de materiais. Nos últimos meses, a indústria teve a produção paralisada pela pandemia, o que gerou gargalos para o abastecimento. Mas a expectativa das construtoras é que esses efeitos já teriam sido amenizadas no começo deste ano, o que não aconteceu.

Alta nos custos de construção afeta obras em andamento

O superaquecimento dos custos afeta também as margens de rentabilidade das empresas no caso de unidades do Casa Verde e Amarelo já vendidas. Isso acontece porque no mercado de baixa renda não há correção das parcelas dos clientes pelo INCC, pois o cliente é encaminhado para o financiamento bancário logo após fechar o contrato com a construtora.

Fora do Casa Verde e Amarela, a solução das empresas tem sido repassar os ajustes para o preço final dos imóveis. Aqui, sim, os contratos são corrigidos pelo INCC, o que ajuda a preservar as margens. Por outro lado, há uma preocupação do empresariado de que o reajuste expressivo onere excessivamente os mutuários e acabe por gerar incapacidade de pagamento.

“Vemos um desequilíbrio entre a renda de quem comprou o apartamento e os reajustes previstos nos contratos, podendo levar à inadimplência e provocar distratos. Não é um bom sinal”, alerta o presidente do Sindicato da Indústria da Construção de São Paulo (Sinduscon-SP), Odair Senra.

Diante da disparada dos custos, a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) encaminhou ao governo federal a sugestão de corte temporário do imposto de importação de insumos como forma de reequilibrar os preços. Segundo o presidente da entidade, Luiz França, o governo solicitou estudos técnicos que embasem o pedido dos empresários, o que já foi enviado. Agora devem voltar a se reunir para tentar avançar nas conversas.

“O setor tem preocupação com a alta nos valores dos insumos. E o governo está atento à importância do setor como gerador de emprego”, relata França. “Os aumentos não podem continuar. Se for assim, será necessário subir os valores dos imóveis e isso vai contrapor os efeitos benefícios do corte dos juros”.

Paralelamente, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) também está buscando uma agenda com o governo para discutir o efeito da alta dos custos. “Vamos colocar o problema e buscar formas de minorar a situação”, diz o presidente da CBIC, José Carlos Martins. Além da redução de impostos para a importação, a CBIC busca a simplificação de normas técnicas que dificultam o uso de insumos estrangeiros nas obras locais. “Sem derrubar as barreiras técnicas, não vamos conseguir importar mesmo com a liberação dos impostos”, pondera Martins.

Reequilíbrio de contratos

A alta ininterrupta dos custos dos materiais de construção pode provocar também uma nova onda de paralisação de obras e até mesmo disputas judiciais com pedidos de reequilíbrio nos contratos da antiga faixa 1 do Minha Casa Minha Vida.

No momento, existem 1.772 empreendimentos legados, que totalizam cerca de 251 mil casas e apartamentos e demandam R$ 3,6 bilhões para conclusão.

Deste total, 609 empreendimentos (116 mil unidades) têm obras em andamento, enquanto 862 canteiros (72 mil unidades) continuam paralisadas. Existem ainda 243 projetos concluídos, já em vias de entrega, e 58 que ainda não foram iniciados, de acordo com dados atualizados pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) a pedido da reportagem.

A faixa 1 foi criada pelo governo Lula para atender pessoas com renda mensal de até R$ 1,8 mil, que não têm condições de adquirir moradia por conta própria. Por isso, até 95% do valor do imóvel era subsidiado pelo Tesouro Nacional. Mas, sem recursos nos cofres públicos durante o governo Dilma, milhares de obras ficaram inacabadas. Por fim, esta faixa foi extinta na reformulação do programa habitacional durante a gestão Bolsonaro (quando foi rebatizado de Casa Verde e Amarela) diante da falta de orçamento para novas contratações.

Diante do salto no custo dos insumos, muitas construtoras já consideram inviável a continuidade das obras e esperam do governo alguma medida para evitar que fiquem no prejuízo. Entre as hipóteses estão um reajuste dos valores ou até mesmo a extensão do prazo de entrega. Mas o MDR descarta qualquer reajuste nos contratos, conforme determinam as regras do programa habitacional. Em última instância, há risco de parada das obras pelas construtoras e apelo à Justiça.

“Os normativos atualmente vigentes referentes às modalidades da faixa 1 condicionam a concessão de suplementação de recursos à existência de fatos supervenientes ou imprevisíveis. Não haverá suplementação para fatos previstos ou previsíveis, tais como inflação, custos trabalhistas de toda ordem e fenômenos climáticos típicos”, esclareceu o MDR.

A pasta informou ainda que, apesar do avanço dos custos dos materiais, tem mantido grande empenho para retomar obras paralisadas, em parceria com a Caixa Econômica Federal. Só no ano passado, mais de 30 mil unidades habitacionais voltaram a ser executadas em todo o País, segundo o MDR.

 

Equipe econômica já descarta retomada no 1º trimestre

A volta do “lockdown” em vários Estados e a demora no processo de vacinação jogaram por terra as perspectivas de retomada da atividade econômica no primeiro trimestre do ano, segundo avaliação que está sendo feita no gabinete do ministro da Economia, Paulo Guedes. Também já se coloca em dúvida o desempenho da economia no segundo trimestre.

Medidas de apoio a pessoas e empresas adotadas em 2020, como o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) e o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), precisarão ser retomadas até que haja uma quantidade de pessoas vacinadas suficiente para criar a imunidade de rebanho. É possível que o retorno à normalidade da atividade econômica só ocorra no segundo semestre de 2021, admite-se.

Neste novo momento de emergência, uma das medidas em estudo é o adiamento, por quatro meses, do vencimento das carências nos empréstimos concedidos às micro e pequenas empresas por meio do Pronampe. Em tese, os pagamentos teriam início neste mês. No entanto, acredita-se que as empresas terão dificuldade em honrar essas parcelas.

O governo também pretende reeditar o Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), que permitiu às empresas suspender os contratos de trabalho de seus funcionários ou reduzir, de forma proporcional, as jornadas de trabalho e os salários. No ano passado, esse programa permitiu preservar 11 milhões de empregos, segundo cálculos do governo.

Não está decidido, porém, como viabilizar a complementação salarial que foi paga pelo governo no ano passado. Essa decisão depende de uma definição sobre o Orçamento federal em 2021. Gastos com a prorrogação do programa não estão previstos na proposta em análise no Congresso Nacional.

Uma possibilidade em discussão no Ministério da Economia é a adoção do lay-off, medida que consiste na suspensão do contrato de trabalho. Nesse caso, o empregado recebe renda paga pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).

O ministro da Economia, Paulo Guedes, já havia informado que algumas medidas de 2020 voltariam neste ano. No entanto, não foi específico sobre quais. Mencionou, porém, a antecipação do 13º salário dos aposentados e pensionistas e do abono. Não há decisão tampouco quanto a um novo diferimento tributário.

A medida foi adotada no ano passado e trouxe alívio de caixa às empresas nos meses mais agudos do distanciamento social. De acordo com dados divulgados na semana passada pela Receita Federal, cerca de R$ 19 bilhões que deveriam ter sido recolhidos em 2020, referentes a esses adiamentos, ainda não o foram.

O governo estuda também a reedição de uma medida provisória (MP) com regras que simplificam a contratação de crédito. Outra frente seria a ampliação do programa de transação tributária, que permite encerrar litígios entre o fisco e os contribuintes na Justiça e com isso antecipar recursos para os cofres públicos.

A prorrogação do auxílio emergencial, por sua vez, segue como um ponto de preocupação e impasse. No gabinete de Guedes, percebe-se muito empenho do Congresso ao pagamento do benefício, mas pouquíssima disposição em discutir medidas de restrição de gastos. A área econômica gostaria de combinar as duas coisas, para mostrar compromisso com o reequilíbrio das contas públicas.

A retirada dos dispositivos da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial que eliminavam da Constituição gastos mínimos com saúde e educação tiraram muito da potência desejada pela área econômica em termos de medidas para ajustar as contas públicas.

Acredita-se, porém, que ainda há chances de aprovar os dispositivos que permitem a Estados e municípios adotarem medidas temporárias de restrição de gasto quando as despesas correntes ultrapassarem 95% das receitas correntes. As medidas afetam, sobretudo, gastos com servidores públicos. Proíbem medidas que elevem despesas com folha salarial.

 

Campos Neto prega ‘calma’ na política monetária e procura esvaziar aposta num mini choque de juros

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, pregou calma e tranquilidade na condução da política monetária, num sinal de que não pretende sancionar o movimento de mercado que precifica um minichoque de juros a partir deste mês. “É importante manter a calma, manter a tranquilidade, entendendo que temos uma meta de longo prazo”, afirmou o presidente do Banco Central, em evento na noite desta terça.

A declaração ocorreu depois que a curva de juros consolidou a precificação de uma alta de 0,75 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que ocorre em duas semanas, que levaria a taxa básica dos atuais 2% ao ano para 2,75% ao ano.

Um número crescente de analistas econômicos prega uma ação mais firme da autoridade monetária para conter a alta da cotação do dólar, em meio a incertezas sobre o ajuste fiscal e a continuidade da agenda liberal no governo Bolsonaro, num ambiente de maior pressão sobre os juros internacionais.

Campos Neto procurou afastar a hipótese de vincular a taxa de juros mecanicamente à taxa de câmbio. “Estamos olhando todas a variáveis, não só locais, como internacionais”, disse o presidente do Banco Central. “Temos um amplo conjunto de instrumentos para fazer com que as nossas metas sejam atingidas.”

Na sua última reunião, o Copom deixou em aberto o que pretende fazer no seu próximo encontro, que ocorre em duas semanas. Embora alguns membros do colegiado queriam um aperto imediato, a maioria votou por decidir só após analisar mais dados sobre a pandemia, a atividade econômica e a política fiscal.

No seu pronunciamento, Campos Neto procurou afastar a hipótese de um minichoque nos juros, mas não chegou a se comprometer em manter a taxa Selic parada. Ao contrário, ele se esforçou em assegurar ao mercado que vai agir para garantir o cumprimento das metas de inflação. “No que diz respeito à política monetária, o que podemos garantir é que o BC vai trabalhar para entregar as metas no horizonte relevante de política monetária”, disse.

O detalhe é o foco do BC na meta de inflação de longo prazo, de fins de 2022, horizonte para o qual as projeções de inflação estão mais favoráveis e não demandam uma resposta muito forte da taxa básica de juros. Com o agravamento das incertezas sobre o ajuste fiscal, o mercado passou a depositar as suas fichas em um aperto mais forte de juros.

Primeiro, as apostas se concentraram em uma alta entre 0,25 ponto e 0,5 ponto percentual. Depois, passaram a oscilar entre movimentos de 0,5 ponto e 0,75 ponto. Agora, começam a se consolidar em 0,75 ponto. Já há quem defenda que seja seguido por altas num ritmo de 1 ponto.

Campos Neto foi enfático sobre a necessidade de manter um “respaldo institucional” para garantir a credibilidade das políticas monetária e fiscal. “O desafio fiscal é muito grande, e nós precisamos de uma resposta à altura.

 

Bancos veem crédito mais caro com aumento da CSLL

O aumento da alíquota de Contribuição sobre o Lucro Líquido (CSLL) foi recebido com um misto de resignação e incômodo pelos bancos, que já alertam para a alta das taxas de juros do crédito em decorrência da medida.

“Tivemos hoje [ontem] a notícia de aumento de impostos, o que encarece o crédito”, afirmou na manhã de ontem o presidente da Febraban, Isaac Sidney, em encontro de executivos de bancos com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

A reunião era fechada à imprensa, mas executivos que estiveram no café da manhã relataram ao Valor o conteúdo das discussões. O ministro da Economia, Paulo Guedes, telefonou por volta das 7h para Sidney pedindo uma “cota de sacrifício” do setor para o enfrentamento da nova etapa da crise, e assegurou que a medida não seria permanente.

“Os bancos já vêm dando sua contribuição à economia e à sociedade durante a pandemia e agora, com este aumento de imposto, são chamados a contribuir ainda mais. Entendemos o momento difícil pelo qual passa o país e temos a convicção de que se trata de uma medida temporária e circunstancial”, disse Sidney, em nota enviada ao Valor, que deixou evidente que evitaria atritos.

No mesmo texto, reiterou que o setor defende uma reforma tributária que simplifique o sistema e lembrou que o Brasil é exceção pelo fato de cobrar impostos sobre a intermediação financeira.

À tarde, o governo anunciou a edição de medida provisória aumentando a alíquota da CSLL de 20% para 25% no caso dos bancos e de 15% para 20% para seguradoras, empresas de capitalização e cooperativas de crédito. Os novos percentuais valem até o dia 31 de dezembro. Os recursos serão usados para compensar a isenção de tributos federais sobre o óleo diesel e o gás de cozinha.

A decisão é “antiquada, despropositada, assimétrica e desproporcional”, segundo o presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Ricardo Gelbaum. De acordo com ele, o custo recairá sobre a sociedade, pois os bancos tendem a repassar para as taxas de juros do crédito a elevação da na carga tributária — que já é um dos grandes componentes do spread. “Pouco importa se é temporário ou não. É a mesma coisa perder de 7 a 1 ou de 2 a 1. É má notícia de qualquer forma”, disse.

O executivo se despede neste ano da presidência da ABBC, que já representava bancos pequenos e médios e, em sua gestão, atraiu também diversas fintechs.

Por isso, Gelbaum lamentou o aumentou da tributação num momento em que o setor abraça inovações como o Pix, o open banking e outros itens da agenda prócompetição do Banco Central.

O aumento da alíquota da CSLL não é bem-visto pelos bancos de forma geral, mas é proporcionalmente mais danoso para as instituições financeiras de menor porte, que têm custo de captação mais elevado que as grandes.

Apesar de a MP prever as alíquotas aumentadas só até o fim deste ano, há uma preocupação com a possibilidade de o texto ser alterado no Legislativo. Em entrevista a um canal da Febraban, Pacheco foi questionado se o Congresso confirmaria a alta temporária. “É uma avaliação que vamos ter que fazer”, disse o senador.

Porém, afirmou que a percepção do Senado é a de que “aumentos sistemáticos” de tributos fora da reforma tributária não são bons.

 

Dólar alto amplia custo de empresas, e inflação maior já é esperada

A contínua alta do dólar, que potencializa a valorização de commodities no mercado externo, originou uma “segunda onda” de aumentos de custos nas empresas que, para economistas, ainda vai chegar ao consumidor. Além do repasse cambial sobre preços livres, outra importante fonte de pressão inflacionária são os combustíveis, diretamente afetados pela moeda americana.

Neste quadro, projeções acima de 4% para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021 estão ganhando espaço, e a percepção é que a inflação pode ser ainda maior se não houver alívio do câmbio. A meta para o ano é 3,75%. O dólar comercial terminou o pregão de ontem cotado a R$ 5,66, mas chegou a bater R$ 5,72 ao longo do dia. No ano, a divisa americana acumula alta de 9,2% ante o real.

A nova rodada de desvalorização cambial, em conjunto com o aumento de matérias-primas, colocou em xeque a perspectiva que muitos economistas tinham até o fim de 2020, de que aumentos de custos no atacado perderiam fôlego neste início de ano.

Não foi este o cenário mostrado pelo Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) de fevereiro. Os preços ao produtor de bens intermediários avançaram 4,67% no mês, acima dos 2,54% de janeiro, com aceleração de 1,98% para 4,16% na parte de material e componentes para manufatura.

Neste subgrupo, estão boa parte dos insumos industriais sensíveis ao câmbio, como celulose, químicos, petroquímicos, siderurgia, borracha, plásticos e resinas. “Todas as matérias-primas básicas do setor industrial tiveram forte elevação, e nós nunca achamos que fosse algo provisório”, diz Joseph Couri, presidente do Sindicato das Micro e Pequenas Indústrias do Estado de São Paulo (Simpi-SP).

No indicador de atividade do setor do mês passado, 72% dos empresários consultados relataram aumento significativo nos custos de produção - maior resultado da série histórica do levantamento, que começou em março de 2013.

Segundo a pesquisa, encomendada pelo Simpi-SP ao Datafolha, a principal causa para a elevação nos custos, apontada por 66% dos industriais, é o encarecimento de matérias-primas e insumos. “E não vislumbramos mudança deste quadro no curto prazo. Pelo contrário”, afirma Couri, destacando a variação cambial ocorrida neste ano como fator que agravou a situação.

Para 91% dos industriais ouvidos, a alta destes preços é o maior entrave à produção enfrentado nos últimos 15 dias. A falta de insumos e matérias-primas nos fornecedores e atraso nas entregas desses bens também são problemas graves, mencionados por 65% e 58% dos entrevistados, respectivamente.

“Isso será repassado para os preços em algum momento por aqueles que conseguirem. Quem não conseguir vai quebrar”, alerta o presidente do Simpi-SP. O aumento de preços dos insumos provocou alta de 8% a 10%, em média, no produto final dos calçadistas, estima Mafaldo Gois Junior, diretor financeiro da Usaflex, fabricante de calçados femininos com 2,5 mil empregados.

Por enquanto, diz ele, a empresa trabalha com estoques reguladores para as vendas atuais, que ainda fecham contratos para o Dia das Mães. As vendas estão abaixo do esperado e não há margem para repasse total de custo aos varejistas. Por isso, a calçadista vem absorvendo uma parte do impacto de preços.

O diretor avalia que o custo será repassado de forma mais intensa no decorrer do segundo semestre. A elevação de matérias-primas intensificou-se, lembra Gois Junior, desde o fim do ano passado, quando começou o desabastecimento de alguns insumos, como resultado de uma demanda maior que a esperada pela indústria local e também por dificuldades logísticas de fornecedores externos, como os chineses, com a expectativa de retomada da economia mundial.

A essa pressão, junta-se o câmbio, explica o diretor, que tem efeito no preço do insumo e também na dinâmica de mercado. Em tese, o elevado nível de capacidade ociosa na economia enfraqueceria o repasse cambial para a inflação no varejo, aponta Tomás Goulart, economista-chefe da Novus Capital. “Mas quando há uma desconfiança em relação à política econômica como um todo, o repasse cambial aumenta e faz com que o hiato do produto perca importância para explicar a inflação”, diz Goulart.

Devido principalmente ao impacto da depreciação cambial sobre os preços de bens comercializáveis e combustíveis, a Novus estima alta de 4,6% para o IPCA em 2021, mas Goulart destaca que o índice pode acelerar mais a depender do dólar. “Se colocarmos o câmbio atual de R$ 5,70 nessa projeção, a inflação ficaria próxima de 5%”, calcula o economista, que trabalha com câmbio médio de R$ 5,40 para o ano.

“O câmbio é o que vai explicar a variação da inflação deste ano, ao lado da pressão de commodities, que segue intensa”, aponta o economista-chefe da gestora. Segundo ele, os bens industriais e alimentos comercializáveis (que podem ser importados ou exportados) serão os preços mais impactados pelo repasse cambial, com alta de 4,5% e 7,3% no acumulado do ano, pela ordem.

O banco Fibra revisou a projeção para a taxa de câmbio média anual de R$ 5,02 para R$ 5,40 e a previsão para o fim do ano de R$ 4,80 para R$ 5,20. Com a mudança, a estimativa para a alta do IPCA em 2021 passou de 4% para 4,2%.

Cristiano Oliveira, economista-chefe da instituição, pondera que, por ora, não há sensação de descontrole inflacionário e que o novo número incluiu também revisões para baixo em alguns setores, como o de serviços.

O balanço de riscos para os preços, no entanto, continua pendendo para cima, principalmente no curto prazo, diz Oliveira. “É um cenário preocupante e, se houver algum alívio, será mais para o segundo semestre”, apontou. Além do câmbio e da nova fonte de pressão no atacado mostrada pelos IGPs, o economista cita a dinâmica das tarifas administradas como outra fonte de preocupação inflacionária.

Em seus cálculos, os preços administrados vão subir 5,4% neste ano, com aumento de 14% da gasolina. Neste caso, não só o dólar afeta os preços domésticos, mas também a cotação do barril de petróleo, acrescenta Oliveira.

“No meu cenário, temos a curva do petróleo se estabilizando em US$ 65 o barril, mas já há bancos internacionais esperando US$ 75. Se esse quadro se confirmar, as nossas projeções para o preço da gasolina teriam que aumentar, e bastante.”

 

Lockdown pode afetar crescimento econômico do primeiro semestre, diz presidente do BC

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que dados recentes do comércio mostram recuperação, mas que ainda não refletiram os efeitos do que chamou de "pequeno lockdown", ocorrido em algumas cidades do país nos últimos dias.

Desde a semana passada, governadores e prefeitos paralisaram atividades em meio à piora da pandemia de Covid-19 e à superlotação de leitos e de UTIs. Segundo ele, se as restrições aumentarem, o desempenho da economia deverá ser pior no primeiro semestre.

"O comércio melhorou [recentemente], mas ainda não pega efeito do pequeno lockdown. Sempre destacamos que a recuperação é desigual e o setor de serviços segue deprimido. Se tiver um lockdown maior pode gerar primeiro semestre um pouco pior", disse em evento virtual promovido pela Arko Advice e pela Empiricus na noite desta terça-feira (2).

Para Campos Neto, o segundo semestre terá desempenho melhor com a vacinação e o mercado de trabalho terá retomada gradual.

"Vimos recentemente novas variantes do vírus que estão em alguns estados. Dá para dizer pela curva de contaminação que ela é mais contagiosa, mas não sabemos se é mais letal", afirmou.

"Outros países vêm em curva de contaminação descrescente e o Brasil vinha crescendo, estabilizou e agora começou a acelerar", completou.

O titular do BC disse que os lockdowns deverão ser temporários por conta da vacinação. "O Brasil é o 5º país que mais vacina no mundo", frisou.

Ele disse acreditar que todo o grupo de risco estará vacinado até junho. "Assim você retira o fator medo e as coisas voltam a funcionar."

Campos Neto voltou a falar que o país precisa de credibilidade na área fiscal e ponderou que com a piora da pandemia a incerteza com relação às contas públicas aumentou. O desafio fiscal é grande, precisamos de uma resposta institucional à altura", afirmou.

 

'Efeito Bolsonaro' nos mercados faz risco país disparar e pressiona dólar

A relação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com o mercado financeiro, que ajudou a elegê-lo em 2018, parece ter azedado de vez desde que o mandatário interveio na Petrobrás, na tentativa de conter a alta de preços de combustíveis e acenar positivamente para os caminhoneiros, parte importante da sua base eleitoral.

Analistas ouvidos pelo Estadão ainda tentam mensurar os efeitos no mercado das intervenções recentes do presidente, e estudam até que ponto o “efeito Bolsonaro” pesará no mercado. Nos dias que antecederam a canetada do presidente no comando da Petrobrás, a Bolsa brasileira estava acima dos 119 mil pontos. Apesar de uma alta de 1,09% ontem, o Ibovespa, principal índice da Bolsa, lutou para se manter no patamar atual de 111 mil pontos.

Antes da intervenção, o dólar estava em R$ 5,44. Ontem, a moeda fechou a R$ 5,67, após dois leilões do Banco Central. Em fevereiro, estrangeiros retiraram R$ 6,783 bilhões da B3, o primeiro mês desde setembro de 2020 com fuga de capital.

Desde a mudança forçada do presidente da Petrobrás até agora, o risco país medido pelo Credit Default Swap (CDS) de cinco anos subiu 22,3%. Enquanto isso, a curva de juros futuros de cinco anos subiu quase um ponto porcentual desde janeiro, para a casa dos 8% ao ano.

Para Alexandre Schwartsman, consultor e ex-diretor do Banco Central, o mercado até agora parecia acreditar em “poderes mágicos” do ministro da Economia, Paulo Guedes. “Essas pessoas não são ingênuas, mas havia uma crença de que Bolsonaro não teria alternativa. Só que já havia um conflito potencial entre as agendas dos dois e a pandemia acirrou isso. A intervenção na Petrobrás foi um tapa na cara do mercado.”

Para o economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, é difícil que os investidores recuperem a confiança que tinham depositado no presidente em 2018, muito por causa da escolha de Paulo Guedes para o Ministério da Economia. “A desconfiança não se dá só pelo que o presidente fez na Petrobrás, mas pelo que vem pela frente: novas altas de combustíveis, pressão na energia elétrica.”

Vale ressalta que esse cenário tende a fazer com que o presidente continue impaciente e disposto a intervir. “A popularidade dele ainda está baixa, a pandemia continua forte. Ele ficará tentado buscar soluções mágicas – e não vai achá-las.”

“O governo está em uma encruzilhada”, resume o economista-chefe da Necton, Andre Perfeito. Ele explica que, ao mesmo tempo que Guedes propõe ajustes de longo prazo, Bolsonaro diz que os problemas no curto prazo estão mordendo o calcanhar do governo. “Várias coisas acontecem no curto prazo: preço dos combustíveis, o novo auxílio emergencial. E talvez não haja mais tempo para ajustes antes de 2022.”

O economista avalia que o governo tem dado tantos sinais trocados de mudança de rota, com medidas que o aproximam do populismo, que os efeitos são sentidos no aumento da desconfiança. “Há um mal-estar na Bolsa. O nível de tensão está alto.”

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